1 Direito Fiscal - Estágio 2012/ 2013 JULHO 2012 1. António e Belmiro, sócios da sociedade X, Lª, com sede em Pombal, são detentores de duas quotas iguais de 50% no capital de 50.000,00 da dita sociedade, figurando no activo desta um prédio urbano (destinado à actividade industrial), identificado pelo artº 7000, com o valor patrimonial tributário de 130.000,00. Este imóvel está contabilizado no respectivo balanço com o valor de 150.000,00. Por manifesta necessidade financeira, Belmiro vendeu, em 10 de Janeiro de 2012, 30% da sua quota de 50% do respectivo capital da sociedade a Clara, casada no regime da separação de bens com António. Indicando sempre a legislação aplicável, responda às seguintes questões: 1.1 a)- Face à transmissão operada (venda de 30% da quota de 50% de Belmiro a Clara), enquadre-a no âmbito do Código do Imposto Municipal s/ as Transmissões Onerosas de Imóveis (CIMT) e, se assim o entender, proceda à liquidação do respectivo imposto que se mostrar devido, indicando o sujeito passivo, o prazo para pagamento e o Serviço de Finanças competente para efectuar a liquidação; (3 V) O IMT incide sobre as transmissões onerosas de imóveis (artº 1º/1). Para efeitos de incidência (artº 2º/2 alínea d), integram o conceito de transmissão de bens imóveis, a aquisição de partes sociais ou quotas nas sociedades por quotas, quando tais sociedades possuam bens imóveis e, quando por aquela aquisição, algum dos sócios passe a dispor de, pelo menos, 75% do capital, ou o número de sócios se reduza a 2, marido e mulher, casados no regime da comunhão geral de bens ou adquiridos. Embora António e Clara sejam casados, o regime de casamento vigente entre ambos é o regime da separação de bens e, além disso, o número de sócios da sociedade não se reduz a 2 (marido e mulher) uma vez que Belmiro continua a deter uma quota de 20% no capital da sociedade. Assim sendo e porque nenhum dos
2 sócios detém quota no capital superior a 75%, não se verifica a situação referida no artº 2º/2, alínea d) in fine, logo não há sujeição a IMT. b)- Suponha agora que o regime de casamento de António e Clara era o regime da comunhão de adquiridos e que Belmiro, em 30 de Abril/2012, vendia a Clara os restantes 20% que detinha no capital da sociedade. Para efeito de enquadramento no CIMT, será devido imposto pela transmissão da quota de 20% de Belmiro a Clara (passando esta a dispor de uma quota de 50%)? Em caso afirmativo, proceda à liquidação do respectivo imposto, indicando o sujeito passivo, o prazo para pagamento e o Serviço de Finanças competente para efectuar a liquidação; (3,5 V) Face a esta nova transmissão, verifica-se a situação prevista no artº 2º/2 alínea d). Dois sócios, marido e mulher, casados no regime da comunhão de adquiridos, passam a deter a totalidade do capital da sociedade (50% cada um) após a venda dos restantes 20% detidos por Belmiro. Sujeito passivo de IMT: Clara, adquirente da quota. Incidência e liquidação do IMT: O valor patrimonial tributário (VPT) do imóvel ( 130.000,00) é inferior ao valor do balanço ( 150.000,00), logo serve este último de matéria colectável arº 12º/4, regra 19ª, alínea a); Liquidação do IMT: Matéria colectável será o maior de entre o VPT do imóvel e o valor constante do balanço; a quota detida pelo casal é de 100%. Logo: 150.000,00 x 6,5% (taxa, artº 17º/1, alínea d) = IMT: 9.750,00. Competente para a liquidação será qualquer Serviço de Finanças artº 19º/1 em face de iniciativa dos interessados (ou por meios electrónicos) mediante declaração de modelo oficial. Prazo para pagamento: a liquidação precede o acto ou facto translativo (ou transmissão) dos bens (quota) artº 22º/1. O IMT deve ser pago no próprio dia da liquidação ou no 1.º dia útil seguinte, sob pena de esta ficar sem efeito (artº 36º/1 do CIMT). 1.2
