OFICINAS DE FLAUTA DOCE EM GRUPO NUM PROJETO DE EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Paula Andrade Callegari paula_callegari@yahoo.com.br Angélica Beatryz Medeiros angel_b1919@hotmail.com Resumo: Esta comunicação relata a proposta do projeto de extensão Oficina de flauta doce no Centro de Formação da Divulgação Espírita Cristã. O projeto visa oferecer o ensino de música por meio da flauta doce e oportunizar aos alunos do Curso de Música/ Flauta Doce da UFU a prática do ensino coletivo deste instrumento. A demanda pelo projeto foi manifestada tanto por dirigentes/ coordenadores deste Centro de Formação como pelos alunos de flauta doce do Curso de Música da UFU. O projeto é desenvolvido em forma de oficinas de flauta doce, em aulas coletivas para três turmas com faixas etárias diferentes, com duração de uma hora semanal para cada turma e acontece entre abril e dezembro de 2009. As oficinas são ministradas por uma aluna-monitora do Curso de Música/ Flauta Doce da UFU, para as quais tem orientação semanal de uma hora. Os procedimentos metodológicos estão baseados na proposta (T)EC(L)A de Swanwick (1979), na proposta Multimodal (VERHAALEN, 1989) e nos princípios do ensino coletivo de instrumento. A avaliação é processual e formativa, com ênfase em aspectos qualitativos; ela acontece durante as aulas e é considerada como ferramenta para o planejamento semanal, observando práticas e produtos musicais, bem como os objetivos e procedimentos metodológicos adotados. Todos os recursos necessários para a realização das oficinas são disponibilizados pelo Centro de Formação, de modo que não há custos para a Universidade. Palavras-chave: Oficina de música, Flauta doce, ensino coletivo de instrumento. INTRODUÇÃO Esta comunicação relata a proposta do projeto de extensão Oficina de flauta doce no Centro de Formação da Divulgação Espírita Cristã desenvolvido por meio de uma parceria entre a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e o Centro de Formação da Divulgação Espírita Cristã (DEC). O projeto tem como Área Temática Principal a educação fundamental e a cultura e sua Linha Programática se relaciona com metodologias e estratégias específicas de ensinoaprendizagem, como a educação à distância e o ensino presencial e de processos de formação inicial, educação continuada e formação profissional. Nos últimos anos, os educadores musicais têm buscado diversificar seus espaços e contextos de atuação, bem como as metodologias empregadas. Neste sentido, cresceu o interesse 1
pelas práticas de ensino-aprendizagem de música em contextos não-formais, em especial nos projetos sociais e Organizações Não-Governamentais (ONGs), que via de regra são voltadas para um ensino contextualizado com o universo sociocultural dos alunos e dos múltiplos espaços em que acontecem (SANTOS, 2007). No intuito de desenvolver um projeto de extensão, há que se considerar os desafios de proporcionar uma educação musical que dialogue com a realidade dos alunos, firmando com eles uma postura de comprometimento social (WEILAND; WEICHSELBAUM, 2008). Inseridos no contexto das ONGs estão os centros de formação da cidade de Uberlândia MG, que atendem crianças de baixa renda, com idade entre seis e treze anos, nos turnos da manhã e da tarde, fora do período escolar. Na cidade, existem cerca de vinte centros que oferecem atividades diversificadas entre si. O DEC está localizado no bairro Tibery, na cidade de Uberlândia. Ele atende em 2009 cerca de cem crianças, divididas nos dois turnos. Seu objetivo geral é preparar as crianças para a vida de acordo com valores humanos (respeito, solidariedade, companheirismo). Para isso, são oferecidas atividades de recreação, dança, trabalhos manuais (bordado, pintura, desenho, etc), informática básica, inglês, reforço escolar e música. Em 2004, foi aprovado um projeto para a montagem da instrumentoteca e desde então, o DEC possui um considerável acervo de instrumentos musicais: 20 flautas doces, 10 violões, 03 teclados, instrumentos de pequena percussão (como agogôs, caxixis, triângulos, tambores, clavas, etc.) e instrumentos construídos com sucata pelos alunos. Entre 2005 e 2007 o Centro de Formação