Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.14, n.1, p.85-93, 2012 85 ISSN 1517-8595 QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE BANANA SUBMETIDA AO CULTIVO ORGÂNICO E CONVENCIONAL José Darcio Abrantes Sarmento 1, Patrícia Lígia Dantas de Morais 2, Maria Lucilânia Bezerra Almeida 3, Geomar Galdino da Silva 4, Diógenes Henrique Abrantes Sarmento 5, Shara de Amorim Batalha 6 RESUMO Por não existirem estudos acerca da qualidade e vida útil pós-colheita da cultivar Valery em diferentes sistemas de cultivo (orgânico e convencional) neste trabalho propõe-se estudar a qualidade e vida útil pós-colheita da mesma nos dois sistemas de cultivo, destinada ao mercado externo. Foi utilizado a cv. Valery, subgrupo Cavendish, no estádio de maturação fisiológico (tipo 2: verde com traços amarelos), oriunda de plantio comercial localizado no município de Ipanguaçu/RN. O delineamento experimental adotado foi em parcelas subdivididas, onde nas parcelas foram colocados os tempos de armazenamento (0, 7, 14, 21 28 36 dias de armazenamento) e nas subparcelas os sistemas de cultivos (convencional e orgânico), com quatro repetições compostas de cinco frutos cada. Banana da cv. Valery produzida pelo sistema orgânico e convencional, destinada ao mercado externo, apresentaram boa aparência e características físico-química desejável para o consumo até o final de 28 dias de armazenamento refrigerado (14 C 1 C e 90% 5% UR) mais oito dias em temperatura ambiente simulado (27 C 2 C e 55 5% UR). No cultivo orgânico as bananas apresentaram maior conteúdo de sólidos solúveis, maior relação SS/AT e ph do que no cultivo convencional, o que favorece o sabor da fruta, tornando-a mais doce. Desta forma, recomenda-se a utilização do cultivo orgânico, que produz banana de boa qualidade isenta de resíduos de produtos químicos, e evita danos ao meio ambiente. Palavras-chaves: Musa sp, armazenamento, conservação. POST HARVEST QUALITY OF BANANA SUBMITTED TO ORGANIC AND CONVENTIONAL CULTIVATION ABSTRACT Because there aren t studies about the quality and post-harvest shelf life of the cultivate Valery in different systems of cultivation (organic and conventional), it is proposed to study the quality and post-harvest shelf life of the fruit in the two systems of cultivation, destined to the external market. We used the cultivate Valery, Cavendish subgroup, at the stage of its physiological ripening (kind 2: green with yellow lines), coming from a commercial plantation located in the town of Ipanguaçu/RN. An experimental delineation was adopted in subdivided parts which consisted of the storage time (0, 7, 14, 21 28 36 days of storage); whereas, in the subparts, the form of cultivation (conventional and organic), with four replications was composed of five fruits. The banana of the cultivate Valery, produced by the conventional and organic Protocolo 13-2011-56 de 18/03/2011 1 Engenheiro Agrônomo, aluno de pós-graduação em Fitotecnia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA. Rua São Luiz, 62, Apt A, Bairro Alto de São Emanuel, CEP 59625-110, Mossoró-RN. E-mail: darcioabrantes@yahoo.com.br. Autor para correspondência; 2 Engenheira agrônoma, Doutora em Fisiologia Vegetal, Profª. adjunto da UFERSA, CEP 59607-450, Mossoró-RN. E-mail: plmorais@hotmail.com; 3 Bolsista de iniciação científica e Graduando em Agronomia pela UFERSA, Rodovia BR 110, s/n, Km 47, Bairro Costa e Silva, CEP 59625-900, Mossoró-RN. E-mail: lucilanialmeida@hotmail.com.br; 4 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitotecnia, professor da UFERSA, Rodovia BR 110, s/n, Km 47, Bairro Costa e Silva, CEP 59625-900, Mossoró-RN. E-mail: geomargaldino@yahoo.com.br; 5 Aluno de pós-graduação em Irrigação e Drenagem, UFERSA. Mossoró-RN. E-mail: dabrantes01@yahoo.com.br; 6 Engenheira Agrônoma, UFERSA. Rua São Francisco, 20, Bairro Abolição I, CEP 59615-040, Mossoró-RN. E-mail: sa.batalha@bol.com.br.
