MANDADO SEGURANÇA Nº. 5001198-09.2013.827.0000 ORIGEM : DO ESTADO DO TOCANTINS IMPETRANTE : SINDIFISCAL SINDICATO DOS AUDITORES FISCAIS DA RECEITA ESTADUAL DO ESTADO DO TOCANTINS ADVOGADOS : RODRIGO OTAVIO COELHO SOARES E OUTROS IMPETRADOS : SECRETÁRIOS DA ADMINISTRAÇÃO E DA FAZENDA DO ESTADO DO TOCANTINS PROC. DO ESTADO : TÉLIO LEÃO AYRES PROC. DE JUSTIÇA : MARCO ANTÔNIO ALVES BEZERRA RELATOR : DESEMBARGADOR EURÍPEDES LAMOUNIER V O T O Primeiramente consigno que em que pesem as ponderações do impetrado quanto a decadência do direito a propositura do presente remédio heróico, tendo em vista o argumento de que impetrou-se o presente remédio constitucional apenas na data de 25 de fevereiro de 2013, ou seja, 05 anos e 06 meses após a última regulamentação legal, razão não lhe assiste, eis que, é entendimento pacífico nas Cortes Superiores que nos casos de obrigações de trato sucessivo, como o pagamento de vencimentos, o prazo decadencial renova-se periodicamente a cada omissão i. Ultrapassado esse ponto, peço vênia para enfrentar o presente utilizando como se fossem próprias as razões externadas no bem lançado parecer ministerial: Conforme podemos constatar dos autos, os servidores públicos estaduais exercem o cargo de Fiscais da Receita Estadual, trabalhando inclusive, em horário noturno e, portanto a matéria ora em análise se identifica com outra ação mandamental impetrada pelo SISEPE Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Tocantins, buscando o recebimento de adicional noturno a servidores da ADAPEC Agência de Defesa Agropecuária do Estado, cujo parecer de mérito foi da Lavra do Procurador titular da 5ª Procuradoria de Justiça, Dr. José 1
Omar de Almeida Júnior, o qual, em razão de comungarmos do mesmo entendimento e da unicidade do Ministério Público, adotamos, como nosso: Cumpre ressaltar preliminarmente, que o direito ao adicional noturno dos servidores públicos está assegurado no art. 7º, inciso IX, c/c art. 39 parágrafo 3º, ambos da Constituição de 1988, 'litteris': "Art. 7º. (...). IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno. Art. 39. (...). 3º - Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir". Depreende-se da leitura do texto constitucional que é assegurado aos servidores públicos a remuneração do trabalho noturno superior à do diurno, sendo citada norma, na lição do eminente doutrinador José Afonso da Silva, de eficácia plena, não necessitando de qualquer integração normativa para produzir efeitos. Nesse passo, a Lei Estadual nº 1.818/2007 (Estatuto dos Servidores Públicos do Estado do Tocantins), especialmente seu art. 72, prevê a concessão do adicional noturno a todo e qualquer servidor, não havendo restrição. Senão, vejamos: "O serviço noturno, prestado em horário compreendido entre as 22h de um dia e 5h do dia seguinte, tem o valor hora acrescido de 25%, computando-se cada hora como 52min30s". Deste modo, ainda que por força do Decreto Estadual nº 3.616 de 09 de fevereiro de 2009, possa a autoridade coatora regulamentá-la e dar-lhe detalhamento mais específico, sua eficácia não ficará condicionada a tal 2
regulamentação, porque o dispositivo acima transcrito, contém todos os elementos e requisitos do direito questionado. Destarte, o referido benefício encontra-se amparado em legislação ordinária estadual e em dispositivo constante na Carta Magna, sendo uma norma de eficácia plena, dotada de imediata aplicabilidade e efeito, não necessitando de integração normativa. Frise-se que, segundo Maria Helena Diniz, terá eficácia jurídica a norma constitucional que tiver tecnicamente condições de aplicabilidade, podendo, então, produzir os seus efeitos de direito[...] Os destinatários se ajustam ao seu comportamento e seu comando1. Lado outro, a Constituição Federal, expressamente, em seu artigo 5º, parágrafo 1º, dispõe que "as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata". A melhor doutrina sustenta que este dispositivo traduz uma decisão inequívoca do nosso Constituinte, no sentido de outorgar às normas de direitos fundamentais uma normatividade reforçada. Entende-se que além de aplicável a todos os direitos fundamentais (incluindo os direitos sociais), apresenta caráter de norma-princípio, de tal sorte que se constitui em uma espécie de mandado de otimização, impondo aos órgãos estatais a tarefa de reconhecerem e imprimirem às normas de direitos e garantias fundamentais a maior eficácia e efetividade possível2. diapasão: Assim, resta claro o direito líquido e certo, neste mesmo "DIREITO ADMINISTRATIVO - APELAÇÃO AÇÃO DE COBRANÇA - ADICIONAL SOBRE HORAS TRABALHADAS APÓS AS 22:00 HORAS - REGIME DE PLANTÃO - ARTIGO 39, PARÁGRAFO 3º, COMBINADO COM ARTIGO 7º, INCISO IX, AMBOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E ARTIGO 12, DA LEI ESTADUAL 10.745/1992 - CABIMENTO - REFLEXOS SOBRE 3
FÉRIAS E DÉCIMO TERCEIRO - HABITUALIDADE DO SERVIÇO NOTURNO PRESTADO - POSSIBILIDADE - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - AUMENTO - RECURSO PROVIDO. Comprovado o exercício da função após as 22:00 horas, é devido ao policial civil o adicional noturno, de acordo com o artigo 12, da lei estadual 10.745/1992, sendo esse direito garantido pelo artigo 39, parágrafo 3º, combinado com o artigo 7º, inciso IX, ambos da Constituição Federal." (TJMG - ACv. n. 1.0024.07.442746-9/001 - Rel. Des. Moreira Diniz - 4ªCCTJMG - Julg. 14/08/2008 - Publ. 26/08/2008). Importante destacar ainda a Súmula n 213 do Excelso Supremo Tribunal Federal (STF) que consolidou o entendimento de que: empregado ao regime de revezamento". "é devido o adicional de serviço noturno, ainda que sujeito o Assim, restando comprovado nos autos que os servidores exercem atividade após as 22 h, é devido o adicional noturno, como já ressaltado a nossa Carta Magna em seu art. 7º, IX, que prevê aos trabalhadores a garantia da remuneração do trabalho noturno superior ao diurno, bem como estende esse direito aos servidores públicos em seu art. 39º, 3º. Com tais considerações, o Ministério Público, através do seu Órgão de Cúpula, opina pelo conhecimento e concessão da ordem. Por todo o exposto, hei de encampar o citado parecer ministerial para conceder a ordem mandamental nos termos adrede aduzidos. É como voto. Palmas TO, 1º de agosto de 2013. 4
Desembargador EURÍPEDES LAMOUNIER Relator i Mandado de Segurança com Pedido de Liminar nº 010.04.003315-0, Tribunal Pleno do TJRR, Rel. Lupercino Nogueira. j. 06.04.2005, unânime, DPJ 08.04.2005). 5