A IDENTIDADE CULTURAL NA INTERFACE COM OS ESTUDOS ENUNCIATIVOS E DISCURSIVOS

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A IDENTIDADE CULTURAL NA INTERFACE COM OS ESTUDOS ENUNCIATIVOS E DISCURSIVOS Introdução: a questão proposta Luis Felipe Rhoden Freitas 1 A identidade cultural, expressa, em primeira análise, lexicalmente pelos adjetivos pátrios e regionais, e fonologicamente, pelo sotaque, muito mais do que apenas dizer a delimitação político-geográfica onde se nasceu e/ou onde se vive, resguarda uma manifestação do sujeito, é uma avaliação sobre si em relação ao mundo é enunciação, é língua em uso. Esse pressuposto leva a duas consequências teóricas principais. Primeiro que, enquanto enunciação, as identidades podem estar expressas em todos os níveis da língua. Segundo, que a noção de identidade cultural que se admite contemporaneamente, (fora da ótica essencialista socrática idêntica a si mesma) não necessariamente reconhece as fronteiras político-geográficas. Em outras palavras, o sujeito diz a sua identidade cultural através da língua, podendo até se contradizer, uma vez que o lugar (estado, país) a que se pertence é uma comunidade imaginada, não tem limites precisos na realidade objetiva. Em termos teóricos, pode-se dizer que a identidade cultural pertence mesmo à esfera do discurso. Ao longo do artigo será discutido como as Linguísticas da Enunciação podem contribuir para o estudo das Identidades Culturais. Será relacionado o conceito de Identidade Cultural, pela perspectiva dos Estudos Culturais, a teorias enunciativas de determinados autores em alguns de seus textos específicos, priorizando, por enquanto, algumas poucas possibilidades teóricas que são o próprio objeto de investigação. A questão que se apresenta, ao se propor estudar a identidade cultural pela via teórica da enunciação, não é propriamente linguística em sentido estrito, mas pode, sob inúmeros aspectos, o que aqui equivale a dizer por diferentes teorias, ser analisada porque o que existe de material são os enunciados. A própria ideia de identidade cultural revela um construto de práticas históricas e conjunção/dispersão de discursos sobre a cultura e sobre a identidade, sendo que o sujeito marca, da forma que for, seu lugar na cultura, ou no próprio discurso sobre a cultura. Existem, por hora, várias hipóteses de análises a serem levantadas, tangenciadas pelas teorias enunciativas e discursivas. Neste texto não será desenvolvida nenhuma delas especificamente, senão apenas discutidas como possibilidades teóricas. Um estudo de aplicação dependeria, talvez, de um método de análise específico para enunciados sobre identidade cultural, o que parece não ter sido desenvolvido ainda. As possibilidades teóricas de que tratamos estão abaixo divididas em (a) abordagem dialetológica pluridimensional 2 e (b) abordagens enunciativas: (a) A língua na sua dimensão geopolítica (o português, que não é o espanhol, nem o inglês etc.); 1 Especialista em Estudos Linguísticos do Texto e mestrando em Teorias do Texto e do Discurso UFRGS. E-mail: felipe_rhoden@hotmail.com 2 Embora o trabalho seja voltado para a área de enunciação e discurso, parece fundamental citar a dialetologia e a sociolinguística porque são disciplinas que tradicionalmente se ocupam da identidade cultural como entendida pela questão do sotaque. 322

