JOGOS MATEMÁTICOS NOS ANOS INICIAIS Adriane Regina Bravo Mendes 1 Suseli de Paula Vissicaro 2 Claudinea Falchetti Nunes 3 RESUMO: Considerando-se o potencial dos jogos no processo de ensino e aprendizagem dos alunos,dentro de uma perspectiva da Alfabetização Matemática que traz a importância da ludicidade através do jogo, que por sua vez proporciona : as diferentes maneiras de jogar e competir,a discussão sobre o que significa vencer ou perder uma partida, o agrupamento e o modo como as equipes se organizam, o entendimento, a discussão e muitas vezes a escrita das regras e de novas regras bem como a criação de diferentes estratégias para se alcançar o objetivo final, pretende-se na presente oficina, apresentar alguns jogos que podem ser realizados em turmas do 1ª ao 5ª ano do Ensino Fundamental I, nos diferentes eixos de conteúdo da Matemática: números e operações, geometria, grandezas e medidas e tratamento da informação. Os cursistas confeccionaram e vivenciaram jogos como: Feche a caixa, Salto do canguru e De grão em grão, pautados na proposta de jogos do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Trabalhar com estes jogos oportunizou entre os participantes a troca a partir de suas experiências e práticas, a socialização de suas descobertas bem como a reflexão sobre as melhores estratégias de mediação já que esta proposta entende o professor como um mediador que busca criatividade e o olhar mais pontual sobre a aprendizagem de seus alunos assumindo um papel de intervenção que requer boas e instigantes perguntas que levem seus alunos a explicitar tudo o que sabem e tudo que já aprenderam numa situação de jogo. PALAVRAS-CHAVE: matemática,jogos,anos inicais 1. Introdução Em 2014 o Ministério da Educação e Cultura deu contunuidade ao Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) trazendo a formação em Alfabetização Matemática com o objetivo de ser entendida como um instrumento para a leitura do mundo, uma perspectiva que supera a simples decodificação dos números e a resolução das quatro operações básicas (BRASIL, 2014, p. 05). O PACTO entende por Alfabetização Matemática: A dimensão matemática da alfabetização na perspectiva do letramento, ou melhor, a Alfabetização Matemática como entendendo aqui o conjunto das contribuições da Educação Matemática no Ciclo de Alfabetização para a promoção da apropriação pelos aprendizes de práticas sociais de leitura e escrita de diversos tipos de textos, práticas de leitura e escrita do mundo não se 1 E-mail: professoraadriane.pnaic@gmail.com. 2 E-mail: svissicaro@gmail.com. 3 E-mail: Claudinea1968@gmail.com. 1
restringe ao ensino do sistema de numeração e das quatro operações aritméticas fundamentais. A Alfabetização Matemática que se propõe, por se preocupar com as diversificadas práticas de leitura e escrita que envolvem as crianças e com as quais as crianças se envolvem no contexto escolar e fora dele, refere-se ao trabalho pedagógico que contempla as relações com o espaço e as formas, processos de medição, registro e uso das medidas, bem como estratégias de produção, reunião, organização, registro, divulgação, leitura e análise de informações, mobilizando procedimentos de identificação e isolamento de atributos, comparação, classificação e ordenação. (BRASIL,2014, p.31) Partindo da ideia de um trabalho de Alfabetização Matemática na perspectiva do letramento o ambiente de aprendizagem deve proporcionar primeiramente o desafio onde o aluno tenha a oportunidade de inventar modos diferenciados de fazer matemática. Isso pode acontecer a partir do momento que os professores criarem situações problema de fato desafiadoras e que envolvam os alunos. A questão do desafio é o grande cerne numa proposta com jogos. De acordo com Starepravo (2009, p. 19): Os jogos exercem um papel importante na construção de conceitos matemáticos por se constituírem em desafios aos alunos. Por colocar as crianças constantemente diante de situações-problema, os jogos favorecem as (re) elaborações pessoais a partir de seus conhecimentos prévios. Na solução dos problemas apresentados pelos jogos, os alunos levantam hipóteses, testam sua validade, modificam seus esquemas de conhecimento e avançam cognitivamente. A mesma autora ainda traz: Se conseguirmos compreender o papel que os jogos exercem na aprendizagem de matemática, poderemos usá-los como instrumentos importantes, tornandoos parte integrante de nossas aulas de matemática. Mas devemos estar atentos para que eles realmente constituam desafios. Para isso, devemos propor