Ação Monitória I DA PETIÇÃO INICIAL A petição inicial da ação monitória deverá ser por escrito, por advogado legalmente constituído e habilitado (CPC, arts. 36 a 38) e deve conter os requisitos do art. 282, do CPC. Vejamos: 282, I aplica-se à ação monitória para demonstrar o juízo a qual a petição inicial é dirigida, de acordo com a respectiva competência para a causa. A monitória a rigor será ajuizada no foro do domicílio do réu (CPC, art. 94), nada impede, contudo, seja a mesma ajuizada em outro foro estabelecido pelas partes (CPC, art. 111) em documento que sirva de base para a ação monitória. Caberá o oferecimento de exceção de incompetência. A incompetência relativa será argüida por meio de exceção (CPC, art. 112 e 307 a 311), não podendo ser declarada de ofício (Súmula n. 33 do STJ). Sua argüição dar-se-a por ocasião da resposta, in casu, os embargos, quando fundadas em motivos preexistentes. Tratando-se de motivo superveniente aplicar-se-á a regra do art. 315 do CPC. Tratando-se de incompetência absoluta deverá essa ser declarada de ofício, podendo ser argüida em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção (CPC, art. 113). A exceção será processada em apenso aos autos principais (CPC, art. 299), devendo ser oferecida em petição autônoma, sob pena de não conhecimento. A princípio, a ação monitória deverá ser ajuizada na Justiça Comum, mas nada impede que a parte faça opção por ajuizá-la perante o Juizado Especial Cível, que deterá a respectiva competência, desde que tenha a ação valor correspondente à no máximo 40 vezes o salário mínimo vigente no país. