PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Seção Cível de Direito Público DECISÃO MONOCRÁTICA



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Transcrição:

fls. 1 DECISÃO MONOCRÁTICA Classe : Procedimento Ordinário n.º 0009818-73.2014.8.05.0000 Foro de Origem : Salvador Órgão : Relator(a) : Ilona Márcia Reis Autor : Município de Serra do Ramalho Advogado : Aurelio Rodrigues de Souza Junior (OAB: 10109/BA) Réu : Sindicato dos Servidores Publicos Municipais de Serra do Ramalho - Sinsp/sr Assunto : Direito de Greve Vistos, etc... Trata-se de Ação Declaratória de competência originária, objetivando a declaração de ilegalidade do movimento paredista, com pedido de antecipação da tutela, com fulcro no art. 273 do CPC, para a imediata suspensão da greve dos profissionais do magistério da rede pública de educação da cidade de Serra do Ramalho. Para tanto, cumpre verificar a presença dos pressupostos legais para concessão da medida liminar, quais sejam: a verossimilhança das alegações e o fundado receio da ocorrência de dano irreparável ou de difícil reparação. Cediço que a Constituição Federal de 1988 ampliou os direitos sociais dos servidores públicos civis, permitindo-lhes tanto o direito à livre associação sindical, quanto o direito de greve, este último exercido nos termos e nos limites definidos em lei ordinária específica, conforme previsto na Emenda Constitucional nº 19/98. Ante a falta de lei específica para regulação do exercício do direito de greve pelos servidores públicos civis, o Supremo Tribunal Federal no julgamento do Mandado de Injunção nº 712/PA, firmou o entendimento

fls. 2 de que, supletivamente, e até a normatização específica, é aplicável o regime dos trabalhadores privado previsto na Lei n.º 7.783/89, desde que atendidas as peculiaridades do serviço público, especialmente das atividades de certas categorias que o compõem, relacionadas à manutenção da ordem, da segurança e da saúde públicas, bem como das atividades indelegáveis que integram as chamadas carreiras de Estado. Vale transcrever trecho do julgado na parte que importa: '10. A regulamentação do exercício do direito de greve pelos servidores públicos há de ser peculiar, mesmo porque "serviços ou atividades essenciais" e "necessidades inadiáveis da coletividade" não se superpõem a "serviços públicos"; e vice-versa. 11. Daí porque não deve ser aplicado ao exercício do direito de greve no âmbito da Administração tão-somente o disposto na Lei n. 7.783/89. A esta Corte impõe-se traçar os parâmetros atinentes a esse exercício. 12. O que deve ser regulado, na hipótese dos autos, é a coerência entre o exercício do direito de greve pelo servidor público e as condições necessárias à coesão e interdependência social, que a prestação continuada dos serviços públicos assegura. 13. O argumento de que a Corte estaria então a legislar --- o que se afiguraria inconcebível, por ferir a independência e harmonia entre os poderes [art. 2º da Constituição do Brasil] e a separação dos poderes [art. 60, 4º, III] --- é insubsistente. 14. O Poder Judiciário está vinculado pelo dever-poder de, no mandado de injunção, formular supletivamente a norma regulamentadora de que carece o ordenamento jurídico. 15. No mandado de injunção o Poder Judiciário não define norma de decisão, mas enuncia o texto normativo que faltava para, no caso, tornar viável o exercício do direito de greve dos servidores públicos. 16. Mandado de injunção julgado procedente, para remover o obstáculo decorrente da omissão legislativa e, supletivamente, tornar viável o exercício do direito consagrado no artigo 37, VII, da Constituição do Brasil.'

fls. 3 Logo, o direito de greve no serviço público é sempre limitado às garantias outorgadas constitucionalmente à sociedade, que tem o direito de receber serviços públicos essenciais de forma integral e contínua. Em tal contexto, forçoso é reconhecer que, embora o direito de greve esteja integrado ao patrimônio jurídico dos servidores públicos, não se trata de direito absoluto, pois é preciso verificar a índole das atividades que exercem, tendo em vista que sobre ele (direito de greve) prevalecem valores fundamentais que também são objeto de proteção constitucional. Consabido que a educação é um direito social fundamental, nos termos dos art. 6º e 205 da Constituição Federal, in verbis: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Embora não elencados no rol do art. 10 da Lei nº 7.783/89, meramente exemplificativo, da leitura do conteúdo dos preceptivos legais supracitados, resta clara a pretensão do legislador originário de elevar a educação à categoria de serviço público essencial, cabendo ao poder público implementar medidas para viabilizá-lo, sob pena de responsabilidade da autoridade competente( art. 208, CF/88, em especial seus 1º e 2º). Indiscutível que os professores da rede pública em questão paralisaram as suas atividades reivindicando melhorias salariais, como titulares do direito de greve. Contudo, no exercício da proporcionalidade, em se tratando, como na espécie, de atividade essencial, impõe-se a mitigação do exercício absoluto do direito de greve, sobrelevando-se os princípios da supremacia do interesse público e da continuidade dos serviços, de modo a assegurar o seu