jogos nos quais as crianças usem estratégias próprias e não simplesmente apliquem técnicas ensinadas anteriormente (STAREPRAVO,2009, p. 20) No material produzido pelo PNAIC em 2014 um dos cadernos foi criado exclusivamente para tratar do assunto: jogos matemáticos. Esse material traz, dentre outras coisas, a importância do trabalho antes do jogo que envolve o conhecimento e leitura de regras, o durante de um jogo com ênfase nas estratégias desenvolvidas e o depois do jogo pensando na avaliação. Assim quando um professor decide, em sua prática na sala de aula, utilizar o jogo como um instrumento de aprendizagem esse trabalho não pode ser um mero passatempo. De acordo com nossos pressupostos, compreendemos que o jogo em sala de aula não pode ser visto como um mero passatempo. Por esse motivo, com vistas a auxiliar o trabalho pedagógico e ampliar as potencialidades do uso de jogos no desenvolvimento dos conceitos matemáticos, uma série de considerações são necessárias, em particular as que tratam do papel do professor. (BRASIL,2014 p. 5) 2
Da mesma maneira que o jogo precisa ser um processo pensando, analisado e entendido como uma estratégia dentro da área de matemática o papel do professor não pode ser o de mero observador numa atividade assim. O professor precisa compreender a importância de planejar esta atividade, de mediar situações, de intervir em momentos oportunos e de avaliar a aprendizagem de cada um dos seus alunos. É importante observar que o jogo pode propiciar a construção de conhecimentos novos, um aprofundamento do que foi trabalhado ou ainda, a revisão de conceitos já aprendidos, servindo como um momento de avaliação processual pelo professor e de auto avaliação pelo aluno...trabalhado de forma adequada, além dos conceitos, o jogo possibilita aos alunos desenvolver a capacidade de organização, análise, reflexão e argumentação, uma série de atitudes como: aprender a ganhar e a lidar com o perder, aprender a trabalhar em equipe, respeitar regras, entre outras...no entanto, para que o ato de jogar na sala de aula se caracterize como uma metodologia que favoreça a aprendizagem, o papel do professor é essencial. Sem a intencionalidade pedagógica do professor, corre-se o risco de se utilizar o jogo sem explorar seus aspectos educativos, perdendo grande parte de sua potencialidade. (BRASIL, 2014, p.05) Ainda tratando da importância do papel do professor Smole (2007,p.09) reforça que: O trabalho com jogos nas aulas de matemática, quando bem planejado e orientado auxilia o desenvolvimento de habilidades como observação, análise, levantamento de hipóteses, busca de suposições, reflexão, tomada de decisão, argumentação e organização, as quais estão estreitamente relacionadas ao assim chamado raciocínio lógico. As habilidades desenvolvem-se porque, ao jogar, os alunos têm a oportunidade de resolver problemas, investigar e descobrir a melhor jogada; refletir e analisar as regras, estabelecendo relações entre os elementos do jogo e os conceitos matemáticos. Podemos dizer que o jogo possibilita uma situação de prazer e aprendizagem significativa nas aulas de matemática. Além disso, o trabalho com jogos é um dos recursos que favorece o desenvolvimento da linguagem, diferentes processos de raciocínio e de interação entre os alunos, uma vez que durante um jogo cada jogador tem a possibilidade de acompanhar o trabalho de todos os outros, defender pontos de vista e aprender a ser crítico e confiante em si mesmo. 2. Jogos Matemáticos A oficina apresentou três jogos matemáticos possíveis de serem trabalhados nos anos iniciais salvaguardados diferentes estratégias e adaptações. 2.1 Feche a Caixa 3
Figura 1: modelo em madeira Fonte: google imagens 4 Encontram-se diferentes versões sobre a origem deste jogo, mas, uma das mais populares é a que pode ser encontrada no site Café Matutino: Muito pouco se sabe sobre a história do jogo Feche a Caixa. Há histórias de marinheiros antigos, possivelmente provenientes das Ilhas do Canal, que iriam jogar o jogo à noite, à luz da lua, para ajudar a passar o tempo durante viagens longas. Os marinheiros faziam apostas sobre quem iria receber a pontuação mais baixa e ganhar o jogo. Foi, na época, considerado um jogo de azar. Diz-se que o jogo nasceu na França no século 12. Esta informação não pode ser verificada, por isso é possível que o jogo tenha vindo de um período anterior. Também é possível que o jogo tenha sido modificado pelos franceses ou as mudanças tenham acontecido antes de chegar na França. Os principais conteúdos trabalhados neste jogo envolvem: possibilidades diferenciadas da adição de encontrar o mesmo resultado e a ideia de agrupamento. As regras desse jogo podem ser encontradas em diferentes sites. Sugerimos aqui o material online da Revista Nova Escola 5. 