PROJETO FRONTEIRAS: RESGATE DA MEMÓRIA DO RÁDIO NO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL 1

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Transcrição:

PROJETO FRONTEIRAS: RESGATE DA MEMÓRIA DO RÁDIO NO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL 1 Daniella Rigodanzo Koslowski 2, Vera Lucia Spacil Raddatz 3. 1 Trabalho resultante da pesquisa do Projeto Fronteiras: a identidade fronteiriça nas ondas do rádio, do Curso de Jornalismo da Unijuí. 2 Bolsista PROBIC/FAPERGS, estudante do curso de Jornalismo da Unijuí 3 Professora do Curso de Comunicação Social e do Mestrado em Direitos Humanos da Unijuí; Coordenadora do Projeto Fronteiras; Orientadora; Introdução O Projeto Fronteiras: a identidade fronteiriça nas ondas do rádio tem como intuito compreender, resgatar e preservar a memória das rádios na Fronteira Noroeste e Noroeste Colonial do Estado do Rio Grande do Sul. A pesquisa iniciou no ano de 2008, com isso alguns dados já foram coletados. Contudo, agora no ano de 2015, buscou-se atualizar as informações destas emissoras do interior do Estado. Obteve-se durante o andamento do projeto: entrevistas, fotografias, áudios e documentos. O rádio, escolhido como objeto de estudo, tem como finalidade informar seus ouvintes a respeito do que acontece em sua comunidade e no mundo. Além de aproximar pessoas e criar novas identidades dentro de uma mesma cultura, possibilita a comunicação em qualquer lugar, inclusive na região de fronteira. A área de estudo inclui 31 municípios e 44 rádios, dos quais 2 municípios foram visitados: Santa Rosa e Panambi, o primeiro devido ao grande número de emissoras (5), e o segundo, porque a pesquisa havia sido iniciada anteriormente em outro período, mas não completada. Identificou-se que a influência cultural do processo de imigração, principalmente de origem germânica está muito presente em nosso cotidiano e na programação das rádios analisadas por meio da música do estilo bandinhas. Para consolidar os dados, acompanhou-se a programação das rádios durante semanas com o propósito de registrar o perfil de cada emissora. Em suma, relacionou-se e atualizou-se as informações de acordo com as mudanças tecnológicas que as emissoras buscaram para se adaptar ao novo momento que o rádio vive. Metodologia O objetivo geral do projeto visa registrar a história das emissoras, relacionando-a com as fronteiras culturais. Seguindo o cronograma, a primeira etapa centralizou-se na pesquisa bibliográfica, em livros e artigos sobre rádio de fronteira, identidade cultural e fronteiras culturais de especialistas no assunto, os quais foram lidos e discutidos. Ainda nesse período, reservou-se um tempo para ouvir a programação das emissoras e registrar pontos em destaque de cada uma. Foi realizada também a atualização dos dados das emissoras existentes atualmente por meio de contatos telefônicos e pela internet. O próximo passo era a pesquisa de campo em dois municípios, na qual ocorreram visitas

para pesquisa nas rádios de Panambi e Santa Rosa, além do Museu e Arquivo Histórico Professor Hermann Wegermann, de Panambi-RS. Na cidade de Panambi há 4 rádios (3 comerciais e uma comunitária): Sul-brasileira AM 1320 (a mais antiga), Sorriso FM 103,5, Transamérica Hits FM 88,7 (antiga Colinas FM) e NWPan FM 104,9. Santa Rosa concentra o segundo maior número (5) de emissoras da região pesquisada posicionando-se apenas atrás de Ijuí(7). São elas: Rádio Noroeste AM 890, Guaíra FM 97.7, Lidersom FM 107,7, Santa Rosa AM 1410 e Educativa Fema FM 106,3. O estudo tem como base a pesquisa bibliográfica amparada nos conceitos de Michel Maffesoli, dentro do segmento da Sociologia Compreensiva. De acordo com Maffesoli (2010, p.183) deve-se compreender o presente e compará-lo com os grandes momentos do passado. Visto que a pesquisa busca conservar a memória de fatos que ocorreram desde o início do funcionamento das emissoras, e compreende o seu papel perante a sociedade em regiões fronteiriças, o rádio apresenta elementos peculiares, como explica a professora Vera Raddatz em sua tese de doutorado Rádio de fronteira: da cultura local ao espaço global : O rádio em regiões fronteiriças é um elemento ativo desse processo porque cria, por meio de suas pautas, suas músicas e programas, as representações mais diversas desse universo. A instantaneidade do rádio, a portabilidade, o acesso fácil para todas as camadas sociais, que podem participar da programação não só como receptores, mas como emissores, assegura ao veículo um papel dinamizador na construção de identidades de fronteira. (RADDATZ, 2009, p. 78) Conforme Maffesoli (2010) é vivendo e experimentando que se adquire conhecimento e se busca compreender os fatos por intermédio da vida cotidiana dos entrevistados e com o auxílio da sociologia. Todo o material captado foi transcrito e anexado junto ao projeto dos bolsistas anteriores e será socializado posteriormente por meio de publicação da coordenação do projeto, quando as etapas seguintes forem concluídas. Resultados e discussões A área que abrange da análise conta com 31 municípios. Dezenove, pertencem à região do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede) Fronteira Noroeste e onze à do Corede Noroeste Colonial. Deste total de municípios, 26 possuem emissoras de rádio: Ajuricaba, Alegria, Augusto Pestana, Boa Vista do Buricá, Bozano, Campina das Missões, Cândido Godói, Catuípe, Condor, Coronel Barros, Doutor Maurício Cardoso, Horizontina, Ijuí, Independência, José do Inhacorá, Nova Ramada, Novo Machado, Panambi, Pejuçara, Porto Lucena, Santa Rosa, Santo Cristo, Senador Salgado Filho, Três de Maio, Tucunduva, Tuparendi. Ao todo são 44 rádios. As cidades de maior porte apresentam mais de três emissoras como é o caso de Ijuí (7) e Santa Rosa (5). A análise mostra que 34 rádios trabalham em frequência FM: Iguatemi, Mundial, Fraternidade, Unijuí (Ijuí); Boa Nova (Boa Vista do Buricá); Ativa (Campina das Missões); Guajuvira (Dr. Maurício Cardoso); Independência (Independência); Guaíra, Fema, Lidersom e Mais FM (Santa Rosa); Acesa (Santo Cristo); Cidade Canção (Três de Maio); Olinda (Tucunduva); Mauá (Tuparendi); Cultura (Ajuricaba); Liberdade (Augusto Pestana); Liberdade (Catuípe); Comunidade (Condor); Ativa (Coronel Barros); Sorriso, Colinas, NW Pan (Panambi); Pejuçara (Pejuçara); Moriá

(Porto Lucena); Nova Ramada (Nova Ramada); Alegria (Alegria); Atual (Novo Machado); Gêmeos (Cândido Godói); Associação de Desenvolvimento Comunitário e Cultural de Senador Salgado Filho; Diamante (José do Inhacorá); Sentinela (Bozano). Constatou-se também que onze emissoras operam em frequência AM: Repórter, Progresso, Jornal da Manhã (Ijuí); Navegantes (Porto Lucena); Noroeste, Santa Rosa (Santa Rosa); Regional (Santo Cristo); Colonial (Três de Maio); Águas Claras (Catuípe); Sul-Brasileira (Panambi); Vera Cruz (Horizontina). O perfil das emissoras varia entre comunitárias (24), comerciais (18) e educativas (2). Cinco municípios pesquisados não têm rádios. Na região da Fronteira Noroeste são quatro municípios sem comunicação radiofônica própria (Alecrim, Nova Candelária, Porto Mauá e Porto Vera Cruz) e na região Noroeste Colonial, apenas um (Jóia) não possui rádio. Diante do estudo realizado pode-se perceber a importância que uma emissora de rádio tem em uma comunidade, o quanto é levada a sério e como serve de fonte de informação para a discussão das notícias pelos