fls. 4 funcionamento razoável. Neste sentido, valiosa a conclusão extraída do julgado a seguir, oriundo do Tribunal de Justiça do Piauí: '[ ] O exercício do direito de greve, seja pelo empregado vinculado à iniciativa privada ou pública, deve obediência aos requisitos previstos na Lei 7.783/89, que importam em mitigação do exercício desse direito. Aliás, a própria Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XIII, estabelece que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão. Assim, embora também previsto na Carta Política, o direito em questão deve ser interpretado em consonância com os demais preceitos, inclusive a liberdade de exercício de ofício. Ademais, sendo o direito de greve de natureza relativa, deve se considerar a reivindicação em afinidade com os limites da razoabilidade. Isto porque, pelo fato de poder exercitar o direito de greve, não pode uma determinada categoria apresentar pleitos em patamar além da capacidade de atendimento pelo gestor público ou o empregador. De outra parte, a educação, enquanto bem essencial ao pleno desenvolvimento da pessoa humana, é tida como garantia fundamental (art. 6º, CF), e a classe grevista, em sua maioria, presta serviços diretamente à educação básica, pelo que resta clarividente os prejuízos ocasionados aos discentes em decorrência da greve levada acabo pela agremiação reclamada. Com efeito, dada a amplitude do direito à educação, na forma do art. 205 da Constituição Federal, a disciplina do direito de greve para os trabalhadores em geral, quanto às atividades ditas essenciais, é especificamente delineadas nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei nº 7.783/1989, aplicável ao caso específico do direito de greve dos servidores públicos, sendo que o artigo 11, referido conclama a necessidade de manutenção de um mínimo de servidores para o serviço, não havendo nos autos informações acerca do atendimento dessa condição' (TJ-PI - DC: 201100010016534 PI, Relator:

fls. 5 Des. José James Gomes Pereira, Tribunal Pleno, DJ: 05/04/2012,). Com efeito, não pode o Poder Judiciário ficar indiferente aos efeitos drásticos advindos de movimento grevista promovido por servidores públicos cujas atribuições estão ligadas diretamente à educação básica, pois a interrupção das aulas, além de prejudicar o pleno desenvolvimento da pessoa, causa verdadeiro prejuízo a toda à coletividade. A paralisação das atividades dos professores, pelo que extraio dos autos, não garantiu o contingenciamento mínimo de pessoal para realização das atividades essenciais, evidenciando, em princípio, violação aos art. 11 e 14 da Lei nº 7.783/89, verbis: 'Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. (...) Art. 14. Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho.' Assim, em análise preambular, próprio dessa fase processual, verifico em juízo de ponderação entre o exercício do movimento paredista deflagrado pelo demandado e a efetiva proteção do direito à educação, igualmente salvaguardado pela Constituição do Brasil, entendo prevalente este último por se afigurar, notadamente em relação às crianças e aos adolescentes, como serviço público essencial, de modo que a paralisação total das atividades daí decorrentes configuraria afronta ao princípio da continuidade dos serviços públicos. Ademais, o município de Serra do Ramalho já apresenta comprometimento de mais de 60% da receita corrente líquida com despesa de pessoal, excedendo os limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, estando, em princípio, vedada a concessão de vantagem, reajuste ou adequação de remuneração a qualquer título.

fls. 6 Dito isto, há elementos para deferir a medida antecipatória requerida, sobretudo em razão da presença de verossimilhança da alegação de seu direito, nos termos expostos, e principalmente por se tratar de serviço público essencial, concedo parcialmente a antecipação de tutela pretendida para determinar o imediato retorno à sala de aula de 50% (cinquenta por cento) dos professores lotados em cada estabelecimento de ensino público de educação infantil, fundamental e médio do Município de Serra do Ramalho, sob pena de pagamento de multa diária de R$1.000,00 (um mil reais). Cite-se o demandado para, querendo, apresentar contestação no prazo legal. Após, encaminhem-se os autos ao Ministério Público para pronunciamento. Salvador, 08 de julho de 2014. Ilona Márcia Relatora