Os homens por detrás da engrenagem da Misericórdia do Rio de Janeiro



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Transcrição:

1 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos provedores da Misericórdia do Rio de Janeiro A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos provedores da Misericórdia do Rio de Janeiro Karoline Marques Machado Mestranda em História Universidade Federal Fluminense Resumo O trabalho tem como objetivo apresentar os primeiros resultados da minha investigação de mestrado intitulada O Poder da Caridade no Brasil Colonial: os provedores da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Nesse sentido, a apresentação basear-se-á na trajetória dos provedores da irmandade situada no Rio de Janeiro. Cabe ressaltar, que apesar da irmandade da misericórdia e os homens que compunham suas engrenagens serem temas de valorosos trabalhos da historiografia portuguesa, no Brasil não tem ganhado atenção nos últimos anos pelos historiadores que cá se encontram. Portanto, reconstrução da trajetória individual e administrativa dos provedores, torna-se uma janela para (re) descobrirmos a irmandade e da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro durante o período colonial. Histórias esta que se entrelaçaram durante o passar dos séculos tendo apenas 15 anos de diferença de uma para outra. Deste modo, no ano dos 450 anos do Rio de Janeiro apresentamos tentaremos apresentar os jogos políticos e sociais que delinearam aquela cidade a partir da trajetória dos provedores da caridade. Os homens por detrás da engrenagem da Misericórdia do Rio de Janeiro Ser provedor da Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia do Rio de Janeiro durante o período colonial era um cargo que carregava consigo um poder simbólico na sociedade de Antigo Regime português. Ao alcançar o posto mais elevado da irmandade que se fazia presente tanto no reino quanto em seus territórios ultramarinos era possível distinguir-se dos demais indivíduos dentro da sociedade na qual o indivíduo estava inserido, portanto funcionava como um elemento para se distinguir socialmente. Contudo, poucos indivíduos tiveram a oportunidade de liderar os irmãos da caridade no Rio de Janeiro colonial durante o período de 60 anos pelo qual essa pesquisa se estende.

2 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos Apenas 45 homens puderam gozar desta honraria. Isto está relacionado ao fato de que para serem provedores da Misericórdia os indivíduos deveriam corresponder aos seguintes critérios: "(...) um homem fidalgo de authoridade, prudencia, virtude, reputação e idade, de maneira, que os outros Irmãos o possam reconhecer por cabeça, e o obedeçam com mais facilidade; e ainda que por todas as sobreditas partes o mereça, não poderá ser eleito de menos de quarenta annos." 1 Neste artigo tenho intuito de nos aproximar da identidade dos indivíduos que assumiram a cadeira da provedoria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro durante o período de 1640 a 1720. Deste modo, para responder a questão, voltamo-nos para um caso específico: o da Misericórdia da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro que, como já exposto, estabeleceu-se logo após a fundação da cidade, em 1582. Um dos primeiros elementos pensado para a reconstrução da trajetória dos 45 provedores da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro foi tentar descobri qual era a origem destes indivíduos. Em relação à origem geográfica dos homens que exerceram o posto de provedor da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro conseguimos recuperar informações acerca de vinte e quatro dos quarenta e cinco provedores abarcados pelo presente trabalho. Deste modo ainda desconhecemos a origem geográfica de dezenove, sem ao menos ter uma pista do local de nascimento destes indivíduos por meio dos vestígios deixados pela documentação. Apesar disto, a partir dos dados coletados podemos descobrir algumas informações acerca da trajetória dos indivíduos que ocuparam a provedoria da Santa Casa. O que sabemos até o momento é que oito provedores nasceram no Reino, dois em Espanha, um provedor nasceu em Antuérpia e quinze provedores nasceram na América portuguesa. O local de nascimento é um importante dado para análise da trajetória do indivíduo, a partir dela podemos compreender a formação de redes de reciprocidades, vantagem a partir das relações de 1 Compromisso da Misericórdia de Lisboa - 1618. Disponível em: http://iuslusitaniae.fcsh.unl.pt/verlivro.php?id_parte=95&id_obra=63&pagina=1054