cidadãos locais a todo momento, certamente porque a rádio reflete as problemáticas daquele contexto em que se insere. No decorrer da pesquisa de campo, notou-se o quanto as emissoras preocupam-se com o que o ouvinte quer escutar e com isso buscam adequar a programação. Zelindo Cancian, gerente e locutor da rádio Noroeste de Santa Rosa, cita o engajamento que a empresa tem com o público/sociedade: Nós somos um rádio polêmico, um rádio que suscita, que permite o debate, a forma diferente de cada um pensar, desde quando eu emito opinião, eu sou muito incisivo pra que lá fora as pessoas concordem ou discordem. Isso vai suscitar o debate, o questionamento das ideias, então, tudo o que se fala tem repercussão. (CANCIAN, 2016) As rádios fronteiriças, por terem ouvintes dos dois lados dos territórios moldam a programação, incluindo músicas que agradam ambos os ouvintes, especialmente do gênero de bandas, pela forte influência germânica no lado brasileiro, mas que contagiou o gosto também de quem vive no território argentino imediatamente próximo. Essa troca de gostos e costumes mostra que a globalização veio a conectar os territórios e, consequentemente, a vida das pessoas. O repórter da rádio Noroeste, Jardel Hillesheim, conta como ocorre a recepção por parte dos ouvintes da fronteira: A nossa audiência é muito grande na Argentina [...], a gente entra muito fácil na Argentina, temos muita audiência tanto na parte de participação por torpedo na AM ou FM, na FM o pessoal pedindo música. Na AM mostrando que tão por dentro das ações, por exemplo, que nem tem agora sobre a ponte internacional, possivelmente que deveria ser construída em Porto Mauá ou em Porto Xavier, e esse debate traz a população ali do outro lado de Alba Posse pra esse assunto. [...] a gente traz as principais informações sobre o município, por exemplo, quando tem alteração dos horários de barca que é muito utilizado por essa região aqui, e fica a 40km de Santa Rosa, pertinho, não é longe da divisa. Os argentinos pedem música brasileira. Aqui na nossa região nós temos muito forte a música de banda, eles adoram a música de banda, a bandinha que a gente chama. (HILLESHEIM, 2016) Sem comunicação não há reciprocidade, não há ganhos, não há experiências compartilhadas. A questão do pertencimento a uma região de fronteira, para as rádios da região pesquisada, não está, porém, tão presente. Panambi, situada dentro da faixa de 150 quilômetros de fronteira, mas distante

da linha divisória com a Argentina mais de 100 Km, a fronteira parece remota. Alguns anos atrás havia essa ligação, como explica Lauri Brietzke (2015), diretor da Rádio Sorriso FM de Panambi: A nossa rádio era uma vez escutada na Argentina, (...) mas uma rádio de lá pegou a mesma frequência, aí cortou o nosso sinal. Nós sabíamos que era escutada por que tem pessoas que moram lá que são parentes de alguns de Panambi, ou tem gente daqui que morava lá. Em outro depoimento, o gerente e locutor da rádio Colinas FM, também de Panambi, Juliano Amaral (2015) explica: não temos nenhuma relação, o sinal também não chega até lá. Mesmo que haja evidências desse convívio fronteiriço de outras maneiras, com relação às rádios analisadas em Panambi, por exemplo, se verifica apenas informações de cunho internacional e músicas estrangeiras retiradas via internet. Para Maffesoli (2010), a comunicação é o cimento do mundo. Entende-se que sem ela não se chega a lugar nenhum, e que todas as mídias sociais são fundamentais para a sociedade. Com a realização das entrevistas concedidas pelos funcionários das rádios de Santa Rosa e Panambi, compreendeu-se a necessidade de resgatar a história e produzir um material de conteúdo para publicar. A discussão em volta deste tema, leva a inúmeros caminhos e grandes descobertas, pois o rádio, por estar presente há tanto tempo no meio das comunidades, concebe relatos de vida e de profissão. Questionado se o rádio tem futuro, Zelindo Cancian exalta: Nossa Senhora, o rádio não vai morrer nunca. Talvez os sistemas de captação esses sim, mas hoje a gente é ouvido no mundo, as pessoas interagem da Europa, de outros continentes, isso é fantástico. E hoje com Whatsapp, o Facebook, as pessoas acabam sendo repórteres [...]