Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide

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Mestre em Ortodontia pela Faculdade São Leopoldo Mandic. Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela UNAERP.

Transcrição:

Caso Clínico Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide Paulo Roberto dos Santos-Pinto*, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto**, Luiz Gonzaga Gandini***, ry dos Santos-Pinto***, Karina Dela Coleta Eiras Pizol****, Nancy dos Santos-Pinto***** RESUMO Dentre as más oclusões, uma das características de maior preocupação é a sobremordida profunda, ou overbite acentuado. Nesses casos, os movimentos mandibulares de lateralidade e protrusão ficam limitados, podendo causar problemas na articulação temporomandibular e interferir no processo de crescimento e desenvolvimento facial. Um dos objetivos do Oclus-o-guide, é estabelecer a sobremordida correta antes da irrupção completa dos caninos e pré-molares, e antes da formação das fibras colágenas maduras. pós a correção da má oclusão, é importante um pequeno período de contenção, até que ocorra a reorganização completa das fibras periodontais. O Oclus-o-guide representa uma combinação de um posicionador e de um aparelho miofuncional. vantagem dessa combinação é permitir que o aparelho funcione como um ativador, liberando o crescimento mandibular, possibilitando a correção das relações horizontais e verticais dos maxilares. Simultaneamente, o Oclus-o-guide permite a correção de apinhamentos na região anterior e posterior, favorecendo a intercuspidação dos arcos ao final do tratamento. Os casos apresentados foram tratados com a utilização do aparelho Oclus-o-guide e evidenciam sua eficácia clínica. PLVRS-CHVE: Classe II. Oclus-o-guide. Guia de irrupção. Posicionador dentário. Mordida profunda. Ortopedia Funcional. * Mestre em Ortodontia pela FO-USP/auru. Doutorando em Ortodontia pela Unesp-raraquara. Professor da FE (Fundação Educacional de arretos). ** Mestre em Ortodontia pela FO-USP/auru. Professora da Unaerp. *** Professores livre docentes do departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de raraquara Unesp. **** Mestre em Ortodontia-Unicamp/Piracicaba. Doutoranda em Ortodontia pela Unesp-raraquara. **** Especialista em Ortodontia pela Unaerp. Cirurgiã-dentista do Centro de tendimento a Pacientes Especiais-Unesp/raçatuba. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009 91

Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide INTRODUÇÃO Dentre as más oclusões, uma das características de maior preocupação é a sobremordida profunda, ou overbite acentuado, situação em que os movimentos mandibulares de lateralidade e protrusão ficam limitados pela má oclusão, podendo causar problemas na articulação temporomandibular e interferir no processo de crescimento mandibular 4. Um dos primeiros estudos sobre a mordida profunda foi realizado por Linder 9, em 1930, e seus resultados mostraram que a sobremordida aumenta 1,8mm dos 7 aos 13 anos de idade, provavelmente devido ao aumento da distância intercaninos que ocorre nesse período. ergersen 1, por volta de 1970, lançou no mercado um posicionador pré-moldado denominado Ortho-Tain, idealizado inicialmente como guia de irrupção e planejado de acordo com as variações de tamanho dentário, para ser utilizado por indivíduos com tamanhos dentários semelhantes. O aparelho passou, então, a ser fabricado em série, eliminando-se a necessidade da confecção sob encomenda. ergersen foi aperfeiçoando e adaptando os posicionadores, transformando-os em aparelhos funcionais e, em 1985, lançou o Oclus-o-guide, aparelho pré-fabricado, confeccionado com material borrachoide à base de polivinil, semelhante a um posicionador, mas com as características de um aparelho ortopédico funcional 3. Essa associação permitiu que o aparelho funcionasse como ativador, possibilitando a correção de alterações verticais e anteroposteriores, além de funcionar como guia de irrupção e como posicionador, promovendo o alinhamento e nivelamento dos arcos dentários. Uma das épocas mais importantes para o controle da sobremordida é a fase que antecede o estirão de crescimento que ocorre durante a puberdade, pois, nessa fase, a sobremordida pode se tornar severa, devido à definição do padrão muscular que ocorre durante a adolescência 1. Um dos objetivos do Oclus-o-guide é estabelecer a sobremordida correta antes da irrupção completa dos caninos e pré-molares e antes da maturação das fibras colágenas localizadas nessa região 5. Muitos aparelhos funcionais foram desenvolvidos com o objetivo de promover a reorganização muscular durante a correção das más oclusões, dentre eles o Oclus-o-guide ou Guia de Irrupção 1. O Oclus-o-guide está indicado para a correção de más oclusões de Classe I ou Classe II associadas a mordida profunda, apinhamentos e sorriso gengival. Pode ser utilizado tanto na dentadura mista (Série G) quanto na dentadura permanente (Série N). pós a fase de tratamento ativo com o Oclus-o-guide, há a necessidade de um período de contenção de, aproximadamente, 6 meses, até que ocorra a reorganização completa das fibras periodontais e uma maior estabilidade do tratamento realizado 5. Existem outras variações do Oclus-o-guide indicadas para serem utilizadas no período pós-tratamento ortodôntico, para o refinamento da oclusão, como o Oclus-o-guide Série X (indicado para os casos que receberam a extração dos primeiros pré-molares superiores e inferiores) e o da Série U (indicado para os casos que receberam apenas extrações superiores) 2. Para os casos que receberam tratamento ortodôntico sem extrações, e necessitam ainda de um refinamento da oclusão, o Oclus-o-guide série N pode ser utilizado durante a fase de contenção. Silva 10, em 1997, analisou cefalometricamente o efeito do aparelho guia de irrupção, durante 2 anos de utilização, em pacientes má oclusão de Classe II, divisão 1, comparando-os com um grupo controle não-tratado. Verificou que ocorreu a melhora do relacionamento maxilomandibular devido a um aumento do comprimento mandibular, verticalização dos incisivos superiores, vestibularização dos incisivos inferiores e uma suave extrusão e mesialização dos dentes posteroinferiores. Janson et al. 6, em 1998, apresentaram os resultados obtidos em tratamentos realizados com o Oclus-o-guide, evidenciando que o aparelho possibilitou a correção da mordida profunda, a obtenção de um adequado trespasse vertical e horizontal, uma significativa redução no sorriso gengival, um suave aumento da altura facial anteroinferior (FI) e um perfil harmonioso ao final do tratamento. Em 2000, Janson et al. 7 avaliaram 27 pacientes Classe II, divisão 1, e 3 pacientes Classe I, tratados por 26 meses com o aparelho guia de irrupção. Os resultados demonstraram significativo incremento de crescimento mandibular, com o aumento da altura facial anteroinferior; migração para mesial dos molares inferiores; retrusão e inclinação lingual dos incisivos superiores, com restrição de sua irrupção; e protrusão dos incisivos inferiores. Concluíram que a correção da má oclusão de Classe II e a diminuição do overjet e overbite ocorreram devido a um pequeno, mas significativo, incremento esquelético e a uma maior movimentação dentária. Os resultados obtidos por Keski-Nisula et al. 8, em 2008, indicaram que a intervenção ortodôntica utilizando guias de irrupção durante a fase de dentadura mista representa um importante recurso para a correção de más oclusões de Classe II, más oclusões com trespasse horizontal acentuado, mordida profunda, mordida aberta, casos com apinhamentos, mordida cruzada anterior ou mordida cruzada vestibular. Durante o tratamento, os incisivos e os primeiros molares permanentes foram guiados para suas posições ideais no arco dentário, o que não ocorreu com o grupo controle, não-tratado, que apresentou apenas pequenas 92 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009