(a.1) a variante (regional, social, de gênero, de faixa etária etc.). (b) A fala, analisável a partir dos enunciados, que nos permite pensar em questões de enunciação; (b.1) exteriores de Authier-Revuz; (b.2) dialogismo de Bakhtin; (b.3) intersubjetividade (eu-tu) Benveniste; (b.4) polifonia (diferentes vozes) Ducrot. É importante observar que, já de saída, a noção de língua é diferente para as abordagens dialetológicas e para as abordagens enunciativas. Nas abordagens dialetológicas, de base estrutural, vamos considerar que se admite uma variante padrão e demais variantes a partir desta, e é a língua que define o falante (em outras palavras, o falante é categorizado de acordo com as marcas fonológicas do seu dizer). Nas abordagens enunciativas, diferentemente, principalmente pela contribuição da noção de intersubjetividade e de subjetividade na língua de Benveniste, é o sujeito que se marca na língua e a enunciação é um evento irrepetível. Nesse segundo grupo, em oposição ao primeiro, há espaço para a contradição e dispersão dos discursos, enquanto que para se fazer, num atlas linguístico, um recorte dialetal, é preciso que um grupo de falantes esteja de acordo, apresente aproximadamente mesmos traços fonológicos, geralmente, nos mesmos contextos. As abordagens dialetológicas e sociolinguísticas preveem uma semelhança na fala (os falantes precisam falar parecido, pois é a partir daí que se estabelecem os limites). A análise a que se propõe a enunciação é qualitativa, não quantitativa. Aqui surge uma questão fundamental para qual não há uma solução razoável, se não a de copiar a hipótese de Authier-Revuz dos exteriores. Por um lado, a dialetologia se ocupa e dá conta do aspecto mais puramente linguístico. A noção de identidade cultural com que propomos trabalhar não se esgota aí. Mas ao tentar trazer essa questão para a enunciação, esbarramos justamente na dificuldade de se delimitar até onde vai o linguístico, e o que é exatamente extralinguístico. Algumas das possibilidades teóricas, como as mostradas acima e a seguir, tratam-se de uma análise do conteúdo, pois o que parece estar proposto é um tema, e os enunciados a serem analisados tratam do tema em questão. Pensar num trabalho de interface é justamente pensar nesses limites. Hipótese de investigação pelos exteriores de Authier-Revuz O texto de Authier-Revuz (2004) Heterogeneidade mostrada e heterogeneidade constitutiva: elementos para uma abordagem do outro no discurso, entre muitas coisas interessantes, um pouco além do outro do dialogismo e o da psicanálise nos quais ela se ancora para sustentar sua tese da heterogeneidade constitutiva, também aponta um outro ao fazer teoria: ela lança mão de exteriores para justificar um fato linguístico. Para essa abordagem - ancorada numa ciência exterior à linguística - como ela justifica na sua introdução, a autora se baseia na leitura lacaniana de Freud. Estando, portanto, teoricamente ancorada, diz ela que contrariamente à imagem do sujeito 'pleno', que seria a causa primeira e autônoma de uma palavra homogênea, sua posição é a de uma palavra heterogênea que o fato do sujeito dividido (Authier-Revuz, 2004, p.48-9). O objeto da psicanálise, se assim podemos chamá-lo, é o inconsciente, aquilo que na metáfora Lacan chama de o capítulo censurado, e cujo trabalho psicanalítico 323

consiste em fazer ressurgir conflitos esquecidos, demandas recalcadas que agem sem que o sujeito saiba, na sua vida presente (Authier-Revuz, 2004, p.50). A interpretação lacaniana da psicanálise, para Authier, dizendo de forma resumida, tem a finalidade de viabilizar sua intenção de articular uma teoria da heterogeneidade da palavra com uma teoria da descentralização do sujeito como efeito de linguagem (Flores, 1998, p.8). Este sujeito da psicanálise é o resultado de uma estrutura complexa (Authier, id. p.65) que relaciona sujeito, inconsciente e linguagem. Lacan menciona, inclusive, a hipótese de um inconsciente-linguagem (p.53), que é o que possibilita a apreensão do inconsciente através da circunscrição do seu objeto pela linguagem. Ainda, o trabalho do inconsciente se faz na materialidade da língua, sendo aí que a interpretação analítica tem lugar ; e é no modo como a psicanálise analisa esse tipo de fenômeno [as falhas] que a autora assenta sua teoria da heterogeneidade enunciativa (Teixeira, 2000, p.151 e 150, respectivamente). Authier-Revuz retoma em linhas gerais a discussão que faz ao longo do artigo, do dialogismo e da psicanálise, para