. O rádio é passado, o rádio é presente e vai ser muito mais no futuro, indiscutivelmente. (CANCIAN, 2016). Mesmo com o desenvolvimento de outras tecnologias, o rádio continua ativo e é um articulador das comunidades onde atua. O rádio dá voz aos cidadãos e está próximo deles, cumprindo a sua função orgânica na comunidade. Conclusão Considerando as ações desenvolvidas durante este ano de projeto, conclui-se através dos resultados obtidos a relevância de resgatar a memória das emissoras pelo contato com os profissionais e os ouvintes. Isso contribui para que o trabalho realizado por elas na comunidade não caia no esquecimento. Procurou-se por isso registrar esta história desde o início das rádios e as transformações que cada veículo de informação vem passando nas regiões pesquisadas. O Projeto Fronteiras pesquisou 31 municípios, 44 emissoras e 2 rádios escolhidas para um estudo mais aprofundado. Discutiu-se também as relações entre as fronteiras culturais, importantes para o desenvolvimento de uma cultura local. Constatou-se que o rádio é um mediador, principalmente no que se refere a questões de cunho público, pois nas cidades pesquisadas o rádio continua informando os seus cidadãos sobre os assuntos que dizem respeito aos interesses locais, que na região tem uma forte ligação com o território fronteiriço a Argentina. Observou-se na cobertura

jornalística do rádio de Santa Rosa um interesse muito grande pela questão das tratativas da construção da ponte que ligaria à região por terra à Argentina, já que hoje a travessia é feita por balsa pelo Rio Uruguai por Porto Mauá. Por isso, também, as pautas jornalísticas acompanham sempre as condições de travessia do rio e as movimentações da moeda, tendo em vista as transações comerciais. Emissoras apresentam uma boa audiência, contando com uma participação ativa da população, tida como o principal foco dos veículos de comunicação. Com isso, conclui-se que este canal de informação é indispensável à vida da região e, como muitos dos entrevistados disseram, sempre será. Desse modo, esta pesquisa além de compreender o rádio como dinamizador das comunidades locais/regionais comprovou que ações de pesquisa são importantes para a universidade produzir conhecimento sobre a região. E ao socializá-lo, está devolvendo a ela um legado, que no caso deste estudo, é o registro de parte de sua história. Fomento: PROBIC/FAPERGS Palavras-chave: rádio; fronteira; memória; noroeste gaúcho Referências: ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: Editora: FGV, 2005. RADDATZ, Vera Lucia Spacil. Rádio de Fronteira: da cultura local ao espaço global. Tese de Doutorado. Porto Alegre: UFRGS, 2009. RADDATZ, Vera lucia Spacil; MULLER, Karla Maria. Comunicação, Cultura e Fronteiras. Ijuí: Editora Unijuí, 2015. MARTINS, Maria Helena. Fronteiras Culturais. Cotia, SP: Editora Ateliê Editorial, 2002. Entrevistas realizadas: CANCIAN, Zelindo. Entrevista pessoal. Santa Rosa: Rádio Noroeste, 2016. HILLESHEIM, Jardel. Entrevista pessoal. Santa Rosa: Rádio Guaíra/Noroeste, 2016. AMARAL, Juliano. Entrevista pessoal. Panambi: Rádio Colinas FM, 2015. BRIETZKE, Lauri. Entrevista pessoal. Panambi: Rádio Sorriso FM, 2015.