86 Qualidade pós-colheita de banana submetida ao cultivo orgânico e convencional Sarmento et al. system, is destined to the foreign market. The fruit has good appearance and exhibits the desirable physical characteristics for consumption within 28 days of cooled storage (14 C ± 1 C and 90% ± 5% UR) and eight days more under simulated temperature (27 C ± 2 C and 55 ± 5% UR). Under organic cultivation, the bananas presented greater contents of soluble solids and a larger SS/AT and ph relation than could be seen in the conventional cultivation which favors the flavor of the fruit, making it sweeter. In this way, it is recommended the utilization of organic cultivation, for it produces better quality bananas, free from chemical residues, and causing no damage to the environment. Keywords: Musa sp, storage, conservation. INTRODUÇÃO A banana (Musa ssp) é uma boa fonte de vitaminas e minerais, desta forma, apresenta como uma enorme importância social por ser uma fonte barata de energia. Características como baixa acidez e textura macia a indicam para o consumo por crianças e idosos. O Brasil é o terceiro maior produtor de banana, responsável por 8,7% do volume produzido, sendo superado pela Índia e China, responsáveis por 26,8% e 9,0% do volume produzido, respectivamente (EPAGRI/CEPA, 2010). Na safra brasileira de 2009, a área plantada foi de 483.562 mil hectares, área colhida de 479.614 mil hectares e produção de 6.783.482 milhões de tonelada, com rendimento de 12.87 kg/há (IBGE, 2010). O Nordeste é responsável por 37,28% da produção nacional com 2.529.018 milhões de tonelada (IBGE, 2010). O Rio Grande do Norte, o Agropólo Mossoró-Assu, tem se destacado nas últimas décadas pelo desenvolvimento da fruticultura e expansão de mercado. A banana é produzida, praticamente, em todo o estado e destinada ao mercado externo e regional, sendo responsável por 2,02% (136.920 milhões de tonelada) da produção nacional. Em virtude das perdas pós-colheita e dos danos que as praticas convencionais podem ocasionar ao meio ambiente vem sendo necessário estudo sobre novas cultivares e meio de cultivo para a produção de banana na região. Na Região Nordeste, no município de Assu/RN, são produzidas bananas do grupo Cavendish destinados ao mercado externo, dentre eles a cultivar Valery têm se destacado. Esta banana vem sendo cultivada de duas formas, o método praticado em sua grande totalidade, o convencional, e o cultivado organicamente. Sabe-se que a qualidade e vida útil pós-colheita da banana varia de acordo com a cultivar e as condições de cultivo. É possível produzir banana orgânica com aparência e qualidade exigidas pelo mercado com o uso de insumos regionais e alternativos reduzindo custos e dependência de insumos externos (Toda Fruta, 2011). Segundo Borges et al. (2011) as variedades Maravilha e Thap Maeo produziram melhor no manejo orgânico. Além de propiciar a oferta de alimentos saudáveis para a população, o manejo orgânico elimina os riscos de contaminação de trabalhadores rurais e dos mananciais de água por agrotóxicos (Guerra et al., 2007). Por não existirem estudos acerca da qualidade e vida útil pós-colheita da cultivar Valery em diferentes sistemas de cultivo (orgânico e convencional). Neste trabalho, propõe-se estudar a qualidade e vida útil póscolheita da mesma nos dois sistemas de cultivo, destinada ao mercado externo. MATERIAL E MÉTODOS Foi utilizada a cultivar de banana Valery, pertencente ao subgrupo Cavendish, produzidas nos métodos convencional e orgânico oriundas de plantio comercial localizado no município de Ipanguaçu/RN. Segundo o Ministério de Minas e Energia (2005) o município situa-se em altitude média de 16 m e coordenadas 05 29 52,8 de latitude Sul e 36 51 18,0 de longitude Oeste. Temperatura média anual variando entre a máxima de 33 C e mínima de 21 C, com precipitação pluviométrica anual normal de 521,3 mm. Os cachos de banana foram colhidos manualmente no estádio de maturação fisiológico, com coloração do tipo 2 (verde com traços amarelos). Os cachos foram transportados até a casa de embalagem da própria fazenda, através de cabos aéreos, onde foram despencados e as pencas imediatamente imersas em tanques de lavagem com água e detergente neutro; em seguida, os buquês foram confeccionados, selecionados e imersos em
