CULTURA DA PIMENTA 1 INTRODUÇÃO

Documentos relacionados
Nutrição, Adubação e Calagem

Olericultura. A Cultura da Abobrinha (Cucurbita pepo) Família Cucurbitácea

MANEJO DA ADUBAÇÃO. Prof. Dr. Danilo Eduardo Rozane.

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

A Cultura do Algodoeiro

Produção de hortaliças (Aula 1-2ª. parte)

SELEÇÃO E CUIDADOS COM AS RAQUETES

CLAUDINEI KURTZ Eng. Agrônomo, Dr. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

Produção de Melão e Melancia. JONY EISHI YURI Pesquisador da Embrapa Semiárido

Recomendação de correção e adubação para tomate de mesa. Giulia Simioni Lívia Akasaka Patrick Oliveira Samara Barbosa

Cultura da Alface. EEEP PROFESSOR SEBASTIÃO VASCONCELOS SOBRINHO Compromisso com o Sucesso de Nossos Jovens

VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DO CULTIVO DO TOMATEIRO IRRIGADO *

Cultivo de oleaginosas em Unidade de Observação no município de Resende-RJ

Enriquecimento de substrato com adubação NPK para produção de mudas de alface

INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE CULTIVO SOBRE A PRODUÇÃO DE ALFACE

Enriquecimento de substrato com adubação NPK para produção de mudas de tomate

MELANCIA SISTEMA DE PRODUÇÃO PARA ESTADO DE GOIÁS. Vinculadas A Secretaria da Agricultura. Boletim No 216. SBrie Sistema de Pmduçao

Resumo Expandido. Palavras-Chave: capsicum spp., germoplasma, características morfoagronômicas.

Feijão. 9.3 Calagem e Adubação

Nova cultivar de Pimenta Cumari: caracterização de uma linhagem e solicitação de proteção de cultivar.

Cultivo e Comercialização

OLERICULTURA GERAL Implantação da horta e Tratos culturais.

Colheita e armazenamento

Recomendação de correção e adubação para cultura da alface

Café. Amostragem do solo. Calagem. Gessagem. Produtividade esperada. Espaçamento (m)

Culturas. A Cultura da Pupunha

DESENVOLVIMENTO DE MUDAS DE TOMATE EM SUBSTRATO CONTENDO TORTA DE MAMONA

Adubação orgânica do pepineiro e produção de feijão-vagem em resposta ao efeito residual em cultivo subsequente

AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE PIMENTA COMO PORTA-ENXERTO PARA PRODUÇÃO DE MUDAS DE PIMENTÃO

Estratégias de manejo do solo e fertilidade

PROPAGAÇÃO. Plantas Medicinais

18 PRODUTIVIDADE DA SOJA EM FUNÇÃO DA

Recomendação de calagem e adubação

Planejamento e instalação de pomares

15 AVALIAÇÃO DOS PRODUTOS SEED E CROP+ EM

PRODUTIVIDADE DA CEBOLA EM FUNÇÃO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA

Do grupo das hortaliças, O rei das hortaliças

PRODUTIVIDADE DA BATATA, VARIEDADE ASTERIX, EM RESPOSTA A DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO NA REGIÃO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ-SC

MELANCIA GUADALUPE HÍBRIDO F1

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO: Amostragem, interpretação, recomendação de calagem e adubação.

JOSÉ LINCOLN PINHEIRO ARAUJO 1 ; EDILSON PINHEIRO ARAUJO 2

Anais do Seminário de Bolsistas de Pós-Graduação da Embrapa Amazônia Ocidental

Produção de Melão. JONY EISHI YURI Pesquisador Embrapa Semiárido

MANEJO DO SOLO PARA O CULTIVO DE HORTALIÇAS

Prof. Francisco Hevilásio F. Pereira Cultivos em ambiente protegido

Avaliação Preliminar de Híbridos Triplos de Milho Visando Consumo Verde.

