INTERFACES CULTURAIS E SUA ATUALIZAÇÃO PELO PINTEREST 1 RESUMO



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1 INTERFACES CULTURAIS E SUA ATUALIZAÇÃO PELO PINTEREST 1 RESUMO Bárbara Zilda Grebin 2 O site Pinterest e as novidades trazidas por meio de e com ele alteram e causam desequilíbrio no ambiente cultural do qual ele faz parte, estas mudanças, além de causarem outras consequências, atualizam aquilo que Lev Manovich (2001) chama de interfaces culturais. O autor aponta que as transformações oriundas do impresso, do cinema e das interfaces humano-computador tensionam a linguagem das interfaces gráficas e que existem nessas formas culturais modalidades específicas de organização que estruturam a experiência humana. Para compreender como o Pinterest atualiza as interfaces culturais, far-se-á uso de um processo chamado por Fischer (2012) de agir arqueológico, procedimento por meio do qual interfaces são paralizadas tecnicamente, através de imagens instantâneas, em seguida dissecadas e analisadas, evitando aspectos cronológicos e buscando elementos cíclicos. PALAVRAS-CHAVE: Metodologia. Pinterest. Interfaces Culturais. 1. CRIAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA Antes mesmo de começar a pensar sobre técnicas e procedimentos metodológicos para a realização de alguma pesquisa, é fundamental realizar uma reflexão profunda sobre o problema de pesquisa que se deseja investigar. Deve-se adotar um ponto de vista problematizante, perguntando-se o que se quer saber sobre o objeto de pesquisa escolhido que ainda não se sabe? Para me auxiliar no processo de criação do meu problema de pesquisa, recorri ao método intuitivo bergsoniano, que se tornou mais acessível a mim a partir da leitura e da interpretação que o filósofo Gilles Deleuze fez da obra de Henri Bergson. 1 Artigo apresentado no GT Teorias e análises de audiovisual interfaceado na XI Semana da Imagem realizada de 20 a 23 de maio de 2013. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação de Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Endereço eletrônico: missgrebin@gmail.com.

2 Deleuze (2004) explica o método da intuição de Bergson utilizando-se de três regras: a primeira delas sendo sobre criação de problemas; a seguinte, sobre diferenças de natureza; a última, sobre apreensão do tempo real. A primeira regra fala sobre a existência de verdadeiros problemas e de falsos problemas; os falsos, que devem ser extinguidos, se valem de perguntas quantitativas, do tipo cuja resposta é simplesmente sim ou não, empobrecendo a pesquisa, e de mistos elaborados de forma incorreta, resultando em uma mistura impura. A segunda regra aponta que um problema bem colocado tende a responder a si mesmo e, para tanto, seu misto (duas tendências, que não são uma dualidade) deve ser composto por elementos de natureza diferentes. A terceira regra diz respeito ao tempo, entendido por Bergson como fluxo incessante, e como ele diferencia-se, qualitativamente, de si mesmo (DELEUZE, 2004). Refletindo sobre as tendências do meu empírico, sob a luz das regras bergsonianas explicadas por Deleuze e dos mistos (espírito-matéria, espaço-tempo, fluxo-fixo) incitados por Bergson (2006), cheguei ao misto da minha pesquisa, que é formado por interfaces culturais, em seu lado virtual, e pelo site Pinterest, em sua porção atual. Ou seja, me proponho a investigar como as interfaces culturais se atualizam no Pinterest? O processo de formulação do problema de pesquisa é árduo, pois não se trata de descobrir algo que está escondido, mas sim de inventar um problema que não existia: Mas a verdade é que se trata, na filosofia e mesmo alhures, de encontrar o problema e, por conseguinte, de pô-lo, muito mais do que resolvê-lo. Pois um problema especulativo está resolvido assim que é bem posto. Entendo com isso que a sua solução existe então imediatamente, ainda que possa permanecer escondida e, por assim dizer, encoberta: só falta, então descobrila. Mas pôr o problema não é simplesmente descobrir, é inventar. (BERGSON, 2006, p. 54) A partir da invenção do misto, comecei a pensar sobre os vieses guiadores de todo o processo de pesquisa e para me ajudar a ir mais fundo no meu empírico, fiz uso da metodologia de ecologia das mídias de McLuhan, que se baseia nos conceitos de figura e de fundo desenvolvidos pelo autor canadense. A figura (que pode ser qualquer coisa, desde uma pessoa a uma ideia) só será entendida, se o fundo (o contexto em que a figura está inserida) for considerado na análise. Embora o fundo seja o lugar onde a figura funciona, ele não deve ser considerado como um recipiente, deve ser visto como ambiente implícito, onde as mudanças acontecem antes do que na figura, que é aparente. McLuhan diz que cada vez que surge um novo meio, um novo equilíbrio é buscado para recuperar a estabilidade do ambiente que foi abalado pela novidade. Para