Qualidade pós-colheita de banana submetida ao cultivo orgânico e convencional Sarmento et al. 87 solução de hipoclorito de sódio com concentração de 2-3 ppm; após a lavagem foram feitas a classificação, pesagem e aplicação de sulfato de alumínio e imazalil nos frutos. Em seguida os frutos foram embalados em caixas de papelão, protegidos por sacos de polietileno de baixa densidade com 4,5 µm de espessura, e transportados para o Laboratório de Pós-colheita da Universidade Federal Rural do Semi-Árido UFERSA (RN). No dia da colheita realizou-se a caracterização inicial dos frutos, onde foram identificados, pesados e armazenados em câmara sob refrigeração à temperatura 14 1ºC e 90 5% UR, e avaliados ao 0, 7, 14, 21 e 28 dias de armazenamento. Outra parte dos frutos foi retirada da câmara aos 28 dias de armazenamento refrigerado, colocado à temperatura ambiente (27 C 2 C e UR. 55% 5%) e analisados quando estavam completamente maduros, aos 36 dias (28 dias refrigerado mais oito dias ambiente). A coloração da casca e a aparência externa foram avaliadas visualmente, utilizando-se a Tabela de Classificação de Banana Cavendish (Ministério da Agricultura e do Abastecimento [s.d]). Para avaliação da coloração atribuíram-se as seguintes notas: totalmente verde (1); verde com traços amarelos (2); mais verde que amarelo (3); mais amarelo que verde (4); amarelo com pontas verdes (5); totalmente amarelo (6); amarelo com pintas marrons (7). Já para a aparência externa estabeleceram-se limites de tolerância de defeitos graves e leves para cada categoria de qualidade, tais como: Extra (5 % de defeitos graves); Categoria I (10 % de defeitos leves e 5% de defeitos graves); Categoria II (20% de defeitos leves e 10% de defeitos graves); Categoria III (100% de defeitos leves e 20% de defeitos graves). Defeitos leves (lesão, manchas, restos florais, geminadas, desenvolvimento diferenciado, alterações na coloração da casca) e defeitos graves (amassado, dano mecânico profundo, queimado do sol, podridões, lesões, imaturidade). Utilizou-se uma balança semianalítica na determinação da massa dos frutos. O diâmetro e comprimento foram determinados usando-se uma fita métrica (graduada em centímetro). O diâmetro foi obtido medindo-se a região mediana do fruto, enquanto que o comprimento medindo na parte externa do fruto de onde começa a polpa até a ponta do fruto. A firmeza do fruto foi determinada com penetrômetro tipo Fruit Pressure Tester TR, com ponteira de 6 mm de diâmetro; foram feitas três leituras em diferentes regiões do fruto íntegro, com casca. A espessura da casca foi obtida com o auxilio de um paquímetro graduado em milímetro. O rendimento de polpa foi determinado por diferença entre a massa total do fruto e a massa da casca. Para a perda de massa fresca (%) considerou-se a diferença entre o peso inicial do fruto e aquele obtido em cada intervalo de amostragem. O teor de sólidos solúveis (SS)(%) foi determinado por leitura em refratômetro digital com correção automática de temperatura (escala de 0 a 32%), a partir da polpa macerada, homogeneizada e filtrada. Acidez Titulável (AT) foi determinado por meio de titulação com solução de NaOH a 0,1N e indicador fenolftaleína, e expressa em g de ácido málico/100g de polpa. O ph foi determinado da polpa diluída (5g de polpa/50ml de água destilada), utilizando um potenciômetro digital com membrana de vidro, conforme AOAC (2002). A relação SS/AT foi determinada pelo quociente entre os valores de sólido solúveis e a acidez titulável. O delineamento experimental adotado foi em parcelas subdivididas, onde nas parcelas foram colocados os tempos de armazenamento (0, 7, 14, 21, 28 e 36 dias) e nas subparcelas os métodos de cultivos (convencional e orgânico), com quatro repetições compostas de cinco frutos cada. A análise de variância das características avaliadas foi realizada através do programa operacional Sisvar 3.01. Constando interação significativa procedeu-se a regressão polinomial através do programa computacional Table Curve (Jandel Scientific, 1991). Para a escolha da equação mais adequada adotaram-se três critérios: o valor do R 2 ajustado, a significância da estatística F e a significância dos parâmetros da equação testados pelo teste t. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os métodos de cultivo (convencional e orgânico) não apresentaram diferenças quanto às características massa do fruto, comprimento dorsal e diâmetro (Tabela 1). Segundo Borges et al. (2011) o comprimento e o diâmetro médio dos frutos de bananeiras sob manejo orgânico diferiram apenas entre as variedades, indicando serem características próprias das mesmas.