TÉCNICA CULTURAL PARA PRODUÇÃO DE SEMENTES

Programa Analítico de Disciplina FIT466 Olericultura II

Nº17, Dez./97, p.1/6 COMUNICADO TÉCNICO AVALIAÇÃO DO CONSÓRCIO DE CENOURA COM ALFACE EM SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO 1

Resumo Expandido Título da Pesquisa Germinação e desenvolvimento de progênies de pimenta cumari Palavras-chave

Como evitar o entortamento de cenouras

Passo a Passo para a Formação de uma Boa Pastagem

Continente asiático maior produtor (80%) Arroz sequeiro perdendo área para milho e soja

APLICAÇÃO DE SULFATO DE AMÔNIO COMO FONTE DE NITROGÊNIO NA CULTURA DA ALFACE

Estande em Cebola: fator fundamental para o sucesso do empreendimento.

7 Consórcio. Dino Magalhães Soares Tomás de Aquino Portes

Amaldo Ferreira da Silva Antônio Carlos Viana Luiz André Correa. r José Carlos Cruz 1. INTRODUÇÃO

Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação. Resumo Expandido

17 EFEITO DA APLICAÇÃO DE MICRONUTRIENTES NA

PIRÂMIDE DE HORTALIÇAS: UMA ALTERNATIVA DE HORTA DOMÉSTICA. Goede, Júlia Eduarda 1 ; Odelli, Fernanda 2 ;

Análise do Custo de produção por hectare de Milho Safra 2016/17

Adubação na Cultura de Milho

Recomendação de Correção de Solo e Adubação de Feijão Ac. Felipe Augusto Stella Ac. João Vicente Bragança Boschiglia Ac. Luana Machado Simão

Cultivo do Feijão Irrigado na Região Noroeste de Minas Gerais

Avaliação agronómica de variedades de tomate

Fruticultura. A Cultura do Umbu. Nome Cultura do Umbu Produto Informação Tecnológica Data Janeiro Preço - Linha Fruticultura Resenha

PODA E CONDUÇÃO DA FIGUEIRA

13 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO VIA

Cultivo Protegido do Tomateiro em Substrato de Fibra de Coco. Fábio Rodrigues de Miranda Embrapa Agroindústria Tropical

RELATÓRIO DE PESQUISA 11 17

PRODUÇÃO E QUALIDADE DE TOMATE EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE CACHOS POR PLANTA.

PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA SOB INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA E DOSES DE MATERIAL HÚMICO

Sistema de produção de cana-de-açúcar para agricultura familiar

Germinação e desenvolvimento de progênies de pimenta cumari

VI Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí VI Jornada Científica 21 a 26 de outubro de 2013

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

Prof. Francisco Hevilásio F. Pereira Cultivos em ambiente protegido

Recomendação de Correção de Solo e Adubação de Tomate

Formação e manejo de capineiras

Manejo de adubação da cebola NOMAD

Doses de potássio na produção de sementes de alface.

CÁLCULOS DE FECHAMENTO DE FORMULAÇÕES E RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO

ADUBAÇÃO NPK DO ALGODOEIRO ADENSADO DE SAFRINHA NO CERRADO DE GOIÁS *1 INTRODUÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOSTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENERGIA NA AGRICULTURA - PPGEA

Quadro 1 - Fatores para conversão de unidades antigas em unidades do Sistema Internacional de Unidades.

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

IRGA 424 OPÇÃO DE PRODUTIVIDADE

12. A cultura do arroz em outras modalidades de cultivo

PROGRAMA DE DISCIPLINA. Disciplina: Olericultura Geral Código da Disciplina: AGR 355. Semestre de oferta da disciplina: I e II

Manejo de adubação da cebola AKAMARU

a) Amostragem do solo; b) Seleção de métodos de análise; c) Interpretação dos resultados; d) Recomendação de adubação; e, e) Avaliação econômica.

