DOENÇAS SECUNDÁRIAS DO CAFEEIRO NO BRASIL e seu controle Engºs. Agrºs. J. B. Matiello e S.R. Almeida MAPA/PROCAFÉ
Doenças mais importantes no cafezal Ferrugem, principal Secundárias Cercosporiose Phoma -Ascochyta Leprose Mancha aureolada Seca de ponteiros, de causa complexa Outras de pequena importância Roseliniose Amarelinho Fusariose Mancha americana Mancha manteicosa Koleroga
Fatores influentes na evolução das doenças Ligados à doença - patógeno, raças, virulencia, capacidade de disseminação etc. Ligados ao ambiente - pelas condições de temperatura, umidade, insolação, ventos, solos. Ligados à condição das plantas Variedade, espaçamento, carga pendente, estado nutricional etc Ligados à tecnologia de controle Natural (cultural e genético) e químico.
Clima com temperaturas mais altas, insolação elevada, com deficit hídrico. Solos pobres, arenosos ou com impedimentos. Plantas com carga alta, 1ª safra, variedades menos vigorosas e de maturação precoce e concentrada. Problemas de sistema radicular. Tratos mal feitos, nutrição deficiente (N, P e Mg), muito mato, ausência de pulverizações preventivas., Condições associadas à gravidade da Cercosporiose
Controle da Cercosporiose 1- Controle cultural Uso de variedades mais vigorosas, e, para regiões mais quentes, aquelas de maturação tardia. Usar espaçamentos que resultem menor produção por planta. Fazer os tratos culturais adequados, visando deixar as plantas fortalecidas, através de nutrição, controle do mato, irrigação, etc. Em regiões muito quentes, arborizar ou adensar para reduzir a insolação e o stress por carga
Controle da Cercosporiose 2- Controle químico Uso de fungicidas, para proteger, na época mais crítica, que coincide com a granação dos frutos (80-100 dias pósflorada). Controle entre dezembro e fevereiro, 2-3 pulverizações, período em que as plantas ficam mais susceptíveis e o ataque passa das folhas para os frutos. Mesma época de maior infecção pela ferrugem - uso de fungicidas protetivos adequados pode resultar no controle simultâneo das duas doenças. Controle deve ser preventivo, já que não existe, principalmente para a cercospora em frutos, fungicidas de efeito sistêmico para a doença.
, Controle da Cercosporiose 2- Controle químico (cont) Três grupos fungicidas são os mais eficientes contra a cercosporiose: os cúpricos, as estrobilurinas e os tiofanatos. Com eficiência média se situam produtos ditiocarbamatos (maneb, mancozeb) e o triazol tebuconazole. Os produtos fungicidas triazóis, no geral, tem pouca ação contra a cercosporiose, existindo, por isso, formulações prontas de triazóis + estrobirulinas (Sphere, Opera, PrioriXtra, Aproach-prima). Pode-se usar mistura de tanque, com fungicidas cúpricos ou com as estrobirulinas, para associar o controle da cercosporiose com o da ferrugem.
Cercosporiose em Mudas Ataca as folhas, desfolhando as mudas. Em associação com outros fungos, atinge o caule, provocando a canela seca, que reduz o desenvolvimento das mudas e aumenta o seu refugo. A doença aparece quando em substratos pobres. E na fase de retirada da sombra do viveiro. A deficiência de N e de P em mudas, especialmente do P, causa a ocorrência da cercospora negra, com ataque em margem de folhas e no caule.
Cercosporiose em Mudas - Controle No tratamento protetivo, em viveiros, usam-se pulverizações quinzenais, alternando fungicidas cúpricos e ditiocarbamatos. Em ataques mais severos, recomenda-se usar combinações de estrobilurinas com cúpricos. O tratamento com uma fonte de P, irrigado ou pulverizado, recupera mudas com problemas de cercospora negra e canela seca.
