Herança não mendeliana Prof. Victor Martin Quintana Flores

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Transcrição:

Genética Básica Herança não mendeliana Prof. Victor Martin Quintana Flores 1

Herança não mendeliana Efeito materno Herança epigenética Herança extracromossômica 2

Herança epigenética 1. Compensação de dosagem 1.1 Mecanismos de compensação 1.1.1 Inativação do cromossomo X 1.1.2 Dosagem em mamíferos 1.1.3 Aspectos moleculares da compensação em mamíferos. 2. Imprinting 2.1 Herança em genes que sofreram imprinting 2.2 Metilação 2.3 Doenças humanas relacionadas com genes que sofreram imprinting 3

Herança extracromssômica 1. Mitocôndrias e Cloroplastos 1.2. Padrão de herança de cloroplastos e mitocôndrias. 1.3. Variações de herança mitocondrial e de cloroplastos em diferentes espécies. 1.4. Doenças humanas causadas por mutações nas mitocôndrias. 1.5. Teorias sobre o DNA extranuclear 4

Efeito materno Caracol aquático Limnea peregra 5

Mecanismos do efeito materno 6

O efeito materno portanto é devido ao genótipo materno. O genótipo paterno é insignificante no fenótipo pois estes genes serão expressos tardiamente. O RNA e o produto gênico primário dos genes maternos das células guarda, dura um tempo considerável após o ovócito ser fecundado Certamente que as evidências de efeito materno são encontradas em outras espécies, principalmente quando se estuda os primeiros estágios embrionários. Em Drosophila os pesquisadores identificaram algumas dúzias de genes que apresentam efeito materno 7

Herança epigenética 1.1 Compensação de dosagem Entende-se como compensação de dosagem aos mecanismos que visam eliminar as diferenças no número de cromossomos sexuais ativos. Um dos cromossomos é alterado tendo como resultado níveis de expressão similar entre machos e fêmeas mesmo que estes não possuem os mesmos cromossomos sexuais. 8

Mecanismos de compensação de dosagem em diferentes espécies Cromossomos sexuais em: Espécie Mamíferos placentários Mamíferos marsupiais Fêmeas Machos Mecanismo de compensação XX XY Um dos cromossomos X nas células somáticas é desativado. Em certas espécies o cromossomo X paterno é desativado enquanto que em outras espécies como humanos a inativação é aleatória nas células somáticas da fêmea XX XY O cromossomo X paterno é desativado nas células somáticas femininas Drosophila melanogaster Caenorhabditis elegans XX XY O nível de expressão do cromossomo X nos machos é incrementado duas vezes XX * X0 O nível de expressão dos dois cromossomos X do hermafrodita é reduzido 50% com respeito ao cromossomo no macho * Em C. elegans o indivíduo XX é hermafrodita e não fêmea 9

No sistema e aves e peixes o sistema de compensação não está entendido completamente existindo algumas evidências que suportam algumas teorias as quais precisam ser testadas e validadas futuramente. Em aves o cromossomo Z é um dos maiores, está entre o quarto ou quinto cromossomo em tamanho, no entanto o cromossomo w é o menor de todos analogamente ao cromossomo y em mamíferos O cromossomo Z contem quase a totalidade de todos os genes relacionados ao sexo O cromossomo w além de ser pequeno possui muitas seqüências repetidas que não codificam nenhuma proteína. ZZ macho Zw fêmea 10

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Núcleo de célula somática de mulher A seta indica o corpúsculo de Barr (Murray Barr Ewart Bertram 1949). Cromossomo X inativado (Susumo Ohno 1961). 12

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Gato calico A diferença entre as cores laranja e preta é devida a inativação aleatória do cromossomo X. A região laranja possui o cromossomo com o gene para pêlo preto desativado. A região preta possui o cromossomo para cor laranja desativado. Somente a exceção XXY pode fazer com que machos possam apresentar este fenômeno. As fêmeas que apresentam este fenômeno devem ser heterozigotas para os genes de cor de pêlo. A cor branca é devido a um outro alelo dominante localizado em gene diferente. 14

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B b Cromossomo materno que contem o gene para cor de pêlo preto Cromossomo paterno que contem o gene para cor de pêlo branco Inativação aleatória do cromossomo X Corpúsculos de Barr Posterior desenvolvimento Camundongo com manchas brancas e pretas 16

Inativação do cromossomo X em mamíferos depende do locus Xic e do gene Xist Eeva Therman e Klaus Patau A presença do lócus Xic é fundamental para a inativação do cromossomo X. Evidências mostraram que em células onde se perdeu por mutação cromossômica um dos loci Xic, nenhum cromossomo era desativado. 17

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Herança epigenética 1.2 Imprinting genômico O termo imprinting implica em um tipo de marcação do DNA que possui memória. Exemplo, aves recem nascidas reconhecem marcas nos pais permitindo srem diferenciados de outras aves. O termo imrpinting genômico se refere a uma situação análoga onde um segmento do DNA é marcado e esta marca é retida e reconhecida durante a vida do organismo que herdou esta marcação. Os fenótipos produzidos por estes genes marcados (ou que sofreram imrpinting) seguem um padrão não mendeliano de herança devido a que o processo de marcação torna possível que a descendência possa diferenciar os alelos maternos e paternos herdados. Dependendo como os alelos são marcados a descendência expressa um dos dois alelos, mas não os dois. Isto é chamado de expressão monoalélica. 19

