SISTEMA DIGESTIVO SUMÁRIO

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Transcrição:

SISTEMA DIGESTIVO SUMÁRIO ANATOMIA, HISTOLOGIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTIVO 1 - Introdução 2 Cavidade oral: mucosa oral, palato, glândulas salivares menores, dentes e língua 3 Glândulas salivares maiores: parótida, submandibular e sublingual 4 Faringe 5 Esófago 6 Estômago. Mucosa gástrica e glândulas gástricas. Barreira Mucosa Gástrica. Secreção gástrica ácida e enzimática: as glândulas gástricas e a regulação da secreção gástrica. Esfíncter gastro-esofágico inferior. Esvaziamento gástrico e esfíncter pilórico. 7 Intestino delgado: duodeno, jejuno e íleo. Pregas circulares e vilosidades intestinais. Epitélio intestinal e glândulas de Lieberkühn. 8 Intestino grosso: ceco, cólon ascendente, transverso, descendente e sigmóide, recto e canal anal. 9 Peritoneu 10 Fígado: lóbulo hepático, tríade portal, canais biliares, vesícula biliar, canal colédoco. 11 Pâncreas..

ANATOMIA E HISTOLOGIA DO SISTEMA DIGESTIVO I INTRODUÇÃO CONSTITUIÇÃO ORGANIZAÇÂO GERAL ASPECTOS FUNCIONAIS O sistema digestivo compreende todos os órgãos relacionados com a ingestão, mastigação, deglutição, digestão dos alimentos, absorção dos nutrientes e a eliminação de alimentos não absorvíveis. Anatomicamente o sistema digestivo é descrito como sendo constituído por um longo tubo que tem início na fissura oral (a fenda entre os lábios superior e inferior) e termina no ânus, convencionalmente dividido pelas suas características anatómicas, histológicas e fisiológicas em: cavidade oral, faringe, esófago, estômago, intestino delgado com as três porções designadas duodeno, jejuno e íleo e intestino grosso com vários segmentos designados ceco, cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendenter, cólon sigmóide, recto e canal anal. Paralelamente ao longo tubo digestivo consideram-se as seguintes estruturas anexas ao tubo digestivo: dentes, língua, glândulas salivares, fígado e pâncreas 1. Histologicamente, a parede do tubo digestivo apresenta uma camada mais interna que é a mucosa, cujo epitélio reveste o lúmen, a camada periférica da parede é uma espessa camada muscular, separada da camada mucosa, por uma camada de tecido conjuntivo frouxo que constitui a submucosa 1, 2. As paredes do tubo digestivo, desde o esófago até ao ânus apresentam uma densa rede de neurónios que constituem o sistema nervoso entérico dividido em dois plexos: o plexo submucoso ou plexo de Meissner situado na submucosa e o plexo mioentérico ou plexo de Auerbach situado entre as camadas muscular e longitudinal. O plexo submucoso e o plexo mioentérico permitem integrar localmente estímulos que desencadeiam actividade secretora e motora, respectivamente, dando autonomia funcional ao tubo digestivo 3, 4. Paralelamente, neurónios das componentes simpática e parassimpática do sistema nervoso autónomo, terminam nestes plexos nervosos permitindo alterar a actividade digestiva consoante as necessidades. A componente parassimpática aumenta a actividade peristáltica e secretora do tubo digestivo e relaxa os esfíncteres. A componente simpática tem carácter inibitório, inibindo a actividade peristáltica e secretora e contraindo os esfíncteres 3, 5. Na perspectiva fisiológica, o tubo digestivo assim constituído é capaz de fazer progredir os alimentos ingeridos ao longo dos seus vários segmentos onde esses alimentos encontram compartimentos com características fisiológicas diferentes, essas características dependem essencialmente das funções secretora e absortiva das células epiteliais da mucosa. Nestes compartimentos, os alimentos previamente triturados por acção mecânica dos dentes, são colocados em contacto com enzimas digestivas, as quais transformam as grandes biomoléculas constituintes dos alimentos em moléculas sufientemente pequenas para atravessarem a membrana plasmática das células epiteliais, do lúmen em direcção ao espaço intersticial do tecido conjuntivo de suporte colocado em torno da face basal do epitélio. Estas moléculas entram no sistema vascular e, através do fluído plasmático chegam a todas as células do organismo. As substâncias que não foram absorvidas serão eliminadas através do ânus 1. A principal função do sistema digestivo é transformar os alimentos ingeridos em nutrientes assimiláveis pela mucosa intestinal para que entrem no sangue. O sistema digestivo cumpre este objectivo porque tem capacidade de: motilidade, secreção, digestão e absorção. A motilidade refere-se aos movimentos de mistura e propulsão dos alimentos ao longo do tubo digestivo. A secreção refere-se à produção e libertação de substâncias no interior do tubo digestivo que colaboram na digestão, humedecimento lubrificação dos alimentos e regulação do processo digestivo. A digestão refere-se à transformação das grandes moléculas que constituem os alimentos, em pequenas moléculas que facilmente possam ser absorvidas pelo epitélio intestinal. A absorção é a passagem de nutrientes, do lúmen do tubo digestivo para o sangue 3. A motilidade permite a progressão dos alimentos ao longo do tubo digestivo, facilita a mistura dos alimentos com as secreções e permite que os nutrientes fiquem em contacto com a face apical das células epiteliais responsáveis pela absorção 3. A motilidade deve-se à contracção e relaxamento das fibras musculares lisas que formam a camada muscular do tubo digestivo, controladas pelo sistema nervoso entérico e por substâncias endócrinas, a maior parte libertadas por células

