COMISSÃO NACIONAL DE PROTECÇÃO DAS CRIANÇAS E JOVENS EM RISCO

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Transcrição:

COMISSÃO NACIONAL DE PROTECÇÃO DAS CRIANÇAS E JOVENS EM RISCO Prevenção primária, secundária e terciária das situações de violência na escola. A intervenção da Escola no quadro do sistema de Protecção à Infância e Juventude Uma Boa prática Documento enviado em Abril 2009 à Assembleia da República no âmbito de uma iniciativa da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, como contributo para a divulgação de boas práticas de prevenção da violência na escola. Introdução À Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco, no âmbito das suas competências definidas pelo Decreto-Lei n.º 98/98, de 18 de Abril, cabe, de uma forma geral, planificar a intervenção do Estado e a coordenação, acompanhamento e avaliação da acção dos organismos públicos e da comunidade na protecção de crianças e jovens em risco. Com este propósito cabe à Comissão Nacional, nomeadamente, concertar a acção de todas as entidades públicas e privadas, estruturas e programas de intervenção na área das crianças e jovens em risco, de modo a reforçar estratégias de cooperação e de racionalização de recursos. Não pode, pois, esta instituição ficar alheia à discussão e partilha de experiências sobre a problemática da violência nas escolas que tem vindo a ser dinamizada pela Assembleia da República, designadamente através da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, contribuindo para a o esforço nacional que a gravidade da situação exige. 1

Como esforços eficazes na diminuição das situações da violência na Escola serão objecto de detalhe mais à frente, mas podem desde logo ser apontadas como essenciais, todas as acções que visem a prevenção primária das situações de violência, tais como: i. A identificação clara, qualificada e quantificada do fenómeno da violência em cada escola, ii. A identificação precoce de risco e perigo. iii. A melhoria da interiorização dos direitos humanos e em particular dos direitos das crianças, iv. O reforço das competências relacionais e de auto-protecção de todas as crianças e jovens, v. O estabelecimento e divulgação, em colaboração com os alunos, dos limites ao nível dos comportamentos dentro da escola, vi. A adopção de padrões mínimos de segurança para todas as escolas ou outros espaços de desenvolvimento de actividades com crianças. Também as acções reparadoras das situações de violência - prevenção secundária e terciária - são indispensáveis para a diminuição do fenómeno da violência e devem incluir quando necessário: i. A adopção de medidas específicas dirigidas as crianças vitimas no sentido de restabelecer a sua confiança e auto-estima e dotá-las de competências que previnam a rua revitimização. ii. A intervenção da Escola junto dos pais das crianças vitimas e agressoras, sempre que estes denotem dificuldades em ajustar o comportamento dos seus filhos. iii. A intervenção intersectorial de outras Entidades com competência em Matéria de Infância e Juventude em cooperação com a escola junto das famílias dos abusadores e das vitimas, sempre que as situações o justifiquem. Aborda-se neste documento também a necessidade de promover uma formação de todos os profissionais do sector educativo para a actuação em situações de violência no contexto da escola, assim como noutras que ponham em causa o bem-estar e desenvolvimento de qualquer criança ou jovem. Como exemplo de uma boa prática em desenvolvimento aponta-se, e descreve-se mais à frente, a experiência do Professor Tutor segundo o protocolo assinado entre o Ministério do Trabalho e da Segurança Social em 2006, experiência 2

essa disseminada por todo o continente e regiões autónomas nos concelhos onde se encontram instaladas Comissão de Protecção de Crianças e Jovens. A - Acções de prevenção primária As acções de prevenção primária visam atingir a generalidade de todas as crianças e de todas as famílias e têm como objectivo evitar o aparecimento de situações de risco e perigo. A sua grande relevância para o combate à violência no contexto escolar decorre, não só da obrigação de protecção de todas as crianças e jovens, como da óbvia constatação da actual, e previsível para o futuro, escassez de recursos bastantes para realizar intervenções reparadoras junto das crianças e jovens vitimas, agressoras ou vitimas e agressoras. Todas as entidades que integram o Sistema de Protecção à infância e juventude têm obrigações no âmbito da prevenção primária de todo o tipo de riscos e perigos, nomeadamente as entidades do sector da Educação que ocupam o 1º patamar. Também ao nível das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens - CPCJ, entidades que ocupam o 2º patamar desse Sistema, a sua modalidade alargada, se constitui como um fórum de análise das problemáticas presentes na sua área de intervenção e de planeamento de acções de prevenção primária tendentes a modificar o seu índice de incidência. É de considerar também a influência crescente da CPCJ na partilha com a Rede Social, implementada já em muitos Concelhos, de todas as problemáticas sentidas a nível local no que respeita à promoção e protecção de todas as crianças e jovens, com a possibilidade de influenciar positivamente todas as tomadas de decisão que tenham lugar nesse fórum quanto a projectos específicos a desenvolver junto desta população. Através do seu Representante na CPCJ e do Professor Tutor (cuja experiência de implementação abaixo se descreve), o sector da Educação pode, em consonância com todas as escolas da sua área de intervenção, colaborar em acções conjuntas de prevenção primária entre as quais podemos destacar: i. Identificação clara, do fenómeno da violência em cada escola e das acções a realizar para o combater. A Escola através do Projecto Educativo, instrumento que reflecte uma ideia de futuro perfilhada por toda a comunidade educativa, não pode deixar de equacionar a promoção dos direitos das crianças e consequentemente incluir 3