3 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos parentesco, ligações pessoais e de privilégios frente a outros indivíduos que possuíssem uma origem menos privilegiada do que determinado indivíduo. Nesse sentido, pretendo ao longo da dissertação preencher esta lacuna deixada pela escassez de documentos. Por outro lado, os cargos e postos assumidos pelos provedores durante e após a nomeação ao lugar de maior honra da Misericórdia do Rio de Janeiro, podem nos ajudar a (re)descobrir quem eram aqueles homens e qual era o motivo para ingressarem na Irmandade da Misericórdia, já que a documentação nesse sentido é mais farta. As estratégias de ascensão política no Antigo Regime português passavam não apenas pelas mercês, mas também pelos cargos e serviços prestados ao rei 2. Dessa maneira, ser provedor de uma instituição que se fazia presente em todo o Império português como era o caso da Misericórdia era uma função que gerava ao indivíduo a possibilidade de se diferenciar dos outros indivíduos, a partir do momento que era visto não apenas como um irmão da Misericórdia, mas como provedor cabeça daquela irmandade. Do total de quarenta e cinco homens que assumiram a provedoria da Misericórdia no período estudado, sabemos até o momento que seis provedores exerceram cargos em outras áreas do Império além dos limites da América portuguesa. Dos seis provedores que foram nomeados para áreas distintas do Império encontramos cinco indivíduos que exerceram postos no Reino; dois que foram nomeados para o Estado da Índia; e três que gozaram de postos em África. Como podemos perceber a maior parte dos provedores assumiram postos na América portuguesa, computando um número de quarenta homens. Além disso, outros seis provedores exerceram de fato o cargo de provedor, entretanto nada mais se sabe sobre a trajetória destes homens, os quais permanecem como ilustres desconhecidos. Entre os homens que exerceram postos no Reino, encontramos: Antonio de Moura, que serviu em postos militares, tendo sido soldado, alferes de infantaria da Casa Real e capitão de mar e guerra. Além de ter servido ao rei D. João IV nas batalhas contra Castela durante o período das guerras de Restauração, por este serviço foi recompensado com o título de moço da Câmara de Sua Majestade 3. Outros provedores que obtiveram postos no reino foram: Antonio Lobo Pereira e Francisco Gomes Ribeiro, 2 MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Elites locais e mobilidade social em Portugal nos finais do Antigo Regime. In: Análise Social, n 141. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais (ICS/ UL), 1997. 3 Registro Geral de Mercês D. Afonso VI. Livro 15, fl. 82. Arquivo Nacional da Torre do Tombo

4 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos ambos serviram na provedoria da Guarnição Real na corte de Lisboa e na cidade da Beja 4. Foi também D. Pedro Mello um dos provedores que exerceram funções no Reino, talvez, seja este o provedor que maior tempo serviu no reino, foi capitão de Infantaria da costa e da fronteira no reino, ocupou o governo das armas da comarca de Campo de Ourique, era governador da cidade de Castelo de Vide. E foi ao regressar ao reino após ter exercidos postos nos domínios ultramarinos que recebeu o título de Conde das Galvêas 5. Por fim, o último provedor da Misericórdia que serviu a cargos no reino era Salvador Correia de Sá e Benevides, nascido em Cádiz, experimentou uma ascensão a partir dos serviços prestados a coroa portuguesa, tendo lugar no Conselho Ultramarino e no Conselho de Mar e Guerra 6. Em postos no Estado da Índia encontramos apenas dois provedores, sendo eles os já citados: Antonio de Moura e Francisco Ribeiro. O primeiro serviu como capitão do Galeão Santa Maria de Anrique 7 ; já o segundo, serviu por nove anos consecutivos no posto de Juiz daquele Estado, tendo recebido pelos servidos prestados uma mercê de capitão de fortaleza que o leva para a América portuguesa 8. Já em África os provedores serviram sem exceção no reino de Angola. Cabe ressaltar que alguns desses indivíduos serviram na Restauração desta praça do Império português no período de guerra contra os holandeses e a Companhia das Índias Ocidentais. Foi sobre o comando de Salvador Correia de Sá e Benevides que uma armada partiu no Rio de Janeiro em direção a Angola e conseguiu reconquistar um dos principais portos do comércio atlântico. Era São Paulo de Luanda, em Angola como apontou Luis Felipe de Alencastro o principal porto que escoava os escravos trazidos para os engenhos da América portuguesa, além disso, formava um dos principais portos de sustentação do eixo do comércio Atlântico Sul, em conjunto com os negociantes do Rio de Janeiro 9. A ligação destes homens com Angola não está só correlacionado à Restauração e ao comércio de escravos. Por detrás do comércio de escravos encontramos uma importante comercialização para a viabilização deste e que também 4 5 6 Tombo 7 8 9 Chancelaria de D. Afonso VI. Livro 32, fl. 301. Arquivo Nacional da Torre do Tombo Chancelaria de D. Pedro II. Livro 4, fl. 149v. Arquivo Nacional da Torre do Tombo Registro Geral de Mercês D. Afonso VI. Livro 1, fl. 207. Arquivo Nacional da Torre do Chancelaria de D. Pedro II. Livro 7, fl 238. Arquivo Nacional da Torre do Tombo Chancelaria de D. Pedro II. Livro 4, fl. 48v. Arquivo Nacional da Torre do Tombo ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: a formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