possuía uma instrutora habilitada em música, cujo trabalho era focado na flauta doce. O trabalho com a flauta doce está presente em diferentes contextos de ensinoaprendizagem de música e seu uso tem sido justificado pela adequação ao ensino em aulas coletivas e pela relativa facilidade inicial no que diz respeito à emissão sonora, embocadura e dedilhado (ARAÚJO, 2003). Especificamente no DEC, a coordenação demonstrou interesse pela continuidade das aulas deste instrumento, a partir de diversos contatos feitos com a UFU pedindo indicação de pessoas que pudessem trabalhar com as aulas de flauta; há um histórico do ensino deste instrumento na instituição; existe uma quantidade de flautas no seu acervo instrumental suficiente para atender os alunos; e houve interesse e disponibilidade de horários de uma discente do Curso de Música/ Flauta Doce da UFU para o desenvolvimento do projeto. 2
Com base no exposto acima, foi proposto este projeto de extensão com o intuito de atender uma demanda manifestada pelo DEC, fortalecendo a parceria entre esta instituição e a UFU e contribuir para a profissionalização e formação docente da monitora 1 nele envolvida. OBJETIVO GERAL Oferecer o ensino de música por meio da flauta doce no Centro de Formação da Divulgação Espírita Cristã. Oportunizar aos discentes do Curso de Música/ Flauta doce da UFU a prática do ensino coletivo de instrumento. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Estender as ações do Curso de Música da UFU para divulgar na comunidade os trabalhos realizados na Universidade. Reforçar a parceria entre a UFU e o Centro de Formação. Formar grupos de flauta doce fora do âmbito da UFU. Propiciar aos participantes o contato com diferentes gêneros e estilos musicais. Trabalhar os conceitos específicos da linguagem musical e da técnica instrumental. Fortalecer nos participantes a interação social, prontidão, dinamismo pessoal, julgamento e pensamento crítico (MORAES, 1997). Propiciar um contexto social de aprendizagem. Estimular a ajuda mútua entre os participantes. Fortalecer a individualidade de cada um no grupo. METODOLOGIA 1 A discente Angélica Beatryz Medeiros trabalha como monitora não-remunerada no projeto, perfazendo uma cargahorária semanal de 04 horas. 3
O projeto é realizado em duas etapas especificadas abaixo. Cabe ressaltar que todos os recursos (incluindo espaço físico e materiais) necessários ao desenvolvimento do projeto são fornecidos pelo DEC, de modo que não há custos para a Universidade. 1ª etapa (abril, 2009): Estabelecimento de contato com o Centro de Formação e definição de horários com a discente-monitora do projeto; levantamento e estudo da bibliografia de embasamento teórico do trabalho, resumida a seguir: A condução das oficinas de flauta doce é norteada pelos pressupostos metodológicos do ensino do instrumento em grupo, da proposta Multimodal (VERHAALEN, 1989) e do modelo (T)EC(L)A (SWANWICK, 1979). O princípio geral que orienta o ensino do instrumento em grupo é que a música é ensinada através do instrumento (SWANWICK, 1994; VERHAALEN, 1989) e que a ênfase está no conjunto de alunos, e não na formação de solistas. Neste sentido, Moraes (1997) destaca que o aprendizado é decorrente da cooperação social, da ajuda mútua entre os alunos e que o ensino em grupo deve desenvolver aspectos sociais e psicológicos. Nesta forma de ensino, não há diferença entre teoria e prática. Sobre isso, Swanwick (1994) acrescenta que aprender a tocar um instrumento deveria fazer aparte de um processo de iniciação dentro do discurso musical e, além disso, respeitar a música como entidade simbólica, e [...] o aluno como ser autônomo (SWANWICK, 1994, p.7). No ensino de instrumento, Swanwick (1994) alerta para não seguir um único método e propõe a construção de um plano de ação, a partir de metáforas e imagens mentais e sugere que a mesma música seja tocada de diversas maneiras. De modo semelhante, Verhaalen (1989) defende que os alunos devem sempre entender tudo que tocam e para isso, apresenta a proposta Multimodal, na qual um mesmo conceito é trabalhado e vivenciado de diversos modos: sensitivo, visual, tátil, auditivo e verbal. Outra proposta metodológica adotada nas oficinas de flauta doce é o modelo (T)EC(L)A de Swanwick (1979). Ele envolve cinco parâmetros: composição (C), apreciação (A) e execução (E), que são formas de relação direta com a música, e por isso, consideradas centrais; e literatura (L) e técnica (T), que são formas de relação indireta com a música, assim, são parâmetros periféricos que dão suporte aos centrais. Dessa forma, os conhecimentos estão 4