análises da realidade, identificando de forma clara, qualificada e quantificada, o fenómeno da violência ao nível local através de instrumentos específicos, que levem à definição e quantificação dos objectivos a atingir. A recolha periódica e sistemática de dados junto das crianças e jovens e suas famílias sob a forma de inquéritos que identifiquem a sua percepção da violência na escola, comparáveis entre si ao longo do tempo, assim como a avaliação exaustiva dos casos mais graves, feita não só pela escola como por outras entidades com competência em material de infância e juventude, levarão à definição de um plano de prevenção ajustado à realidade. É claramente uma acção que pode ter lugar no contexto escolar, com o apoio de outras Entidades com Competências em Matéria de Infância e Juventude ECMIJ, ou com o apoio da modalidade alargada das CPCJ, onde todas estas entidades têm assento. ii. Melhorar a interiorização dos direitos humanos e em particular dos direitos das crianças A interiorização dos direitos humanos e em especial dos direitos das crianças consignados na Declaração Universal dos Direitos da Criança que as Nações Unidas aprovaram em 20 de Novembro de 1959, é uma tarefa permanente a levar a cabo por todas as gerações desde então e para o futuro. No contexto escolar, todas as acções que visem este objectivo contribuem para a diminuição da violência dentro e fora dos muros da escola. A diversificação de estratégias e a adequação às características dos diversos públicos presentes em contexto escolar, crianças e jovens de várias idades, famílias de diversas origens sócio culturais e profissionais de diversas categorias, potenciam os resultados que se irão obter desse esforço. iii. Reforçar as competências relacionais e de auto protecção das crianças e jovens O desenvolvimento as competências emocionais e comportamentais das crianças ocorre naturalmente no contexto familiar, mas é na escola, no contacto com os pares e profissionais do sistema Educativo, que se processa a aquisição de todo um conjunto de competências relacionais que condicionaram em grande parte o sucesso social da sua vida adulta. A violência que se regista nas relações entre algumas crianças e jovens tem em parte origem no nível de competências emocionais e relacionais de cada uma e na sua capacidade de resolução de conflitos ainda em desenvolvimento e por ventura nas dificuldades de algumas famílias na transmissão de valores de padrões 4

de relacionamento positivos. Por outro lado, está igualmente em desenvolvimento a capacidade das crianças e jovens para resistir a pressões exercidas sobre si por terceiros (incluindo conhecidos) e que ameaçam o seu bem estar e, acima de tudo, saber quando pedir ajuda a um adulto. É, pois, no contexto da escola que é oportuno desenvolver acções cujo objectivo seja o de reforçar tanto as competências relacionais e de resolução de quaisquer conflitos, como as competências de auto-protecção, sendo que a escola o pode fazer em momentos específicos e com recurso a programas estruturados para esse efeito. Esta preparação deverá considerar não só situações de relacionamento presencial como situações de pressão via internet e telemóvel, uma vez que existem evidências de que o fenómeno da violência por esta via apresenta uma frequência e gravidade crescentes. iv. O estabelecimento e divulgação, em colaboração com os alunos, de limites ao nível dos comportamentos dentro da escola Todas as crianças têm direito à participação em todas as decisões que lhes digam respeito, e a esse propósito será positivo um enquadramento do comportamento das crianças e jovens por regras de construção partilhada, em que os mesmos se revejam, tornando-se certamente muito mais fáceis de cumprir. Tais regras a definir não só em contextos mais restritos como a sala de aula mas também ao nível do Regulamento Interno devem ser transmitidas eficazmente a todos, utilizando os mais diversos métodos e momentos (que podem passar por exemplo pelo teatro, expressão plástica, etc.), optando sempre que possível pela identificação dos comportamentos esperados para situações tipo, como forma de incentivar o comportamento não violento e evitar as medidas punitivas ou suspensivas, cuja aplicação, diz-nos a investigação, não terá sempre resultados positivos. Se por um lado é de grande relevância que constem dos regulamentos das escolas de todas as tipologias, públicas, privadas ou cooperativas, incluindo escolas profissionais e centros de formação profissional, de forma bem clara quais as regras a cumprir por todos os alunos com o incentivo dos seus pais, assim como os comportamentos desajustados e sujeitos a medidas específicas, é de grande relevância igualmente que tais documentos abordem claramente as responsabilidades e procedimentos das escolas relativamente à Protecção dos alunos no casos em que os seus pais evidenciem dificuldades no acompanhamento 5