Quadro 1- Discriminação dos tratamentos (produtos e doses), infecção por Cercosporiose, enfolhamento e emissão de ramos laterais, em mudas de café tratadas com f ormulações fungicidas. Martins Soares-MG, 2010 Tratamentos % de folhas infectadas Abril Junho Número médio de fls por muda (Junho) No de ramos laterais por muda 1- Nativos (Folicur-tebuconazole 200g p litro + Flinttrifloxistrobin 26,7b 18,3ab 5,7bc 0 b a 100 g por l), a 0,15% 2- Amistar (Azoxystrobin 500 WG), a 0,04% 38,3c 45,0 c 3,7c 0 b 3- Comet (Pyraclostrobin 200 g por litro), a 0,04% 8,3a 5,0 a 8,3a 1,9 a 4- Sphere (Triadimenol 80 g p l + Flint- trifloxistrobin 3,3a 10,0 a 6,4b 0 b 187 g p l), a 0,25% 5- Ópera (Epoxiconazole 50 g p l+ Comet- pyraclostrobin 10,0a 6,7 a 6,3b 0, 2 b 133 g p l), a 0,3% 6- Oxicloreto de cobre 50%, a 0,6% 21,7b 25,0b 6,2b 0 b 7- Folicur (Tebuconazole 200 g por litro), a 0,25% 50,0c 48,3c 4,2c 0 b 8- Antracol ( Propineb 700 WG ), a 0,5% 58,3c 50,0c 3,3c 0 b 9- Ferticlean -Hipoclorito de cobre (9% cu), a 0,3% 60,0c 61,6c 3,5c 0 b 10- Derosal (Camberdazin 500SC), a 0,3% 20,0b 75,0d 3,8c 0 b 11- Testemunha 75,0d 90,0d 1,5 d 0 b
Recuperação de mudas de café com problemas de mau desenvolvimento e com canela seca, com produtos fungicidas e nutricionais, M.Soares MG, 2001. Peso em gramas das mudas Tratamentos (9 mudas/parcela) Raízes Parte aérea 1 Alliete a 0,5 % pulv. 8,0 14,0 b 2 Folicur a 0,25 % 7,0 19,0 b 3 Garant a 0,5 % 10,5 19,5 b 4 Alliete + Garant (0,5 + 0,5 %) 5,0 10,0 b 5 Superfosfato simples 3% + NK solo 50g/m² 13,0 48,0 a 6 NK ( 20-0-20 ) 50g/m² irrigado 6,0 12,0 b 7 Superfosfato simples (3%) pulv. 18,5 45,0 a 8 Alliete + garant + NK 5,0 13,0 b 9 Chorume irrigado 10,5 15,5 b 10 Score ( 0,04%) + Garant + NK solo 9,5 22,5 b 11 Testemunha 5,0 11,5 b Fonte: Matiello J.B.et alli, Anais 27º CBPC MAPA/PROCAFÉ, 2001, p. 19-20
Lesões de Cercosporiose em folhas de cafeeiro, com detalhe da lesão típica (em cima à esq.) conhecida como olho de pomba, e a lesão (em cima à dir.) de Cercospora negra.
Cercospora tardía Época de ocorrência da doença se prolonga para junhojulho. Com a infecção, também, nas folhas novas, que cresceram logo após o término da colheita. Devido ao baixo estado nutricional da folhagem nova, período após a exaustão das reservas das plantas. Agravada pela ação do frio, que atua tanto favorecendo a infecção como tornando as folhas mais susceptíveis à doença. E pelo stress hídrico, com a falta de chuva, a partir de maio, esta falta dágua induzindo carência de N.
Interação da incidência de cercospora sobre a infecção por ferrugem, em folhas de cafeeiros. Varginha, MG, 1995. Condições das folhas % de folhas atacadas por ferrugem Fonte: Miguel, Matiello e Almeida, Anais do 21º CBPC, p. 26-7 Nº médio de lesões de ferrugem/folha Com cercosporiose 42,2 7,6 Sem cercosporiose 15,9 3,5
Condições associadas à gravidade de Phoma-Ascochyta Clima úmido, baixas temperaturas, regiões batidas por vento, de altitude elevadas, com exposição sul sudeste, com chuvas finas de inverno e primavera. Áreas em depressões ou baixadas, com acumulo de umidade. Plantas altas, fechadas, pouco arejadas, esqueletadas, com carga baixa. Afetadas por granizo, lesões de lagartas e outros ferimentos. Nutrição com excesso de N em relação ao K.
Phoma-Ascochyta- Controle Prioridade na época de controle visando proteção da florada, na pré e pós, mais uma aplicação de inverno. Uso de fungicidas especificos, com ação também de estrobilurinas em maior dose.(cantus, Belkute, Folicur+Rovral). Manter lavoura aberta, podada, arejada, com equilíbrio adequado N-K. Manter proteção contra ventos e em áreas super problemáticas usar arborização.
Número de lesões formadas por Phoma, a partir dos inóculos, média de 3 isolados, em folhas de cafeeiros de diferentes variedades (Labor. IB, Dra Flávia). Mal Floriano-ES, set-2010 Cultivar Incidência (%) Catuacaí Amarelo 25L CAK Catuai Vermelho IAC 81 Catuaí Amarelo IAC-39 Acauã Vermelho Catucaí A. 20/15 Sarchimor Amar Apoatã IAC Catucaí Vermelho 19/8 (Japi) Palma II V. 20,8 bc 62,5 a 31,3 b 4,2 bc 20,8 bc 66,7 a 10,4 bc 2,1 c 4,2 bc
Lesões pelo ataque de Ascochyta, de cor mais clara
E por Phoma, de cor mais escura
Folhas com lesões de Ascochyta iniciando a partir de furos causados pelo ataque de lagarta
Ataque de Phoma nas folhinhas novas provocando entortamento
Sobrevindo a morte e seca da ponta do ramo
Ponteiro (3 a 4 nós da extremidade) seco pelo ataque de Phoma/Ascochyta
Mumificação de frutinhos (negros) pelo ataque de Phoma/Ascochyta
Mumificação de frutinhos (negros) pelo ataque de Phoma/Ascochyta
Condições associadas à gravidade de Leprose Fatores causadores de desequilíbrio na população do ácaro transmissor, como o clima muito seco e o uso de defensivos, provocam aumento na população dos ácaros vetores. Com aumento da temperatura o ataque se agrava. Variedades como mundo novo e icatu, onde o sol entra mais na copa das plantas, apresentam maior ataque.