Categoria Trabalho Acadêmico\Resumo Expandido ANÁLISE DO USO DE ADUBO ORGÂNICO NO CULTIVO DE GIRASSOL

Cultura da Soja Recomendação de Correção e Adubação

ANALISE DE PRODUÇÃO DA ALFACE AMERICANA E CRESPA EM AMBIENTES DIFERENTES

Pesquisa Institucional desenvolvida no Departamento de Estudos Agrários (DEAg) - Sistemas Técnicos de Produção Agropecuária 2

PIMENTAS. Capsicum ssp.

DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA RADICULAR DE TOMA- TEIRO (Lycopersicon esculentum Mill.) EM PLANTAS COM DIFERENTES IDADES ( 1 )

BIOFERTILIZANTE LÍQUIDO NO DESENVOLVIMENTO DE MUDAS DE PIMENTÃO¹

Caracterização de Sistemas de Produção de Milho na Região de Sete Lagoas, MG. Palavras chave : Zea mays, análise econômica, estimativa de rendimentos,

PROGRAMA DE DISCIPLINA. Disciplina: Olericultura Orgânica Código da Disciplina: AGR383. Semestre de oferta da disciplina: I e II

Transcrição:

CULTURA DA PIMENTA Ernani Clarete da Silva 1 Rovilson José de Souza 2 1 INTRODUÇÃO A produção de pimenta (Capsicum spp) para uso como condimento de mesa e de produtos alimentícios industrializados vem crescendo e, atualmente, é uma atividade olerícola bastante rentável, inclusive para pequenas indústrias de conservas (Quadro 1). Cinco espécies são comumente cultivadas no Brasil, principalmente no centro-sul e caracterizam-se pela pungência, coloração, formato e tamanho dos frutos. O sabor picante dos frutos provém da ação de uma substância denominada capsaicina que é acumulada pelas plantas no tecido da superfície da placenta e é liberada pelo dano físico às células quando se extraem sementes ou corta-se o fruto para qualquer fim. A importância das pimentas é atribuída às suas propriedades melhoradoras de sabor, aroma e cor dos alimentos. Embora tenha baixo valor nutritivo, pode-se destacar o teor vitamínico das pimentas malaguetas verde e vermelha que ¹ Engenheiro Agrônomo D. Sc. Bolsista FAPEMIG/DAG/UFLA ² Professor Titular DAG/UFLA

apresentam valores de 10.500 e 11.000 UI de vitamina A, respectivamente, próximo ao teor de 13.000 UI encontrado na cenoura, considerada uma das melhores fontes desta vitamina. Os teores de vitamina C total variam entre as espécies de pimenta, de 160 a 245mg/100g, valores estes comparáveis ao da goiaba (200 mg/100g) e superiores ao da laranja (60 mg/100g). Quanto à composição mineral, os teores de cálcio, ferro e fósforo são bem inferiores aos de outras hortaliças (Quadro 2). Algumas pimentas raramente são encontradas no comércio, mesmo de cidades interioranas, na forma de frutos "in natura" pois o processo de engarrafar a pimenta no meio rural está se tornando cada vez mais intenso. Em algumas regiões com tradição no cultivo destas espécies, existem pequenas indústrias que fazem o processamento utilizando, principalmente, o álcool e a cachaça. Quadro 1- Comercialização de pimenta durante o ano de 1998 na CEASA-MG Procedência Quantidade (kg) % Valor (R$) Preço médio ES 300 0,17 120,00 0,40 MG 168.000 98,30 81.160,48 0,52 SP 2485 1,53 1.284,33 0,52 TOTAL 170.785 100 82.564,81 0,48 Fonte - Departamento Técnico - CEASA, MG