encaminhar a sua conclusão. Um parágrafo que parece dar conta de resumir sua tese (que não deve ter sido redigido propriamente para resumir, mas para culminar na discussão) é o seguinte: Todo discurso se mostra constitutivamente atravessado pelos outros discursos e pelo discurso do Outro. O outro não é um objeto (exterior, do qual se fala), mas uma condição (constitutiva, para que se fale) do discurso de um sujeito falante que não é fonte-primeira desse discurso. (Authier, id. p.69) Enquanto à heterogeneidade mostrada cabe o papel de evidência (no sentido da coisa que salta aos olhos ), Authier argumenta que a heterogeneidade do discurso acontece muito anteriormente ao que expõe a superfície. A heterogeneidade, para ela, está na própria condição de existência da linguagem, mas opera como uma representação fantasmática (Teixeira, id. p.152) da qual o sujeito falante, ou locutor, é ignorante por causa da ilusão necessária, que faz com que creiamos ser fonte de nossos dizeres e permite a representação, também ilusória, do eu autônomo, o sujeito aparentemente centrado e coeso, portanto, homogêneo (p.66). Authier-Revuz refaz a trajetória, nas ciências físicas e biológicas, que culmina no descentramento do sujeito freudiano. De acordo com Roudinesco, citado por Authier, tanto pela noção de Copérnico de descentramento da terra ( descoberta ou descrição do sistema solar, em que a Terra é mais um planeta orbitando ao redor do sol, e não o centro do universo, como se podia acreditar antigamente), quanto pela noção evolucionista de Darwin (que diz que somos um estado evolutivo que partiu de outra coisa, hipoteticamente, os primatas), a descoberta de Freud fez com que estudioso se desse conta de que o eu [...] não é mais o dono de sua casa (Authier, id. p.64). Authier ainda faz a ressalva que o sujeito que adota para o seu trabalho não é compartimentado, de forma que dele se pudesse fazer uma topologia (p.65), nem, por outro lado, serve a ela considerar a divisão como um acidente desagradável que um trabalho apropriado poderia apagar restaurando a unidade da pessoa. Ela parece ficar com o sujeito múltiplo, mas indivisível, e é simpática à noção de ilusão de sujeito, que é o que Freud designava como 'função de desconhecimento do eu' (Authier, id. p.66). Seguindo pelo caminho da possibilidade criada por Authier-Revuz, poderíamos, talvez pensar na questão da identidade cultural em duas instâncias, na 324

linguística e seus exteriores. Assim, pensar nos exteriores a partir da contribuição dos Estudos Culturais para a noção de sujeito e de identidade do sujeito, e pela descrição qualificada que faz do mundo cultural pós-moderno, onde cada vez mais discursos contraditórios colidem ao mesmo tempo que se equivalem. Hipótese de investigação pelo dialogismo bakhtiniano Uma hipótese bastante produtiva para o estudo dos enunciados que os sujeitos produzem, e cujo tema de identidade cultural é o dialogismo de Bakhtin. Além de ser um dos exteriores que compõem a heterogeneidade constitutiva, conforme Auhtier- Revuz, a concepção bakhtiniana de funcionamento da linguagem também pode, de certa forma, abarcar os enunciados produzidos pelo falante/sujeito cuja identidade cultural se quer investigar. Essa noção dialógica de Bakhtin, em que todos os enunciadores e enunciados participam de um contexto maior, afina-se com a concepção de identidade pós-moderna, que Stuart Hall (1998, p.19) chama de jogo de identidades. Em outras palavras, os sujeitos pós-modernos participam do simpósio universal que rege o funcionamento da língua. É sugerível, inclusive, que esta identidade seja produzida na enunciação (ela não está definida a priori pelo sujeito pós-moderno, não é um assunto esgotado), pois a declaração da identidade cultural é sempre motivada pela diferença, e a situação é dialógica. Como diz Fiorin (2006, p.20), não são as unidades da língua que são dialógicas, mas os enunciados. Por