Paulo Roberto dos Santos-Pinto, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto, Luiz Gonzaga Gandini, ry dos Santos-Pinto, Karina Dela Coleta Eiras Pizol, Nancy dos Santos-Pinto acomodações oclusais. Portanto, segundo os autores, o tratamento com os guias de irrupção durante a fase de dentadura mista constitui um método efetivo para o restabelecimento da oclusão normal, possibilitando, assim, a eliminação de um tratamento ortodôntico futuro. MÉTODO DE SELEÇÃO Para a seleção do aparelho, existem duas réguas de medição: uma régua rosa, utilizada para a medição na dentadura mista (Oclus-o-guide Série G), e uma régua branca, utilizada para a medição na dentadura permanente (Oclus-o-guide Séries N, X ou U). figura 1 ilustra o modo de seleção do Oclus-o-guide da Série N, semelhante ao utilizado nos casos que serão descritos neste trabalho. régua branca deve ser posicionada com a especificação no extraction voltada para os dentes do arco superior, sendo a medida realizada da distal do canino superior esquerdo (Fig. 1) à distal do canino superior direito (Fig. 1). O número coincidente com a face distal do canino superior direito representa o tamanho ideal do aparelho a ser solicitado, como mostra a figura 1. O aparelho a ser solicitado seria o Oclus-o-guide da Série N número 4, portanto Oclus-o-guide 4N (Fig. 2). pós a instalação do aparelho, os pacientes devem ser orientados a utilizá-lo por 4 horas durante o dia (em uso alternado) e FIGUR 1 - Régua Ortho-Tain branca posicionada para a seleção do Oclus-o-guide série N: ) visualização do número do aparelho indicado para esse paciente, tendo como referência a superfície distal do canino superior direito; ) ponto de encaixe da régua para possibilitar a medição do aparelho. FIGUR 2 - ) parelho Oclus-o-guide série N; ) vista intrabucal anterior do aparelho. FIGUR 3 - Vistas intrabucais do aparelho Oclus-o-guide: ) lateral direita e ) lateral esquerda. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009 93

Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide durante a noite toda (em uso contínuo). No período diurno, exercícios de compressão devem ser realizados por um minuto, aproximadamente, intercalados com períodos de repouso de meio minuto, totalizando 15 minutos de exercício em cada hora de utilização do aparelho (Fig. 2, 3). Nos casos clínicos descritos a seguir, serão apresentados os tratamentos realizados em dois pacientes que apresentavam má oclusão de Classe II, com mordida profunda. correção da má oclusão foi obtida apenas com a utilização do Oclus-o-guide. Os aparelhos utilizados para os tratamentos realizados foram os da Série N, pois os pacientes se encontravam em fase de dentadura permanente e durante o período de surto pubertário. CSO CLÍNICO 1 Paciente D.H., do gênero masculino, com 11 anos e 8 meses de idade, apresentava bom equilíbrio entre os terços faciais (Fig. 4), face Padrão 1, com comprimento mandibular satisfatório, evidenciado pela linha queixo e pescoço (Fig. 4), e sorriso agradável (Fig. 4C). FIGUR 4 - Fotografias extrabucais iniciais: ) de perfil, ) frente e C) sorrindo. C C D FIGUR 5 - Fotos intrabucais iniciais: ) lateral direita, ) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior e E) oclusal inferior. E FIGUR 6 - Telerradiografia cefalométrica em norma lateral. 94 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009

Paulo Roberto dos Santos-Pinto, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto, Luiz Gonzaga Gandini, ry dos Santos-Pinto, Karina Dela Coleta Eiras Pizol, Nancy dos Santos-Pinto presentava uma má oclusão de Classe II, divisão 2, com mordida profunda de, aproximadamente, 7mm e retroinclinação dos incisivos superiores e inferiores (Fig. 5). análise da telerradiografia cefalométrica demonstrou que o paciente apresentava um bom relacionamento maxilomandibular, padrão de crescimento horizontal e importante retroinclinação dos incisivos superiores e inferiores (Fig. 6). seleção do aparelho foi realizada como mostra a figura 1. O Oclus-o-guide foi, então, instalado e utilizado por 4 horas durante o dia (de modo alternado) e durante toda a noite (de modo contínuo), como descrito anteriormente. pós 2 anos de tratamento, observou-se um adequado equilíbrio facial (Fig. 7), um perfil harmonioso (Fig. 7) e um sorriso agradável (Fig. 7C). terapia permitiu o reequilíbrio da estruturas dentofaciais, promovendo a correção da má oclusão de Classe II e da mordida profunda (Fig. 8). sobreposição dos traçados realizados no início e ao final do C FIGUR 7 - Fotografias extrabucais finais: ) perfil, ) frente e C) sorriso. C D FIGUR 8 - Fotos intrabucais finais: ) lateral direita, ) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior e E) oclusal inferior. E Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009 95

Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide FIGUR 9 - ) Telerradiografia cefalométrica em norma lateral final. ) Sobreposição dos traçados cefalométricos inicial e final. FIGUR 10 - Radiografia panorâmica final. TEL 1 - Medidas cefalométricas (padrão USP) iniciais e finais do paciente D.H. medida norma inicial final F.NP NP SN SN N SND NS.Gn NS.PlO NS.GoGn GoGn.PlO 1/./1 1/.NS 1/.N 1/-N /1.N /1-N /1-NP 1/-órbita /1-linha I H.N H-nariz P-N eminência M. FM FMI IMP 6/-N /6-N - ocl. 88º 0º 82º 80º 2º 76º 67º 14º 32º 18º 131º 103º 22º 4mm 25º 4mm 5mm 9-12º 9-11mm 8mm 25º 68º 87º 84,9º 4,3º 79,2º 75,6º 3,6º 73,5º 65,9º 11,8º 31,6º 19,7º 149,7º 89,0º 9,8º 1,2mm 16,9º 1,5mm -2,2mm -8,8mm 3,2mm 4,4º 12,1mm 3, 6,9mm 26,7º 60,8º 92,5º 26,7mm 21,7mm 1,2mm 83,5º 2,3º 78,1º 75,6º 2,5º 73,5º 67,3º 16,6º 33,1º 16,4º 145,6º 88,8º 10,6º 2,6mm 21,2º 3,6mm 0,9mm -9,1mm -0,6mm 4,4º 12,1mm 3, 6,9mm 26,7º 60,8º 92,5º 26,7mm 21,7mm 1,2mm tratamento (Fig. 9) evidenciou um adequado desenvolvimento mandibular, a manutenção do padrão de crescimento facial (Fig. 7) e uma reorganização dentoalveolar com consequente correção da mordida profunda. Os incisivos, todavia, permaneceram verticalizados, o que pode ser visualizado nas imagens intrabucais das figuras 8 e 8C, na telerradiografia (Fig. 9), na sobreposição dos traçados cefalométricos (Fig. 9) e nas medidas cefalométricas (Tab. 1). Na avaliação da radiografia panorâmica obtida ao final do tratamento (Fig. 10), verificou-se um adequado paralelismo entre as raízes e a preservação dos dentes e estruturas de suporte, demonstrando que a correção foi realizada respeitando os limites biológicos do paciente. CSO CLÍNICO 2 Paciente L.T.M.R., do gênero masculino, com 13 anos e 11 meses de idade, bom equilíbrio entre os terços faciais (Fig. 11), face Padrão 2 com ângulo nasolabial aberto (Fig. 11) e adequada linha do sorriso (Fig. 11C). presentava má oclusão de Classe II com mordida profunda de, aproximadamente, 6mm; incisivos superiores verticalizados e vestibuloversão dos caninos superiores (Fig. 12). análise da telerradiografia cefalométrica demonstrou que o paciente apresentava maxila bem posicionada em relação à base do crânio e mandíbula suavemente retruída, retroinclinação dos incisivos e equilibrado padrão de crescimento facial (Fig. 13). pós 2 anos e 6 meses de tratamento, observou-se adequado equilíbrio facial (Fig. 14), perfil harmonioso (Fig. 14), sorriso agradável (Fig. 14C) e manutenção do padrão facial do paciente. 96 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009

