PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO 3ª Turma PROCESSO nº 0011201-96.2013.5.01.0028 (RO) RECORRENTES e RECORRIDOS: SIMONE DOS SANTOS GRANITO e CLARO S.A. RECORRIDA: TELLUS DO BRASIL LTDA. RELATOR: Desembargador RILDO ALBUQUERQUE MOUSINHO DE BRITO EMENTA TERCEIRIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO TOMADOR DE SERVIÇOS. CONFIGURAÇÃO. Na terceirização, o tomador de serviços responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas não adimplidas pela empresa contratada, nos termos da Súmula 331, IV, do TST. RELATÓRIO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos dos recursos ordinários em que Simone dos Santos Granito e Claro S.A. figuram como recorrentes e recorridos, e Tellus do Brasil Ltda. aparece apenas como recorrida. Insatisfeita com a sentença de fls. 135/146, complementada pela decisão de fls. 170/171, proferidas pela Exma. Sra. Juíza Raquel Pereira de Farias Moreira, da 28ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, recorre a reclamante nas fls. 173/181, insurgindo-se contra a determinação de expedição de certidão de habilitação de crédito na recuperação judicial da primeira reclamada e contra o indeferimento do intervalo previsto no art. 72 da CLT, de indenização por assédio moral, da multa prevista no art. 477, 8º, da CLT e de honorários advocatícios. Por seu turno, a segunda demandada, mediante o apelo de fls. 183/190, renova a preliminar de ilegitimidade passiva e, no mérito, quer excluir a condenação subsidiária que lhe foi imposta. Os recorridos ofereceram contrarrazões nas fls. 198/203 e 204/207. O Ministério Público do Trabalho não interveio no processo.
É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO 1. CONHECIMENTO recursos. Porque presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço dos 2. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM Argui a segunda acionada, nas fls. 185/186, a sua ilegitimidade passiva ad causam, aduzindo, em suma, que não há prova de que houve prestação de serviços exclusivamente em seu favor. A preliminar não prospera. Está legitimado passivamente para a causa aquele a quem se atribui a obrigação de cumprimento de uma pretensão de direito material, exatamente como na espécie. As razões expendidas relativamente à ilegitimidade ad causam dizem respeito, em verdade, ao mérito e não à pertinência subjetiva da ação. Rejeito. 3. MÉRITO 3.1. Recurso da reclamante HABILITAÇÃO DE CRÉDITO NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL Irresigna-se a apelante contra a determinação de expedição de certidão de habilitação do seu crédito no juízo da recuperação judicial, argumentando que a segunda reclamada foi condenada subsidiariamente e, portanto, deve responder pela dívida. Cuidando-se a primeira demandada de uma empresa em recuperação judicial, a presunção que se impõe, obviamente, é de sua incapacidade de pagar o débito, e não o contrário. A responsabilidade subsidiária consiste em uma garantia do credor,
em caso de inadimplemento e falta de bens do devedor principal, cabendo ao devedor secundário, assim declarado no título executivo, cumprir a obrigação que lhe foi imposta. TRT/RJ. Incide na espécie, mutatis mutandis, o disposto na Súmula 20 do Assim, estando a devedora principal submetida ao regime de recuperação judicial, não há porque determinar a habilitação do crédito do reclamante. A execução, no momento, oportuno, deve ser dirigida contra o responsável subsidiário, assim declarado no título executivo. Dou provimento. INTERVALO DO ART. 72 DA CLT A apelante quer obter a condenação das reclamadas ao pagamento de horas extras, face à ausência de intervalo de 10 minutos a cada 90 trabalhados, mas não há evidência de que ela desempenhasse tarefas contínuas de digitação e, portanto, ela não se enquadra na hipótese do art. 72 da CLT. MULTA DO ART. 477, 8º, DA CLT O pedido de multa do art. 477, 8º, da CLT está fundamentado apenas na falta de homologação da rescisão contratual no prazo de dez dias, e não no atraso na quitação das verbas resilitórias, mas não há previsão legal para o pagamento dessa penalidade na hipótese aventada pela recorrente. Agora, em seu apelo, ela sustenta "que havia outras obrigações que deveriam ter sido quitadas dentro do decênio legal, como guias de seguro-desemprego, entrega do TRCT para levantamento dos depósitos de FGTS", o que além de constituir verdadeira inovação recursal, também não autoriza a imposição dessa multa. De qualquer forma, como bem observado pela magistrada de origem (folha 140), a autora contava com menos de um ano de serviço (vide TRCT de folha 88) e, portanto, a homologação da rescisão pelo sindicato da categoria não era obrigatória.