isso que o estudo das identidades culturais deve se ocupar de estudos enunciativos, para dar conta do que se quer desvelar as identidades dos sujeitos no mundo real, e não objetivados ou isolados de seus contextos. Assim, partindo da concepção proposta por Bakhtin, podemos dizer que todo enunciado pode ser objeto de estudo da identidade cultural, uma vez que tangencie ou aborde diretamente o tema. Constantemente as pessoas fazem juízos de valor, manifestam adesão ou repulsa, aos discursos sobre as identidades culturais. De acordo com Fiorin: A teoria bakhtiniana leva em conta não somente as vozes sociais, mas também as individuais. Segundo ela (...) um discurso pode ser tanto o lugar de encontro de pontos de vista de locutores imediatos (por exemplo, num bate papo, numa admoestação a um filho) como de visões de mundo, de orientações teóricas, de tendências filosóficas, etc. (...) Ao tomar em consideração tanto o social quanto o individual, a proposta bakhtiniana permite examinar, do ponto de vista das relações dialógicas, não apenas as grandes questões filosóficas, políticas, estéticas, econômicas, pedagógicas, mas também fenômenos da fala cotidiana. (Fiorin, 2006, p.26-7) Se entendemos os fenômenos da fala cotidiana como manifestações do sujeito sob a perspectiva bakhtiniana, podemos explicar a grande quantidade de conflitos, contradições e até preconceitos existentes nos debates sobre as identidades culturais. Há três eixos básicos na teoria: a unicidade do ser e do evento; a relação eu/outro; e a dimensão axiológica. No dizer de Fiorin, procurando explicitar Bakhtin, o ser é um evento único. (...) Sua filosofia não constituirá leis gerais, mas será uma fenomenologia dos eventos. A unicidade do ser humano existe na ação, no ato individual e responsável. Viver é agir e agir em 325

relação ao que não é o eu, isto é, o outro. Eu e outro constituem dois universos de valores ativos, que são constitutivos de todos os nossos atos. Ações concretas realizam-se na contraposição de valores. (Fiorin, 2006, p.17) A partir dessas coordenadas podemos procurar situar a questão da identidade cultural dentro dos conceitos de dialogismo de Bakhtin. No primeiro conceito de dialogismo, todo enunciado constitui-se a partir de outro enunciado (Fiorin 2006, p.24), temos um princípio que percorre talvez toda a linguagem, e que certamente justifica o comum debate de ideias. Assim, colocar a identidade cultural na ordem do debate e do dialogismo, isto é, dizer a identidade, enunciá-la etc., tem um sabor de necessidade de contraposição por parte de quem o diz, contraposição a um discurso vigente, mas talvez invisível. Em outras palavras, se moramos num determinado lugar, falamos a língua que quase todos ali falam, nossa localização no mundo e no universo cultural parece evidente e não precisaríamos afirmá-la. Mas não é tão simples assim, porque as identidades são, na verdade, como nos explicita Hall, contraditórias. No segundo conceito de dialogismo, temos as seguintes modalidades: discurso alheio demarcado, discurso alheio não demarcado, e dentro destes, polêmica clara, polêmica velada, paródia, estilização e estilo. Essas modalidades ou índices são facilmente exemplificáveis com textos que versam sobre diferentes assuntos, e também se mostram bastante produtivos ao serem usados para analisar enunciados sobre identidade cultural. A hipótese da intersubjetividade de Benveniste Ao pensarmos na enunciação de Benveniste, partindo da noção de intersubjetividade, talvez seja possível propor trabalhos relacionados à identidade cultural. Não há método de análise proposto em Benveniste, mas pode-se dizer que isto está em aberto, sugerido como possibilidade. Em princípio, não seria provavelmente o caso de uma análise linguística formal; mas sim, semântico-discursiva. Benveniste chega a falar alguma coisa sobre como nos relacionamos com a língua e com a sociedade língua e sociedade