epiteliais da mucosa do tubo digestivo (células entero-endócrinas9 3, 5. O movimento propulsivo básico do tubo digestivo é a peristalse ou reflexo peristáltico 4. A peristalse é uma propriedade inerente de estruturas tubulares com fibras musculares lisas nas suas paredes. A distensão de um determinado segmento do tubo digestivo devido à acumulação de alimentos nesse segmento é o principal estímulo que desencadeia a peristalse, caracterizada pela contracção de um anel de fibras musculares do lado oral e relaxamento das fibras musculares do lado anal ao local da distensão. Por conseguinte os movimentos são empurrados de oral para anal, passando para outro segmento do tubo digestivo, cuja distensão despoleta novamente a formação do anel contráctil do lado oral e relaxamento de fibras musculares do lado anal ao novo segmento distendido 4, 5. Este movimento repete-se ao longo do tubo digestivo e o resultado é idêntico ao resultado de colocar os dedos à volta de um tubo distendido, deslizando os dedos ao longo desse tubo 5. Bibliografia 1 - Williams PL, Warwick R. Gray s Anatomy. 38 th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. pp 1683-1815 2 - Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. pp 284-414. 3 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4 th Edition. St Louis: Mosby; 1998. pp 589-674 4 - Kunze WAA, Furness JB. The Enteric Nervous System and Regulation of Intestinal Motility. Annual Review of Physiology. 61:117-142; 1999. 5 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10 th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. pp 718-833 II - A CAVIDADE ORAL A cavidade oral consiste de uma pequena porção mais exterior ou periférica em forma de fenda designada vestíbulo e uma porção maior designada cavidade oral propriamente dita. O vestíbulo está limitado externamente pelos lábios e bochechas e internamente pelos arcos alveolares e dentes. A cavidade oral propriamente dita é o espaço limitado anteriormente e lateralmente pelos arcos alveolares e dentes. Posteriormente a cavidade oral comunica com a faringe através do istmo ou orifício orofaríngeo, o espaço limitado pelo arco palatoglosso e que constitui anatomicamente o limite posterior da cavidade oral 1, 2. Toda a cavidade oral está revestida por uma membrana mucosa que constitui a mucosa oral cujo epitélio é pavimentoso estratificado, queratinizado ou não consoante o local da cavidade oral 3, 4. 1 LÁBIOS Constituem a parede anterior da cavidade oral. São duas pregas carnosas revestidas externamente por pele e internamente por mucosa oral, com uma camada muscular intermédia formada pelo músculo orbicular da boca. O espaço entre lábio superior e lábio inferior é designado fissura oral, fenda oral ou orifício oral, estando limitada de cada lado pelas comissuras labiais 1, 2. 2 BOCHECHAS Formam as paredes laterais da cavidade oral, sendo constituídas principalmente pelo músculo bucinador, revestido internamente por mucosa oral e externamente por pele 1, 2. 3 ARCOS ALVEOLARES MANDIBULAR E MAXILAR Os arcos alveolares, são duas saliências ósseas no interior da cavidade oral, uma inferior que se salienta para cima e outra superior que se salienta para baixo, apresentando forma de ferradura com concavidade voltada para o interior da boca. O arco alveolar superior é formado pela apófise alveolar do osso maxilar de cada lado e o arco alveolar inferior é formado pelo bordo superior do corpo da mandíbula. Os arcos alveolares são responsáveis pela fixação e suporte dos dentes, por isso, possuem uma série de escavações, designadas alvéolos dentários onde encaixam as raízes dos dentes 1, 2.

Os arcos alveolares são revestidos pela mucosa oral histologicamente idêntica e contínua com a restante mucosa da cavidade oral. No rebordo do arco alveolar, também designado crista alveolar, a mucosa oral constitui a gengiva, com uma porção firmemente aderida à crista alveolar e ao dente através de fibras de colagénio e uma margem livre que forma um colarinho à volta do dente 2, 3. 4 PALATO Forma o tecto da cavidade oral e, em simultâneo, constitui o soalho da cavidade nasal. Apresenta duas regiões contínuas uma com a outra. A região mais extensa e mais anterior do palato constitui o palato duro, a região mais posterior constitui o palato mole. A superfície do palato voltada para a cavidade oral está revestida por mucosa oral com o respectivo epitélio pavimentoso estratificado 2. O palato duro é a porção mais anterior e apresenta uma estrutura esquelética formada pela apófise palatina do osso maxilar de cada lado e pela lâmina horizontal do osso palatino, de cada lado. A mucosa oral reveste esta estrutura esquelética e apresena uma rafe tendinosa no plano mediano, designada rafe palatina que termina numa saliência anterior designada papila incisiva. Da rafe palatina partem uma série de rugas ou saliências transversais e na submucosa sob a mucosa que cobre estas rugas colocam-se inúmeras glândulas palatinas mucosas salivares, que fazem parte do conjunto de glândulas salivares menores 1, 2. O palato mole é uma prega móvel suspensa no bordo posterior do palato duro e estendendo-se para trás e para baixo, entre a nasofaringe e a orofaringe. Na sua posição normal, relaxada e pendente, a sua superfície inferior, voltada para a cavidade oral é côncava para diante, enquanto a sua superfície superior voltada para a cavidade nasal é convexa para trás. Apresenta uma camada muscular entre a camada mucosa da cavidade nasal que reveste a superfície superior, e a camada de mucosa oral que reveste a face inferior 1, 2. A camada muscular que entra na constituição do palato mole constitui a musculatura palatina que permite a elevação do palato mole, no momento da deglutição, impedindo que os alimentos alcancem a nasofaringe 2. Da margem inferior e posterior livre do palato mole pende uma estrutura arredondada designada úvula. De cada lado da base da úvula partem duas pregas para baixo e lateralmente, formando com as do lado oposto dois arcos. Estas pregas são saliências da mucosa causadas por feixes de fibras musculares que entram na constituição da parede da faringe. O arco anterior designa-se arco palatoglosso e é o limite anatómico posterior da cavidade oral, limitando o istmo ou orifício orofaríngeo. O arco posterior já faz parte da faringe e designa-se arco palatofaríngeo. Entre o arco palatoglosso e o arco palatofaríngeo, colocada na faringe, de cada lado, situa-se a amígdala palatina 1, 2. Cada amígdala palatina é um agregado de tecido linfóide implicado na defesa contra agentes patogénicos 2. 5 LÍNGUA A língua é um órgão muscular associado à deglutição, fala e paladar, situando-se parcialmente na boca e parcialmente na faringe. Pelos seus componentes musculares, está inserida: no osso hióide, palato mole, mandíbula, faringe e apófise estilóide do osso temporal. As porções mais anterior e a mais posterior constiuem o ápice e a raiz da língua, respectivamente, a superfície superior (ou póstero-superior pela posição que adquire) é designada o dorso da língua 2. Todas as superfícies da língua estão revestidas por mucosa oral com um epitélio pavimentoso estratificado suportado por uma lâmina de tecido conjuntivo que separa o epitélio das fibras musculares 2, 3. O dorso da língua é convexo e apresenta um sulco em V designado sulco terminal, que divide a língua em duas porções, a porção oral e a porção faríngea 1, 2. A porção oral da língua, formando os dois terços anteriores, está colocada sobre o soalho da boca, o seu ápice une-se ao soalho da boca pelo freio lingual e encosta nas faces posteriores dos dentes incisivos. O dorso da porção oral da língua está voltado para cima, apresenta um sulco no plano mediano e inúmeras saliências da mucosa, as papilas linguais que aumentam área de contacto com os alimentos que estão a ser saboreados. As papilas linguais apresentam formas