Quadro 2 - Valores nutricionais da pimenta por 100 g de porção comestível crua Energia ( Kcal ) = 40 Na ( mg ) = 7 Proteinas ( g ) = 2,0 K ( mg ) = 340 Gordura (g ) = 0,2 Tiamina ( mg ) = 0,09 Carboidrato ( g ) = 9,5 Riboflavina ( mg ) = 0,09 Fibra ( g ) = 1,8 Niacina ( mg ) = 0,95 Ca ( mg ) = 18 Vitamina B6 ( mg) = 0,28 P ( mg ) = 46 Fe ( mg ) = 1,2 Fonte: Knott s Handbook for Vegetable Growers, 1988. Sementes Agroceres S.A. 2 BOTÂNICA E CULTIVARES As pimentas constituem um grupo de espécies botânicas com características próprias, que produzem frutos geralmente com sabor picante, embora também existam pimentas doces. A planta é arbustiva, atingindo 120 cm de altura, com ampla formação de ramificações laterais e possibilidade de tornar-se perene. Normalmente é autopolinizada, todavia a polinização cruzada pode ocorrer. O banco de germoplasma de hortaliças da Universidade Federal de Viçosa, identificou as seis espécies mais comuns no

Brasil, especialmente na região centro-sul. As cultivares apresentadas a seguir podem ser consideradas como um grupo, existindo diferenças às vezes marcantes entre as fontes das sementes que são utilizadas para cultivo. 2.1 PIMENTA MALAGUETA (Capsicum frutescens) Apresenta plantas arbustivas, vigorosas, com altura de 0,9 a 1,2m e bastante ramificadas. Os frutos, quando maduros, são de coloração vermelha, bem picantes, com 1,5 a 3,5cm de comprimento e 0,3 a 0,5cm de diâmetro. 2.2 DEDO DE MOÇA (Capsicum baccatum) Também é conhecida por "chifre de veado", ainda que esta denominação possa estar associada a um tipo de fruto de maior tamanho e, às vezes, de coloração vermelha mais intensa. A pimenta "dedo de moça" é arbustiva, com cerca de 1 m de altura. Os frutos medem cerca de 7,5cm de comprimento, 1 a 1,5cm de diâmetro e, quando maduros, são bem vermelhos. Neste grupo de pimentas a pungência é mais suave e o processo de murchamento do fruto pós-colheita é menos intenso que na malagueta.

2.3 PIMENTA CUMARI (Capsicum praetermissum) As plantas possuem geralmente porte menor que as pimentas anteriormente caracterizadas e internódios mais curtos. Os frutos são arredondados com cerca de 0,5cm de diâmetro ou um pouco ovalados com 0,6 a 0,7cm de comprimento e diâmetro de 0,5cm. É encontrada em estado selvagem, crescendo sob árvores diversas e capoeiras. No meio rural e indígena, as plantas crescem formando verdadeiros arbustos, sendo colhidas por alguns anos. 2.4 PIMENTA DE CHEIRO E PIMENTA DE BODE (Capsicum chinense) Na realidade pode ser considerada um grupo em razão da expressiva e bela variabilidade no formato e cor dos frutos. A denominação de pimenta de cheiro é utilizada para designar um maior número de tipos que a pimenta de bode? A pimenta de cheiro é encontradaexiste em tom amareloleitoso, amarelo-claro, amarelo-forte, alaranjado, salmão, vermelho e até preto e predomina no nordeste, norte e centrooeste do Brasil.

Na região sudeste é mais comum o cultivo da pimenta de bode, cujas plantas produzem frutos arredondados com cerca de 1cm de diâmetro, e as cores creme e vermelho são as mais comuns. Tanto a pimenta de cheiro quanto a de bode possuem pungência e um aroma característico que permitem sua diferenciação das demais pimentas, sendo a razão da preferência dos consumidores que a apreciam. 2. 5 PIMENTA DOCE (Capsicum annuum) São plantas de fácil cultivo, vigorosas e de ótima produtividade. Comercialmente é plantada a cultivar Agronômico 11, cujos frutos são de formato alongado e uniforme, sabor doce e coloração verde-intensa e brilhantes na fase de colheita. A exigência no mercado desta hortaliça fica restrita a frutos com 18cm de comprimento, 2cm de diâmetro e peso médio de 50 a 55g. A colheita pode iniciar-se aos 120 dias após a semeadura. Além das pimentas citadas, outras também cultivadas, às vezes com maior importância em algumas regiões são: comum, Redonda, cayenne long red, chapéu de frade ou cambucy, godê, pitanga e outras.