são para os homens realidades inconscientes, uma e outra representam a natureza (...) o meio natural e a expressão natural, coisas que não podem ser concebidas como outras que não são e que não podem ser imaginadas como ausentes (PLG II, p.96). Essa percepção é válida como um princípio porque sujeito, língua e sociedade são indissociáveis. Ainda, se quisermos entender a cultura como, justamente, a relação entre sujeito, língua e sociedade, temos não só uma mera manifestação discursiva de alguns sujeitos. Temos ali, na verdade, algo que atesta essa relação intrincada: está na língua (aqui como discurso) porque está no sujeito, e portanto na sociedade, simultaneamente. Para mais além disso, no dizer do próprio Benveniste, a língua funciona como interpretante da sociedade ao mesmo tempo que contém a sociedade. No artigo Estrutura da língua e estrutura da sociedade, ele aponta algumas possibilidades em nível teórico. A relação entre língua e sociedade (portanto, cultural) é um assunto que Benveniste não desenvolveu propriamente, mas menciona de alguma forma. A intersubjetividade, noção tão cara a Benveniste, parece unir muito adequadamente o dialógico-discursivo, exterior à língua, ao traço autorreferencial da linguagem, portanto internamente linguístico: 326

(...) cada um fala a partir de si. Para cada falante o falar emana dele e retorna a ele, cada um se determina como sujeito em relação ao outro ou a outros. Entretanto, e talvez por causa disto, a língua que é assim a emanação irredutível do eu mais profundo de cada indivíduo é ao mesmo tempo uma realidade supraindividual e coextensiva à toda a coletividade. (...) [a língua] fornece o instrumento lingüístico que assegura o duplo funcionamento subjetivo e referencial, é a distinção indispensável (...) entre o eu e o não-eu. (Benveniste, 2006, p.101) Ou seja, se a identidade cultural, como pensada pelos teóricos dos estudos culturais, é a que se constitui pela diferença, não há como não se admitir que tal diferença começa nesse índices subjetivos (eu-tu) que dizem como a criança se percebe diferente da mãe, como os irmãos se percebem diferentes entre si, como os homens se percebem diferentes, e aí por diante, desde o núcleo social íntimo (família) até os mais amplos (ser cidadão num mundo globalizado e multicultural), passando por várias etapas ou níveis de sociedade vividos ou imaginados (terráqueo extraterrestre). No mesmo artigo, ainda, Benveniste faz uma abordagem marxista da linguagem o homem se situa em relação à sociedade e à natureza em uma classe ou de autoridade ou de produção, e a língua é o que revela o uso particular que os grupos ou classes fazem dela (p.101-102, parafraseado por mim). Para adaptar essa hipótese marxista de Benveniste, podemos dizer que a complexidade da pós-modernidade nos permite falar nessas relações de conflito de classe, sim, ampliando-as. Se um dia se pensou que relações de produção tinham na sua causa conflitos entre classe dominante e classe dominada, e que a ideologia apagava essa evidência, hoje pode-se falar que há mais conflitos rompendo a barreira do apagamento da ideologia, além do socioeconômico 3. E nisso entra a contribuição dos estudos culturais, no seu papel de tentar descrever em que termos esses conflitos se verificam de gênero, de etnia, de sexualidade, e aí por diante. Outra questão pertinente é, já que Benveniste fala em estrutura da língua e da sociedade, discutir se cabe pensarmos os estudos da cultura, ou da identidade mais especificamente, dentro da sugerida metassemântica, que ainda não tem seu aparelho de conceitos e definições, mas que pode ser desenvolvido. De antemão, podemos propor que falar a identidade cultural é propor-se como sujeito da cultura na língua (i.e. dizer eu sou gaúcho não está em uma relação lógica com o mundo organizado geopoliticamente, mas está em uma relação subjetiva com e referencial ao próprio discurso sobre a