APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA: REALIDADE E PERSPECTIVAS EM ILHÉUS ( )

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Transcrição:

APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA: REALIDADE E PERSPECTIVAS EM ILHÉUS (2009-2010) Paula Carine Matos de Souza Ariene Bomfim Cerqueira Guilhardes de Jesus Júnior Universidade Estadual de Santa Cruz, Departamento de Ciências Jurídicas, Ilhéus/Ba. Trabalho de levantamento de dados do Projeto Serviço de Referência dos Direitos da Mulher (SER Mulher), com recursos do MEC/PROEXT INTRODUÇÃO A lei 11.340/06, intitulada lei Maria da Penha, entrou em vigor em 21 de outubro de 2006 e mesmo após quatro anos de vigência ainda são observados altos índices de violência domestica contra a mulher ilheense. Observa-se que os efeitos conferidos com a execução desta lei não têm cumprido os previstos e esperados pelos legisladores e pela população em geral. A cidade de Ilhéus ainda guarda traços da sociedade agrária e coronelista, tais como o patriarcalismo e o patrimonialismo. Mesmo com a derrocada do cacau na década de 80, que em muito prejudicou a economia da cidade, e conseqüentemente alargou os índices de pobreza, esses traços mantiveram-se na cultura local. Não obstante, é fácil observar que esses fatores somados tendem a contribuir para um aumento considerável da violência domestica e familiar contra a mulher. A partir da análise de dados estatísticos obtidos junto à Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM) situado na cidade de Ilhéus, observa-se que as mulheres mesmo tendo a proteção jurídica prevista na lei 11.340, muitas vezes optam por manter-se sobre o jugo de um agressor, chegando até mesmo a não prosseguir em um processo contra este. OBJETIVOS Foi analisar a efetivação da lei Maria da Penha no município de Ilhéus nos dois últimos anos de aplicação (2009 e 2010), apontar os possíveis obstáculos para sua execução e mostrar possíveis medidas a serem adotadas para que a lei tenha maior eficácia na cidade. METODOLOGIA

Trabalho realizado a partir da análise de dados estatísticos fornecidos pela Delegacia especial de Atendimento à Mulher (DEAM), pela 1ª e 2ª Vara Crime situadas na cidade de Ilhéus. O presente trabalho também é resultado do levantamento da literatura correspondente ao tema. DISCUSSÃO A análise dos registros constantes nos procedimentos adotados pela DEAM e pela 1ª e 2ª Vara Crime de Ilhéus nos anos de 2009 e 2010, objeto da pesquisa, acerca dos casos em que a mulher é vítima de algum tipo de violência, não pode representar um dado quantitativo da realidade deste município, visto que, o número real tende a ser superior aos que vem a público. É fato facilmente observado que muitas mulheres, até mesmo a maioria delas, optam por não prestar denúncia em face do agressor. Uma das principais dificuldades para que as mulheres denunciem a violência que sofrem é a forma como são ensinadas desde criança a se comportarem de maneira submissa, além de suportarem de maneira passiva as agressões e sem dúvidas o fato de dependerem financeiramente dos companheiros. No entender de CHERON e SEVERO (2010), a desigualdade de poder na relação conjugal favorece o homem, que acaba por criar condições, para que as mulheres sejam tratadas de forma desrespeitosa e não interfiram nas determinações familiares, desde o orçamento familiar à educação dos filhos, além de subordiná-las ao companheiro, propiciando a transformação do lar num ambiente promissor da violência, e constituindo o fechamento deste ciclo perverso. O município de Ilhéus foi deveras influenciado culturalmente pelo sistema patriarcal devido à lavoura cacaueira, guardando ainda muitas das suas características, visto que entrou em derrocada em um período histórico ressente, na década de 80. Sabe-se que este sistema, tendo por base a ideologia machista de que o homem sendo o chefe da casa pode todas as coisas, possibilitou a opressão do sexo feminino na região. Entretanto, ainda observam-se atitudes típicas do patriarcalismo na cidade, principalmente quanto à violência cometida no ambiente doméstico. A partir da análise de informações obtidas junto à Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM) da cidade de Ilhéus, nota-se, comparando os dados estatísticos dos três primeiros meses de 2010, um aumento de quase 43% no número de atendimentos realizados em comparação ao mesmo período do ano de 2009 (gráfico 1).

Gráfico 1 Comparativo de atendimentos na DEAM/Ilhéus nos três primeiros meses do ano (2009-2010) Fonte: Trabalho de campo DEAM/ILHÉUS A partir de uma triagem dos dados estatísticos obtidos junto a DEAM, observa-se que há uma grande diferença quando comparados os números de atendimentos, as ocorrências registradas e os inquéritos instaurados. Há uma diferença acentuada quanto aos números mensais de atendimentos e as ocorrências registradas no órgão. Entretanto, o contraste é ainda maior quando comparados com o numero de inquéritos registrados em todo o ano. O gráfico 2 mostra essa comparação registrada nas estatísticas da delegacia. Gráfico 2 Comparativo de atendimentos, ocorrências registradas e inquéritos instaurados na DEAM/Ilhéus (2009-2010)