diversificadas e são classificadas, segundo essa forma, em papilas filiformes, papilas fungiformes, papilas foliadas e papilas valadas 1, 2. As papilas valadas são as maiores, estão colocadas imediatamente à frente do sulco terminal. São estruturas cilíndricas com 1 ou 2 milímetros de diâmetro, com um profundo sulco à volta que separa a papila de uma elevação da mucosa mais periférica que contorna a papila. Numerosas glândulas serosas, as glândulas de von Ebner, existentes no tecido conjuntivo de suporte ao epitélio, segregam substâncias para o sulco que rodeia a papila valada 1, 2, 3. Estas glândulas produzem uma enzima, a lipase lingual, que previne a formação de uma camada hidrofóbica sobre o dorso da língua que prejudicaria a função sensitiva. Além disso, esta lipase lingual parece actuar sobre o bolo alimentar permitindo que uma pequena percentagem de triglicerídeos existentes na dieta sejam digeridos no estômago por esta enzima 3, 5, 6. No epitélio da mucosa que reveste o dorso da porção oral da língua aparecem estruturas microscópicas, os botões ou corpúsculos gustativos com função sensitiva, responsáveis pelo paladar. Cada botão gustativo é um conjunto de 50 a 100 células, colocadas no epitélio da mucosa oral, mas morfologicamente distintas das células epiteliais de revestimento organizadas de modo a formar um minúsculo órgão em forma de barril. A maior parte das células que formam o botão gustativo são receptores sensitivos que despolarizam, quando em contacto com determinadas substâncias dissolvidas na saliva. A despolarização destas células leva à libertação de neurotransmissores que estimulam fibras nervosas aferentes, estas são responsáveis por transportar estes estímulos nervosos ao sistema nervoso central. O resultado é a percepção de quatro tipos de sabor: salgado, azedo, doce e amargo, cada um deles despoletado pela presença de determinadas moléculas dissolvidas na saliva. Para o contacto com estas moléculas, as células sensitivas possuem microvilosidades no seu polo apical, que está em contacto com um minúsculo poro existente no epitélio da mucosa oral. Cada botão gustativo está em contacto com um poro e todos os poros espalhados na mucosa oral comunicam livremente com o lúmen da cavidade oral 3, 4. A porção faríngea também designada base da língua forma o terço posterior da língua, está colocada na faringe, atrás do arco palatoglosso e seu dorso fica voltado para trás, constituindo a parede anterior da orofaringe. É desprovida de papilas linguais mas contém agregados de tecido linfóide que causam elevações arredondadas na mucosa do dorso desta parte da língua 2, 3. 6 SOALHO DA BOCA O músculo milohioideu é o principal componente do soalho da boca. É revestido internamente pela mucosa oral que se reflecte e se continua na mucosa que reveste a língua e a face interna do arco alveolar inferior 1, 2. 1, 2, 3 7 DENTES 7.1 Morfologia dentária Os dentes são órgãos fundamentais para a mastigação, colocados na cavidade oral, inseridos nos arcos alveolares. Um dente consiste de duas partes: a coroa que é a porção do dente que fica voltada para a cavidade oral e a raiz ou raízes que constituem a porção do dente que fica inserida no alvéolo, a escavação óssea do arco alveolar onde se insere o dente. A coroa está revestida perifericamente pelo esmalte tecido altamente mineralizado e acelular que atinge uma espessura máxima que ronda 2,5 milímetros. Cerca de 96% do esmalte é substância inorgânica constituída essencialmente por cristais de hidroxiapatite. Estes cristais organizam-se para formar os prismas do esmalte que são colunas que percorrem toda a camada de esmalte, desde a junção esmalte-dentina, até à superfície da coroa. A coroa pode apresentar bordos incisais, ou então cúspides separadas por fissuras. A raiz ou raízes dentárias estão revestidas perifericamente por uma camada de tecido duro, o cimento, que com o avançar da idade pode atingir 1 milímetro de espessura. O cimento é um tecido mineralizado com um componente inorgânico que corresponde a cerca de 50% do seu peso, constituído essencialmente por cristais de hidroxiapatite e fosfato de cálcio. Este

tecido é atravessado por fibras de colagénio que se inserem por um lado ao cimento e, por outro ao lado, ao osso alveolar, constituindo o ligamento periodontal, permitindo a fixação do dente ao osso envolvente. A zona de junção entre coroa e raiz designa-se colo ou margem cervical. Num corte longitudinal, o dente revela: um espaço no seu interior, a cavidade pulpar que continua em cada raiz como canal pulpar. Cavidade e canal pulpares são preenchidos pela polpa, formada por tecido conjuntivo que recebe vasos e estruturas nervosas provenientes do osso alveolar, através do orifício apical, situado no ápice da raiz. À volta da cavidade e canal pulpares há uma camada de tecido mineralizado designado dentina. A porção inorgânica da dentina que corresponde a cerca de 70% do seu peso é constituída essencialmente por cristais de hidroxiapatite. Este tecido possui inúmeros canalículos preenchidos por prolongamentos citoplasmáticos de células colocadas na polpa e designadas odontoblastos. Estes prolongamentos citoplasmáticos são responsáveis pela sensibilidade dentária. A matriz orgânica da dentina é produzida pelos odontoblastos, mais tarde esta matriz mineraliza. A espessura da dentina aumenta com a idade roubando espaço ao compartimento pulpar. 