Daniel Fernando Rodrigues 1. Introdução



Documentos relacionados
ANÁLISE DE COMPREENSÃO DE TEXTO ESCRITO EM LÍNGUA INGLESA COM BASE EM GÊNEROS (BIOGRAFIA).

Descrição de um projeto de pesquisa voltado para a formação pré-serviço do professor de Língua Estrangeira (LE)

5 METODOLOGIA. 5.1 O Estudo

AGENDA ESCOLAR: UMA PROPOSTA DE ENSINO/ APRENDIZAGEM DE INGLÊS POR MEIO DOS GÊNEROS DISCURSIVOS

TEATRO COMO FERRAMENTA PARA ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESPANHOLA: RELATO DE EXPERIÊNCIA 1

DA UNIVERSIDADE AO TRABALHO DOCENTE OU DO MUNDO FICCIONAL AO REAL: EXPECTATIVAS DE FUTUROS PROFISSIONAIS DOCENTES

5 Considerações finais

A PROPOSTA DE ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA DOS PCN E SUA TRANSPOSIÇÃO ENTRE OS PROFESSORES DE INGLÊS DE ARAPIRACA

Critérios de seleção e utilização do livro didático de inglês na rede estadual de ensino de Goiás

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

O ENSINO DE COMPREENSÃO ORAL EM LÍNGUA INGLESA: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE

O ENSINO DE INGLÊS NA ESCOLA NAVAL Profa. Dra. Ana Paula Araujo Silva Escola Naval

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

A aula de leitura através do olhar do futuro professor de língua portuguesa

OLIVEIRA, Luciano Amaral. Coisas que todo professor de português precisa saber: a teoria na prática. São Paulo: 184 Parábola Editorial, 2010.

AULA COM O SOFTWARE GRAPHMATICA PARA AUXILIAR NO ENSINO E APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

12. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1. Língua estrangeira nas séries do Ensino Fundamental I: O professor está preparado para esse desafio?

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

OS JOGOS E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE LÌNGUA ESTRANGEIRA

TEORIA E PRÁTICA: AÇÕES DO PIBID/INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA. Palavras-chave: Ensino; Recomendações; Língua Estrangeira.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS DE ANÁPOLIS

EMOÇÕES NA ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA. Palavras-chave: escrita, afetividade, ensino/aprendizagem, língua inglesa

CRENÇAS DE LICENCIANDOS EM LETRAS SOBRE O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUA INGLESA RESUMO

CONSIDERAÇÕES SOBRE USO DO SOFTWARE EDUCACIONAL FALANDO SOBRE... HISTÓRIA DO BRASIL EM AULA MINISTRADA EM LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A ESCOLARIZAÇÃO DE FILHOS DE PROFESSORES DE ESCOLA PÚBLICA Rosimeire Reis Silva (FEUSP)

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

PROJETO LÍNGUA DE FORA

APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

Sugestão de Roteiro para Elaboração de Monografia de TCC

FATORES INOVADORES NA PRODUÇÃO TEXTUAL DE LÍNGUA ESPANHOLA

REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA

INSTITUTO FLORENCE DE ENSINO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM (TÍTULO DO PROJETO) Acadêmico: Orientador:

ENSINO INTEGRADO DE LÍNGUA INGLESA

CRENÇAS DE UMA ALUNA INICIANTE NO CURSO DE LETRAS INGLÊS ACERCA DA ORALIDADE

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES E ALUNOS DA EJA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

Education Program. Rodrigo Santana Expansion Director (62)

9 Como o aluno (pré)adolescente vê o livro didático de inglês

Psicopedagogia Institucional

Assimilação natural x Estudo formal

6 Análise de necessidades

FUNÇÕES POLINOMIAIS DO SEGUNDO GRAU MEDIADOS PELO SOFTWARE GEOGEBRA NA PERSPECTIVA DOS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS

UM ESTUDO SOBRE A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DO PROFESSOR DE INGLÊS DA CIDADE DE FAGUNDES - PB

O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA A PARTIR DO GÊNERO TEXTUAL PROPAGANDA

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

FATEC Cruzeiro José da Silva. Ferramenta CRM como estratégia de negócios

Crenças, emoções e competências de professores de LE em EaD

OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS (OBMEP): EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS A PARTIR DO PIBID UEPB MONTEIRO

A AÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA NA FORMAÇÃO DE ALUNOS DE CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA SEMIPRESENCIAL

