Quilombos Urbanos: Identidade Territorial no Bairro da Mata Escura na Cidade de Salvador Bahia

Documentos relacionados
Meninos e Meninas da Mata Escura: Experiência de uma Realidade Sócio-cultural na Periferia de Salvador-Ba

ANTEPROJETO DE LEI N / 2015

Uma experiência a partir do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais

VERIFICAÇÃO DAS ÁREAS VERDES POR BAIRROS E SUA RELAÇÃO COM AS CLASSES SOCIAIS DE ANÁPOLIS-GO

CIDADE E CULTURA NO TOCANTINS: ASPECTOS ÉTNICO- CULTURAIS DA COMUNIDADE AFRO DESCENDENTE DA FAZENDA AÇUDE NO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA-TO

Populações Afrobrasileiras, Políticas Públicas e Territorialidade

PROJETO DE LEI Nº /2015

A EXPANSÃO URBANA NA REGIÃO LESTE DA CIDADE DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA (SP) E A FORMAÇÃO DE NOVAS CENTRALIDADES

CIDADE E CULTURA NO TOCANTINS: ASPECTOS ÉTNICO- CULTURAIS DA COMUNIDADE AFRO DESCENDENTE DA FAZENDA AÇUDE NO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA-TO

8ª REUNIÃO PÚBLICA TEMÁTICA

Salvador: Transformações Sociais e Demográficas

MINHA CASA + SUSTENTÁVEL

TÍTULO DO TRABALHO: PROCESSO DE PERIFERIALIZAÇÃO DE PALMAS TO: AS CONDIÇÕES DE MORADIA NO SETOR SANTO AMARO

Políticas Públicas Para os Remanescentes Quilombolas. Ms. Prof. Maria Aparecida da Silveira

Estratégia para a Aplicação de Planos de Intervenção em Espaço Rural em Espaço Periurbano. O caso de Setúbal.

PROJETO. #SouAlterosa

Intervenções na Área Central da Cidade de São Paulo. Arq. Luis Oliveira Ramos Chefe da Assessoria Técnica de Planejamento Urbano

Eixo 3 Democratização do território e Inclusão Social

Antiga Limpurb Rua Cônego Pereira, Sete Portas, Salvador, Brasil

QUADRO XV ZONA CENTRAL - ZC PARÂMETROS COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO (CA)

Apresentação sobre: Zonas peri urbanas. Apresentado por: Lubango, Julho Development Workshop

pesquisa & desenvolvimento VOLUME 1 Nº ISSN

ANÁLISE DA ACURÁCIA DO MAPEAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS NO ÂMBITO DO CADASTRO AMBIENTAL RURAL NO MUNICÍPIO DE CURAÇÁ BA

AS FAVELAS DA GRANDE ARACAJU

PROGRAMA DE MESTRADO EM DIREITO

Geração de trabalho e renda por meio do Apoio e Fortalecimento de empreendimentos econômicos solidários Projeto Selecionado

UFGD/FCBA Caixa Postal 533, 79, Dourados-MS, 1

REFLEXÃO SOBRE OS VAZIOS URBANOS NA CIDADE DE LAVRAS- MG

01- Dê um exemplo de cada modal de transporte abaixo: a) Aquaviário: b) Ferroviário: c) Rodoviário: d) Aéreo: R.:

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Anais. IV Seminário Internacional Sociedade Inclusiva

NOTA DE APOIO AO QUILOMBO RIO DOS MACACOS. Salvador, 13 de julho de 2012.

Salvador Desafios Principais

As Leis 10639/03 e 11645/08: O Ensino de História e Cultura dos Povos Indígenas e dos Afrodescendentes no Brasil UNIDADE 1

O Papel do Município na Segurança Pública

Democracia e a Cabanagem

Palavras-chave: educação, Lei /03, religião de matriz africana.

GEOPROCESSAMENTO APLICADO À IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS COM OCUPAÇÕES IRREGULARES NO BAIRRO DE JAGUARIBE, JOÃO PESSOA - PARAÍBA

NÚCLEO DE ORIENTAÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE

Moço, como chego no SUBÚRBIO?

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Huambo Case Study. Land rights. Experience of Development Workshop (DW) in "Urbanization" Moises Festo. Rede de Terra - Angola.