7.2 Dentição permanente e dentição decídua Uma linha imaginária que passa entre os dois incisivos centrais superiores e inferiores permite dividir a boca em quatro quadrantes: o quadrante superior direito ou 1º quadrante na dentição permanente, 5º quadrante na dentição decídua; o quadrante superior esquerdo ou 2 o quadrante na dentição permanente, 6º quadrante na dentição decídua; o quadrante inferior esquerdo ou 3º quadrante na dentição permanente, 7º quadrante na dentição decídua; o quadrante inferior direito ou 4º quadrante na dentição permanente, 8º quadrante na dentição decídua. Num adulto, a dentição completa em cada quadrante é formada por: 2 dentes incisivos, 1 dente canino, 2 dentes prémolares, 3 dentes molares. Este conjunto de dentes nos quatro quadrantes constitui a dentição permanente. No entanto, os incisivos, caninos e pré-molares vão substituir a designada dentição decídua, formada em cada quadrante por: 2 dentes incisivos, 1 dente canino, 2 dentes molares. A substituição dos dentes decíduos faz-se em dois períodos diferentes. Entre os cinco e os sete anos de idade, os dentes incisivos decíduos são substituídos pelos homónimos da dentição permanente e atrás da dentição decídua irrompem os primeiros molares permanentes, também designados molares dos seis anos. Entre os nove e doze anos de idade os molares decíduos são substituídos pelos pré-molares, os caninos decíduos são também substituídos e atrás dos primeiros molares irrompem os segundos molares também designados molares dos doze anos. Mais tarde, após os dezassete anos, erupcionam os terceiros molares Bibliografia 1 - Netter FH. Atlas de Anatomia Humana. Segunda Edición. East Hanover. Novartis; 1999. 2 - Williams PL, Warwick R. Gray s Anatomy. 38 th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. pp 1683-1815 3 - Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. pp 284-414. 4 - Kierszenbaum AL. Histologia e Biologia Celular. Uma Introdução à Patologia. Rio de Janeiro: Elsevier 2004. 5 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4 th Edition. St Louis: Mosby; 1998. pp 589-674 6 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10 th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. pp 718-833 III - GLÂNDULAS SALIVARES 1 ANATOMIA DAS GLÂNDULAS SALIVARES 1, 2 Num sentido lato são células ou órgãos que libertam secreções para a cavidade oral, que no seu conjunto formam a saliva. Convencionalmente pode fazer-se a distinção entre as glândulas salivares maiores, situadas a alguma distância da

mucosa oral, comunicando com a cavidade oral através de canais extraglandularese e as glândulas salivares menores espalhadas na mucosa e submucosa da cavidade oral. Há três pares de glândulas salivares maiores. As glândulas parótidas, uma de cada lado estão situadas abaixo do orifício do meato acústico externo, entre a mandíbula e o músculo esternocleidomastoideu, estendendo-se para diante, na superfície do músculo masseter. Seu canal excretor dirige-se para diante na superfície do músculo masseter, perfura o músculo bucinador e abre-se numa papila da mucosa oral, na bochecha ao nível da coroa do 2º molar superior. As glândulas submandibulares, uma de cada lado, estão situadas sob o soalho da cavidade oral, encostadas à face interna do corpo da mandíbula, na designada fossa submandibular, abaixo da linha milohioideia da mandíbula. O canal excretor abre-se no pavimento da boca, numa papila próxima do freio lingual. As glândulas sublinguais, uma de cada lado, estão situadas sob a membrana mucosa do soalho da boca, sob a ponta da língua em contacto com a fossa sublingual da face interna da porção anterior do corpo da mandíbula. Seus canais excretores são vários e abrem-se no soalho da boca sob o ápice ou ponta da língua. 2 MICRO-ESTRUTURA DAS GLÂNDULAS SALIVARES As glândulas salivares maiores são constituídas por aglomerados de células reunidas em lobos separados entre si por septos de tecido conjuntivo. Cada lobo é uma porção de parênquima constituído por vários lóbulos, por sua vez, cada lóbulo é formado por um canal excretor que se ramifica no interior do lóbulo e cada ramo terminal acaba numa porção secretora dilatada e arredondada, o ácino ou alvéolo glandular. O ácino é constituído por um grupo de células com função secretora cujas secreções são libertadas numa estrutura tubular de diminutas dimensões, este conjunto constitui a terminação secretora da glândula. As terminações secretoras convergem para o canal intercalar. Vários canais intercalares de um lóbulo convergem para um canal estriado de dimensões maiores. Os vários canais estriados de um lóbulo convergem para um canal excretor que abandona o lóbulo. Diferentes canais excretores convergem para formar um ou mais canais excretores de maiores dimensões que desembocam na cavidade oral 2, 3. Nas terminações secretoras encontram-se dois tipos de células secretoras: as células acinares serosas, produtoras de um fluído de baixa viscosidade, constituído por proteínas entre as quais a amilase, a lisozima e a peroxidase e as células acinares mucosas, produtoras de substâncias com elevada viscosidade nomeadamente glicoproteínas do grupo das mucinas. Cada ácino pode conter apenas células mucosas, apenas células serosas, ou ambos os tipos de células 2, 4, 5. Na periferia das terminações secretoras e dos canais intercalares encontram-se células mioepiteliais com capacidade contráctil com o objectivo de aumentar o fluxo salivar para os canais estriados e excretores 2. 3 A SALIVA E A PRODUÇÃO DE SALIVA PELAS GLÂNDULAS SALIVARES A secreção das glândulas salivares é um fluido aquoso contendo água, electrólitos e uma mistura de proteínas e mucinas com grande peso molecular 7, 8. A água presente na saliva facilita a formação do bolo alimentar e funciona como solvente não só para diluição das moléculas que estimulam as células sensitivas responsáveis pelo paladar, mas também para que sejam possíveis as reacções enzimáticas digestivas 2. As mucinas têm como função lubrificar o bolo alimentar facilitando o seu percurso ao longo do tubo digestivo, evitando lesões da mucosa pelo atrito 2, 4, 6. Das proteínas presentes na saliva destaca-se a amilase, uma enzima responsável pela digestão de polissacarídeos 4, 6, no entanto, outras proteínas estão presentes como a lisozima, a lactoperoxidase e imunoglobulinas da classe A, todas elas com acção antimicrobiana 4, 5, 6. Sendo assim, a saliva providencia hidratação e protecção da mucosa oral, orofaríngea e esofágica, acção antimicrobiana e acção digestiva enzimática sobre o bolo alimentar. A importância destas funções tornam-se evidentes sempre que há hipofunção das glândulas salivares, situação que se manifesta clinicamente por dor oral, aumento de ocorrência de cárie dentária e de infecções oportunistas 5. A salivação é um processo rigorosamente controlado, ocorrendo a uma taxa muito baixa entre as refeições e quase nula durante o sono 5. O ser humano produz 800 a 1500 mililitros, em média 1000 mililitros por dia 6 e cerca de 80 a 90% ocorre durante as refeições 5 em resposta a estímulos tais como olfacto, paladar e forças mastigatórias 5, 6.