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

AULAS INTERATIVAS: COMO UMA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO EM SALA DE AULA

CURSOS INGLÊS RÁPIDO Liberdade de Escolha

24 O uso dos manuais de Matemática pelos alunos de 9.º ano

A inserção de jogos e tecnologias no ensino da matemática

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA À DISTÂNCIA SILVA, Diva Souza UNIVALE GT-19: Educação Matemática

ANÁLISE DE NECESSIDADES DO CONTROLADOR DE TRÁFEGO AÉREO: EM BUSCA DE UMA PROPOSTA DE CURSO DA DISCIPLINA LÍNGUA INGLESA COM ENFOQUE NO DESEMPENHO ORAL

Resultado da Avaliação das Disciplinas

FAZENDO DIFERENTE: ENSINO FUNDAMENTAL COM MATERIAIS MANIPULÁVEIS

INVESTIGANDO O ENSINO MÉDIO E REFLETINDO SOBRE A INCLUSÃO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA PÚBLICA: AÇÕES DO PROLICEN EM MATEMÁTICA

PALAVRAS-CHAVE: PNLD, livro didático, língua estrangeira, gênero.

Carlos Fabiano de Souza IFF Mestrando em Estudos de Linguagem (UFF)

Reflexões sobre as dificuldades na aprendizagem de Cálculo Diferencial e Integral

Núcleo de Informática Aplicada à Educação Universidade Estadual de Campinas

RESUMOS DE PROJETOS RELATOS DE EXPERIÊNCIA ARTIGOS COMPLETOS (RESUMOS)

INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?

Trabalhando com o lúdico: motivação nas aulas de língua estrangeira para crianças. Temática: Aquisição de linguagem, variação e ensino: um balanço

ENSINO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA INGLESA À LUZ DOS ASPECTOS INTERCULTURAIS

A INFLUÊNCIA DA CORREÇÃO DE ERROS GRAMATICAIS E O FILTRO AFETIVO NO ENSINO DE INGLÊS COMO LE EM AMBIENTE COMUNICATIVO

A EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES -PROBLEMA NA INTRODUÇÃO DO ESTUDO DE FRAÇÕES. GT 01 - Educação Matemática nos Anos Iniciais e Ensino Fundamental

III SEMINÁRIO EM PROL DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Desafios Educacionais

Empresa Júnior como espaço de aprendizagem: uma análise da integração teoria/prática. Comunicação Oral Relato de Experiência

MODELAGEM MATEMÁTICA: PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO 1

PROJETO DE PESQUISA: passo a passo

WALDILÉIA DO SOCORRO CARDOSO PEREIRA

Palavras Chaves: material didático, cartografia, bacias hidrográficas, lugar.

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO SILMARA SILVEIRA ANDRADE

CONSTRUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS 1

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

PROJETO DE PESQUISA. Antonio Joaquim Severino 1. Um projeto de bem elaborado desempenha várias funções:

Andriceli Richit Unesp /Rio Claro: Rosana G. S. Miskulin Unesp/Rio Claro:

UMA PESQUISA SOBRE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO IFC-CÂMPUS CAMBORIÚ

UMA PROPOSTA DE ATIVIDADE DE MODELAGEM MATEMÁTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDOS MATEMÁTICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I

A realidade dos alunos trazida para a sala de aula. Ao ser perguntado Que possibilidade(s) de escrita(s) os seus alunos

O curso de italiano on-line: apresentação

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

Palavras-chave: Ambiente de aprendizagem. Sala de aula. Percepção dos acadêmicos.

CURSO DE EXTENSÃO Ensino e Aprendizagem de Língua Inglesa para Comunicação em Contextos Acadêmicos Professora Responsável: Sandra Mari Kaneko Marques

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

CURSINHO POPULAR OPORTUNIDADES E DESAFIOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, COM A UTILIZAÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA.

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA INGLESA E O COMPROMISSO SOCIAL

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

IV Seminário de Iniciação Científica

FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Transcrição:

O PERFIL DE ALUNOS DE LÍNGUA INGLESA INGRESSANTES NO CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS: DELIMITANDO EXPECTATIVAS E METAS PARA A COMPETÊNCIA 1 RESUMO: Este artigo apresenta o perfil dos alunos de inglês de um curso de Licenciatura em Letras. As perguntas de pesquisa foram: 1. Qual o perfil linguístico-comunicativo de alunos ingressantes do Curso de Letras (Língua Inglesa), segundo suas visões? e 2. Quais as expectativas dos alunos ao ingressarem no curso? PALAVRAS-CHAVE: Perfil; Expectativas; Crenças; Competência linguística-comunicativa. Introdução Este artigo é resultado de uma pesquisa realizada em uma faculdade particular do interior do estado de São Paulo e faz parte do projeto integrado A (in)competência linguístico-comunicativa de alunos de Letras-Língua Estrangeira: construto e tendências na formação do professor do grupo de pesquisa ENAPLE- CCC, coordenado pelo Prof. Dr. Douglas Altamiro Consolo e apoiado pelo CNPq. O objetivo deste trabalho é fornecer dados que ajudem a traçar um perfil do aluno ingressante no curso de Licenciatura em Letras no que diz respeito às suas expectativas e aos seus objetivos quanto ao desenvolvimento de sua competência linguístico-comunicativa no decorrer da graduação. Como aponta a literatura, as crenças dos alunos são diferenças individuais que podem influenciar o processo de ensino/aprendizagem (BARCELOS, 2001; BORG, 2001). Assim sendo, as crenças que os alunos possuem acerca de sua competência linguístico-comunicativa ao ingressar no curso de Letras podem ter forte influência na concretização de suas expectativas e de seus objetivos. O mapeamento destas crenças pode, portanto, auxiliar o entendimento da cultura de aprender dos alunos, possibilitando sua discussão e favorecendo um processo de aprendizagem reflexivo. 1. Metodologia e contexto de pesquisa 1 Mestre em Estudos Linguísticos pela Unesp. Diretor do CCLi Centro de Consultoria Linguística. Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 11

Os dados foram coletados 2 por meio de um questionário, contendo perguntas abertas e fechadas, elaborado e analisado seguindo a proposta teórica de Gillham (2000). Também foram realizadas perguntas semiestruturadas gravadas em áudio para obter esclarecimentos acerca de algumas respostas do questionário, além de aprofundar alguns pontos específicos sobre as crenças dos alunos. A análise como um todo adotou os procedimentos e as categorizações propostas no trabalho de Silva (2003), que também faz parte do mesmo projeto integrado. Os participantes da pesquisa foram os alunos ingressantes no curso de Licenciatura em Letras de uma faculdade particular do interior do estado de São Paulo (doravante PAR3) no ano de 2003. No total, o grupo possui 30 alunos, mas três deles não responderam o questionário por estarem ausentes. O perfil socioeconômico dos alunos é variado, mas, no geral, são empregados do setor de serviços que trabalham durante o dia e estudam à noite. A faixa etária do grupo é bastante ampla, sendo que o aluno mais novo tem 17 e o mais velho 60 anos; a idade média é de 24 anos e meio. O grupo é formado, majoritariamente, por alunos do sexo feminino (82%) e todos têm o português como língua materna. É importante ressaltar que o aluno ingressante no curso de Licenciatura em Letras da PAR3 cursa tanto a disciplina de Língua Inglesa quanto a de Língua Espanhola durante dois semestres. No final do segundo semestre, no entanto, ele deve optar por uma das línguas na qual será licenciado. Assim sendo, seria de se esperar que tivesse dificuldades para definir, no início de seus estudos, suas expectativas e metas com relação ao estudo da língua inglesa. Entretanto, foi possível observar em suas respostas que, mesmo os alunos que afirmaram já ter certeza de que não optarão pela língua inglesa, possuem muitas expectativas, que serão abordadas a seguir, para o estudo desta língua na faculdade. 2. Análise e discussão dos dados Com base nos dados, pode-se dizer que o principal contato dos alunos com a língua inglesa antes de ingressarem na faculdade é durante o ensino fundamental e médio. Apenas 20% tiveram contato com a língua inglesa em cursos de idiomas. Segundo COLERALL (apud BARCELOS, 1999, p. 161), a experiência anterior de 2 Auxiliaram, neste trabalho, as alunas de iniciação científica Maria Elizabete Vittorelli e Samanta D Avila. Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 12