3 CLIMA E ÉPOCA DE PLANTIO As pimenteiras são plantas originárias de regiões latinoamericanas de clima tipicamente tropical, sendo mais exigentes que o pimentão, em calor. A época de semeadura fica então condicionada às peculiaridades climáticas locais. Em regiões serranas de temperatura amena, o cultivo de pimenta pode ser feito de agosto a fevereiro. Entretanto, a época mais conveniente para a semeadura da pimenta ocorre nos meses de setembro a novembro em razão da sua maior exigência em calor. Em regiões de inverno quente, pode-se plantar o ano todo. 4 SOLO, CALAGEM E ADUBAÇÃO A cultura se desenvolve bem em solo areno-argiloso, contudo, a análise química do solo é importante, a fim de avaliar o nível de fertilidade e indicar a adubação correta, de acordo com as características do solo e da planta. A calagem prévia do solo, quando ácido, é ponto de partida e condição indispensável para se o sucesso da cultura. As melhores produções são obtidas em solos com ph na faixa de 5,5 a 6,5.

Como o ciclo cultural da pimenta é mais longo do que o ciclo do pimentão, recomenda-se uma adubação mais farta, na base de 200-300g da fórmula 4-16-8 por planta, o que propicia um maior período de colheita. São necessárias coberturas nitrogenadas, feitas a cada 20-25 dias, geralmente 5 vezes, dependendo do vigor e da longevidade da cultura. A utilização de formulações com 16-00-12 em alternância com sulfato de amônio, 20-25g por planta, pode ser vantajosa devido ao fornecimento não só do nitrogênio mas também do potássio. 5 PROPAGAÇÃO Atualmente, o método de semeadura em bandejas de isopor (método mais moderno e mais prático) tem sido o mais usado por apresentar as seguintes vantagens: permite menor gasto de semente, seleção de mudas, menor danos às raízes por ocasião do transplante, melhor pegamento das mudas no campo, maior controle fitossanitário e permitir o transplante a qualquer hora do dia. Tal processo, porém, requer infra-estrutura apropriada como a construção de uma estufa com cobertura de plástico, onde são colocadas as bandejas de 128 células sobre cavaletes, de modo que fiquem suspensas. Uma estufa de 32m 2

tem capacidade para produção de 11.264 mudas (Figura 1), suficientes para o plantio de 1 ha (Anexo 1). Como substrato para enchimento das bandejas, encontram-se no comércio produtos elaborados à base de vermiculita expandida, compostos orgânicos, macro e micronutrientes. Entretanto, é recomendável que o olericultor prepare o seu próprio substrato utilizando partes iguais de vermiculita expandida ou casca de arroz carbonizada e composto orgânico. Para cada 20 litros da mistura, acrescentar 500 gramas da fórmula 4-14-8. As irrigações das bandejas devem ser freqüentes e brandas, a fim de evitar a lixiviação dos nutrientes. Outro processo utilizado na formação de mudas consiste na semeadura em sementeiras com posterior transplante para o local definitivo. O leito da sementeira deve ser poroso, fértil, com boa capacidade de retenção de água e bem destorroado. O canteiro para sementeira deve ter a dimensão de 80-100cm de largura (facilita tratos culturais), comprimento variável de acordo com o número de mudas que se deseja produzir, porém, nunca superior a 10 metros e altura de 15 a 20 cm. Para composição do leito da sementeira, colocar duas partes de terra para uma de esterco de curral bem curtido. Para adubação de plantio, usar de 200-300g/m 2 da formulação 4-14-8, incorporada ao solo com antecedência de, no mínimo, 5 dias da semeadura.