A produção de saliva pelas glândulas salivares pressupõe dois passos sequenciais. No primeiro passo as terminações secretoras, provavelmente (?) com a participação dos canais intercalares, segregam um fluído para o lúmen do canal intercalar, resultante do transporte activo de Na+ e Cl- e do transporte passivo de água constituindo a secreção primária. Este fluido é isotónico em relação ao plasma com predominância dos iões Na+ e Cl- tal como no fluído plasmático 4, 5, 6. O segundo passo no mecanismo de secreção salivar ocorre ao longo dos canais estriados e dos canais excretores, onde a secreção primária é modificada. A este nível os iões Na+ e Cl- são retirados do lúmen do canal estriado regressando ao plasma e, em simultâneo, são adicionados iões K+ e HCO3- ao fluído no lúmen do canal estriado 4, 6. O fluído resultante é sempre hipotónico em relação ao plasma com concentrações de Na+ e Cl- inferiores e com concentrações K+ e HCO3- superiores às do fluido plasmático 4, 6. À medida que aumenta o fluxo salivar também aumenta a tonicidade da saliva, no entanto, mesmo quando a taxa de secreção salivar atinge o valor máximo a tonicidade salivar permanece inferior à plasmática 4. O ph é variável consoante as circunstâncias: o ph da saliva produzida entre as refeições (glândulas em repouso) é ligeiramente ácida, no entanto, quando as glândulas são estimuladas a aumentar a taxa de secreção salivar, o ph da saliva atinge um valor próximo de 8, devido a um gradual aumento da concentração salivar de ião bicarbonato, à medida que aumenta a taxa de secreção salivar 4, 6. No tecido conjuntivo de suporte do parênquima glandular há plasmócitos que produzem imunoglobulinas da classe A que, através das células epiteliais das terminações acinares e dos canais intercalares estriados são adicionadas à saliva 3. 3 REGULAÇÃO DA SECREÇÃO PELAS GLÂNDULAS SALIVARES A secreção salivar é fortemente estimulada pela componente parassimpática do sistema nervoso autónomo. A estimulação quer da componente simpática quer da componente parassimpática estimulam a secreção salivar, no entanto, o efeito da estimulação parassimpática é mais forte e duradouro 4. Estimulação parassimpática aumenta a síntese e secreção de amilase salivar e mucinas 4, aumenta o transporte de iões e água através do epitélio dos canais intercalares e estriados, aumenta o fluxo sanguíneo facilitando a secreção de iões e água para o lúmen canalicular 4, 5 e estimula o metabolismo e crescimento da glândula salivar 4. A estimulação da componente simpática do sistema nervoso autónomo, da mesma forma que acontece com a estimulação da componente parassimpática, origina contracção de células mioepiteliais colocadas na periferia dos ácinos glandulares. Esta contracção permite esvaziar o conteúdo dos ácinos nos canais intercalares, estriados e excretores aumentando o fluxo salivar 2. No entanto, ao contrário do que sucede com a estimulação da componente parassimpática, a estimulação da componente simpática causa vasoconstrição acentuada o que restringe o fluxo de sangue na glândula salivar comprometendo a secreção salivar. Por conseguinte, a estimulação da componente simpática causa um pequeno aumento da secreção salivar que é de curta duração e que imediatamente reverte para a diminuição da secreção salivar 2, 4, 6. Bibliografia 1- Netter FH. Atlas de Anatomia Humana. Segunda Edición. East Hanover. Novartis; 1999. 2 - Williams PL, Warwick R. Gray s Anatomy. 38 th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. pp 1683-1815 3 - Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. pp 284-414. 4 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4 th Edition. St Louis: Mosby; 1998. pp 589-674. 5 - Melvin JE. Yule D, Shuttleworth T, Begenisich T. Regulation of Fluid and Electrolyte Secretion in Salivary Gland Acinar Cells. Annual Review of Physiology. 67:445-469; 2005. 6 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10 th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. pp 718-833 7 - Dockray GJ. Varro A, Dimaline R, Wang T. The Gastrins. Annual Review of Physiology. 63:119-139; 2001. 8 - Geibel JP. Secretion and Absortion by Colonic Crypts. Annual Review of Physiology. 67:471-490; 2005.

IV FARINGE E ESÒFAGO 1 Aspectos Anatómicos da Faringe 1, 2 È uma estrutura tubular musculomembranosa, colocada atrás da cavidade nasal, boca e laringe. Faz parte do sistema digestivo, mas sua porção superior permite a passagem de ar das cavidades nasais para a laringe. Em cima, a faringe está limitada pelo corpo do osso esfenóide e porção basilar do osso occipital. Atrás está encostada á porção cervical da coluna vertebral. À frente abre-se na cavidade nasal, boca e laringe, sua parede anterior está incompleta. Caudalmente termina ao nível da 6ª vértebra cervical, num plano coincidente ao bordo inferior da cartilagem, a partir do qual é contínua com o esófago. Na faringe são consideradas três partes. A parte nasal ou nasofaringe está colocada atrás da cavidade nasal e acima do palato mole. Entre a margem livre do palato mole e a parede posterior da faringe, a nasofaringe comunica com a orofaringe pelo istmo ou orifício faríngeo. De cada lado, nas paredes laterais da nasofaringe, estão as aberturas faríngeas das tubas auditivas, fazendo a comunicação entre as cavidades timpânicas e a nasofaringe. A parte oral ou orofaringe está colocada atrás da cavidade oral, entre o palato mole até ao bordo superior da epiglote. Abre-se anteriormente na boca, através do orifício orofaríngeo. Nas suas paredes laterais estão as amígdalas palatinas constituídas por colecções de tecido linfóide com a mesma organização dos nódulos linfáticos, colocadas uma de cada lado entre as pregas que formam os arcos palatoglosso e palatofaríngeo. A parte laríngea da faringe ou laringofaringe, está colocada desde o bordo superior da epiglote ao bordo inferior da cartilagem cricóide, onde continua com o esófago. Na sua parede anterior está a abertura superior da laringe. Estruturalmente a faringe é constituída por três camadas. A membrana mucosa é a camada mais interna, apresenta um epitélio colunar pseudo-estratificado e ciliado ao nível da nasofaringe, mas nas outras partes da faringe o epitélio é pavimentoso estratificado, idêntico ao da cavidade oral. A camada intermédia é fibrosa. É reforçada posteriormente por uma forte banda fibrosa, inserida em cima no tubérculo faríngeo da face inferior da porção basilar do osso occipital e que forma a rafe faríngea, no plano mediano da parede posterior da faringe. A camada muscular é a mais externa e é constituída por três músculos, os constritores superior, médio e inferior da faringe. Posteriormente os músculos unem-se aos do lado oposto inserindo-se na rafe faríngea. 