dos seus filhos ou de alguma forma os coloquem em risco ou em perigo. A inclusão neste documento de procedimentos em casos em as necessidades de acompanhamento das uma criança ou jovem não sejam satisfeitas por dificuldades sentidas ao nível da capacidade parental, permitirá que os pais aceitem mais facilmente a intervenção da escola nessas situações assim como aceitem a intervenção de outras entidades exteriores à escola que lhes sejam sugeridas por esta. A politica de protecção à infância e juventude assim espelhada nos Regulamentos Internos das escolas, deverá reflectir os princípios de intervenção definidos pela Lei 147/99 e articular-se com os procedimentos definidos pelas entidades que ocupam o 2º e o 3º patamar de intervenção, as CPCJ e os Tribunais. v. Adopção de padrões mínimos na politica de segurança para todas as escolas ou espaço de desenvolvimento de actividades com crianças. Reveste-se de grande importância a adopção de um padrão mínimo de segurança a adoptar por todo o sector educativo que minimize os riscos de vitimização. Este padrão mínimo de segurança deverá ser definido em conjunto com as entidades que a este nível detêm competências próprias, quer sejam ao nível das instalações, da vigilância em todos os recintos escolares ou dos procedimentos em momentos de crise em que sejam patentes abusos de qualquer tipo. A este respeito não se pode de forma alguma excluir os procedimentos que sejam adequados em casos de crime, a articular com as entidades judiciais e as forças de segurança que detêm competências próprias de intervenção. A implementação destes padrões mínimos de segurança e de actuação a todos os níveis, trará confiança na intervenção em momentos de crise a todos os profissionais do sector. B - Acções de prevenção secundária e terciária Sempre que se registam situações de violência na escola é possível identificar as crianças ou jovens cujo comportamento pode constitui-se como um factor de risco para o futuro, pelo que não poderão deixar de se equacionar as medidas a tomar para reduzir a influência desses factores, quer intervindo junto das crianças quer intervindo junto dos pais. i. Identificação precoce de risco e perigo 6

As escolas podem e devem tirar grande vantagem da sua capacidade de identificar muito precocemente os alunos que revelam comportamentos que, se não forem corrigidos, podem dar lugar a comportamentos de maior risco ou perigo, incluindo as crianças envolvidas em episódios de violência de qualquer nível de gravidade, quer estas se encontrem na posição de agressores, vitimas ou ambas. Parte destas crianças e jovens apresentam características e comportamentos que as colocam facilmente em posição de vitimas, pelo que a sua identificação e consequente avaliação deve preceder um apoio específico que as proteja de eventuais futuras agressões. Também a avaliação precoce de crianças e jovens que se colocam em posição de agressoras deve ser um prioridade da escola de forma a que lhes possa ser oferecidao um apoio individualizado ou a inclusão num programa estruturado de melhoria das suas competências sociais. A identificação precoce destes alunos precederá naturalmente todo o trabalho que a escola irá fazer posteriormente com os pais, sem o qual toda a intervenção junto dos alunos se tornará certamente inconsequente, sendo que o poderá fazer de per si nos casos menos graves, como o poderá fazer em articulação com outras entidades com competência em matéria de infância e juventude- ECMIJ, nos casos em que tal se considere necessário. ii. Intervenção intersectorial junto das famílias dos abusadores e das vitimas A problemática da violência é uma realidade muito próxima e tantas vezes coincidente com o domínio reduzido de competências parentais nos progenitores. Por outro lado, muitos estudos têm demonstrado que as crianças expostas à violência em geral, em especial à violência doméstica ou as que são vitimas de abuso físico e psicológico por parte dos pais, apresentam maior probabilidade de apresentar problemas de comportamento na escola. Alguns estudos têm identificado especificamente a exposição à violência inter-parental como altamente precursora, tanto de comportamentos de violência para com os pares como predisposição para a posição de vitima. Assim, e segundo a Lei n.º147/99, de 1 de Setembro, perante situação de perigo para a segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento da criança ou jovem, a que os pais, representante legal ou quem tenha a guarda de facto não se oponham de modo adequado, deve a Escola, como entidade com competência em matéria de infância e juventude (ECMIJ), diligenciar para lhe pôr termo, pelos meios estritamente necessários e adequados, com preservação da intimidade da vida privada do aluno e da sua família, incluindo o seu direito à 7

