AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. CESSÃO DE CRÉDITO. HABILITAÇÃO. Legitimada a totalidade dos herdeiros habilitados na execução de sentença para, em conjunto, cederem a parte dos créditos que lhes cabe no precatório expedido. Na hipótese dos autos, desnecessária que a cessão de crédito seja realizada por inventariante ou sucessão formal. Habilitação da cessionária que merece ser deferida. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. AGRAVO DE INSTRUMENTO TERCEIRA CÂMARA ESPECIAL CÍVEL COMARCA DE PORTO ALEGRE ROSINA ALIMENTOS LTDA. INSTITUTO DE PREVIDENCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL AGRAVANTE AGRAVADO A CÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Terceira Câmara Especial Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento ao agravo de instrumento. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES. LEONEL PIRES OHLWEILER E DES.ª LAÍS ETHEL CORRÊA PIAS. Porto Alegre, 14 de dezembro de 2010. DES. ALMIR PORTO DA ROCHA FILHO, Relator. 1
R E L ATÓRIO DES. ALMIR PORTO DA ROCHA FILHO (RELATOR) ROSINA ALIMENTOS LTDA. interpõe agravo de instrumento atacando decisão que, nos autos da execução de sentença movida pela Sucessão de Maria Aldair Belinck Kunrath contra o INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, indeferiu o pedido de habilitação pretendida pela empresa cessionária. A decisão restou assim redigida: Vistos. Trata-se de habilitação pretendida pela cessionária ROSINA ALIMENTOS LTDA dos créditos da exequente falecida. Ocorre que na escritura pública de cessão constaram como exequentes os herdeiros, quando quem deveria constar é a Sucessão de Maria Aldair Belinck Kunrath, pelo que inviável a cessão pretendida. Intimem-se. Após, arquive-se até o pagamento do precatório. Em suas razões, alega a agravante, preliminarmente, a nulidade da decisão atacada por ausência de fundamentação. A magistrada não explicitou as razões que embasaram a negativa do pedido de habilitação. Aponta violação ao ato jurídico perfeito, salientando que a habilitação dos herdeiros já havia sido deferida pelo juízo de origem. Operou-se preclusão pro judicato, invocando a aplicação do disposto no art. 471 do CPC. Refere as inovações introduzidas pela EC nº 62/2009. Suscita a incidência do art. 1.784 do CC. Salienta o disposto no art. 78 do ADCT, alegando a possibilidade de cessões de créditos pelos herdeiros. Transcorreu in albis o prazo para contrarrazões, o que restou certificado (fl. 287). O Ministério Público opina pelo provimento do recurso. 2
É o relatório. V O TOS DES. ALMIR PORTO DA ROCHA FILHO (RELATOR) Da preliminar de nulidade Deve ser rejeitada a preliminar de nulidade, pois, embora sucintamente, a magistrada expôs o motivo que a levou a indeferir o pedido de habilitação, não havendo que se falar em afronta ao disposto nos artigos 93, IX da Constituição Federal e 165 do Código Civil. Do mérito A autora da ação de conhecimento, Maria Aldair Belinck Kunrath faleceu no curso do processo (10/03/2001 - fl. 212-174 na origem). Foi deferida a habilitação dos herdeiros em 05/10/2001 (fl. 38 destes autos - fl. 198 na origem). A empresa Rosina Alimentos Ltda., ora agravante, adquiriu os direitos creditórios de Mariza Esther Kunrath Alves, Mircka Magdalena Kunrath, Sergio Kunrath e Claudio Kunrath, conforme se verifica na escritura pública de fls. 253/254 (fls. 221/222 na origem). O agravo cinge-se em verificar a possibilidade de cessão de créditos por herdeiros previamente habilitados no feito executivo. Razão assiste à agravante. A escritura pública de cessão de crédito de 80% do precatório nº 20303 foi lavrada em 03/07/2009, ou seja, quando já estavam habilitados os herdeiros de Maria Aldair no feito executivo. Nela, figuram como cedentes Mariza Esther, Mircka Magdalena, Sergio e Claudio, e como cessionária a empresa Rosina Alimentos Ltda. 3
Não há vedação à cessão de créditos por herdeiros de credor de precatório habilitados judicialmente. Ademais, verifica-se que todos eles participaram da cessão em discussão. A EC nº 62/2009 deu nova redação ao art. 100 da Constituição Federal, autorizando expressamente a cessão de créditos inscritos em precatório judicial, independentemente de sua natureza e da concordância do devedor: Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no 2º deste artigo. 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os fins do disposto no 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. 4
4º Para os fins do disposto no 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos às entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social. (...) 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em precatórios a terceiros, independentemente da concordância do devedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos 2º e 3º. (grifei) 14. A cessão de precatórios somente produzirá efeitos após comunicação, por meio de petição protocolizada, ao tribunal de origem e à entidade devedora. Ante o exposto, conheço do agravo de instrumento e DOU-LHE PROVIMENTO para acolher a habilitação da agravante na condição de assistente litisconsorcial. DES. LEONEL PIRES OHLWEILER - De acordo com o(a) Relator(a). DES.ª LAÍS ETHEL CORRÊA PIAS - De acordo com o(a) Relator(a). DES. ALMIR PORTO DA ROCHA FILHO - Presidente - Agravo de Instrumento nº 70037861838, Comarca de Porto Alegre: "DERAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: ELIZIANA DA SILVEIRA PEREZ 5