3 Na constituição das sociedades comerciais, quando os sócios, para a realização do capital social, fazem as respectivas entradas com imóveis, indique quem é o sujeito passivo de imposto para efeitos de Imposto Municipal s/ as Transmissões Onerosas de Imóveis (CIMT)? (2,0 V) As entradas dos sócios com bens imóveis para realização do capital social das sociedades comerciais artº 2º/5 al. e), está sujeita a IMT. O preceito legal referido institui estas entradas como facto sujeito a IMT. Será sujeito passivo do imposto, nos termos do artº 4º/1, as pessoas, singulares ou colectivas, para quem se transmitem os bens imóveis que, no caso em análise, será a sociedade constituída. O valor tributável será o maior de entre o valor patrimonial tributário dos imóveis que serviram de entrada para a realização do capital social ou o valor por que os imóveis forem inscritos no activo das sociedades constituídas artº 12º/4 regra 12ª. CIMT. 2. António (que foi casado com Clara) veio a falecer em 31 de Março de 2012, deixando como descendentes Duarte e Eugénio. Do acervo dos bens da herança faziam parte, além da quota detida por António na sociedade X, Lª, com sede em Pombal, 2 prédios urbanos habitacionais (artigos 7001 e 7002, sitos na freguesia e concelho de Pombal, com os valores patrimoniais tributários de, respectivamente, 70.000,00 e 90.000,00), um terreno para construção urbana (artigo 5000, sito em Pombal, com o valor patrimonial tributável de 45.000,00), um barco de recreio a que a cabeça de casal atribuiu 12.500,00 (adquirido em 2009 por 30.000,00), diversos objectos de arte - quadros (assim classificados e definidos legalmente) e ainda um depósito bancário no valor de 120.000,00. Indicando sempre a legislação aplicável, responda às seguintes questões: a)- Para efeitos de Imposto do Selo, nas transmissões gratuitas de bens, indique a forma de determinação do valor de cada um dos bens acima identificados numa hipotética liquidação de imposto, face à transmissão ocorrida; (3,5 V) Quota (participação social): Valor do último balanço ou valor atribuído em partilha ou liquidação da sociedade (artº 15º/1);
4 Imóveis: Servirão de base os valores patrimoniais tributários constantes da matriz à data da transmissão 70.000,00, 90.000,00 e 45.000,00 artº 13º/1 do CISELO. Barco de recreio: Artº 14º/ nº 2 do Código do Imposto do Selo, ex vi artº 24º/nº 7 do Código do Imposto S/ o Rendimento das Pessoas Singulares e Portaria nº 383/2003, de 14.05. Aquisição em 2009, por 30.000,00 x 45% = 13.500,00, diferença = 16,500,00, maior que 12.500, atribuído pela cabeça de casal. Objectos de arte: Determinado nos termos do artº 14º/3 alíneas a) a d); uma vez que do enunciado, não consta ter sido aproveitada qualquer das situações referidas nas alíneas a), b) e c) do mesmo preceito legal, o valor seria determinado por avaliação promovida pela AT, a expensas dos interessados, por perito idóneo e independente; Depósito bancário: artº 28º/ 1 in fine e artº 26º/6 al. l) extracto bancário de depósito, que deve coincidir com o valor declarado pelo cabeça de casal. b)- Identifique o(s) sujeito(s) passivo(s) de imposto, os obrigações fiscais, respectivos prazos de cumprimento e onde, relativamente à transmissão em análise. (3,0 V) Sujeito passivo artº 2º/2 al. a) pessoas para quem se tranmitem os bens, mas como se trata de uma sucessão por morte, o imposto é devido pela herança, representada pelo cabeça de casal. Caso presente isenção artº 6º/al. e). Artº 25º/1, liquidação da competência da AT; Artº 26º/1, 2, 3 e 6, al.s j), l) Participação da transmissão; Cabeça de casal e qualquer beneficiário obrigado à participação; é de modelo oficial, identificação do autor, data e local, os sucessores, relações de parentesco e prova, identificação dos bens transmitidos; apresentada em qualquer serviço de finanças até ao final do 3º mês seguinte ao do nascimento da obrigação tributária (prazo: Junho/2012) data do óbito/transmissão (artº 5º/2); junção dos documentos; Artº 27º/1; Assinatura da Participação; Artº 28º/1.); Obrigatoriedade de Participação e relação de bens pelos beneficiários nas transmissões gratuitas.
