ILUSTRÍSSIMO SENHOR CHEFE DA DIVISÃO DE GESTÃO DE PESSOAS DA SUPERINTENDÊNCIA DE ADMINISTRAÇÃO DO MINISTÉRIO DA FAZENDA DE PORTO ALEGRE Processo Administrativo n., já devidamente qualificado nos autos do processo administrativo em epígrafe, com base no art. 108 da Lei n. 8.112/90, bem como nos arts. 56 a 60, da Lei n. 9.784/99, vem perante Vossa Senhoria apresentar RECURSO ADMINISTRATIVO em face da possibilidade de determinação de reposição ao erário, conforme constatado pelo Serviço de Gestão de Pessoas e cientificado ao ora Recorrente. 1. Referido processo administrativo de reposição ao erário foi instaurado com base na ação ordinária ajuizada pelo SINDIFISP/RS Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do brasil do Estado do Rio Grande do Sul - em face da União, sob n. 2008.71.00.027886-8/RS, cujo assunto é a não-incidência do Imposto de Renda sobre o abono de permanência instituído pela Emenda Constitucional n. 41, de 2003, e pelo artigo 7º da Lei n. 10.887, de 2004, bem como a devolução das parcelas retidas indevidamente. 2. No presente caso, a exigibilidade da referida exação fora suspensa em virtude de deferimento de pedido de antecipação de tutela nos autos da ação judicial em comento. No entanto, sobreveio sentença de improcedência sobre o deferimento do pleito antecipatório, restando sem efeitos a medida outrora angariada pelo Sindicato, de modo que a cobrança dos valores relativos ao IR retido sobre o abono de permanência passou a ser recobrada a partir da ciência da União acerca da referida decisão.
3. Em decorrência desse fato, a Divisão de Gestão de Pessoas emitiu a Nota Técnica SRRF10 n. 025/2015, com notificação informando que, em virtude da suspensão dos efeitos da tutela antecipada por meio de sentença de improcedência torna-se devido a exigibilidade da exação, devendo o interessado ser notificado e dentro do prazo de 15 dias consecutivos, contados da sua ciência, apresentar manifestação por escrito. O que o faz tempestivamente por meio do presente recurso. 4. Ocorre que, diante da discussão que se apresenta, o entendimento prevalente nos tribunais diverge da questão ora debatida. Em que pese o art. 46, caput, da Lei 8.112/90, deve ser interpretado com alguns temperamentos, mormente em decorrência de princípios gerais de direito, como a da boa-fé. 5. A questão da devolução ao erário de valores indevidamente recebidos já se encontra pacificada nos Tribunais e no STJ no sentido de que, para que a percepção de verba indevidamente paga ao servidor não lhe imponha ônus, é necessária a ocorrência simultânea de três circunstâncias: (i) que o servidor tenha percebido as sobreditas verbas de boa-fé; (ii) que ele não tenha concorrido para a sua percepção; (iii) que o pagamento efetuado tenha decorrido de erro da administração na interpretação da norma aplicável ao caso concreto. 6. Portanto, verifica-se que o caso do servidor se enquadra perfeitamente nas circunstâncias especificadas acima. Logo, decorrendo o pagamento de ato da administração e havendo boa-fé do servidor, não se mostra necessário a devolução ao erário de verba de natureza alimentar indevidamente percebida. 7. Com base nisso, quando a Administração Pública interpreta erroneamente uma lei, resultado em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos são legais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra o desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor. 8. De outro modo, o requisito estabelecido para a não devolução de valores pecuniários indevidamente recebidos é a boa-fé do servidor que, ao recebe-
los na aparência de serem corretos, firma compromissos com respaldo na pecúnia. A escusabilidade do erro cometido pelo agente autoriza a atribuição de legitimidade ao recebimento da vantagem. 9. Neste sentido segue entendimento do Superior Tribunal de Justiça: ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. MILITAR TRANSFERIDO PARA A RESERVA NÃO REMUNERADA. REPOSIÇÃO AO ERÁRIO DE VALORES. RECEBIMENTO DE BOA-FÉ. DESCABIMENTO DA PRETENSÃO ADMINISTRATIVA DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES. AGRAVO REGIMENTAL DA UNIÃO DESPROVIDO. 1. A Primeira Seção do STJ, no julgamento do Recurso Especial Representativo da Controvérsia 1.244.182/PB, firmou o entendimento de que é descabida a restituição de valores pagos em decorrência de interpretação equivocada ou má aplicação da legislação regente pela própria Administração, quando constatada a boa-fé do beneficiado. 2. O requisito estabelecido para a não devolução de valores pecuniários indevidamente recebidos é a boa-fé do Servidor que, ao recebê-los na aparência de serem corretos, firma compromissos com respaldo na pecúnia; a escusabilidade do erro cometido pelo agente autoriza a atribuição de legitimidade ao recebimento da vantagem. 3. Não há que se impor a restituição pelo Servidor de quantias percebidas de boa-fé e por equívoco do erário, porquanto tais valores não lhe serviram de fonte de enriquecimento ilícito, mas de sua subsistência e de sua família. 4. Agravo Regimental da UNIÃO desprovido. (AgRg no AREsp 33.281/RN, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/08/2013, DJe 16/08/2013) 10. Tal entendimento funda-se no princípio da irrepetibilidade das prestações de caráter alimentar e em face da boa-fé da parte que recebeu a referida verba por força de decisão judicial. Neste sentido: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. PENSÃO. TUTELA ANTECIPADA. REVOGAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIR AO ERÁRIO VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS. VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR. 1. A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. 2. O STJ tem adotado o posicionamento de que não deve haver ressarcimento de verbas de natureza alimentar recebidas a título de antecipação de tutela, posteriormente revogada, ante o princípio da irrepetibilidade das prestações de caráter alimentício e em face da boafé da parte que recebeu a referida verba por força de decisão judicial (Precedentes: AgRg no AREsp 12.844/SC, Rel. Ministro Jorge Mussi, DJe 2/9/2011; REsp 1.255.921/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe
15/8/2011; AgRg no Ag 1.352.339/PR, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe 3/8/2011). 3. Não é o caso de suspender o processo para aguardar o julgamento do Resp 1.244.182/PB, submetido ao rito do art. 543-C do CPC, porquanto a espécie dos autos é de concessão de benefício previdenciário em antecipação de tutela, enquanto o recurso citado trata de devolução ao Erário de valores recebidos de boa-fé pelo servidor público, quando pagos indevidamente pela Administração. 4. Agravo Regimental não provido. (AgRg no AREsp 92.212/RN, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 11/09/2012). 11. De fato, os princípios da segurança das relações jurídicas, da boa-fé, da confiança e da presunção de legitimidade dos atos administrativos justificam a adoção dessa linha de raciocínio, pois confiando o servidor na regularidade do pagamento operacionalizado pela administração, passam eles a dispor dos valores percebidos com a firme convicção de estar correta a verba implementada, de que não há riscos de virem a ter que devolve-los. 12. Nesta mesma linha de raciocínio, segue entendimento do TRF1, no sentido de que não há que se impor ao servidor a restituição de quantias percebidas de boa-fé e por equívoco do erário, é evidente que tais valores não lhe serviram de fonte de enriquecimento ilícito, mas de sua subsistência e de sua família: ESPECIAL. MILITAR TRANSFERIDO PARA A RESERVA NÃO REMUNERADA. REPOSIÇÃO AO ERÁRIO DE VALORES. RECEBIMENTO DE BOA-FÉ. DESCABIMENTO DA PRETENSÃO ADMINISTRATIVA DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES. AGRAVO REGIMENTAL DA UNIÃO DESPROVIDO. 1. A Primeira Seção do STJ, no julgamento do Recurso Especial Representativo da Controvérsia 1.244.182/PB, firmou o entendimento de que é descabida a restituição de valores pagos em decorrência de interpretação equivocada ou má aplicação da legislação regente pela própria Administração, quando constatada a boa-fé do beneficiado. 2. O requisito estabelecido para a não devolução de valores pecuniários indevidamente recebidos é a boa-fé do Servidor que, ao recebê-los na aparência de serem corretos, firma compromissos com respaldo na pecúnia; a escusabilidade do erro cometido pelo agente autoriza a atribuição de legitimidade ao recebimento da vantagem. 3. Não há que se impor a restituição pelo Servidor de quantias percebidas de boa-fé e por equívoco do erário, porquanto tais valores não lhe serviram de fonte de enriquecimento ilícito, mas de sua subsistência e de sua família.
4. Agravo Regimental da UNIÃO desprovido. (AgRg no AREsp 33.281/RN, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/08/2013, DJe 16/08/2013) PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. SERVIDOR PÚBLICO. PAGAMENTO INDEVIDO DECORRENTE DE DECISÃO JUDICIAL. CARÁTER PRECÁRIO. NECESSIDADE DE RESTITUIÇÃO AO ERÁRIO. VALORES RECEBIDOS POR CONTA E RISCO DO AUTOR. MANUTENÇÃO DO PAGAMENTO POSTERIORMENTE AO TRÂNSITO EM JULGADO. ERRO DA ADMINISTRAÇÃO. BOA-FÉ DO BENEFICIÁRIO. VERBA ALIMENTÍCIA. IMPOSSIBILIDADE DE REPOSIÇÃO À FAZENDA NACIONAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. Pagamento efetuado por força de decisão judicial precária que posteriormente perdeu a eficácia deve gerar a restituição ao erário, visto que tal circunstância afasta a boa-fé do beneficiário. 2. Todavia, a manutenção do pagamento após o trânsito em julgado da decisão que revogou o reajuste deferido ocorreu por erro da Administração, sem a participação do autor, circunstância que afasta a aplicação da hipótese acima apresentada e, de igual modo, a necessidade de restituição ao erário. 3. As parcelas porventura já descontadas devem ser restituídas ao servidor, corrigidas e acrescidas de juros de mora, estes à razão de 0,5% ao mês. 4. Os honorários advocatícios, nas ações movidas contra a Fazenda Pública, nos casos em que a matéria discutida já tem entendimento pacífico nos tribunais, não oferecendo maior complexidade, têm sido fixados por esta Corte em 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação. 5. Apelação parcialmente provida. (AC 0011185-11.2007.4.01.3400 / DF, Rel. DESEMBARGADORA FEDERAL NEUZA MARIA ALVES DA SILVA, SEGUNDA TURMA, e-djf1 p.581 de 09/01/2015) 13. Assim, por força dos princípios da irrepetibilidade, da segurança das relações jurídicas, da boa-fé, da confiança e da presunção de legitimidade dos atos administrativos, e ainda, o caráter alimentar da verba, mostra-se inviável impor ao servidor a restituição dos valores, sob pena de enriquecimento ilícito da Administração. 14. Diante de todo o exposto, requer a Vossa Senhoria a reconsideração da decisão que determina a reposição de valores ao erário, com o consequente arquivamento do processo administrativo em epígrafe e, caso Vossa Senhoria assim não entenda, requer o encaminhamento à autoridade superior para apreciação do presente recurso administrativo.
Nestes termos, pede deferimento. Porto Alegre, de de 2015.