Paulo Roberto dos Santos-Pinto, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto, Luiz Gonzaga Gandini, ry dos Santos-Pinto, Karina Dela Coleta Eiras Pizol, Nancy dos Santos-Pinto C FIGUR 11 - Fotografias extrabucais iniciais: ) perfil, ) frontal e C) sorrindo. D E FIGUR 12 - Fotos intrabucais iniciais: ) lateral direita, ) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior e E) oclusal inferior. C FIGUR 13 - Telerradiografia cefalométrica em norma lateral inicial. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009 97

Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide C FIGUR 14 - Fotos extrabucais finais: ) perfil, ) frontal e C) sorrindo. C D FIGUR 15 - Fotos intrabucais finais: ) lateral direita, ) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior e E) oclusal inferior. E 98 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009

Paulo Roberto dos Santos-Pinto, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto, Luiz Gonzaga Gandini, ry dos Santos-Pinto, Karina Dela Coleta Eiras Pizol, Nancy dos Santos-Pinto FIGUR 16 - ) Telerradiografia cefalométrica em norma lateral final e ) sobreposição dos traçados cefalométricos das telerradiografias inicial e final. FIGUR 17 - Radiografia panorâmica final. TEL 2 - Medidas cefalométricas (padrão USP) iniciais e finais do paciente L.T.M.R. medida norma inicial final F.NP NP SN SN N SND NS.Gn NS.PlO NS.GoGn GoGn.PlO 1/./1 1/.NS 1/.N 1/-N /1.N /1-N /1-NP 1/-órbita /1-linha I H.N H-nariz P-N eminência M. FM FMI IMP 6/-N /6-N - ocl. 88º 0º 82º 80º 2º 76º 67º 14º 32º 18º 131º 103º 22º 4mm 25º 4mm 5mm 9-12º 9-11mm 8mm 25º 68º 87º 89,4º 9,8º 78,6º 73,4º 5,2º 70,3º 69,9º 17,9º 35,0º 17,1º 114,7º 98,3º 19,7º 4,6mm 40,4º 4,2mm 3,8mm 0,7mm -1,8mm 10,5º 6,2mm 2,2mm 5,8mm 20,1º 47,8º 112,1º 31,2mm 26,3mm 5, 92,0º 3,3º 77,9º 74,8º 3,1º 72,5º 69,6º 18,0º 33,3º 15,3º 115,9º 101,8º 23,8º 5,3mm 37,1º 4,7mm 2,9mm 4,9mm -2,2mm 12,0º 3,5mm 7,9mm 9,9mm 17,7º 53,2º 109,1º 29,7mm 23,2mm 1,9mm terapia permitiu o reequilíbrio das estruturas dentofaciais, promovendo a correção da má oclusão de Classe II e a correção da mordida profunda (Fig. 14, 15). sobreposição dos traçados realizados no início e no final do tratamento evidenciou que ocorreu um importante desenvolvimento maxilomandibular, preservando, todavia, as características individuais do paciente e o padrão de crescimento facial (Fig. 16, Tab. 2). Na avaliação da radiografia panorâmica, obtida ao final do tratamento (Fig. 17), verificou-se a integridade dos dentes e estruturas de suporte, demonstrando que a terapia com o Oclus-o-guide foi realizada respeitando-se os limites biológicos. CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que o aparelho Oclus-o-guide, quando utilizado corretamente por 4 horas durante o dia em uso alternado e durante a noite em uso contínuo, representa um recurso eficaz na correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda, haja vista que nenhum outro recurso foi utilizado nos casos clínicos apresentados. O Oclus-o-guide é uma alternativa importante para o tratamento em pacientes que desejam a correção da má oclusão sem a utilização de aparelhos fixos. Consiste, portanto, em um importante recurso, pois promove a correção da má oclusão de modo simples e eficaz, preservando a integridade dos dentes e estruturas de suporte. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009 99

Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide Class II deep bite malocclusion correction with the Oclus-o-guide eruption guidance appliance bstract characteristic of major concern present in the malocclusions is the deep overbite or the excessive vertical trespass of the anterior teeth. The lateral and protrusive mandibular movements in that case are limited and could cause temporomandibular joint problems. One of the objectives of the Oclus-o-guide is to establish a proper overbite before the full eruption of the canine and premolar and before the formation of mature collagen fibers. fter the malocclusion correction it is important a retention period until the completion of the periodontal fiber reorganization. KEYWORDS: Class II. Oclus-o-guide. Eruption guidance. Dental positioner. Deep bite. Functional Orthopedics. The Oclus-o-guide represents a combination of a positioner and a miofunctional appliance. The advantage of that combination is to allow the appliance to work as an activator, liberating the mandibular growth and establishing the correct horizontal and vertical maxillary relationship. Simultaneously, the Ocluso-o-guide induces a correction of the anterior crowding and posterior teeth small rotations, ensuring a favorable intercuspidation at the end of the treatment. The case presented was treated with the Oclus-o-guide, evidencing its clinical efficacy. REFERÊNCIS 1. ERGERSEN, E. O. The preformed retainer: principles and clinical applications. St. Louis: merican ssociation of Orthodontics, audio-visual library, 1970. 2. ERGERSEN, E. O. The eruption guidance appliance: how it works, how to use it. Funct. Orthod., Winchester, v. 1, p. 28-35, Sept./Oct. 1984. 3. ERGERSEN, E. O. The eruption guidance myofunctional appliance: case selection, timing, indications and contraindications in its use. Funct. Orthod., Winchester, v. 2, no. 1, p. 17-33, Jan./Feb. 1985. 4. ERGERSEN, E. O. The eruption guidance myofunctional appliance in the consecutive treatment of malocclusion. Gen. Dent., Chicago, v. 34, no. 1, p. 24-29, Jan./ Feb. 1986. 5. DRLING,. I.; LEVERS,. G. H. The pattern of the eruption. In: POOLE, D. F. G.; STCK, M. V. The eruption and occlusion of teeth. London: utterworth, 1976. p. 80-96. 6. JNSON, G.; SILV, C. C..; HENRIQUES, J. F. C.; FREITS, M. R.; GURGEL, J..; KWUCHI, M. Y. Correção da sobremordida com o aparelho guia de erupção: apresentação de dois casos clínicos. Rev. Dental Press Ortodon. Ortop. Facial, Maringá, v. 3, n. 1, p. 32-46, jan./fev. 1998. 7. JNSON, G. R. P.; SILV, C. C..; ERGERSEN, E. O.; HENRIQUES, J. F. C.; PINZN,. Eruption guidance appliance effects in the treatment of Class II, division 1 malocclusions. m. J. Orthod. Dentofacial Orthop., St. Louis, v. 117, no. 2, p. 119-129, Feb. 2000. 8. KESKI-NISUL, K.; HERNESNIEMI, R.; HEISKNEN, M.; KESKI-NISUL, L.; VRREL, J. Orthodontic intervention in the early mixed dentition: a prospective, controlled study on the effects of the eruption guidance appliance. m. J. Orthod. Dentofacial Orthop., St. Louis, v. 133, no. 2, p. 254-260, Feb. 2008. 9. LINDER, H. iometrische untersuchunger des normalgebisses in verschiedenen lebensaltern: intermaxillare und dentofaciale beziehungen. 1930. Dissertation. Rheinischen Friedrich-Wilhem Universitat, onn, 1930. 10. SILV, C.. valiação cefalométrica dos efeitos do guia de erupção no tratamento da má oclusão de Classe II divisão 1, após 2 anos. 1997. 162 f. Dissertação (Mestrado)-Faculdade de Odontologia de auru, Universidade de São Paulo, auru, 1997. Endereço para correspondência Paulo Roberto dos Santos-Pinto Rua mérico rasiliense, 1.702, sl. 5 - Vila Seixas CEP: 14.015-050 - Ribeirão Preto / SP E-mail: dr-pauloroberto@hotmail.com 100 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009