Igf-2m Igf-2m Genótipo materno X Igf-2 Igf-2 Genótipo paterno Igf-2 Igf-2 X Genótipo materno Igf-2m Igf-2m Genótipo paterno Igf-2 Igf-2m Igf-2 Igf-2m Somente o alelo Igf-2 é expresso nas células somáticas do heterozigoto Somente o alelo Igf-2m é expresso nas células somáticas do heterozigoto Denota o alelo silenciado na descendência Denota o alelo que é expresso na descendência 20

Os mecanismos de imprinting ocorrem em numerosas espécies de insetos, plantas e mamíferos. Este mecanismo pode implicar um simples gene, parte de um cromossomo, um cromossomo inteiro ou todos os cromossomos de um dos pais. Imprinting de genomas pode estar envolvido na escolha do cromossomo X a ser desativado, pois pode influenciar na escolha do cromossomo a ser desativado 21

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Exemplos de genes de mamíferos e herança de doenças humanas que envolvem genes que sofreram imprinting Gene Alelo expresso Função WT1 Materno Tumor supressor de gene Wilms. Suprime o crescimento descontrolado das células INS Paternal Insulina. Hormônio envolvido no crescimento celular e no metabolismo. Igf-2 Paterno Fator de crescimento 2 do tipo insulina. Similar a insulina. Igf-2R Materno Receptor do fator de crescimento 2 do tipo insulina. H19 Materno Desconhecido SNRPN Paterno Fator de splicing Gabrb Materno Receptor de neurotransmissor 23

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Herança extranuclear ou extracromossomica Herança extranuclear ou herança citoplasmática Mitocôndrias e Cloroplastos Estudos mostram semelhanças entre o DNA destas organelas com DNA genômico de bactérias. O DNA é localizado dentro da organela em uma região demoninada NUCLEOIDE O genoma organelar é formado por cromossomo único de DNA dupla fita circular, embora possam existir várias cópias deste cromossomo. Cloroplastos e mitocôndrias podem conter vários nucleoides O tamanho do genoma mitocondrial varia muito entre espécies, por exemplo existe uma variação de 400 vezes entre o tamanho. Em geral o genoma de mitocôndrias de animais tende a ser muito pequeno, os de fungo, algas e protistas de tamanho intermediário e as de planta invariavelmente são os maiores. 25

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Composição genética de mitocôndrias e cloroplastos Espécie Organela Nucleoide por organela Número total de cromossomos por organela Tetrahymena Mitocôndria 1 6-8 Camundongo Mitocondria 1-3 5-6 Chlamydomonas Cloroplasto 5-6 ~80 Euglena Cloroplasto 20-34 100-300 Plantas superiores Cloroplastos 12-25 ~60 Dados de Gillham, N.W. (1994). Organelle genes and Genomes. Oxford University Press, New York 27

Genoma de mitocondria humana O tamanho é 1% do genoma bacteriano mtdna Humano 17.000pb 28

Genoma de cloroplasto Cloroplastos possuem tamanhos de 100.000 a 200.000pb 29

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Herança de cloroplastos em Chlamydomonas -alga verde unicelular (eucarioto) -contêm único cloroplasto e numerosas mitocôndrias -cruzamentos: mat+ x mat- : contribuição citoplasmática igual no zigoto -mutação sms (sensível à estreptomicina) smr (resistente) smr mat+ x sms mat- prole smr sms mat+ x smr mat- prole sms transmitido somente pelo parental mat+ transmissão do cloroplasto -após fertilização fusão dos cloroplastos meiose do zigoto mas apenas cloroplasto do parental mat+ permanece 35

Transmissão de organelas em diferentes espécies Espécie Organela Transmissão Mamíferos Mitocôndria Herança materna Mexilhão Mitocôndria Biparental S. Cerevisiae Mitocôndria Biparental Myxomicetos Mitocôndria Usualmente herança materna; porém herança paterna foi encontrada no gênero Allomyces Chlamydomonas Mitocôndria Herança paterna usando o sistema de cruzamento mt -. Chlamydomonas Cloroplastos Herança materna usando o sistema de cruzamento mt + Angiospermas Gimnospermas Mitocôndrias e cloroplastos Mitocôndrias e cloroplastos A herança materna é muito comum, mas a herança biparental não é incomum em várias espécies Usualmente herança paterna 36

Exemplos de doenças humanas mitocondriais Doença Gene mitocondrial mutado Neuropatia ótica hereditária de Leber Fraqueza muscular neurogênica Encefalomiopatia mitocondrial, acidose láctica e paralise local temporária Miopatia mitocondrial Uma mutação em algum gene mitocondrial que codificam proteínas envolvidas na respiração celular: ND1, ND2, CO1, ND4, ND5, ND6 e cytb Mutação no gene ATPase6 que codifica a subunidade mitocondrial da ATP sintase, necessária para a síntese de ATP Mutação em gene que codifica trna para leucina e lisina Mutação em gene que codifica trna para leucina Miopatia materna e cardiomiopatia Epilepsia mioclonica e fibras musculares irregulares Mutação em gene que codifica trna para leucina Herança materna usando o sistema de cruzamento mt + Dados de : Wallace, D. C. (1993) Mitochondrial diseases: genotype versus phenotype. Trends Genet. 9, 128-33 37

Lynn Margulis Carl Sagan Chicago 5 março de 1938 Massachusetts 22 novembro de 2011 Nova York 9 novembro de 1934 Seattle 20 dezembro de 1996 Teoria endossimbionte 38

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