Universidade Federal da Bahia Instituto de Psicologia

ANÁLISE E INTERVENÇÃO EM PROCESSOS GRUPAIS E SEU PAPEL NA ARTICULAÇÃO DE INICIATIVAS COMUNITÁRIAS

Operação Urbana Porto Maravilha Reurbanização e Desenvolvimento Socioeconômico

1. Trabalho final de graduação indicado ao 24 Ópera Prima. 2. Graduação: Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas, 1 semestre de 2011.

Breve Apresentação do Bairro Córrego d Antas e de seus Desafios

Paulo Tumasz Junior. Urbanização Mundial e Brasileira

Resultado Edital Instituto Rio 2018

Relatório da sessão Sistemas urbanos e regionais sustentáveis. 1. Introdução

Sétima Audiência Pública 03 de Junho de 2014 SEST/SENAT Rua Salvador Ferrante, Boqueirão IPPUC

Detalhamento das Linhas Temáticas Edital 070/2018

DE OLHO NO FUTURO: COMO ESTARÁ GOIÂNIA DAQUI A 25 ANOS? Elaboração: DEBORAH DE ALMEIDA REZENDE 2 Apresentação: SÉRGIO EDWARD WIEDERHECKER 3

EMENTAS GRUPOS DE TRABALHO (GTs)

Apresentação Programa de Pós-Graduação em História Regional e Local

O CONCEITO DE QUILOMBO NA HISTORIOGRAFIA

EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA: REFLEXÕES, POSSIBILIDADES E DESAFIOS

TÍTULO: POLÍTICA HABITACIONAL RURAL: ASPECTOS SÓCIOESPACIAIS NA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE PALMEIRINHA-MG

Trabalho Social na Autogestão

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO POR BAIRROS EM CORUMBÁ-MS. UFGD/FCBA Caixa Postal 533, 79, Dourados-MS,

CASA REGIONAL DE MEMÓRIA: UM COMPLEXO MUSEÓLOGICO NA TRANSXINGU

Novas percepções construindo uma identidade territorial rural: uma experiência do sul do

DISCIPLINA DE HISTÓRIA OBJETIVOS: 1º Ano

Geografia e Turismo Profa. Ligia Tavares

Trabalho Social em Habitação: para quê e para quem?

DECLARAÇÃO. 1. Ciclos de Diálogos Interinstitucionais Sobre Educação do Campo. Coordenadora: Ivânia Paula Freitas de Souza

Oficina Regional do PDUI/RMRJ

ZONEAMENTO URBANO ZRP1 ZONA RESIDENCIAL PREDOMINANTE 1

CONJUNTO HABITACIONAL MÁRIO AMATO E A ANÁLISE DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP

O Novo Zoneamento e sua importância para São Paulo. Instituto de Engenharia

DA HABITAÇÃO POPULAR AO DIREITO À CIDADE: O PROGRAMA MINHA CASA, MINHAVIDA, DO VILA DO SUL E VILA BONITA, EM VITORIA DA CONQUISTA (BA)

MOTIVO DA URBANIZAÇÃO:

CTS POA 156. e latino-americanas, e como consultora de organizações não-governamentais,

CURSO DE FORMAÇÃO PARA LIDERANÇAS SOCIAIS

Engajamento de stakeholders e gerenciamento de riscos: estudo de caso com a Fazenda da Quina Campo Formoso/BA

AUP 652 PLANEJAMENTO DA PAISAGEM PLANO DE PAISAGEM E DO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

A HABITAÇÃO SOCIAL REDESENHANDO A CIDADE: O CASO DA CIDADE DE UBERLÂNDIA-BRASIL

PCC 3350 Planejamento Urbano e Regional. Política e gestão habitacional. Prof. Alex Abiko 13 de Maio de 2019

CAMPO ALEGRE Plano Diretor Participativo

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola: algumas informações

Pelas ruas de Cachoeira

O PEDU é, ainda, o elemento agregador de três instrumentos de planeamento, que suportam cada uma daquelas prioridades de investimento:

FÓRUM MICRORREGIONAL DE CULTURA

EDITAL Nº 002/PIC/AU/2016

IX JORNADA DE ESTÁGIO DE SERVIÇO SOCIAL A PRÁTICA DO SERVIÇO SOCIAL NA COMPANHIA DE HABITAÇÃO DE PONTA GROSSA- PROLAR

Tese de Doutorado em Ciências Sociais, UFRN, 2006

SL-02. Políticas de desenvolvimento urbano baseadas na mobilidade urbana e inclusão sócio-territorial: Reflexões a partir das propostas de São Paulo

PLANO DE AULA 06. Flávio Antônio de Souza França Mestrando do Programa do Mestrado Profissional do Ensino de História da UNIRIO

Qualidade de Vida e Promoção da Cidadania

PLANO DE AULA 12. Comércio de escravos e escravidão: quem eram os africanos trazidos para o Brasil; relações sociais e resistência.

Sobre o planejamento estratégico de longo prazo para as cidades e os desafios da mobilidade urbana

PL 1.04 PL 1.05 PL 1.06

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO TERMO DE REFERÊNCIA PARA CONTRATAÇÃO DE PESSOA FÍSICA - CONSULTOR POR PRODUTO -

A proposição foi distribuída a três Comissões: Esporte; Educação; e Constituição e Justiça e de Cidadania.

ANÁLISE CARTOGRÁFICA DO PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE/MG

HISTÓRIA E RACISMO O BRASIL UMA AFIRMAÇÃO PARA IDENTIDADE

Vulnerabilidade e segregação ocupacional dos jovens em regiões de favelas em Belo Horizonte Resumo

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO COORDENADOR ARQUITETO E URBANISTA RUBENS GUILHEMAT

AS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS URBANAS NA REGIÃO METROPOLITANA DE CHAPECÓ: UMA ANÁLISE DAS PEQUENAS CIDADES DÉBORA WEBER DE SOUZA

ANEXO B: NOTÍCIAS DE JORNAIS

Transcrição:

Quilombos Urbanos: Identidade Territorial no Bairro da Mata Escura na Cidade de Salvador Bahia Rodrigo Souza Aureliano 1 Orientador: Prof. Dr. Alcides dos Santos Caldas 2 Resumo: A cidade de Salvador é caracterizada por uma forte presença históricocultural afro-brasileira, isto se manifesta no território. Através de uma pesquisa preliminar foram identificados mais de vinte regiões de grande concentração de remanescente da história e cultura afro-brasileira, ou seja, o que caracterizamos aqui, quilombos urbanos. O presente artigo tem como objetivo indicar a relevância da identificação dos locais que concentram rituais litúrgicos de origem africana no bairro da Mata Escura na cidade de Salvador, caracterizando a importância destes para a identidade local. 1 INTRODUÇÃO A identificação e análise dos Quilombos Urbanos e Quilombolas existentes no bairro da Mata Escura na cidade do Salvador, numa perspectiva histórica, cultural e religiosa é objeto para o desenvolvimento deste artigo. A partir do trabalho realizado pelo Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais LTECS pode-se pensar em fazer 1 Graduando em Letras; bolsista de iniciação científica CNPQ. 2 Geógrafo (UFBA); Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFBA); Doutor em Geografia (Universidade de Santiago de Compostela); Coordenador do Mestrado e Doutorado em Análise Regional da UNIFACS.

um mapeamento para identificar os quilombos urbanos, e dentro desta dinâmica evidenciar sua importância para a formação da identidade do bairro. O Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conceitua quilombos urbanos. Neste documento, entende-se que a resistência cultural concentrada em um determinado espaço, mesmo que a sua população tenha tido mobilidade ao longo do tempo, é uma característica quilombola. 'Nós entendemos como quilombos também as áreas que têm as características próprias de reagrupamento, mas que mantêm sua identidade negra do ponto de vista cultural', definiu o doutor em história e presidente da Fundação Palmares, Ubiratan Castro. As comunidades dos quilombos são grupos étnicos, predominantemente constituídos pela população negra rural e urbana, que se autodefinem a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias. Considerando-se que as desigualdades em Salvador apresentam-se, sobretudo no aspecto de ocupação do território, onde apenas uma pequena parcela da população tem acesso a equipamentos públicos e privados de educação, saúde e lazer, dentre outros, a maioria de seus habitantes afros-descendentes reside em locais que, desde a sua origem, configuram-se como espaços de resistência e de luta por reconhecimento da cidadania, ainda, não consolidada, desprovidos de infra-estrutura como educação e saúde de qualidade, espaços de lazer, falta de mobilidade, falta de capacitação profissional, de equipamentos culturais, população de baixa renda e descapitalizada.