5 3. Determinado terreno para construção urbana, identificado pelo artº X, da freguesia e concelho de Marinha Grande, foi adquirido, em 15 de Fevereiro 2012, por Manuel S, Lª, com sede na cidade de Nazaré, pessoa colectiva devidamente colectada pela actividade de construção de edifícios para venda procedendo, naquela data, à relevação contabilística da respectiva afectação. Em 16 de Abril de 2012, solicitou no Serviço de Finanças respectivo, a não tributação do imóvel para efeitos do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). Indicando sempre a legislação aplicável, responda às seguintes questões: a)- Poderia Manuel S, Lª. obter o afastamento da tributação, em sede de IMI, relativamente ao imóvel adquirido? Em caso afirmativo qual e, bem assim, indique as obrigações acessórias a cumprir para a respectiva obtenção. (2,5 V) Dado tratar-se de sujeito passivo enquadrado na alínea d) do nº1 do artº 9º (empresa que tenha por objecto a construção de edifícios para venda) o imposto é devido a partir do 4.º ano seguinte, inclusive, àquele em que um terreno para construção tenha passado a figurar no inventário de uma empresa que tenha por objecto a construção de edifícios para venda. Em princípio beneficiaria da não tributação relativamente aos anos de 2012, 2013, 2014 e 2015. Porém, face à aquisição e relevação contabilística em 15 Fevereiro/2012, o prazo para apresentação do pedido de não tributação 60 dias, devem os sujeitos passivos comunicar ao serviço de finanças da área da situação dos prédios (no caso em análise seria o Serviço de Finanças da Marinha Grande), no prazo de 60 dias contados da verificação do facto determinante da sua aplicação, a afectação dos prédios àqueles fins... - artº 9º/4 findaria em 15 Abril/2012. Pedido fora de prazo uma vez que foi deduzido a 16 de Abril/2012. Mas, face ao disposto no nº 5 do mesmo artigo se a comunicação for apresentada para além do prazo referido, o imposto é devido por todo o tempo já decorrido, iniciando-se a suspensão da tributação apenas a partir do ano da comunicação, cessando, todavia, no ano em que findaria caso tivesse sido apresentada em tempo (contrariamente à redacção anterior, em que a suspensão da tributação se verificava a partir do ano seguinte ao da comunicação redacção alterada pela Lei n.º 64-B/2011, de 30 de Dezembro).
6 Embora o pedido tivesse sido efectuado fora de prazo, foi apresentado ainda no ano de 2012. Assim, a não tributação ocorreria para os anos de 2012, 2013, 2014 e 2015 (como se a comunicação fosse atempada). b)- Suponha que o prédio edificado no terreno adquirido foi participado para inscrição matricial, tendo sido avaliado e devidamente notificado, em 25 de Maio 2012, o valor patrimonial tributário atribuído pelo perito avaliador local. Não concordando com o valor fixado, indique os principais meios de defesa/garantia que assistem ao sujeito passivo do imposto, bem como os respectivos prazos para a sua utilização. (2,5 V) Nos termos e para os efeitos previstos no artº 129º do CIMI, os sujeitos passivos do imposto, para além do disposto no tocante às avaliações, podem socorrer-se dos meios de garantia previstos na Lei Geral Tributária e no Código de Procedimento e de Processo Tributário. Nestes termos o sujeito passivo Manuel S, Lª, usando a faculdade prevista no artº 76º/1 do CIMI, poderia, desde logo, no prazo de 30 dias contados da data da notificação do resultado da avaliação, solicitar uma 2ª avaliação, que seria realizada com observância do disposto nos artigos 38.º e seguintes, por uma comissão composta por um perito regional designado pelo director de finanças em função da sua posição na lista organizada por ordem alfabética para esse efeito, que preside à comissão, um vogal nomeado pela respectiva câmara municipal e o sujeito passivo ou seu representante (artº 76º/2). Por este pedido de segunda avaliação é devida pelo requerente uma taxa inicial, a fixar entre 7,5 e 30 unidades de conta, tendo em conta a complexidade da matéria (artº 76º/3 CIMI). Se, porém, em resultado da 2ª avaliação efectuada, o sujeito passivo não se conformar com resultado do acto de fixação do valor patrimonial, poderá ainda deduzir impugnação judicial, nos termos e para os efeitos previstos no artº 134º/1 do Código de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT), no prazo de 90 dias após a notificação do resultado da 2ª avaliação, com fundamento em qualquer ilegalidade, constituindo ilegalidade, além da preterição de formalidades legais, o erro de facto ou de direito na fixação do valor patrimonial tributário (artº 134º/2 CPPT). No entanto, esta impugnação judicial não tem efeito suspensivo e só poderá ter lugar depois de esgotados os meios graciosos previstos no procedimento de avaliação, ou seja, depois de ter ocorrido uma 2ª avaliação.