5 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos ajudava na manutenção da economia da América portuguesa e movimentava a economia do Atlântico Sul, que era o comércio da geribita realizado entre os africanos e os comerciantes cariocas. Dessa maneira, fica evidente os motivos que levaram Salvados Correia de Sá a financiar e liderar a Reconquista de Angola. Os outros dois homens que serviram na retomada de Angola e que aparecem na provedoria da Misericórdia, são: Francisco Telles Barreto e Martim Correia Vasqueannes, os quais serviram como capitão de Infantaria na dita praça 10. É na América portuguesa e, em especial, no Rio de Janeiro, que encontramos quase a totalidade de provedores em cargos exercidos nesta localidade. Encontramos quarenta homens em funções diferentes e até nos mesmos postos na cidade. Deste modo, encontramos entre os provedores homens que assumiram mais de um cargo nas instituições estabelecidas nos trópicos. Dentre eles encontramos: Dentre eles encontramos: nove provedores da Fazenda Real do Rio de Janeiro; cinco procuradores da Câmara do Rio de Janeiro; doze juízes ordinários da Câmara; dezoito vereadores da Câmara; um desembargador; três oficias da Câmara do Rio de Janeiro; dois alcaidesmores; quatro governadores; três administradores das Minas; um ouvidor; três governadores interinos; um Inquiridor, Distribuidor e Contador do Rio de Janeiro; quatro juízes de Órfãos; um escrivão da Fazenda Real; um Ministro da Penitênica; um provedor da Câmara do Rio de Janeiro; um provedor dos Defuntos e Ausentes; um escrivão da Provedoria da Fazenda, um provedor das Minas de Ouro; um juiz da Alfândega e, por fim, um provedor da Fazenda, Alfândega e Almoxarifado. Os cargos assumidos pelos provedores da Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia do Rio de Janeiro nos sugere que estes homens compunham as teias políticas da cidade naquele período. Com um olhar mais atendo para a vida política destes percebermos que a maior parte dos provedores ocuparam cargos no âmbito administrativo e militar na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Acredito que podemos classificá-los como parte integrante do grupo denominado por Nuno Gonçalo Monteiro como nobreza civil ou política 11, sendo este grupo composto por indivíduos que ascenderam socialmente dentro dos quadros do Antigo Regime através dos serviços e/ou cargos ocupados a serviço da Coroa. 10 11 Registro Geral de Mercês Ordens Militares. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. MONTEIRO, op. cit; 1997.