O candomblé sofreu transformações ao longo dos séculos que se por um lado sincretizaram o seu conteúdo, por outro permitiram a preservação de elementos essenciais da identidade cultural dos negros africanos escravizados no Brasil. A percepção da influência da população residente nos 27 quilombos urbanos identificados é de fundamental relevância para a criação de projetos que beneficiem a comunidade e a façam emergir a essência do bairro, enquanto identidade, visto que o bairro está fortemente associado à violência urbana, pela instalação do maior complexo penitenciário da Bahia. A Mata Escura é um bairro que pode ser identificado de forma diferente, e a influência dos terreiros de candomblé na formação social deve ser conhecida. 2 O LABORATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS SOCIAS O Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais LTECS, parceria entre os Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador - UNIFACS e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia - UNEB realiza no bairro da Mata Escura, Salvador-Bahia, um projeto de estudos e pesquisas de requalificação sócioambiental. O projeto tem como objetivo principal contribuir para a redução das desigualdades espaciais da cidade, através de projetos que possam intervir na melhoria da qualidade de vida dessa população e requalificando os espaços ociosos para uso público, transformando-os em espaços de sociabilidade para a população local. (2006. Prêmio Bahia Sustentável).

Entende-se que a qualificação de áreas periféricas não deva ser apenas na paisagem e na oferta de infra-estrutura, mas também no estímulo à prática da cidadania, solidariedade e formação de unidades de vizinhança, a fim de evitar a segregação tanto física como social, o que possibilita desenvolvimento sustentável e colabora para a formação de uma identidade local. Em um ano de existência do LTECS, no bairro da Mata Escura, várias ações foram realizadas, no âmbito político-institucional, na produção cientifica e auto sustentabilidade. A formação de parcerias para implantação dos projetos sociais na comunidade (UNIFACS, UNEB, FAPESB, SECTI, Petrobrás, COELBA, Banco do Brasil) foi uma das alavancas facilitadoras, como por exemplo, a instalação do Infocentro parceria com a SECTI / Coelba; cursinho pré-vestibular parceria com o Quilombo Educacional do Cabula; Escritório público de arquitetura e engenharia parceria com o curso de arquitetura e urbanismo da UNIFACS; Assessoria à formação de cooperativas locais parceria com o Núcleo de Estudos e Práticas Psicológicas do curso de Psicologia da UNIFACS; Núcleo da Cidadania parceria com o curso de Direito da UNIFACS. 3 MATA ESCURA: INFLUÊNCIAS AFRICANAS NA FORMAÇÃO DO BAIRRO O bairro da Mata Escura, está localizada no miolo 3 de Salvador, formando um grande aglomerado residencial de baixa renda e carente de infra-estrutura que ocupa as meias encostas das diversas localidades do bairro. 3 De acordo com PDDU Salvador 2004, o termo miolo significa parte do território municipal situada entre os dois principais eixos viários de articulação urbano-regional a BR-324 e a Avenida Luiz Viana Filho (Avenida Paralela) e as divisas de Salvador com os Municípios de Lauro de Freitas e Simões Filho.

Como a maioria dos bairros periféricos de qualquer cidade do terceiro mundo, o bairro 4 da Mata Escura, localizado na periferia da cidade de Salvador, também apresenta problemas sociais, ambientais e estruturais dos mais graves. Esse bairro surgiu de forma desordenada com o crescimento populacional e habitacional e agigantou-se sem que nenhum tipo de infra-estrutura fosse criado para acompanhar o seu crescimento. A Mata Escura foi uma das primeiras expansões da cidade do Salvador, calcula-se que começou a formação em 1900 como a criação do terreiro de candomblé, o Inzo Manzo Bandukenké, atual Terreiro Bate Folha, tombado pelo IPHAN, em 2003, como Patrimônio da cultura Afro-brasileira. A ocupação foi dada, principalmente, por pessoas oriundas do interior com baixo poder aquisitivo, só a partir dos anos 80 começaram obras de urbanização nas imediações, a partir daí as invasões feitas na região da penitenciaria colaboram para o inchaço do bairro. Vários conjuntos habitacionais foram construídos, o que potencializou as condições de moradia, mas em contra partida devastou a reserva de mata atlântica do local. A construção das represa do Prata e da Mata Escura são parte da historia do bairro desconhecida pela comunidade. O abastecimento de água da cidade do Salvador até 1987, foi feito por essas represas, todas duas projetadas pelo Engenheiro Teodoro Sampaio. O Terreiro Bate Folha é outra referência do bairro que muitos não sabem o significado e importância, por questões ideológicas se renegam a conhecer a essência do bairro. Além disso, o IBAMA tem sede no bairro, trabalhando com a realibitação de animais. 4 Em Salvador não existe a delimitação territorial de bairro. Eles existem apenas do ponto de vista cultural.