aprendizagem é crucial para a formação das crenças e da autopercepção dos alunos, determinando sua autoconfiança e seu consequente sucesso na aprendizagem. Pode-se dizer, portanto, que as crenças dos alunos ao estabelecerem suas metas para o curso no ensino superior estão fortemente relacionadas com a longa experiência que tiveram no contexto de ensino fundamental e médio. Diversos são os motivos apontados pelos alunos que os levariam a escolher a Licenciatura em Língua Inglesa no final do ano. A maior parte dos alunos afirmam têla escolhido simplesmente por gostarem da língua e quererem estudá-la. É interessante observar que é exatamente o motivo oposto que faz com que muitos alunos já tenham decidido pela Licenciatura em Língua Espanhola, ou seja, o fato de não gostarem da língua inglesa, de terem medo de não entendê-la e de considerarem ter muitas dificuldades nesta língua. Para um terço dos alunos, o fato de a língua inglesa ser uma língua mundial e oferecer melhores oportunidades de trabalho é o que os motiva a estudá-la. Surpreende apenas dois alunos (pouco mais de 0,5% do grupo) terem declarado que optaram pelo curso para se tornarem professores de língua estrangeira (doravante LE). Percebe-se, portanto, que os alunos ingressantes no curso ainda não se veem como futuros professores. Como argumentado por Silva (2003), isto ocorre porque as crenças dos alunos refletem o seu atual papel de aprendizes de Língua Inglesa I (primeiro estágio da língua na faculdade) e a falta de um estudo das questões específicas de ensino/aprendizagem de LE os mantêm ainda distantes de uma consciência do seu papel de professor em formação. A principal expectativa dos alunos é conseguir falar fluentemente ou se comunicar na língua. Nesse ponto, é interessante verificar como sua cultura de aprender, descrita anteriormente, pode influenciar decisivamente em seus objetivos. Como já foi discutido, o fato de terem tido contato com a língua inglesa apenas no ensino fundamental e médio, onde o insumo linguístico é marcado, na sua maioria, por uma abordagem estruturalista (CONSOLO, 1992), cujo foco é o desenvolvimento da competência gramatical e não da competência comunicativa dos alunos, faz com que muitos não consigam responder quais aspectos do trabalho realizado nas aulas na faculdade poderão contribuir para o desenvolvimento de sua competência oral. Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 13

Percebe-se, portanto, que crenças dos alunos sobre o que é a linguagem e como estudá-la podem não proporcionar um ambiente que favoreça o uso da linguagem. Um exemplo recorrente nos dados coletados é o medo que eles possuem de interagir com o outro, advindo da crença de que devem, necessariamente, produzir enunciados corretos ao falar. Consequentemente, o aluno não coopera para o desenvolvimento de sua própria fluência oral e sente-se, constantemente, incapaz de aprender a língua. Também é interessante notar que, de todos os alunos, apenas um se considera com nível avançado em língua inglesa. A maioria se considera iniciante, embora já tenha tido contato com a língua anteriormente. Na verdade, essa falta de envolvimento com a língua em questão também é verificada quando 50% dos alunos respondem que não têm nenhum contato com a língua fora da sala de aula. Nota-se, então, a crença implícita (e, por ora, até mesmo explícita) dos alunos de que o contexto escolar tem de ser suficiente para que ele aprenda a língua, restringindo sua atuação na língua ao referido contexto. Dos que mencionaram algum tipo de contato fora do contexto escolar, os principais meios relatados são a TV, o rádio e a internet. Com a análise realizada até aqui, pode-se verificar que as expectativas dos alunos com relação à sua competência oral são muito grandes. Para eles, a realização de atividades de conversação em sala de aula é o principal aspecto do trabalho desenvolvido nas aulas de língua inglesa, que pode contribuir para o desenvolvimento de sua competência oral. Muitos deles também acreditam que as aulas devam ser dinâmicas sem explicar, exatamente, o que consideram como sendo esse dinamismo. A meu ver, o que eles acreditam é que não será possível adquirir a competência oral que almejam seguindo a abordagem estrutural que tinham nos contextos de ensino anteriores. Há, portanto, o desejo de uma mudança. No entanto, percebe-se que não há uma vontade prática para que tal mudança seja efetivamente implementada. Embora muitos acreditem que o professor deva, por exemplo, falar em inglês durante as aulas para que possam ter contato com a língua falada, a maioria afirma que o professor deve usar também o português para que eles possam entender a gramática. Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 14