3 visualizar, de forma simultânea, todos os efeitos do novo meio inserido na sociedade, faz-se uso das quatro leis da mídia, representadas na imagem da tétrade. A primeira lei (a) diz respeito aquilo que o novo meio amplia ou realça; a segunda (b), faz menção aquilo que o novo meio tornou obsoleto; a terceira (c), menciona aquilo que o novo meio recupera; a quarta (d), refere-se à inversão, aquilo que acontece quando o novo meio é levado ao extremo. Na tétrade, as leis da mídia estão dispostas de uma forma em que se pode visualizar cada uma das leis atreladas aos conceitos de fundo ou de figura: a primeira e a quarta leis são figuras, enquanto que a segunda e a terceira leis são fundos (MCLUHAN, 1993). Figura 1: Tétrade de McLuhan. Pensando o meu empírico sob o guiamento das leis da mídia, cheguei às seguintes constatações: o site Pinterest ampliou a indexação, o compartilhamento e a circulação de imagens e audiovisuais pela web; ao mesmo tempo em que tornou obsoleto outras formas de armazenar páginas da internet interessantes para o usuário, como o botão de favoritos dos navegadores e até mesmo outros sites como o Delicious, ferramenta de indexação social de links favoritos; recuperou o ato de catalogar itens, como acontecia nos sites de busca, no início da internet, do tipo diretório; e, se levado ao extremo, a lógica sob a qual o Pinterest opera pode levar o usuário do site a pensar exclusivamente de forma categorizada e acabar tornando insuficientes as formas que o Pinterest oferece aos seus usuários para catalogar seus interesses. Alguns usuários do site já têm requisitado na central de ajuda ao usuário do Pinterest, a criação de subpainéis para que a experiência de catalogação proporcionada pelo site seja mais organizada (HAGAN, 2013).

4 2. INTERFACES CULTURAIS O artefato Pinterest e as novidades trazidas por meio de e com ele alteram e causam desequilíbrio no ambiente cultural do qual o site faz parte, estas mudanças, além de causarem outras consequências, atualizam aquilo que Lev Manovich (2001, p. 79) chama de interfaces culturais: Eu introduzi o termo interfaces culturais para descrever as interfaces usadas pela hipermídia autônoma (CD-ROM e DVD títulos), sites, jogos de computador e outros objetos culturais distribuídos através de um computador. Acho que precisamos de um termo, pois como o papel do computador está se deslocando de ser uma ferramenta para uma máquina de mídia universal, estamos cada vez mais interfaceando com dados predominantemente culturais: textos, fotografias, filmes, músicas, documentos multimídia, ambientes virtuais. Portanto, a interface humano-computador está sendo complementada pela interface humano-computador-cultura, que eu abrevio como interface cultural. De acordo com Fischer (2012, p. 143-144), Manovich percebe as interfaces como resultado de processos acumulativos de tipos de tela de diferentes tecnologias representativas: a estática (pintura), a dinâmica (cinema e vídeo), em tempo real (inaugurada pela invenção do radar) e interativa (altamente presente nos softwares e por consequência na web). Manovich (2001) aponta que as transformações oriundas do impresso, do cinema e das interfaces humano-computador tensionam a linguagem das interfaces gráficas, da qual fazem parte sites como o Pinterest, e que existem nessas formas culturais modalidades específicas de organização que estruturam a experiência humana. 3. AGIR ARQUEOLÓGICO Para compreender como o Pinterest atualiza as interfaces culturais, quer-se estruturar a pesquisa por meio de um processo já bastante utilizado por Fischer (2012), chamado de agir arqueológico. Com o procedimento, interfaces são resgatadas, recuperadas e coletadas, paralizando tecnicamente os observáveis, através de imagens instantâneas, que depois serão dissecadas e analisadas. Todo o processo tem como parâmetro o conceito de arqueologia da mídia, método que Zielinski (2006, p. 53) salienta que não tem absolutamente nada a ver com a perambulação e o ziguezague sem rumo. Com o intuito de levar luz ao trabalho de arqueólogo da mídia, o autor discorre sobre a função:

5 Ao procurar, coletar e classificar, o arqueólogo atribui significados; e esses significados podem ser totalmente diferentes daqueles que os objetos tinham riginalmente. O envolvimento nesse trabalho suscita um paradoxo; isto é, dependemos dos instrumentos das técnicas culturais para ordenação e classificação, enquanto, ao mesmo tempo, nosso objetivo é respeitar a diversidade e a especificidade. A única solução para esse dilema é rejeitar a ideia de que esse trabalho é inovador: renunciar ao poder, do qual podemos facilmente nos apossar, é muito mais difícil do que alcançar uma posição que seja possível manejar. (ZIELINSKI, 2006, p. 44) O agir arqueológico é baseado nas ações metodológicas de escavar imagens, dissecar interfaces, identificar molduras e analisar os tensionamentos culturais oriundos dos observáveis selecionados. Lembrando que, de acordo com os preceitos da arqueologia da mídia, os elementos buscados durante a escavação não devem apresentar aspectos cronológicos, mas cíclicos (FISCHER, 2012). O processo de dissecação e o conceito de molduras, ambos desenvolvidos por Kilpp (2003, 2010), andam juntos, já que a dissecação é realizada com o intuito de identificar molduras. Kilpp (2003) associa a dissecação com a ação de cartografar molduras, que estariam sobrepostas, e verificar como tais molduras interagem, afetam umas às outras e causam tensionamentos. Durante a dissecação, momento em que se está resgatando interfaces, o processo é organizado por meio de um quadro, elemento organizacional, e então dá-se a autenticação de molduras, conceito que foi, em princípio, criado por Kilpp para estudar a televisão, mas que nesta pesquisa será utilizado para servir de instrumento na estruturação e organização da visão analítica do pesquisador sobre os observáveis percebidos e coletados para o projeto de pesquisa. Molduras são líquidas, fluentes, e só se tornam perceptivas por meio do quadro da experiência e da significação; molduras não possuem função de sentido, sua função é estética, entretanto produzem oferta de sentido, que, no final, é agenciado entre emissão e recepção; molduras tem papel instrumental de explicitar potencialidades das interfaces e suas lógicas operativas. As molduras não têm sentido em si mesmas, mas estão aí para produzir os sentidos. Quase sempre elas se encontram discretizadas em relação ao principal, quer dizer, são imagens de grande opacidade, que não estão aí para ser percebidas, mas ao contrário, para esconder e disfarçar os modos da produção das imagens principais (as que são percebidas na expectação habituada). (KILPP, 2010, p. 25) A metodologia das molduras exige uma grande sensibilidade por parte do pesquisador para perceber os diferentes tipos de molduras (as fixas, as flexíveis, as que