cultura). Se pensarmos na enumeração que Benveniste faz no artigo Sentido e forma na linguagem que, de forma sintética, descreve o muito (modalizando para não dizer o todo ) da linguagem, seria possível colher daí índices para uma categorização de enunciados? Vemos desta vez na língua em sua função mediadora entre o homem e o homem, entre o homem e o mundo, entre o espírito e as coisas, transmitindo a informação, comunicando a experiência, impondo 3 A especificidade do contexto colonial é que a infraestrutura econômica é também uma superestrutura... você é rico porque é branco, você é branco porque é rico. É por isso que a análise marxista deveria sempre ser um pouco ampliada toda vez que se lida com o problema colonial. (Fanon, apud Bhabha, 2009, p.113. Tradução minha) 327

adesão, suscitando a resposta, implorando, constrangendo; em resumo, organizando a vida dos homens. (...) Somente o funcionamento semântico da língua permite a integração da sociedade e a adequação ao mundo. (Benveniste, 2006, p.229) Não seriam estes gerúndios aí os índices, senão propostos, pelo menos apontados ou vagamente sugeridos, de funções do discurso, os quais podem ser categorias de análise de enunciados? Temos alguns princípios a pressupor para uma análise a relação intrincada e indissociável língua-sociedade; o duplo funcionamento, subjetivo ao mesmo tempo que referencial para citar os já levantados aqui; temos possíveis categorias de análise de frases ; existem, enfim, algumas possibilidades. A hipótese da polifonia de Ducrot Oswald Ducrot, na linha do estruturalismo dito saussuriano, é provavelmente o linguista da enunciação mais bem sucedido ao abordar a língua na sua ordem própria. Autor da teoria da argumentação na língua, sua produção teve fases e sua teoria progrediu cronologicamente. Para a abordagem que fazemos aqui, no entanto, vamos nos deter em uma de suas fases iniciais, a teoria polifônica. A possibilidade de análise de enunciados que versam sobre identidade cultural a partir da noção de polifonia, no entanto, é a mais linguística, em sentido estrito, dentre as levantadas até agora, desde que se entenda a sua semântica pragmática ou pragmática linguística como uma linguística dos enunciados 4. Partindo da noção musical de polifonia (diferentes vozes), diferencia-se o autor do enunciado (sujeito empírico), do locutor e do enunciador. Como na música, que as diferentes vozes podem ser ouvidas ao mesmo tempo, é possível recuperar as diferentes vozes que compõem um único enunciado. Inúmeros exemplos a partir de enunciados podem evidenciar a polifonia, mas não sem nos colocar outras questões fundamentais: o que motiva esse ou aquele ponto de vista, que é o que faz surgir um enunciado no diálogo? Ou seja, parece que é mais importante para o estudo proposto questionar o autor empírico do que o locutor. Mas é, por outro lado, o locutor quem nos fornece o enunciado. Embora fique evidente a questão da polifonia nesse tipo de análise com enunciados específicos, o exterior que constitui o enunciado é irrelevante. O nó difícil de desatar aqui se deve ao fato de que grande parte das discussões sobre identidade cultural remete às condições externas de produção dos enunciados, mas é Ducrot quem, ao mesmo tempo, formula um modelo de análise do sentido dos enunciados, dissocia-o do extralinguístico. Ducrot não ignora que os enunciados podem obedecer a tais ou tais condições em que foram produzidos; mas os modelos de análise que propõem respeitam uma ordem interna e lógica na língua. Na sequência da abordagem polifônica, um grande número de enunciados pode ser estudado: os que contêm negação, os irônicos, os humorísticos que contêm um ponto de vista absurdo, isso sem nem mencionar suas fases seguintes. Mas para o estudo da identidade cultural, apenas uma abordagem de enunciados que se limite ao sentido dos enunciados em relação a si mesmos parece, em primeira análise, não nos dizer muita coisa. Talvez fosse mais produtivo, por outro lado, basear-se em Ducrot num modelo linguístico e lógico de análise de enunciados, 4 E não dos fones, dos morfemas, por um lado, e nem dos textos ou discursos, por outro lado. 328