imagem, desde que actuando de modo consensual com os pais, representante legal ou quem tenha a guarda de facto. Assim, importa intervir preventivamente à minima situação de risco de forma reparadora, junto das famílias ou que estejam afectadas por aqueles factores de risco, em especial nas que revelam dificuldades no uso de estratégias de alteração dos comportamentos dos seus filhos. No entanto, e em geral, não basta que a escola actue junto dos alunos e suas famílias, se não tiver a possibilidade de o fazer, quer ao nível do diagnóstico, quer ao nível da própria intervenção, em conjunto com outras entidades detentoras de competências que complementem a sua acção e se encontram no mesmo patamar de intervenção, como sejam a Segurança Social ou a Saúde, as Forças de Segurança, entre outras. Desta forma, a Escola, no desenvolvimento da sua intervenção de 1ª linha, deve, quando necessário e em consenso com os pais, solicitar a cooperação articulada das entidades públicas, privadas ou solidárias competentes, nomeadamente nos domínios da segurança na escola, da saúde, da segurança social e das instituições particulares de solidariedade, não sinalizando à CPCJ enquanto estas procedem à sua intervenção. Nestes casos, não é raro que as escolas, confrontadas com situações em que as suas competências de intervenção não são suficientes, por não correspondem às que se mostram necessárias para prevenir alguma situação de perigo, têm dificuldade em solicitar a intervenção de outras entidades do mesmo patamar de intervenção. Cresce assim a necessidade de colocar em marcha um conjunto de procedimentos que, de acordo com os princípios da Lei de Protecção, e em consenso com os pais e com a criança/jovem, permitam o estabelecimento de canais de comunicação simplificados para um trabalho coordenado entre técnicos que já intervenham ou possam vir a intervir com as famílias, de forma a identificar problemáticas potencialmente geradoras de violência, a realização de um diagnóstico comum e uma intrevenção coordenada e centrada em cada criança. Para além desta intervenção intersectorial no âmbito do 1º patamar de intervenção, situações há que exigem a intervenção das CPCJ, sendo que as circunstâncias que legitimam o recurso à CPCJ para assegurar a protecção da criança podem ser explicitadas do seguinte modo: Quando se verifique a oposição dos pais à intervenção da escola no âmbito exclusivo da sua competência, ou a escola, no exercício dessa competência, não possa assegurar em tempo a protecção suficiente que as circunstâncias do caso 8

exigem, deve comunicar imediatamente a situação à CPCJ com competência na área da residência da criança ou do jovem ou, no caso desta não se encontrar instalada, ao magistrado do Ministério Público junto do tribunal competente em matéria de família e menores. Sempre que os factos que tenham determinado a situação de perigo constituam crime, deve a escola comunicá-los ao Ministério Público ou às entidades policiais, sem prejuízo das comunicações referidas anteriormente. C Reforço do conhecimento do Sistema de Protecção por parte de todos os profissionais As responsabilidades do sistema Educativo relativamente à protecção à infância, tal como outras responsabilidades perante os alunos, devem implicar que todos os seus profissionais, e em particular os que executam funções de relevo neste sistema, detenham competências mínimas para o exercício de acções de protecção quando necessárias, No que toca ao domínio por parte da Escola do sistema de Protecção à Infância e Juventude - outra das limitações que tem sido encontrada - parece haver algum desconhecimento da legislação relativa à de protecção de crianças e jovens, bem assim como sobre quais são as formas através das quais, e ao abrigo da Lei de Protecção de Crianças e Jovens, as escolas e os docentes em geral podem e devem actuar isolada ou articuladamente com outras entidades de 1ª linha no sentido da remoção do risco e do perigo, não sujeitando todos os casos à acção da CPCJ. Tal desconhecimento origina não só um aumento significativo de processos, como frequentes equívocos quanto ao papel das CPCJ, em geral, e ao seu papel em particular. Daqui decorre o enquadramento para que se considere futuramente a formação de todos os futuros docentes, no que concerne às competências para o desempenho de acções de prevenção primária, secundária e terciária das situações de risco e perigo e em especial para o trabalho intersectorial. Também no que respeita à formação inicial dos docentes que irão no futuro integrar o sistema Educativo poder-se-á apontar como generalizada a falta de formação no âmbito da protecção à infância e juventude pelo que urge considerar esta carência como prioritária no que toca às necessidades de formação destes profissionais. 9