2 Aspectos Anatómicos e Histológicos do Esófago É um tubo muscular que liga a faringe ao estômago. Tem início no pescoço ao nível do bordo inferior da cartilagem cricóide da laringe, onde é contínuo com a faringe. Coloca-se logo à frente da coluna vertebral, ao longo de todo o mediastino, até atingir o diafragma que perfura anteriormente à artéria aorta, alcançando a cavidade abdominal. Termina no orifício cárdico do estômago. Anteriormente ao esófago está colocada a traqueia 1, 2. Histologicamente o esófago apresenta do interior para o exterior: uma camada mucosa com epitélio pavimentoso estratificado, uma camada submucosa que une a mucosa à camada muscular e que é constituída por tecido conjuntivo com inúmeras glândulas mucosas, cujos canais se abrem no lúmen do esófago e uma camada muscular constituída por uma subcamada mais interna com fibras musculares com disposição circular e uma subcamada mais externa com fibras musculares colocadas longitudinalmente 2, 3. Quer a extremidade superior quer a inferior do esófago funcionam como esfíncteres fisiológicos que mantém os orifícios superior e inferior sempre fechados, excepto no momento da deglutição. Estes esfíncteres designam-se esfíncter esofágico superior e esfíncter esofágico inferior, este último é também designado esfíncter gastro-esofágico. O primeiro evita a entrada de ar no tubo digestivo e o segundo evita o refluxo dos alimentos do estômago para o esófago. Este último aspecto reveste-se de grande importância dado que a mucosa esofágica não tem protecção contra o ph extremamente ácido do conteúdo gástrico 4.

2 Aspectos Fisiológicos Mecanismo da Deglutição O reflexo da deglutição é é uma sequência rigidamente ordenada de eventos que empurram o bolo alimentar da boca até ao estômago. O mecanismo da deglutição ocorre em três fases: oral, faríngea e esofágica. A fase oral é voluntária e é iniciada quando o bolo alimentar, por acção da língua, é empurrado para a porção posterior da cavidade oral. O bolo alimentar é empurrado para a faringe, onde receptores sensitivos são estimulados despoletando mecanismos reflexos. Durante a fase faríngea, o palato mole eleva-se fechando a passagem para a nasofaringe. A laringe é deslocada para cima e para diante devido à elevação do osso hióide em resposta à contracção dos músculos supra-hioideus. Este deslocamento da laringe permite que a epiglote incline para trás, cobrindo o orifício superior da laringe. Além disso, as pregas vocais aproximam-se fechando a glote para que os alimentos não entrem na traqueia. Uma onda peristáltica percorre a faringe relaxando o esfíncter esofágico superior, os alimentos são empurrados para o esófago. Esta fase ocorre em menos de um segundo. A fase esofágica caracteriza-se por uma onda peristáltica que percorre o esófago causando relaxamento do esfíncter esofágico inferior ou gastroesofágico. Esta fase tem uma duração de cerca de 10 segundos terminando com a entrada do bolo alimentar no estômago 4. Bibliografia 1 - Netter FH. Atlas de Anatomia Humana. Segunda Edición. East Hanover. Novartis; 1999. 2 - Williams PL, Warwick R. Gray s Anatomy. 38 th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. pp 1683-1815 3 - Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. pp 284-414. 4 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4 th Edition. St Louis: Mosby; 1998. pp 589-674. VI ESTÔMAGO 1 ASPECTOS ANATÓMICOS 1, 2 É a porção mais dilatada do tubo digestivo, situado entre o esófago e o intestino delgado, na porção mais superior do abdómen. Tem dois orifícios, dois bordos e duas faces. No estômago estão identificadas quatro regiões: cárdia, fundo, corpo e piloro O orifício de comunicação entre esófago e estômago é orifício cárdico situado à esquerda da linha mediana, por trás da 7ª cartilagem costal, 2,5 cm à esquerda da junção dessa cartilagem costal com o esterno. A curta porção abdominal do esófago tem forma de cone e curva-se para a esquerda para terminar no estômago, na base deste cone está o orifício cárdico. O orifício de comunicação entre estômago e intestino delgado é o orifício pilórico, identificado por uma constrição bem marcada na superfície externa do estômago, correspondente ao esfíncter pilórico. Desde o orifício cárdico ao orifício pilórico há dois bordos, um do lado direito e outro do lado esquerdo O bordo direito do estômago constitui a curvatura menor do estômago, voltada para cima e para a direita. Cranialmente esta curvatura é contínua com o lado direito do esófago ao nível do orifício cárdico e a partir deste, tem um percurso descendente, apresentando concavidade para a direita. Caudalmente, esta curvatura é atravessada por um sulco designado incisura angular e, a partir deste ponto, adopta um percurso para a direita para terminar ao nível do orifício pilórico. O bordo esquerdo do estômago tem um trajecto muito mais longo e constitui a curvatura maior do estômago. Esta curvatura é contínua com o lado esquerdo do esófago e o local onde este lado do esófago termina para ter início a curvatura maior do estômago, há um ângulo agudo que constitui a incisura cárdica. Com início na incisura cárdica, a curvatura maior descreve um arco para cima e para a esquerda do orifíco cárdico, apresentando depois um percurso descendente com convexidade para a esquerda e, finalmente, volta-se para a direita para terminar ao nível do orifício pilórico No interior do estômago, apesar de constituir um compartimento único, podem ser identificadas regiões com algumas características histológicas e funcionais próprias. O segmento mais proximal do estômago constitui a cárdia, um segmento com