Leprose- Controle Virus, em folhas ou ramos, não tem efeito sistêmico, não servindo de fonte de inóculo para o ano seguinte. No ano a leprose só depende da presença de ácaros viruliferos para reinocular as folhas e frutos. Isto facilita o controle. Combate ao ácaro transmissor, usando aplicações de acaricidas específicos.(envidor (300 ml/ha), Torque, Dicofol 180 (2 l/ha), Tricofol 480 (750 ml/ha), Acaristop (300 ml/ha), Orthus (0,8 1 l/ha), Talento(ovicida) ( 15 ml/ha) e outros). 2 épocas importantes. No pós-colheita, para redução da população, com menor enfolhamento, aplicação pode atingir melhor o interior dos cafeeiros. Outra aplicação em dez-janeiro, para proteção da folhagem e frutos.
Lesões de leprose sobre a nervura principal das folhas (esq.) e lesões arredondadas sobre as nervuras secundárias(dir.)
Lesões, deprimidas e cor de ferrugem, sobre frutos verdes, causadas pela leprose.
Condições associadas à gravidade de Mancha aureolada Nas regiões mais frias (PR, SP, MG (Sul, Triâng. e Alto Paran.) e MS, sem problemas nas demais regiões cafeeiras. Só um foco em região de altitude elevada na Z M MG. Clima úmido, baixas temperaturas, regiões batidas por vento, de altitude elevadas, com exposição sul sudeste, com chuvas finas de inverno e primavera. Plantas esqueletadas, com carga baixa. Afetadas por granizo, lesões de lagartas e outros ferimentos. Variedades muito susceptíveis BA, Rubi, Topázio, Ouro verde. Nutrição com excesso de N em relação ao K.
Mancha aureolada em Mudas e plantas novas No viveiro a doença ocorre no fim do inverno e na primavera, quando tem início a retirada da cobertura das mudas, ficando,, mais sujeitas à variação de temperatura. Mudas atingidas ficam desfolhadas e o ponteiro morre e, como a sua recuperação é lenta, muitas chegam a morrer, nomalmente são descartadas. Lavouras novas, com até 3-4 anos, são mais atingidas, ocorrendo desfolha, seca de ponteiros, superbrotamento e retardamento no desenvolvimento das plantas.
Mancha aureolada- Controle Nas mudas Proteger bem o viveiro. Usar pulverizações com cúpricos, associados ou não a antibióticos Oxitetraciclina + estreptomicina (Agrimicina 100) a 0,2%. Também eficiente Kasugamicina (Kasumin) à razão de 0,3% na calda ou sua associação com fungicida cúprico (0,3 + 0,15%). A inclusão de superfosfato simples à calda ajuda no controle, pela presença de flúor no produto.
Mancha aureolada- Controle No campo O controle deve ser preventivo, com instalação de quebraventos, sobretudo na fase de formação do cafezal. Fazer pulverizações adicionais de fungicidas cúpricos, quando houver aparecido a bacteriose. ( cobre metálico é tóxico para as bactérias e controla fungos associados cercosporiose, antracnose). Plantas novas, fazer poda sanitaria e adicionar superfosfato à calda fungicida Usar variedades tolerantes (Catucai 20-15, Icatu 3282).
Lesões de Pseudomonas sobre as folhas do cafeeiro, observando-se auréolas e rasgaduras nas lesões
Condições associadas à gravidade do Complexo seca de ponteiros Condições climáticas desfavoráveis; má nutrição (real ou induzida) e ocorrência de pragas e doenças. Duas épocas principais: nos períodos de invernos chuvosos e na época de granação dos frutos, quando os ramos carregados se esgotam, desfolham e apresentam morte descendente (da ponta para a base, die back). Nesse caso, gravidade maior em lavouras com as primeiras produções, áreas mais quentes, variedades de maturação precoce e menos vigorosas e em solos apresentam algum impedimento.
Condições associadas à gravidade do Complexo seca de ponteiros O ataque de um complexo de fungos e bactérias pode ser primário ou secundário, nesse caso agindo sobre os tecidos já debilitados por causas fisiológicas (desnutrição, frio etc.). No caso do Colletotrichum ele é encontrado como saprófita, habitando a casca dos ramos do cafeeiro, e passando a atacar ramos, folhas e frutos, penetrando-os através de ferimentos ou lesões de outras doenças e pragas ou tecidos já enfraquecidos. Alguns fitopatologistas tem encontrado Colletotrichum gloesporioides como agente primário em frutinhos de cafeeiros.
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