Copinho de jornal também pode ser utilizado para a produção das mudas. Para sua confecção, corta-se uma página de papel-jornal de tamanho padrão, no sentido transversal em quatro tiras. Uma garrafa de refrigerante com diâmetro de 6cm, fornece a forma, nela assinala uma altura de 10cm com uma tira de esparadrapo. Enrola-se a tira de papel para dentro, formandose o fundo sem utilização de cola. Após a dobragem, bate-se com o fundo da garrafa sobre a mesa, de modo a moldar bem o fundo do copinho. Retirados do seu molde, os copinhos apresentam a forma de um cilindro de 10 x 6cm. 6 PLANTIO E TRATOS CULTURAIS O transplante geralmente é feito quando as mudas apresentam de seis a oito folhas definitivas, cerca de 10 a 15cm de altura, o que acontece aproximadamente num período de 50 a 60 dias, na maioria das espécies de pimenta. Mudas produzidas em copinhos de jornal ou em bandejas podem ser transplantadas mais jovens, desde que sejam intensificados os cuidados para se ter boa percentagem de pegamento. O terreno definitivo deve ser arado, gradeado, sulcado e adubado. Na véspera do transplante, faz-se uma irrigação. As mudas são colocadas em covas ou em sulcos a uma

profundidade tal que possam ser cobertas com terra apenas até a uma altura do colo da planta, tendo o cuidado de não utilizar profundidade superior àquela que a muda estava no leito da sementeira ou viveiro, pois, além de não haver emissão de raízes adventícias, como ocorre com o tomateiro, mudas plantadas muito profundas podem permitir condições para que a podridão do colo se manifeste mais intensamente. Logo após o transplante, irriga-se abundantemente. O espaçamento adequado depende das condições de clima, da cultivar e dos tratos culturais a serem empregados. Quando é esperado um maior crescimento da planta, espaçamentos maiores devem ser adotados. Nas condições de São Paulo, para as pimentas malagueta, comum, chifre de veado e cumari, o espaçamento recomendado é de 1,20m x 0,80m. A pimenta é uma cultura exigente em água durante todo o ciclo cultural. Durante o período inicial da cultura e até início de florescimento, as irrigações poderão ser mais espaçadas, visando estimular o desenvolvimento radicular de modo a tornar a cultura mais eficiente na extração de água e nutrientes do solo, na fase de florescimento e frutificação. Recomenda-se irrigação com 20-25mm, aplicada a cada 5 dias, preferencialmente pelo sistema de infiltração, embora o sistema de aspersão possa ser usado com

restrição em virtude do agravamento de problemas fitossanitários (doenças). Atualmente, a irrigação por gotejamento, método que consiste em suprir de água as plantas em pontos localizados, tem sido amplamente utilizada pelos produtores graças à facilidade de operação do sistema, baixo consumo de mão-deobra e grande eficiência na aplicação de água às plantas. Entretanto, é desejável que o dimensionamento e a instalação do sistema seja feito por técnicos especializados. Quanto ao controle de plantas invasoras, o espaçamento usado para o estabelecimento das culturas no campo permite o uso de cultivadores mecanizados ou de tração animal entre as linhas e o complemento manual com enxada entre as plantas. Por isso, o uso de herbicida ainda é pequeno. A pimenteira, a exemplo das outras solanáceas é extremamente suscetível a doenças fúngicas, bacterianas e a pragas, portanto, deve-se observar constantemente as plantas, visando identificar doenças e insetos que possam estar atacando a cultura. O sucesso do empreendimento exige que um bom controle de pragas e doenças seja efetuado (Quadro 3).

Quadro 3- Principais pragas da pimenta e produtos registrados para o controle CONTROLE Pragas Produto Dosagem Observação Lagarta rosca (Agrotis ipsilon) Vaquinha(Epicauta atomaria) Trips (Frankliniella sp) Broca pequena do fruto (Neoleucinoides elegantalis) Pulgão (Myzus persicae) Carbamato (Sevin) Pirimicarb (PI-RIMOR) 100-150g por 100L água 100g por 100L água Pulverizar junto ao colo da planta 7 COLHEITA E COMERCIALIZAÇÃO A colheita inicia-se aos 100-150 dias da semeadura, prolongando-se por três meses, ou mais. É possível obter-se um período de colheita antes do inverno, seguindo-se outro período, logo que a temperatura se elevar, mais prolongado, de agosto a janeiro. Uma cultura bem cuidada, em bom estado fitossanitário e nutricional, poderá permanecer um segundo ano no terreno, com produtividade e qualidade dos frutos razoáveis. Entretanto, a produtividade no primeiro ano é sempre maior e os frutos são