2 a 3 centímetros de comprimento a partir do orifício cárdico. A incisura cárdica invagina para o interior deste segmento do estômago, formando uma prega que, mediante um aumento da pressão intra-gástrica, ajuda a impedir o refluxo gastroesofágico. O segmento do estômago situado acima do nível do orifício cárdico constitui o fundo. O restante do estômago proximal à incisura angular constitui o corpo. A porção distal à incisura angular constitui o piloro com uma porção mais proximal e alargada, o antro pilórico e uma porção mais estreita e distal, o canal pilórico que termina no orifício pilórico. 2 - ORGANIZAÇÂO HISTOLÓGICA A organização histológica da parede do estômago é similar à do restante tubo digestivo consistindo de três camadas designadas do interior para a periferia: mucosa gástrica, submucosa e muscular, esta última envolvida perifericamente pelo peritoneu que constitui a camada serosa 2, 3, 4. Relativamente à muscular externa, a parede do estômago apresenta três camadas de fibras musculares lisas, sendo a mais profunda ou interna, designada camada oblíqua, constituida por fibras musculares colocadas obliquamente na parede do estômago, a camada intermédia é designada camada circular, constituída por fibras musculares colocadas circunferencialmente e a camada mais periférica é a camada longitudinal constituída por fibras musculares colocadas longitudinalmente. Neste aspecto, a parede do estômago difere do restante tubo digestivo pela adição da camada oblíqua internamente às outras duas 1, 2, 3. A submucosa do estômago, tal como no restante tubo digestivo, consiste de uma camada de tecido conjuntivo contendo vasos sanguíneos e estruturas nervosas organizadas de forma a constituir um plexo nervoso 2, 3. A constituição da mucosa gástrica, embora com características particulares, apresenta uma organização comum à mucosa do restante tubo digestivo, por conseguinte, é constituída por um epitélio que reveste o lúmen do estômago suportado por uma camada de tecido conjuntivo frouxo, a lâmina própria, onde se encontram aglomerados de tecido linfóide. A separar a mucosa da submucosa está um fino estrato de fibras musculares lisas constituindo a camada muscular da mucosa 2, 3. 3 A MUCOSA GÁSTRICA A mucosa gástrica, a camada mais interna da parede do estômago, é espessa e com superfície aveludada. Observando a olho nu a face interna do estômago vazio, a mucosa apresenta pregas ou rugas que representam elevações da submucosa em direcção ao lúmen que desaparecem se a parede do estômago for distendida. Quando observada microscopicamente, a superfície interna da parede do estômago apresenta estrutura em forma de favo de mel, com elevações da mucosa que delimitam as fossetas ou fovéolas gástricas, estruturas irregulares com cerca de 0,2 milímetros de diâmetro. O soalho de cada fosseta gástrica apresenta vários orifícios e cada um destes orifícios é a entrada para uma glândula gástrica tubular que se estende ao longo de toda a espessura da lâmina própria (tecido conjuntivo da mucosa), atá à muscular da mucosa 2. O epitélio da mucosa gástrica é cilíndrico simples. Reveste as elevações da mucosa e aprofunda-se ao longo da lâmina própria para revestir o lúmen de estruturas tubulares que constituem as glândulas gástricas 2, 3. As células epiteliais que revestem as elevações da mucosa e o soalho das fossetas gástricas são designadas células mucosas superficiais 2. A sua função é produzir muco e um fluído com elevada quantidade de iões bicarbonato que ficam aprisionados na camada de muco, conferindo-lhe um carácter alcalino 5, 6. Esta camada de muco e os iões bicarbonato nele aprisionados constituem a barreira mucosa gástrica, com cerca de 200 micrómetros de espessura 5, que separa a superfície apical das células epiteliais, onde o ph ronda o valor 7, do conteúdo gástrico extremamente ácido 5, 6. A barreira mucosa tem função essencialmente protectora, qualquer factor que comprometa esta camada, inibindo a secreção de muco ou a de bicarbonato, proporciona a ocorrência de úlceras gástricas pelo contacto das células da mucosa com o conteúdo ácido e proteolítico do lúmen do estômago 5. A partir do soalho da fosseta gástrica o epitélio da mucosa gástrica aprofunda-se no tecido conjuntivo de suporte, formando estruturas tubulares que constituem as glândulas gástricas. Ao longo da glândula as células epiteliais adquirem diferentes características morfológicas associadas a secreções diferenciadas 2, 3. Embora semelhantes em muitos aspectos, as

glândulas gástricas adquirem características distintas nas diferentes regiões do estômago, por conseguinte, costumam distinguir-se três tipos de glândulas gástricas: as glândulas cárdicas 2, ou da cárdia 3, as glândulas principais 2, ou fúndicas 3, ou oxínticas 5, 6 e as glândulas pilóricas 2, 3, 6. As glândulas cárdicas estão confinadas à estreita região da cárdia, apresentam lúmen amplo, predominando as células produtoras de muco. Células produtoras de ácido clorídrico são escassas, no entanto, existentes 2, 3. As glândulas pilóricas existentes na região do piloro formam estruturas tubulares curtas onde predominam células secretoras de muco entre as quais se encontram numerosas células entero-endócrinas, particularmente células-g produtoras de uma hormona designada gastrina 2, 3, 6. As glândulas principais ou fundicas ou oxínticas são as mais numerosas estando espalhadas pelo fundo e corpo do estômago. Cerca de 3 a 7 destas glândulas abrem-se no soalho de cada fosseta gástrica 2, 3. Cada uma destas glândulas apresenta quatro regiões distintas à medida que se aprofunda na lâmina própria da mucosa. A porção que abrange a fosseta 7, a porção que se abre no soalho da fosseta e que constitui o istmo, a região seguinte é o colo da glândula e a restante e mais extensa porção da glândula é a base. Cada uma destas glândulas apresenta, pelo menos, cinco tipos distintos de células epiteliais cuja distribuição não é uniforme ao longo da glândula 2, 3, 7. 3.1 Stem cells ou células tronco São células indiferenciadas existentes no istmo da glândula que apresentam actividade mitótica, as células filhas migram apicalmente para se diferenciarem em células mucosas superficiais, ou migram basalmente para se diferenciarem nos diferentes tipos de células existentes nas glândulas gástricas 2, 3. 3.2 Células mucosas do colo Tal como o nome indica estas células estão situadas no colo da glândula e produzem muco, embora com características histoquímicas distintas do muco produzido pelas células mucosas superficiais 2, 3. 