88 Qualidade pós-colheita de banana submetida ao cultivo orgânico e convencional Sarmento et al. Tabela 1-Massa do fruto (MF), Comprimento dorsal (C) e Diâmetro (D) de dois métodos de cultivo de banana para exportação Cultivo MF (g) C (cm) D (cm) Convencional 153,22a 21,39a 3,88a Orgânica 141,27a 20,97a 3,87a *Letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade Os exportadores de banana utilizam essas variáveis para indicar o ponto de colheita e sua classificação, de acordo com a Tabela de Classificação de Banana Cavendish do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, [s.d]. Para o comprimento as bananas do presente trabalho se enquadram no Tipo A. Os valores médios observados neste trabalho para massa dos frutos foram inferiores aos constatados por Batalha et al. (2008) para as cultivares Willians e Jaffa do grupo Cavendish, porém, próximos aos valores encontrados por Sarmento (2010) para banana Prata Catarina com valores para massa, comprimento e diâmetro de 147,52 g, 18,4 cm e 3,73 cm, respectivamente. No dia da colheita 100% dos frutos nos dois métodos de cultivo se encontravam com grau de coloração do tipo 2 e com aparência externa classificada como extra, apresentando apenas algumas lesões e manchas, comportamento que se manteve até os 28 dias de armazenamento refrigerado para aparência externa em ambos os métodos de cultivo, e aos quais, a coloração se comportou da mesma forma, até os 7 dias de armazenamento refrigerado. Aos 36 dias de armazenamento os frutos dos dois métodos de cultivo diferiram em relação à coloração e aparência externa. O cultivo convencional apresentou maior proporção de bananas do tipo 5 (55%, amarelo com pontas verdes) do que o cultivo convencional (50%). Quanto à aparência externa, houve uma porcentagem maior de frutos do tipo extra (70%) para o cultivo convencional; no entanto, o cultivo orgânico apresentou apenas 10% dos frutos na categoria II e o convencional 25% dos frutos para essa categoria (Tabela 2). Bananas colhidas em sistemas de cultivo orgânico normalmente são pouco atrativas ao consumidor de fruta fresca e têm problemas de conservação em pós-colheita (Toda fruta, 2011). Tabela 2 - Coloração e classificação dos frutos em categoria durante o armazenamento da cultivar Valery em dois sistemas de cultivo Cultivares Tempo de armazenamento Coloração Categorias (dias) Convencional 0 2 (100%) Extra Orgânica 0 2 (100%) Extra Convencional 7 2 (100%) Extra Orgânica 7 2 (100%) Extra Convencional 14 2 (100%) Extra Orgânica 14 2 (25%) Extra 3 (75%) Convencional 21 2 (50%) Extra 3 (50%) Orgânica 21 2 (25%) Extra 3 (75%) Convencional 28 3 (100%) Extra Orgânica 28 2 (25%) Extra 3 (75%) Convencional 36 4 (25%) 5 (55%) 6 (20%) Extra (70%) Categoria I (5%) Categoria II (25%) Orgânica 36 4 (25%) 5 (50%) 6 (25%) Extra (60%) Categoria I (30%) Categoria II (10%)
Qualidade pós-colheita de banana submetida ao cultivo orgânico e convencional Sarmento et al. 89 Não se verificou diferença na perda de massa da polpa nos sistemas de cultivo convencional e orgânico. A perda de massa foi mais acentuada quando os frutos foram retirados da câmara de refrigeração (14º C 1º C e 90 5% UR) para o armazenamento na temperatura ambiente (27º C 2º C e 55 5% U.R) (Figura 1). A perda de massa aos 28 dias de armazenamento refrigerado foi de 1,96%, enquanto que, quando transferido para temperatura ambiente, atingiu 6,41%. Levando em consideração que a temperatura é diretamente influenciada pela pressão de vapor do ar, justifica-se essa maior perda de massa na temperatura ambiente. A perda de massa é muito importante no aspecto comercial da banana, haja vista que, em geral, sua comercialização, se dá por meio de sua massa (Santos et al., 2006), atributo este não influenciado pelo sistema de cultivo. Figura 1 - Perda de massa fresca durante o armazenamento de banana cv Valery submetida ao sistema de cultivo orgânico e convencional armazenado sob refrigeração (14º C 1º C e U.R 90% 5%) seguido de oito dias em temperatura ambiente simulado (27º C 2º C e U.R 55% 5%) Verificaram-se diferenças nos valores de rendimento de polpa nos sistemas de cultivo. O método convencional apresentou valores médios de 59,99 % e o orgânico valores de 57,73 %. Entretanto, apesar de terem sido estatisticamente significativo, a variação dos valores médios durante o armazenamento foi pequena (Figura 2A). O rendimento de polpa é um parâmetro de qualidade importante para a indústria de produtos concentrados, e variedades cujos frutos têm alto rendimento de polpa, apresentam maiores rendimentos no processamento dos produtos finais (concentrados) o que pode apresentar maior lucratividade para as indústrias (Chitarra & Chitarra, 2005); desta forma, pode-se considerar pequena a diferença entre o rendimento de polpa oriundo de cultivos orgânico e convencional, bem como a diferença pode ser desconsiderada em virtude do produto orgânico ser mais valorizado comercialmente. Não foi verificada diferença na espessura da casca nos diferentes sistemas de cultivo. Ocorreu diminuição da espessura da casca, ao longo do armazenamento, sendo mais acentuada após os 28 dias ao serem transferido para temperatura ambiente simulado (Figura 2B). Segundo Carvalho et al. (1982) a diminuição da casca pode ser explicada devido ao gradiente de pressão osmótica, resultante da maior concentração de açúcares da polpa em relação à casca, que favorece o deslocamento de água da casca para a polpa da fruta na maturação. Não se observou diferença na firmeza nos sistemas de cultivo estudado. Durante o armazenamento refrigerado a variação na firmeza foi pequena, no entanto, houve uma queda brusca ao final do armazenamento quando submetidos à temperatura ambiente (Figura 3). Segundo Damatto Junior (2006) o uso de adubo orgânico não causou efeitos significativos nos valores de firmeza de frutos (textura), nos teores de sólidos solúveis, no ph e na acidez dos frutos de banana Prata Anã, não influenciando nesses atributos de qualidade. Resultado semelhante para valores de firmeza foi encontrado por Batalha et al. (2008) quando trabalhou com banana para exportação do grupo Cavendish, obtendo no dia da colheita firmeza de 100,43 N e no final do armazenamento de 29,24 N. Não se observou diferenças entre os sistemas de cultivos (convencional e orgânica). Entretanto, houve um aumento considerável para ambos os sistemas. A acidez apresentou-se inicialmente 0,15% de ácido málico e ao final do período de armazenamento atingiu 0,22%
90 Qualidade pós-colheita de banana submetida ao cultivo orgânico e convencional Sarmento et al. (Figura 4A). Segundo Campos et al. (2003) o aumento do teor de acidez favorece o sabor quando relacionado com os açúcares. Com o amadurecimento da banana ocorre o aumento do teor de acidez, atingindo seu máximo quando a casca está totalmente amarela. Os valores de acidez observados no presente trabalho foi semelhante ao encontrado por Jesus et al. (2004) em bananas Caipira no estádio de coloração 6. Quanto aos valores de ph observou-se diferenças entre os métodos de cultivo. O método convencional apresentou valores médios de 5,74, enquanto que a orgânica valores médios de 5,86. Apesar de terem sido estatisticamente significativo, apresentaram uma variação muito pequena (0,15% para 0,22% de ácido málico) durante o armazenamento (Figura 4B). O valor do ph para banana cultivada no método convencional e estádio