6 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos Teriam estes homens relações entre si? Para responder tentei buscar os possíveis laços de parentesco e as relações comerciais existentes entre os provedores. Como era de se esperar alguns destes indivíduos compartilhavam do mesmo núcleo familiar. Encontramos entre os provedores parentesco diretos como no caso dos provedores Duarte Correia de Vasqueannes, Salvador Correia de Sá e Benevides, Martim Correia Vasqueannes e Thomé Correia de Alvarenga, sendo todos estes pertencentes a família dos Correia Sá. Além desta família pude encontrar quatro gerações da família dos Telles Barretos que ocuparam o lugar mais alto da Misericórdia do Rio de Janeiro, dentre eles foram Francisco Telles Barreto e Luiz Telles Barreto provedores durante o período abordado pela pesquisa. Desta forma, percebemos que o ingresso à irmandade da Misericórdia e a ascensão ao lugar de provedor desta irmandade eram de interesse das principais famílias da terra do Rio de Janeiro colonial. De igual modo podemos constatar que outra rede de parentesco delineada dentro da Misericórdia e que unia alguns provedores era feita através do matrimônio. Alguns provedores casaram com filhas de antigos provedores da Misericórdia, aqui cito os exemplos de Melchior da Fonseca Dória casado com D. Catarina Velloso, filha de Manuel Velloso Espindola. Outro caso que serve para ilustrar os arranjos matrimoniais existentes entre irmãos da Misericórdia e os principais da terra do Rio de Janeiro é o casamento de Pedro Sousa Pereira (o velho) que se casou com D. Ana Correia, que era irmã de Thomé Correia de Alvarenga, prima de Salvador Correia de Sá e Benevides e sobrinha de Duarte Correia de Vasqueannes. Nascido na Antuérpia Pedro de Sousa Pereira é enviado para o Brasil para assumir o posto de provedor da Fazenda Real do Rio de Janeiro em 1641. Ao chegar a capitania de São Sebastião do Rio de Janeiro aliase ao bando dos Correia Sá, que foi oficializada através do casamento com a prima de Salvador Correia de Sá e Benevides. Além disto, outro provedor faz parte da rede de relação que envolve Sousa Pereira com os Correia de Sá, era Pedro de Sousa Pereira (o moço) fruto do matrimonio, e, desta maneira, era membro da família dos Correia de Sá. As relações comerciais entre os homens que ocuparam a provedoria da Misericórdia é uma maneira de demonstrar a possibilidade de uma relação entre os irmãos do espaço da irmandade. Sobre isto, até o momento, pouco se sabe, encontramos apenas duas relações. A primeira é entre Ignácio da Silveira Villalobos e

7 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos Francisco de Brito Meirelles. Aparecem ambos os provedores citados no escândalo das irregularidades dos contratos das baleias. Já a segunda envolve compra de terras, Francisco Telles Barreto compra terras que pertenciam a Salvador Correia de Sá e Benevides na capitania do Rio de Janeiro. Por fim, uma última tentativa de relacionar estes indivíduos se deu através de listar as propriedades sob o controle dos homens que ocuparam a provedoria da Santa Casa. No levantamento feito até o momento encontramos diversas propriedades, mas todas elas encontram-se dentro dos limites da capitania do Rio de Janeiro. Encontramos 5 provedores que possuíam terras em Irajá, sendo eles Bartolomeu Amorim Calheiros, Christovão Lopes Leitão ( o velho), Christovão Lopes Leitão ( o moço), Pedro de Sousa Pereira e Thomé Correia de Alvarenga. Já em Campos dos Goytacazes encontram-se terras pertencentes a cinco provedores, sendo estes: José Azedias Machado, Martim Correia Vasqueannes, Miguel Aires Maldonado, Pedro de Sousa Pereira (o velho) e José Barcelos Machado. Na região de Guaratiba os provedores também se faziam presentes, encontramos: Melchior da Fonseca Dória, Manoel Velloso Espindola. Em Jacarepaguá encontramos propriedades pertencentes a dois provedores Manoel Correia de Araújo e Francisco Telles Barreto assim como em Jericinó, na qual são proprietários naquela região José Pereira Sarmento e Ignácio de Andrade Souto-Maior. Além dessas regiões com mais de um provedor encontramos propriedades em São Gonçalo Gonçalo Morato Roma, Iguaçu de Francisco Gomes Ribeiro e nas regiões de Piratininga, Itaocá e Imbaí, sendo as propriedades localizadas nestas três regiões de Pedro Gago da Câmara. Acredito que ao compreendermos as relações existentes entre os provedores sejam estas de parentesco, negócios ou até mesmo pela localização de suas propriedades vamos de encontro as dinâmicas sociais existentes na cidade do Rio de Janeiro no período colonial. Ao esclarecermos as relações cotidianas vivenciadas pelos provedores podemos compreender a sociedade na qual estavam inseridas e, sendo assim, descobrir as tessituras políticas ali traçadas. Só assim acredito que poderemos nos aproximar da vida política do Rio de Janeiro colonial com um novo olhar. Explorando-o a partir dos homens que não era apenas principais da terra, mas que também escolherem ser irmãos da caridade.