No tocante às atividades que mais agradam os alunos, menos da metade (37%) disseram que as de conversação são as suas preferidas, mesmo acreditando que são exatamente estas atividades que os levarão a desenvolver sua competência oral tão almejada. Outras atividades como tradução, leitura e explicações na lousa foram citadas dentre as mais agradáveis. Nota-se, também, certa confusão por parte dos alunos do que constitui realmente uma atividade oral, pois uma simples leitura em voz alta já é considerada conversação para alguns. 3. Conclusão Os resultados deste trabalho indicam que o aluno de Licenciatura em Língua Inglesa possui grandes expectativas com relação ao desenvolvimento da sua competência oral. Contrastando estes resultados com os obtidos por outros estudos que também se preocuparam em traças o perfil do aluno de língua inglesa (SILVA, 2003; CONSOLO, 2001; RODRIGUES, 2001), verifica-se que, embora haja diferenças significativas entre os contextos pesquisados, há certa homogeneidade com relação às crenças dos alunos. Isso se justifica, a meu ver, pelo fato de que, como mencionado na análise, a maioria desses alunos possui um histórico de aprendizagem de línguas semelhantes, o que, consequentemente, produz crenças semelhantes com relação ao processo de ensino/aprendizagem. Outro resultado importante a ser discutido é a questão da definição do termo fluência. Fica implícito que os alunos associam o falar fluentemente a falar sem erros, corretamente. Embora Richards (1990, p. 75-76) reconheça que ser fluente é produzir um discurso compreensível, fácil de acompanhar, livre de erros gramaticais e interrupções na comunicação (grifo meu), Lennon (1990; 1999) propõe que a fluência é apenas um componente da proficiência oral que varia de acordo com o assunto que está sendo tratado ou discutido, a situação em que se acham o falante, o interlocutor e o estado psicológico do falante. Interessante notar também o paradoxo que surge ao relacionarmos as crenças que os alunos possuem com relação ao processo de ensino e aprendizagem e as suas expectativas e metas com relação à sua competência linguístico-comunicativa. Embora almejam tornarem-se fluentes na língua e acreditem que aulas dinâmicas, em que haja atividades de conversação, possam Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 15

auxiliá-los neste processo, suas crenças estão embasadas por uma visão estruturalista da linguagem, segundo a qual devem ter uma sólida base gramatical para que possam começar a interagir em língua estrangeira. Com base nisso, pode-se afirmar que o dizer do aluno não condiz com o seu fazer. Da mesma forma que o professor reflexivo consciente de sua prática se torna capaz de identificar suas próprias limitações e incoerências, a fim de redirecionar e readequar sua prática (ALVARENGA, 1999), acredito que a tomada de consciência, por parte do aluno, de suas próprias crenças e a visualização de suas metas enquanto professor em formação pode fazer com que seu fazer se aproxime cada vez mais do seu dizer. Assim, como já sugerido por Consolo (2001), faz-se necessário que se discuta a questão da definição da competência que o aluno de Letras deve/quer atingir para que, de posse disso, seja possível redefinir a abordagem da língua inglesa no contexto de ensino de formação de professores. ABSTRACT: This paper focuses on the profile of English language students in university level. Its research questions were two: 1. Which is the linguistic-communicative profile of freshmen students in the course Licenciatura em Letras, according to their own views? and 2. Which expectations do they have when starting the course? KEYWORDS: Profile; Expectations; Beliefs; Linguistic-communicative competence. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVARENGA, M. B. Configuração da abordagem de ensinar de um professor com reconhecido nível teórico em linguística aplicada. In: ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org.) O professor de língua estrangeira em formação. Campinas: Pontes, 1999. p. 111-125. BARCELOS, A. M. F. A cultura de aprender línguas (inglês) de alunos no curso de Letras. In: ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org.) O professor de língua estrangeira em formação. Campinas: Pontes, 1999. p. 157-177. BARCELOS, A. M. Metodologia de pesquisa das crenças sobre aprendizagem de línguas: estado da arte. Revista Brasileira de Lingüística Aplicada, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 71-92, 2001. Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 16

BORG, M. Teachers beliefs. ELT Journal, v. 55, n. 2, p. 186-188, abr. 2001. CONSOLO, D. A. O livro didático e a geração de insumo na aula de língua estrangeira. Trabalhos de lingüística aplicada. Campinas, n. 20, p. 37-47, jul./dez. 1992.. Competência lingüístico-comunicativa: (re)definindo o perfil do professor de língua estrangeira. In: VI Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada, 2001, Belo Horizonte: ALAB, 2002. 1 CD-ROM. FÉLIX, A. Crenças do professor sobre o melhor aprender de uma língua estrangeira na escola. Campinas, 1998. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) IEL, Universidade Estadual de Campinas. GILLHAM, B. Developing a Questionnaire. London: Continuum, 2000. LENNON, P. Investigating fluency in EFL: a quantitative approach. Language Learning, v. 40, n. 3, 1990.. The lexical element in spoken L2 fluency. Alemanha, 1999. (memeo) RICHARDS, J. C. Second language teacher education. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. RODRIGUES, D. F. Percepção de alunos e professores de inglês como língua estrangeira sobre o processo de ensino/aprendizagem de vocabulário. Boletim da Associação Brasileira de Lingüística, Fortaleza, v. 26, p. 132-134, 2001. Especial. SILVA, C. V. da. A competência lingüístico-comunicativa de alunos de letras-língua inglesa: perspectivas de alunos ingressantes. São José do Rio Preto, 2003. Relatório de Iniciação Científica. Universidade Estadual Paulista. Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 17