organizados da seguinte maneira: T percepção, técnica de execução instrumental, conhecer e identificar gêneros musicais; E canto e execução dos instrumentos disponíveis; C improvisação instrumental, composições dos alunos, criação de arranjos; L instrumentos de diferentes culturas, história da música, noções de leitura e escrita musical; A apreciar diferentes tipos e gêneros musicais. 2ª etapa (maio a dezembro, 2009): Realização das oficinas no DEC e redação dos relatórios parciais e final do projeto. As oficinas são realizadas às segundas-feiras, na sede do DEC, das 08h00 às 11h00, em três horários de uma hora cada, com três turmas diferentes. A orientação à monitora acontece nas terças-feiras, das 09h50 às 10h40, na UFU. AVALIAÇÃO DO PROJETO A avaliação será processual e formativa, com ênfase em aspectos qualitativos dos processos de aprendizagem acolhimento do educando e diagnóstico dos conhecimentos. Ela será parte integrante de todas as aulas e também uma ferramenta para o planejamento, tendo como principal parâmetro, a análise das práticas e produtos musicais, amparada nos aspectos dos procedimentos metodológicos. Assim, será considerado o conhecimento musical prévio dos alunos, seu desenvolvendo musical durante o processo e também estratégias que permitam dar seqüência a esse desenvolvimento (BEINEKE, 2003). A avaliação do projeto também incluirá a redação de relatórios parciais ao longo do desenvolvimento do projeto e ao final, um relatório geral com os resultados alcançados e apontamentos para trabalhos e pesquisas futuras. PÚBLICO-ALVO O público-alvo direto do projeto consiste de crianças regularmente matriculadas no Centro de Formação, que o freqüentam no período da manhã. Indiretamente, o projeto também atinge a equipe de funcionários (direção, coordenação, instrutores, serviços gerais) do DEC, os demais alunos (que o freqüentam no período da tarde) e os familiares das crianças diretamente 5
atendidas pelo projeto. Estima-se que o projeto atenda, diretamente, cerca de 50 crianças e indiretamente, mais 200, perfazendo um público total de aproximadamente, 250 pessoas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Rosali Vigiano de. O ensino de flauta doce na prática de estágio do curso de música da UEL. 2003. 54 f. Monografia (Especialização em Metodologia da Ação Docente) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2003. BEINEKE, V. O ensino de flauta doce na educação fundamental. In: HENTSCHKE, L.; DEL BEM, L. (Org.) Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p.86-100.. A avaliação em sala de aula: como ouvir as músicas que as crianças fazem? In: HENTSCHKE, L.; SOUZA, J. (Org.) Avaliação em música: reflexões e práticas. São Paulo: Moderna, 2003. p.91-103.. A educação musical e a aula de instrumento: uma visão crítica sobre o ensino da flauta doce. Expressão. Revista do Centro de Artes e Letras da UFSM, Ano 1, nº1/2, 1997. p.25-32. MORAES, Abel. Ensino instrumental em grupo. Música Hoje. n.4, p.70-76, 1997. SANTOS, Carla. Ensino coletivo de instrumento: uma experiência junto ao Grupo de Flautas do Projeto Musicalizar é Viver. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, XVI, outubro, 2007, Campo Grande. Anais... Campo Grande. CD- Rom. SWANWICK, Keith. Ensino instrumental enquanto ensino de música. Cadernos de Estudo: Educação Musical. n.4/5, p.7-14, nov. 1994. VERHAALEN, M. I. Explorando música através do teclado. Porto Alegre: Editora da Universidade UFRGS, 1989. (vol.1 e 2; guia do professor). WEILAND, Renate; WEICHSELBAUM, Anete Susana. Ensino instrumental possíveis contribuições a partir do modelo C(L)A(S)P de Swanwick. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, XVII, outubro, 2008, São Paulo. Anais... São Paulo. CD-Rom. 6