8 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos Considerações finais Levando em consideração as trajetórias dos indivíduos analisados, creio ser possível o estabelecimento de uma rede entre eles. No caso da Misericórdia e de seus provedores proponho pensarmos em dois níveis distintos, mas complementares de comunicação. Um primeiro, que, seria uma rede que interligava a Irmandade e os provedores a outras instituições dentro da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, como, por exemplo, o Senado da Câmara, a Alfândega, a Provedoria da Fazenda. E um segundo nível, que ligaria os provedores a outros pontos do Império português, seja através dos cargos exercidos em outras áreas ou por parentes e/ou conhecidos que se estabeleceram em áreas distintas do Império. Desta maneira, ao pensarmos nesses homens inseridos num complexo atlântico poderíamos compreender melhor as dinâmicas e as trajetórias moldadas por cada um dos indivíduos que assumiram o cargo de provedor. Apesar de serem, sua rede não necessariamente se limitaria ao limites da capitania ou da América português, mas ganhava outros caminhos a partir do Atlântico português. Acredito como apontou Maria de Fátima Gouveia, que os provedores da Misericórdia faziam parte do que ela cunhou como rede governativa, ou seja, compunham redes que poderíamos ser tecidas de duas maneiras: a primeira através dos cargos exercidos em distintas áreas do Império, como ocorre, por exemplo, com os provedores Antonio de Moura e Francisco Gomes Ribeiro; e a segunda por ligações de parentesco ou reciprocidade com indivíduos estabelecidos em outras localidades do Império 12. Num artigo Maria Fernanda Bicalho ao examinar o conceito de rede coloca que tais redes permitiam não só a troca de mercadorias, mas também a difusão de ideias e comportamentos e valores, gerando uma circulação cultural que reforçava tanto a flexibilidade, quanto a solidez da rede 13. A tecitura do Império português através das redes estabelecidas pelos homens através do estabelecimento em diferentes áreas é de fundamental importância para 12 GOUVÊA, Maria de Fátima. Redes governativas portuguesas e centralidades régias no mundo português, c. 1680-1730. In: FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria de Fátima. Na trama das redes: políticas e negócios no império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. pp. 155-202. 13 BICALHO, Maria Fernanda. Da colônia ao império: um percurso historiográfico. In: MELLO E SOUZA, Laura de; FURTADO, Júnia Ferreira; BICALHO, Maria Fernanda (orgs.). Governo dos povos. São Paulo: Alameda, 2009. p. 96.

9 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos entendermos a não fragmentação de um Império tão vasto e descontínuo como o português. O que tento aqui propor é que existiam dois níveis de articulação nas quais a Misericórdia se fazia presente, sendo estes: um nível micro, entre as instituições existentes a nível local, ou seja, que compartilhavam da jurisdição no caso estudado da cidade do Rio de Janeiro e/ou na capitania que havia se estabelecido; e um nível macro, entre as Misericórdias estabelecidas na vastidão do Império português e a Coroa, relação esta que num primeiro momento é de subordinação a Coroa, já que a Misericórdia era vista como uma representação do Rei e pelo patrocínio régio que gozava, mas que num segundo momento passa a ser uma relação negociada, pensando na Misericórdia com um espaço de negociação com o poder central. A partir do entendimento desses dois níveis de rede é de suma importância entender quem são os homens que comandavam a Misericórdia. É por detrás de suas histórias que poderemos entender a trajetória não somente da Misericórdia, mas também a da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro dentro do Império português. Apesar de compreendermos que os indivíduos que ocuparam os cargos de provedores podem ser estudados e analisados tanto ao nível micro local quanto ao nível macro global é ao nível micro que voltamos nossos esforços para compreender quem eram os homens por detrás do cargo de provedor da Irmandade da Misericórdia. Como apontou Sanjay Subrahmanyan é necessário compreendermos a exaustão o nível micro, para conseguirmos entender as redes a nível macro 14. Ao refletirmos acerca das trajetórias administrativas elaboradas pelos provedores devemos nos preocupar com os jogos políticos e as redes de alianças estabelecidas, princialmente, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Só assim nos aproximaremos dos caminhos tomados pelos provedores. E, deste modo, descobrir o que levou a cada um destes indivíduos a escolher ingressar na Misericórdia e ascender ao posto de provedor. É por detrás de suas histórias que poderemos entender a trajetória não somente da Misericórdia, mas também a da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro dentro do Império português. 14 SUBRAHMANYAM, Sanjay. Connected Histories: notes towards a reconfiguration of Early Modern Eurasia. In: LIEBERMAN, Victor (ed.). Beyond Binary Histories. Re-imagining Eurasia to c. 1830. Michigan: University of Michigan Press, 1999, pp. 289-316.