5 OS TERREIROS DE CAMDOMBLÉ NA MATA ESCURA Para construção do presente artigo, e comprovação da importância desses quilombos para a identificação local foram recolhidos dados sobre o Terreiro Bate Folha, o mais antigo da região. O terreiro tem uma longa história, visto que é considerado fundador da Mata Escura, pois segundo relatos dos membros teve fundação em 1916, como o nome inicial africano Manzo Bandu Kuen Kué é de nação angolana, sendo representado juridicamente pela Sociedade Beneficente Santa Bárbara, este nome porque o terreiro é de Iansã, Santa Bárbara no sincretismo religioso. Como patrimônio físico o terreiro tem o terreno denominado de roça do bate folha de 14,8 Hectares, compostos por uma casa residencial de grandes dimensões, barracão de culto, pequenas casas em semicírculo, cada uma das quais dedicada a um respectivo Nkisi 5, e um terreno de mata atlântica com árvores e animais diversificados. A comunidade deste terreiro é formada por, aproximadamente, 70 pessoas, conhecidas como os filhos da casa. Para estes o quilombo realiza ações como eventos culturais, cursos de bordado, festas e reuniões que abordam temas de melhoria da qualidade de vidas deles na comunidade local. O Terreiro Bate Folha foi tombado como Patrimônio da cultura afro brasileira em 2003, pelo IPHAN. Em entrevista com uma das filhas do terreiro ela salienta a importância do reconhecimento da sociedade para com o local, O Terreiro é muito importante para a comunidade, é através da fé e do auxílio comunitário que ele se fortifica, mas ações que reconhecem isso fazem o nosso trabalho se tornar mais gratificante 6. 5 Nome destinado à identificação dos Orixás na língua Gongo 6 Entrevista concedida pela integrante do Bate-Folha Elizangela dos Santos Cruz no dia 30 de agosto de 2006.

O terreiro é um local de fé que aproxima as pessoas, os aspectos culturais devidamente divulgados podem se tornar referências entre a comunidade que possui uma identidade local desqualificada, na qual o elemento evidenciado, tanto pela comunidade como pelos bairros vizinhos é a violência urbana. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O quilombo urbano pode ser identificado de várias formas, mas a principal é a identificação territorial para a formação da identidade local. Um bairro ou localidade que não tem sua história divulgada e reconhecida pela sociedade não pode alavancar ações de melhoria. O conhecimento dos terreiros de cultos africanos, no bairro da Mata Escura, torna este mais visível por outros aspectos, e faz como que a valorização de projetos de desenvolvimento sociais, como o LTECS, possa atuar de forma mais específica. Conhecer o local e suas particularidades enriquece a formação das pessoas da comunidade enquanto cidadãos ativos na sociedade civil. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Eliziário. Nova História e História Oral. Apud MATTA, Alfredo Eurico Rodrigues. História em Revista. Salvador: UCSal, 2002. CALDAS, Alcides; NUNES, Eduardo. Laboratório de Geografia Social e Intervenção Urbana: A criação de espaços de sociabilidade em bairros periféricos de Salvador. Revista de Desenvolvimento Econômico / Unifacs, Bahia, Ano IV, n. 07, 24 33, dez., 2002.

MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Bahia: A Cidade do Salvador e seu Mercado no Século XIX. Salvador: Hucitec, 1978. REIS, João José. A Morte é uma Festa. Ritos Fúnebres e Revolta Popular no Brasil do Século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1968. VERGER, Pierre. Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos dos Séculos XVII ao XIX. Corrupio, 2002.