3.3 Células principais, pépticas, ou zimogénicas São células localizadas na base da glândula responsáveis pela secreção de uma enzima proteolítica designada pepsina. Apresentam características de células secretoras de proteínas, com abundante retículo endoplasmático rugoso, complexo de Golgi desenvolvido e acentuada basofilia devido à predominância de RNA no seu citoplasma. Apresentam inúmeros grânulos de secreção no citoplasma contendo pepsinogénio 2, 3. Quando estimuladas, as células principais libertam o conteúdo dos seus grânulos de secreção para o lúmen da glândula, libertando o pepsinogénio que, em contacto com o meio ácido, é convertido na sua forma activa, a pepsina. Esta enzima tem actividade proteolítica máxima em meio com ph 3 ou inferior, tornando-se inactiva se o ph atingir o valor 5. Actua nas ligações peptídicas, transformando cerca de 20% das proteinas da dieta em pequenos peptídeos 5, 6. 3.4 Células parietais ou oxínticas As células parietais estão presentes na porção da glândula mais próxima do colo. São células arredondadas ou piramidais que segregam ácido clorídrico e factor intrínseco 3, 5, 6, 8. Na célula em repouso, observam-se inúmeras estruturas membranosas tubulo-vesiculares adquirindo a forma de vesículas, túbulos ou cisternas que ocupam o citoplasma próximo da membrana plasmática apical. Nas células em intensa actividade secretora, a característica mais marcante observável com microscópio electrónico, é uma profunda invaginação da membrana plasmática apical formando um canalículo intracelular, com abundantes microvilosidades voltadas para o lúmen do canalículo 3, 7, 8. A membrana que envolve as estruturas tubulo-vesiculares da célula em repouso é rica numa proteína de transporte responsável por deslocar contra gradiente de concentração iões hidrogénio para o exterior e iões potássio para o interior. Esta proteína de transporte designada H+/ K+ - ATPase, constitui a bomba de protões ou bomba gástrica, ou bomba H+/K+, de importância fulcral para a secreção de ácido clorídrico pelas células parietais. Na célula em repouso a H+/K+ ATPase está

inactiva. Quando a célula parietal é estimulada para segregar ácido clorídrico, ocorrem profundas alterações morfológicas na célula com a fusão das estruturas tubulo-vesiculares à membrana plasmática apical que invagina para o interior do célula constituindo o canalículo intracelular 7, 8. A cessação da secreção de ácido clorídrico ocorre após o restabelecimento das estruturas tubulo-vesiculares 7. A secreção de ácido clorídrico pelas células parietais depende do movimento de iões através da membrana plasmática das células parietais. O passo inicial é a produção de ácido carbónico no citoplasma da célula pela reacção de H2O com CO2 catalisada pela enzima anidrase carbónica. A dissociação do ácido carbónico dá origem a iões hidrogénio (H+) e iões bicarbonato (HCO3-). Na membrana plasmática basal as bombas Na*/K+ estão em intensa actividade deslocando, contra gradiente de concentração, iões sódio para o exterior da célula e iões potássio para o interior aumentando notavelmente a concentração de iões potássio no citoplasma, algo que é comum a qualquer outra célula do organismo. A elevada concentração de ião bicarbonato que se forma no citoplasma da célula activa uma proteína de transporte existente na membrana plasmática basal que, por antiporte, desloca HCO3- para o exterior, ao mesmo tempo que desloca Cl- para o interior da célula, a energia para este movimento deve-se ao gradiente de concentração do HCO3- e tem como consequência um aumento da concentração de Cl- no citoplasma da célula 3. Os iões K+ e os iões Cl- abandonam a célula através da membrana plasmática apical, a favor do gradiente de concentração, para os iões Cl- estão previstos canais electrogénicos com este objectivo 5. O resultado é um aumento da concentração de iões Cl- e K+ no lúmen do canalículo intracelular. A actividade da H+/K+ - ATPase colocada na membrana plasmática apical, desloca contra gradiente de concentração, iões potássio do lúmen do canalículo intracelular para o citoplasma da célula e iões hidrogénio no sentido oposto. O resultado é uma elevada concentração de H+ e Cl- no lúmen do canalículo intracelular formando ácido clorídrico 3, 5 Os iões H+ são bombeados contra um elevado gradiente de concentração, bem evidente quando se observa a diferença de valores de ph, cerca de 7 no citoplasma da célula parietal e cerca de 1 no lúmen da glândula gástrica 5. Apicação prática: O omeprazol é uma substância que inibe a boma H+/K+ e o resultado é uma diminuição considerável da secreção ácida, por isso esta e outras drogas similares têm sido utilizadas para o tratamento das úlceras pépticas 5. As células parietais também segregam factor intrínseco, uma glicoproteína requerida para absorção da vitamina B12 a nnível do íleo. Quando as células parietais são destruídas na sequência de gastrite crónica, ocorre perda da função de secreção de ácido clorídrico e desenvolve-se anemia, dada a importância da vitamina B12 na formação de eritrócitos 5, 6. 3.5 Células entero-endócrinas. O sistema entero-endócrino consiste de células endócrinas dispersas no epitélio da mucosa gastro-intestinal que segregam aminas biogénicas e polipeptídeos, com efeito endócrino ou parácrino, que são responsáveis pelo controlo da motilidade e da secreção ao longo do tubo digestivo. No estômago estas células aparecem localizadas na porção mais profunda da base de todas as glândulas gástricas, entre as células zimogénicas 2, 3. Muitas das células entero-endócrinas, mas não todas, captam do meio extracelular percursores de aminas, e promovem no seu citoplasma a descarboxilação dos aminoácidos (APUD amine precursor uptake and decarboxylation) 2, 3 e, pela afinidade que estas células apresentam para os sais de crómio ou prata, são designadas células cromafins ou argentafins, que não sendo exclusivas do sistema digestivo, fazem parte de uma extensa família de células que constituem o sistema neuroendócrino difuso 2, 3, 9. Estas células encontradas em vários sistemas do organismo têm a função essencial de libertar mediadores químicos que alteram as funções de outras células 3, as células deste sistema existentes no tubo digestivo, incluindo o estômago, são designadas células enterocromafins 2. As principais células entero-endócrinas existentes no epitélio da mucosa gástrica são fulcrais na regulação da secreção ácida e enzimática das glândulas gástricas e, essencialmente são três tipos de células: as células G localizadas no antro do piloro e que produzem um polipeptídeo designado gastrina, as células D existentes nas glândulas fundicas do estômago e