10 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos Referências bibliográficas ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: a formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o império: o Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003. BICALHO, Maria Fernanda. Da colônia ao império: um percurso historiográfico. In: MELLO E SOUZA, Laura de; FURTADO, Júnia Ferreira; BICALHO, Maria Fernanda (orgs.). Governo dos povos. São Paulo: Alameda, 2009. p. 96. FRAGOSO, João. A nobreza vive em bandos: a economia política das melhores famílias da terra do Rio de Janeiro, século XVII. Algumas notas de pesquisa. Revista Tempo, Rio de Janeiro, n 15, pp. 11-35 GOUVÊA, Maria de Fátima. Redes governativas portuguesas e centralidades régias no mundo português, c. 1680-1730. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). Na Trama das Redes: política e negócios no Império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. pp. 155-202. GREENE, Jack. Negociated authorities. Essays in colonial political and constutional history. London: The University Press of Virginia, 1994. HESPANHA, António Manuel. As Vésperas do Leviathan. Instituições e Poder Político. Portugal, séc. XVIII. Coimbra: Almedina, 1994; (ed. Castelhana, Madrid, Tecnos, 1989). MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Elites locais e mobilidade social em Portugal nos finais do Antigo Regime. In: Análise Social, n 141. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais (ICS/ UL), 1997. RAMINELLI, Ronald. Viagens Ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo: Alameda, 2008. RUSSEL-WOOD, A J. R.. Fidalgos e Filantropos: A Santa Casa de Misericórdia da Bahia, 1550-1775. Trad. De Sérgio Duarte. Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 1981., A.J.R. Centros e Periferias no Mundo Luso-Brasileiro,

11 Karoline Marques Machado, A Caridade nos Territórios Ultramarinos. Notas sobre a trajetória dos 1500-1808. Trad. Maria de Fátima Silva Gouvêa. Revista Brasileira de História. Vol. 18, n 36, São Paulo, 1998 SÁ, Isabel dos Guimarães. As Misericórdias Portuguesa de D. Manuel à Pombal. Lisboa, Livros Horizontes, 2001, Isabel dos Guimarães. D. Manuel I revisitado : historiografia recente e novas (re)leituras. In: GARRIDO, Álvaro; FREIRE, Leonor da Costa; DUARTE, Luís Miguel. Estudos em Homenagem a Joaquim Romero Magalhães. Economia, Instituições e Império. Edições Almedina, 2012., Isabel dos Guimarães. Quando o rico se faz pobre : misericórdias, caridade e poder no Império Português : 1500 1800. Lisboa : Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997. pp. 64-69, Isabel dos Guimarães. As Misericórdias Portuguesas, séculos XVI a XVIII. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013. STONE, Lawrence. Prosopography. Daedalus, Vol. 100, No. 1, Historical Studies Today (Winter, 1971), pp. 46-79. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/20023990. Acessado em 23 de setembro de 2013 às 23:24. SUBRAHMANYAM, Sanjay. Connected Histories: notes towards a reconfiguration of Early Modern Eurasia. In: LIEBERMAN, Victor (ed.). Beyond Binary Histories. Re-imagining Eurasia to c. 1830. Michigan: University of Michigan Press, 1999, pp. 289-316. THOMAZ, Luís Felipe F. R.. De Ceuta a Timor. Difel, 1998.