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Nesta Justiça Especializada a condenação em honorários advocatícios não decorre simplesmente da sucumbência. É necessária a comprovação dos requisitos descritos na Súmula 219 do TST, hipótese de que não se cuida neste caso. Portanto, não há que se falar na condenação pretendida pela autora. ASSÉDIO MORAL A recorrente baseia seu pedido no uso obrigatório de fantasias. A imposição do uso de fantasia, sem relação com a atividade desempenhada, e ainda com disponibilização de fotos na internet, ou intranet, além da vinculação dessa prática a "eventos motivacionais", caracteriza a conduta abusiva por parte do empregador. No entanto, no caso concreto, não há evidências de que a primeira reclamada tenha submetido a demandante a tal constrangimento. De acordo com o depoimento da testemunha, a reclamante chegou a se fantasiar de noiva em uma festa de Halloween, mas ela não soube dizer se foi na primeira acionada, pois elas trabalharam juntas em outra empresa (folha 134): "...que trabalhavam no mesmo setor; que houve eventos motivacionais na ré, de Halloween, Carnaval; que era obrigatório que se fantasiassem nesses eventos; que a ordem vinha da área de RH, Sra Cristiane, por email ou no corredor da empresa, e pela intranet; que muitas vezes eram os próprios empregados que tinham que escolher e comprar as fantasias, de acordo com o tema; que se lembra que a autora se fantasiou de noiva num Halloween, mas não sabe se foi pela 1a ré, porque já trabalharam juntas em outra empresa; que no carnaval, não se lembra do que a autora usou; que não podiam se recusar a usar as fantasias; que todos ficavam constrangidos em razão do uso dessas fantasias, porque o evento era fotografado e colocado nas redes sociais, intranet da empresa, televisão que ficava no pátio da empresa; que se recusassem a usar a fantasia, poderia haver uma punição..." (grifos meus) Por outro lado, a testemunha sequer se lembrou de uma fantasia que a recorrente tenha usado por determinação da primeira demandada. decisão que indeferiu a indenização. Nesse contexto, inexistindo prova do dano denunciado, está correta a 3.2. Recurso da segunda reclamada
Na terceirização, o tomador de serviços responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas não adimplidas pela empresa contratada, nos termos da Súmula 331, IV, do TST. Para o surgimento de tal responsabilidade, não é necessário que a terceirização seja declarada ilícita, ou que haja prestação de serviços de forma exclusiva. No caso concreto, é incontroversa a prestação de serviços do acionante à segunda reclamada, conforme o contrato de fls. 107/117 e o depoimento do seu preposto (folha 133). Portanto, ela é responsável subsidiariamente pelos créditos aqui deferidos, na esteira da Súmula 331, IV, do TST, não havendo o que reformar no julgado. Por outro lado, a qualidade de concessionária de serviços públicos não confere à recorrente o benefício do comando irradiado do art. 71, 1º, da Lei nº 8.666/93, pois sequer estava obrigada a segui-lo. pagar e transmitem-se ao devedor subsidiário. Quanto aos títulos deferidos, eles se traduzem em obrigação de 4. CONCLUSÃO Ante o exposto, conheço dos recursos, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva e, no mérito, dou parcial provimento ao recurso obreiro para excluir do julgado a determinação de expedição de certidão de habilitação de crédito no juízo da recuperação judicial, nos termos da fundamentação; e nego provimento ao recurso da segunda acionada. Custas mantidas. ACÓRDÃO ACORDAM os Desembargadores que compõem a Terceira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, na sessão de julgamento do dia 25 de maio de 2015, sob a Presidência do Excelentíssimo Desembargador Federal do Trabalho Rildo Albuquerque Mousinho de Brito, Relator, com a presença do Ministério Público do Trabalho, na pessoa do Ilustre Procurador Marco Antonio Costa Prado, do Excelentíssimo Desembargador
Federal do Trabalho Antonio Cesar Coutinho Dahia e da Excelentíssima Juíza do Trabalho Convocada Mônica Batista Vieira Puglia, proferir a seguinte decisão: por unanimidade, conhecer dos recursos, rejeitar a preliminar de ilegitimidade passiva e, no mérito, dar parcial provimento ao recurso obreiro para excluir do julgado a determinação de expedição de certidão de habilitação de crédito no juízo da recuperação judicial, nos termos da fundamentação; e negar provimento ao recurso da segunda acionada. Custas mantidas. Desembargador RILDO ALBUQUERQUE MOUSINHO DE BRITO Relator