de maturação verde, foi próximo ao encontrado por Pinheiro et al. (2007) para banana maçã e por Erval Junior et al. (2005) para banana Prata Anã e Prata Zula, também no estádio de maturação verde. A determinação do ph e da acidez fornece dados valiosos na apreciação do estado de conservação de um produto alimentício (Faraoni et al., 2009). Figura 2 - Rendimento da polpa (A) e Espessura da casca (B) durante o armazenamento de banana cv Valery submetida ao sistema de cultivo orgânico e convencional armazenado sob refrigeração (14º C 1º C e U.R 90% 5%) seguido de oito dias a temperatura ambiente simulado (27º C 2º C e U.R 55% 5%)
Qualidade pós-colheita de banana submetida ao cultivo orgânico e convencional Sarmento et al. 91 Figura 3 - Firmeza de polpa durante o armazenamento de banana cv Valery submetida ao sistema de cultivo orgânico e convencional armazenado sob refrigeração (14º C 1º C e U.R 90% 5%) seguido de oito dias a temperatura ambiente simulado (27º C 2º C e U.R 55% 5%) Figura 4 - Acidez titulável (A) e ph (B) durante o armazenamento de banana cv Valery submetida ao sistema de cultivo orgânico e convencional armazenado sob refrigeração (14º C 1º C e U.R 90% 5%) seguido de oito dias a temperatura ambiente simulado (27º C 2º C e U.R 55% 5%). Observou-se diferença significativa no teor de sólidos solúveis entre os sistemas de cultivo, ocorrendo aumento significativo quando os frutos foram transferidos para
92 Qualidade pós-colheita de banana submetida ao cultivo orgânico e convencional Sarmento et al. temperatura ambiente (Figura 5). O aumento do teor de açúcar em banana é justificado pelo fato de ser uma fruta rica em amido e que durante o amadurecimento ocorre a hidrólise desse amido e conseqüente acúmulo de açúcares totais implicando assim na intensificação da doçura do fruto (Vilas Boas et al., 2001). Figura 5 - Sólidos solúveis durante o armazenamento de banana cv Valery submetida ao sistema de cultivo orgânico e convencional armazenado sob refrigeração (14º C 1º C e U.R 90% 5%) seguido de oito dias a temperatura ambiente simulado (27º C 2º C e U.R 55% 5%). Os valores obtidos neste trabalho para sólidos solúveis foram semelhante ao encontrado por Sales et al. (2006), variando de 20,83% a 23,26%, para banana Pacovan madura, e por Pimentel et al. (2010) obtendo valores de 2,13% e 20,48% para banana Prata Anã planta em sistema de cultivo convencional, com grau de coloração 2 e 6, respectivamente. Foi verificado efeito significativo na relação SS/AT entre os sistemas de cultivo estudados, havendo um aumento significativo no decorrer do período de armazenamento. Este aumento é mais acentuado depois de 28 dias, quando os frutos foram transferidos para temperatura ambiente (Figura 6). Segundo Chitarra & Chitarra (2005) a alta relação SS/AT é muito importante e desejável nos frutos, sendo uma das formas mais utilizadas para a avaliação do sabor. Figura 6 - Relação SS/AT durante o armazenamento de banana cv Valery submetida ao sistema de cultivo orgânico e convencional armazenado sob refrigeração (14º C 1º C e U.R 90% 5%) seguido de oito dias a temperatura ambiente simulado (27º C 2º C e U.R 55% 5%)