aplicá-lo extensivamente a muitos enunciados para, a partir dessas análises, elaborar conclusões semântico-discursivas. É uma hipótese. Considerações finais: mais questões Em um trabalho ensaístico de elaboração de hipóteses, é possível admitir-se que as considerações finais não sejam conclusivas, mas de novos questionamentos surgidos a partir do que foi discutido. Uma aparente conclusão, mesmo que não definitiva, e que era na verdade um pressuposto, é que a interface entre os estudos culturais e a linguística (ou linguísticas) da enunciação para o estudo das identidades culturais é possível. Observando-se, por exemplo, a noção de sujeito aproximada que as referidas teorias apresentam, passando pela noção de subjetividade na linguagem, e admitindo-se que a questão da identidade é mais profunda do que a linguística tradicionalmente propõe, aponta-se um rumo de investigação. Há a possibilidade de proposição de um tema a partir de alguns pressupostos teóricos, ainda que não delineados para tal tarefa, justamente devido a sua interdisciplinaridade, mas que dependem, talvez, de um direcionamento adequado para vir a sê-lo. Parece que o percurso de hipóteses de investigação linguística formuladas ao longo do ensaio faz, ainda que sutilmente, uma passagem do exterior à língua até o interior do enunciado, o eminentemente linguístico, por onde perpassa a questão da identidade cultural, justificando um tema que pode ser aprofundado em Linguística da Enunciação. Em linhas bem gerais, para resumir tudo, temos em Authier-Revuz a justificativa do exterior ao linguístico; em Bakhtin o princípio exterior motivador propriamente dito (além dos termos evocados dos Estudos Culturais); em Benveniste, de certa forma, temos o dialógico fundindo-se com o linguístico (o que deve ser entendido aqui pela da noção de intersubjetividade); e na polifonia de Ducrot aponta-se uma possibilidade de estudo linguístico dos enunciados. Esse percurso parece apontar para uma interdependência teórica em que, mesmo se trocássemos algumas hipóteses, trocássemos alguns autores, provavelmente essa passagem do externo para o interno da língua precisaria ser mantida. Isto equivale, também, dizer que as hipóteses apresentadas não são, em princípio, excludentes umas das outras, mas complementares num certo sentido, isto é, não necessariamente integráveis entre si, mas níveis de um estudo. Referências AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Heterogeneidade mostrada e heterogeneidade constitutiva: elementos para uma abordagem do outro no discurso. In: Entre a transparência e a opacidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. BAKHTIN, Mikhail. [VOLOCHINOV]. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1979. BENVENISTE, Émile. Problemas de lingüística geral II. Campinas, SP: Pontes Editores, 2006. BHABHA, Homi. The other question: Stereotype, discrimination and the discourse of colonialism. In: The location of culture. New York/London: Routledge (10ed), 2009. DUCROT, Oswald. Esboço de uma teoria polifônica da enunciação. In: O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987. 329

DUCROT, Oswald. La polifonia en lingüística. In: Polifonia y argumentación conferencias del seminario Teoria de la Argumentación y Analisis del Discurso. Cali: Universidad Del Valle, 1989. FIORIN. José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006. FLORES, Valdir. Dialogismo e enunciação: Elementos para uma epistemologia da lingüística. Linguagem & Ensino, Vol.1, N.1, 1998 (3-32). HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. TEIXEIRA, Marlene. Análise do discurso e psicanálise. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. 330