2.2 De Grão em Grão Este jogo surgiu na formação em Alfabetização Matemática no ano de 2014 no município de São Bernando do Campo em São Paulo. Uma das professoras alfabetizadoras criou o jogo como um antecedente do Mancala ( jogo elaborado a partir de tradições africanas de plantio). O jogo consta de dois espaços com seis casas e um dado. Joga-se com dois jogadores e cada um na sua vez lança o dado e coloca o número retirado no dado em peças nestes espaços de acordo com o valor de cada um deles: espaço 01 coloca-se uma peça, espaço 02 coloca-se duas peças e assim por diante.ganha quem completaros seis espaços. 4 Disponivelem:<https://www.google.com.br/search?q=feche+a+caixa&espv=2&biw=1920&bih=963&source=lnms&tbm=isch&sa=X&sqi= 2&ved=0ahUKEwiOxI-NhMnQAhUHEpAKHf-KB38Q_AUIBygC#imgrc=PChp-CPxWywsDM%3A. Acesso em nov.2016 5 Disponível em <http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/feche-caixa>acesso em out.2016 4
Figura 2: modelo do jogo Fonte: acervo pessoal da autora principal Neste jogo os conteúdos trabalhados são sequência numérica, correspondência um a um e adição simples. 2.3 Salto do Canguru O jogo Salto do Canguru é uma proposta dentro do Programa de Formação Continuada de Professores de 1º e 2º anos do ciclo Básico de Lisboa coordenado pela autora Tereza Pimentel. Numa proposta bem parecida encontra-se o jogo Travessia do Rio 6 do material do Caderno de Jogos do PNAIC. Este jogo possibilita um trabalho com a adição e com a reflexão sobre as melhores estratégias para o jogo. 6 Disponível em:<http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/cadernosmat/pnaic_mat_caderno%20jogos_pg001-072.pdf. Acesso em out.2016 5
Figura 03: imagem do tabuleiro Fonte:PIMENTEL,2010,p.129 Figura 04: imagem das regras Fonte: PIMENTEL,2010, p.129 Considerações finais Acreditamos assim que os jogos são uma eficiente estratégia de ensino e aprendizagem na área de Matemática e que usá-la com um planejamento prévio pautado em conhecimentos prévios, com a mediação que é uma tarefa complexa mas que oportuniza questionamento e resolução e com uma avaliação que busque continuidade e reflexão vai proporcionar ao professor um rico instrumento no trabalho com seus alunos. Mas isso só será possível quando esse mesmo professor reconhecer que a ludicidade existe e que ela é possível em sala de aula. De acordo com Brogère (1995,p.57): [...] A primeira relação com a aprendizagem é que a criança aprende a brincar, ao aprender a brincar, ela aprende certo tipo de comunicação peculiar, eu diria nem um pouco natural, nem um pouco espontânea, uma vez que nela é preciso estabelecer distância para com as formas de comunicação, da vida comum. 6
Brincar faz parte da criança e a escola não pode excluir isso e sim apropriar-se desse lúdico como uma ferramenta de aprendizagem. Encerramos pensando como Smole (1996, p.138): Por essas características é que se pode afirmar que o jogo propicia situações que, podendo ser comparadas a problemas, exigem soluções vivas, originais, rápidas. Nesse processo, o planejamento, a busca por melhores jogadas e a utilização de conhecimentos adquiridos anteriormente propiciam a aquisição de novas idéias, novos conhecimentos [...] Referências: Alfabetização na Idade Certa. Alfabetização matemática na perspectiva do letramento. Caderno 07. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2015. Alfabetização na Idade Certa: Apresentação. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2014. Alfabetização na Idade Certa: Caderno de Apresentação. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2015. Alfabetização na Idade Certa: Jogos na Alfabetização Matemática. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2014 BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo, Cortez. 1995 CAFÉ MATUTINO. Feche a caixa. Disponível em:<http://cafe-matutino.info/passatempos/jogos-ecartoes/feche-a-caixa-de-historia-do-jogo.php. Acesso em out.2016 PIMENTEL, Tereza. Matemática nos primeiros anos: Tarefas e desafios para a sala de aula. Lisboa, Ed. Texto.1ªedição.2010 SMOLE,Kátia Stocco;DINIZ, Maria Ignez de Souza Vieira; MILANI, Estela. Jogos de matemática de 6º a 9º ano. Artmed. Porto Alegre,2007. STAREPRAVO, A. R. Jogando com a matemática: números e operações. Curitiba: Aymará, 2009. 7