Qualidade pós-colheita de banana submetida ao cultivo orgânico e convencional Sarmento et al. 93 CONCLUSÃO Banana da cv. Valery produzida pelo sistema orgânico e convencional, destinada ao mercado externo, apresentaram boa aparência e características físico-química desejável para o consumo até o final de 28 dias de armazenamento refrigerado (14 C 1 C e 90% 5% UR) mais oito dias em temperatura ambiente (27 C 2 C e 55 5% UR). No cultivo orgânico as bananas apresentaram maior conteúdo de sólidos solúveis, maior relação SS/AT e ph do que no cultivo convencional, o que favorece o sabor da fruta, tornando-a mais doce. Desta forma, recomenda-se a utilização do cultivo orgânico, que produz banana de boa qualidade isenta de resíduos de produtos químicos, e evita danos ao meio ambiente. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Association of Official Analytical Chemistry. Official methods of analysis of the Association of Official Analytical Chemistry. 17. ed. Washington: AOAC, 2002. 1115p. Batalha, S. A.; Morais, P. L. D. de; Silva, G. G. da; Medeiros, E. V. de; Sarmento, J. D. A. Qualidade pós-colheita de duas cultivares de banana para exportação. Revista Brasileira de Armazenamento, Viçosa, v. 33, n. 2, p. 119-126, 2008. Borges, A. L.; Souza, L. da S.; Nascimento, C. A. C. do; Santos, A. M. dos; Ledo, C. A. da S. Banana sob manejo orgânico. Disponível em: http://www.todafruta.com.br/portal/icnoticia Aberta.asp? idnoticia=20460. Acesso em: 24 jan. 2011. Campos, R. P.; Valente, J, P.; Pereira, W. E. Conservação pós-colheita de banana cv. Nanicão climatizada e comercializada em Cuiabá MT e região. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 25, n. 1, p. 172-174, 2003. Carvalho, V. D.; Pádua, T.; Moraes, A. R. Efeito da época de amostragem e do amadurecimento das características físicas, físico-químicas e químicas da banana Prata. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.4, n. (único), p.43-52, 1982. Chitarra, M. I. F.; Chitarra, A. B. Pós-colheita de frutas e hortaliças: fisiologia e manejo. 2. ed. Lavras: UFLA, 2005. 785p. Damatto Junior, E. R. Influencia da adubação com composto orgânico na qualidade de frutos de bananeira. Revista Científica Eletrônica de Agronomia, Garça - SP, a. 5, n. 10, Dez. 2006. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina/Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola - EPAGRI/CEPA. Banana. In: Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina 2008-2009. Disponível em: http://cepa.epagri.sc.gov.br/publicacoes/sint ese_2009/sintese_2009.pdf. Acesso em: 30 maio 2010. Erval Júnior, R. D.; campos, A. J.; Manoel, L.; Moreira, G. C.; Leonel, S.; Evangelista, R. M. Produção e caracterização de frutos de bananeira Prata-Anã e Prata-Zulu. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 27, n. 3, p. 440-443, 2005. Faraoni, A. S.; Ramos, A. M.; Stringheta, P. C. Caracterização da manga orgânica cultivar ubá. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.11, n.1, p.9-14, 2009. Guerra, J. G. M.; Nidiaye, A.; Assis, R. L. de; Espindola, J. A. A. Uso de plantas de cobertura na valorização de processos ecológicos em sistemas orgânicos de produção na região serrana fluminense. Revista Agriculturas, v.4, p.24/1-28, 2007. Jandel Scientific. User s Manual. Califórnia: Jandel Scientific, 1991. 280 p. Jesus, S. C.; Folegatti, M. I. S.; Matsuura, F. C. A. U.; Cardoso, R. L. Caracterização física e química de frutos de diferentes genótipos de bananeira. Bragantia, Campinas, v.63, n.3, p.315-323, 2004. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Estados. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 16 dez. 2010. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Programa Horti & Fruit-Padrão Programa Paulista para a melhoria dos padrões comerciais e embalagens de hortifrutigrangeiros. Classificação da banana (nanica, nanicão e gran naine). São Paulo: [M.A.], [s.d.]. Ministerio de Minas e Energia. Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, Diagnóstico do município de Ipanguaçu. Recife: CPRM/PRODEEM, p. 12, 2005. Pimentel, R. M. de A.; Guimarães, F. N.; santos, V. M. dos; Resende, J. C. F de. Qualidade pós-colheita dos genótipos de
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