O Professor Tutor como exemplo de boa prática potencialidades e constrangimentos O Sistema de Protecção à Infância e Juventude em Portugal integra o Sistema Educativo ao nível do primeiro patamar de intervenção como uma das entidades com competência em matéria de infância e juventude, sendo esta entidade igualmente chamada a participar enquanto membro de pleno direito nas Comissões de Protecção de Crianças e Jovens, que representam o 2º patamar de intervenção do Sistema. A representação do Sistema Educativo nestas estruturas organizadas ocorre através da nomeação de um docente com especial interesse e conhecimentos na área das crianças e jovens em risco ou perigo, segundo determina a alínea c) do 17º Artigo daquela lei. Verificou-se nos anos anteriores a 2006 que as estatísticas do Sistema Educativo relativas ao sucesso absentismo e abandono escolar, assim como as referentes à tipologia de casos sinalizados pelos estabelecimentos de ensino junto das Comissões de Protecção, revelaram um elevado peso de casos de Absentismo e Abandono escolar, facto que preocupou o Ministério da Educação levando à tomada de medidas tendentes à sua diminuição, quer ao nível da actuação pedagógica das escolas - por exemplo na diversificação da oferta educativa - quer mais especificamente no que toca ao reforço da participação desta entidade no Sistema de Protecção. Dando resposta a esta realidade social mas também às exigências legais impostas pela Lei 147/99 de 1 de Setembro, assinala-se a assinatura em 3 de Junho de 2006 do Protocolo entre os Ministérios da Segurança Social e da Educação, como um momento de viragem na participação do Sistema Educativo na Protecção à Infância e Juventude em Portugal, contemplando a afectação à representação no 2º patamar do Sistema as CPCJ, a meio tempo semanal, de Professores Representantes da Educação, assim como professores Tutores, enquanto outros recursos com funções específicas de protecção à Infância e juventude junto dos Agrupamentos e escolas não agrupadas. Tal protocolo permitiu pela primeira vez desenvolver acções locais consertadas com as CPCJ e que se dirigem em especial ao combate ao insucesso, absentismo e abandono escolar, sem prejuízo da intervenção noutras situações de risco e perigo. Em todos os concelhos com CPCJ instalada passou a existir não só um representante da educação como também um Professor Tutor com competências especificas definidas pelo referido Protocolo. Nos casos em que a CPCJ tinha em 2006 menos de 150 processos no que respeita ao seu volume processual global, o mesmo docente acumula as duas funções num horário de 17h 30m. 10

Sendo desde logo de grande valia para as CPCJ a afectação de um representante a meio tempo semanal, assinala-se a disponibilização de um Professor Tutor como decisiva para colaborar com as escolas e as CPCJ na concepção de projectos de prevenção primária do absentismo e abandono escolar, na elaboração de planos específicos de intervenção secundária e terciária, assim como na elaboração de um guião de sinalização e caracterização de situações de perigo identificadas em contexto escolar. Para melhor conhecer as virtualidades e constrangimentos da acção destes profissionais, a Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco, através da sua Equipa Técnica, tem vindo - no âmbito das suas competências - a acompanhar o trabalho desenvolvido pelos elementos da Educação indirectamente recorrendo a um estreito contacto as Direcções Regionais de Educação e a um contacto directo com os docentes pelas diversas formas de comunicação disponíveis. É percepção da Comissão Nacional que o desenvolvimento por parte do professor Tutor das acções enquadradas nas disposições do Protocolo, permitiram a intervenção tão precoce quanto possível nas situações de risco e perigo, com especial realce para a intervenção competente das escolas anterior à intervenção das CPCJ, cumprindo o princípio da subsidiariedade enunciado pela Lei de Protecção de Crianças e Jovens. Ao longo do período de vigência do Protocolo, os Professores Tutores demonstraram grande empenho na intervenção junto das escolas, assim como na intervenção directa com as crianças e suas famílias, com o objectivo geral da resolução dos casos de insucesso, absentismo e abandono escolar e de outras situações de risco e perigo, sempre que possível ao nível das escolas, em cooperação com outras entidades, diminuindo o número de sinalizações às CPCJ. Também se registaram, por parte destes profissionais, ganhos na interiorização dos princípios de intervenção do Sistema de Protecção e das metodologias de intervenção intersectorial, que terão, por certo, um efeito multiplicador nos profissionais que com eles contactam, mesmo quando deixarem as funções que actualmente ocupam, traduzindo-se este efeito num enorme mais-valia que devemos realçar. Com base nos dados disponíveis, nomeadamente os evidenciados pelo Relatório da Actividade das CPCJ no ano de 2007, a afectação destes recursos humanos da Educação tem vindo a produzir resultados muito positivos, traduzidos, designadamente, na considerável diminuição de processos de promoção e protecção, relativos ao insucesso, absentismo e abandono escolar comunicados às Comissões de Protecção. Tais resultados são, naturalmente e de uma forma geral, 11

índice de uma melhor intervenção das escolas e da sua oferta educativa, assim como do esforço de todo o Sistema Educativo, mas são também, por certo e em grande parte, consequência do excelente intervenção dos docentes colocados ao abrigo daquele Protocolo. Pese embora se constate que as funções atribuídas aos professores Tutores constituem uma mais valia na intervenção junto das escolas, isso comprova uma necessidade previamente existente de intervenção nas situações de risco e perigo, que é em primeiro lugar competência da própria escola e que de alguma forma ainda não estava a ser, porventura, assumida ao nível que se impunha. Por tal razão, a atribuição em cada agrupamento e escola não agrupada, de algumas funções específicas em matéria de promoção e protecção poderia estar a cargo de um docente especialmente designado para além do Professor Tutor, mas que com ele se articularia. É de considerar a este respeito uma boa prática levada a efeito pela Direcção Regional de Educação do Centro, que solicitou às escolas a atribuição específica de algumas horas na componente de estabelecimento a docentes, que designou como Professores Interlocutores, e que tem alcançado resultados que se notam como muito positivos, ainda que não sejam de momento quantificáveis. A funcionalidade da intervenção do Professor Tutor, em estreita conexão com as atribuições da escola no quadro do Sistema Legal de Protecção de Crianças e Jovens, quer como Entidade com competência de 1ª linha em matéria de infância e juventude, quer como entidade colaboradora com as CPCJ e Tribunais na intervenção de prevenção secundária e terciária, parece aconselhar a designação na área territorial da respectiva CPCJ, generalizada ou, sendo impossível, faseada, de Professores Interlocutores (ou com outra designação), um por cada agrupamento ou escola não agrupada, com atribuição de tempo da componente não lectiva ou de horas de estabelecimento. Os Professores Interlocutores seriam designados, com base na indicação dos órgãos de gestão dos Agrupamentos de escolas ou de escolas não agrupadas para, em estreita colaboração com esses órgãos e os Directores de Turma, estabelecerem a ligação com o Professor Tutor tendo em vista a elaboração e efectivação de planos coordenados de prevenção primária do absentismo insucesso e abandono escolar e de intervenção noutras tipologias de situações e de projectos de acompanhamento individualizado de alunos em situações de risco ou perigo. A adopção desta figura, se possível com uma compatibilidade horária com o Professor Tutor, contribuiria para uma melhor articulação entre este e as escolas no que respeita a acções de prevenção a qualquer nível reduziria a necessidade de aumentar o nº de horas do tutor sem diminuir a sua eficácia. 12

Dentro do Sistema de Protecção, outras entidades, designadamente o sector da Saúde, avançaram também com a afectação de profissionais, especialmente formados e competentes, com funções de acção e coordenação das intervenções protectoras em situações de risco e de perigo criando nos Centro de Saúde e nos Centro Hospitalares os Núcleos da Criança Maltratada. Assim, e à semelhança do que já acontece noutros sectores igualmente vitais para o pleno funcionamento do sistema, a Educação beneficiará em adoptar as medidas necessárias para dotar os seus serviços de tais profissionais e de tais estruturas organizadas. 13