Fonte: Trabalho de campo DEAM/ILHÉUS Apesar de conhecerem, ainda que superficialmente, a lei que lhes garante proteção, e os serviços da rede de atendimento disponível, apenas uma parte das vítimas registra ocorrência contra seu agressor e uma pequena parcela destas persiste no processo até o fim. Conforme preconiza SILVA (2009), pedir que essa mulher denuncie as agressões sofridas, significa cobrar que elas percam algo que incorporaram durante toda a vida como sendo seu papel e quebrem o modelo em que estão inseridas. Contudo, a maioria delas, como expõe o gráfico, possui grande apego aos valores morais e em nome da paz no lar elas abrem mão de punir seus agressores e optam por tentativas de reconciliação. Destarte, pode-se inferir, que em grande pluralidade dos casos, o referido órgão lhes serve apenas como arma contra novas agressões, possibilitando a elas a chance de conter os conflitos existentes na relação. Sem dúvidas os reflexos de uma sociedade agrária e coronelista, com traços patriarcalistas e patrimonialistas, a qual Ilhéus esteve inserida por muitos anos, ainda influi de modo significativo na maneira de pensar e agir da população, o que não corresponde à atualidade de conquistas por parte das mulheres. De nada, ou de muito pouco, adiantará às mulheres manterem-se nesta situação de inércia, não fazendo uso dos benefícios jurídicos que lhes tem sido oferecidos em casos de violência

domestica ou familiar. Entretanto, esta situação somente será revertida através de campanhas e trabalhos de conscientização da população, seja ao publico infantil, feminino ou masculino, visto que nos dados estatísticos dos dois anos analisados, 2009 e 2010, não foi observada a realização de nenhuma atividade socioeducativa por parte da delegacia. É necessário que toda a sociedade, através de campanhas socioeducativas, tenha acesso a informações acerca de respeito de gênero e procedimentos jurídicos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitas mulheres não possuem informação necessária para utilizando-se das medidas garantidas pela lei poderem conviver em um ambiente de maior respeito de gênero. Outras ainda guardam vejas ideologias advindas do sistema patriarcalista, ou sentem-se acurraladas pela dependência econômica ao agressor. Os dados estatísticos presentes na DEAM de Ilhéus demonstram que ainda há muito a ser superado para que a igualdade entre homens e mulheres prevista no 5º, II da Constituição Federal de 1988 seja realmente efetiva. A lei 11.340, Lei Maria da Penha, entrou em vigor no ano de 2006, prevendo medidas a serem adotadas com o intuito de coibir e prevenir a violência domestica e familiar contra a mulher. Entretanto dados coletados junto a DEAM de Ilhéus, referentes aos anos de 2009 e 2010, após uma comparação e triagem mostram-se aquém dos objetivos almejados pela lei supracitada. Observa-se que muitas mulheres não se utilizam da delegacia especializada nos casos de violência domestica ou por não terem conhecimento concreto da lei, ou por medo. E daquelas que são atendidas pela DEAM, a grande maioria não prossegue com o processo em face do agressor. A partir desta análise estatística infere-se que medidas socioeducativas devem ser aplicadas nas comunidades atendidas pela delegacia com o intuito de que as pessoas possam obter mais informações quanto à lei. Somente assim a lei Maria da Penha será realmente efetiva e sua aplicação capaz de grandes modificações da sociedade, como a quebra de ideologias ultrapassadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 5.ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2007. Tradução:Maria Helena Kühner. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Edição de Lívia Céspedes. 44. Ed. São Paulo: Saraiva 2010. BRASIL. LEI 11.340, de 06 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência domestica e familiar contra a mulher. VADE MECUM SARAIVA.São Paulo: Saraiva, 2011. CABRAL, Karina Melissa. Manual de Direitos da Mulher. São Paulo: Mundi, 2008. CHERON Cibele, SEVERO Elena Erling. Apanhar Ou Passar Fome? A Difícil Relação Entre Dependência Financeira E Violência Em Porto Alegre, RS <www.fazendogenero.ufsc.br/.../1278279902 _ARQUIVO_Cheron_.pdf> Acesso em: 17/05/11 CORTEZ, Mirian Béccheri; SOUZA, Lídio de. Mulheres (in)subordinadas: o Empoderamento Feminino e suas Repercussões nas Ocorrências de Violência Conjugal. Espírito Santo: Psicologia: Teoria e Pesquisa:Vol. 24 n. 2, pp. 171-180,2008 AZEVEDO, Carla Aparecida de. Mulher gosta de apanhar?: Violência contra a mulher e condicionantes jurídicos. O caso do juizado especial criminal em Campos dos Goytacazes. In SILVA, Marinete dos Santos. Gênero, Poder e Tradição na terra do Coronel e do lobisomem. Rio de janeiro: Quartet: FAPERJ, 2009. P. 95-115 PALAVRAS CHAVES: Gênero; Situação de Risco; Empoderamento feminino Contato: paula.karines@gmail.com ariene.bomfim@gmail.com profguilhardes@hotmail.com