geralmente melhores. Por tais razões, muitos olericultores do centro-sul preferem renovar suas culturas anualmente. O rendimento médio das pimenteiras varia de uma espécie para outra. A malagueta produz cerca de 6.000kg/ha, a dedo de moça 8.500kg/ha e a pimenta doce (Agronômico 11), em torno de 16.000kg/ha. Tradicionalmente utilizam-se caixas tipo "K" para as pimentas maiores, de coloração vermelha ou verde, de sabor picante ou doce. O peso líquido de embalagem cheia é de 12 a 15kg. Os frutos pequenos são comercializados embalados em garrafas preparadas em soluções de vinagre, óleo de cozinha ou aguardente, esta a mais utilizada e de maior aceitação no mercado. Quando o produtor não dispõe de infra-estrutura para a própria comercialização é importante, antes de iniciar o plantio, fazer um estudo de mercado, incluindo os supermercados, verdurões e, principalmente, empresas estabelecidas no mercado. Isto permitirá definir a forma, o volume e a freqüência das entregas, estabelecendo, assim, a área a ser cultivada. 8. AGRADECIMENTOS Ao professor Fábio Pereira Cartaxo ao pósgraduando Humberto Silva Santos, pelas valiosas sugestões.

4,00 m 0,30 1,32 0,76 4 m Pé direito = 2 m

Anexo 1- COEFICIENTES TÉCNICOS PARA PRODUÇÃO DE 1 ha DE PIMENTA (Primeiro ano) VALOR Especificação Unid. Quant. Unitário Total 1. SEMENTES kg 0,2 2. ADUBOS E CORRETIVOS Calcário dolomítico Esterco de curral Adubo químico plantio (4-14-8) Adubo químico cobertura (12-5-12) Bórax Sulfato de magnésio (foliar) kg kg kg kg kg kg 2.000 20.000 1.000 500 15 15 3. DEFENSIVOS Brometo de metila Inseticida sistêmico do solo Inseticida fosforado e carbamato Espalhante adesivo Fungicidas 4. SERVIÇOS Limpeza do terreno Aração e gradagem (2) Preparo de semente e semeadura Tratos culturais da sementeira Aplicação de corretivos, adubos, sistêmicos de solo, coveamento e plantio Adubação de cobertura Capinas, irrigação e aplicação de defensivos Colheita Transporte de insumos e máquinas lata kg L L kg d/h h/t d/h d/h d/h d/h d/h d/h d/h 10 40 6 2 5 5 5 6 10 40 10 80 600 10 Produção esperada: 1 o ano 6.000kg d/h = dia/homem h/t = hora/trator

9 REFERÊNCIAS COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais. 4ª aproximação. Lavras, 1989. 159p. COMPÊNDIO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS. 3ed. Andrei Editora Ltda., São Paulo, 478p. 1990. CORREA, L.G. Manual técnico de olericultura para o estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 130 p. 1997. FILGUEIRA, F.A.R. Manual de Olericultura: cultura e comercialização de hortaliças. São Paulo, Agronômica Ceres, 1982. v.2, 357p. MANUAL DE CONTROLE DE DOENÇAS E PRAGAS. Cooperativa Agrícola de Cotia, São Paulo, 241 p. PIMENTÃO E PIMENTAS. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.10, n.113 100p. maio 1984. SILVA, E.C. da; LEAL, N.R. Recomendações práticas para construção de estufas na região norte fluminense. Campos dos Goytacazes: Universidade Estadual do Norte Fluminense, Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias. 1997b,17p.(Boletim Técnico, 1)

CULTURA DA PIMENTA