6 surgem dentro de outras molduras, as intrínsecas e discretizadas, que representam opacidade), para ler as dinâmicas de interação existentes entre os diferentes tipos de molduras citados e para identificar os recortes limítrofes, por vezes sutis, que traçam territórios de significação. [ ] a metodologia das molduras é um conjunto de procedimentos de análise de audiovisualidades, que são articulados por uma conjunção de referências teóricometodológicas, e que se orienta (às vezes desorienta) pelo rigor de princípios epistemológicos, filosóficos, políticos e estratégicos. Ela articula intuição, cartografias, desconstrução e dissecação, ao mesmo tempo em que busca assegurar o rigor de um princípio ético-estético (a diferença solidária de Guattari) que é anterior a tudo: o de manter a pesquisa sempre em aberto; de autenticar linhas de fuga e inventar platôs nós articuladores ou conexões entre as linhas ; de acessar e atualizar níveis da memória do objeto, sua duração, devir e potência. (KILPP, 2010, p. 26-27) Os procedimentos metodológicos para a realização da pesquisa pretendida são baseados em uma estrutura que inclui a estagnação de partes do fluxo do empírico, a construção e a autenticação de molduras, demarcações de territórios de significação e experiência, processos de dissecação e de desconstrução do material coletado, que colocam o pesquisador também no papel de dissecador e desconstrutor, para que, por meio da investigação, estudo e análise do corpus da pesquisa, possa-se identificar as características constituintes e entender as funcionalidades de interfaces culturais tensionadas técnica e culturalmente pelo objeto Pinterest. CULTURAL INTERFACES AND ITS UPDATE BY PINTEREST ABSTRACT The website Pinterest and the novelties brought by and with it change and cause imbalance in the cultural environment of which it is part, these changes, in addition to other consequences, update what Lev Manovich (2001) calls cultural interfaces. The author points out that the transformations derived from print, film and the humancomputer interfaces tighten the language of graphical interfaces and that there are in these cultural forms specific modalities of organization that structure human experience. To understand how Pinterest updates cultural interfaces, it will be used a process called by Fischer (2012) of archaeological act, procedure through which interfaces are technically paralyzed through snapshots, then dissected and analyzed, avoiding chronological aspects and seeking cyclical elements.

7 KEYWORDS: Methodology. Pinterest. Cultural interfaces. REFERÊNCIAS BERGSON, Henri. O pensamento e o movente. São Paulo: Martins Fontes, 2006. DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. São Paulo: Editora 34, 2004. FISCHER, Gustavo Daudt. Desencavando interfaces: reflexões sobre arqueologia da mídia e procedimentos de resgate de páginas web. In: STEFEN, Cezar; BENVENUTO, Álvaro. (Org.). Tecnologia pra quê? As reconfigurações no campo da Comunicação Social. Porto Alegre: Armazém Digital, 2012.. Interfaces culturais e remixabilidade nas lógicas operativas dos websites. In: MONTAÑO, Sonia; KILPP, Suzana; FISCHER, Gustavo. (Org.). Impacto das novas mídias no estatuto da imagem. 1. ed. Porto Alegre: Sulina, 2012. HAGAN. Sub-boards. [23 ago. 2012]. Disponível em: <help.pinterest.com/entries/21918998-sub-boards>. Acesso em: 7 maio 2013. KILPP, Suzana. Ethicidades televisivas. São Leopoldo: Unisinos, 2003.. A traição das imagens: espelhos, câmeras e imagens especulares em reality shows. Porto Alegre: Entremeios, 2010. MANOVICH, Lev. Software takes command. Unpublished book. Disponível em: <http://softwarestudies.com/softbook/manovich_softbook_11_20_2008.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2012.. The language of new media. Londres: The MIT Press, 2001. MCLUHAN, Marshall. POWERS, Bruce. La aldea global. Barcelona: Gedisa, 1993. ZIELINSKI, Siegfried. Arqueologia da mídia: em busca do tempo remoto das técnicas do ver e do ouvir. São Paulo: Annablume, 2006.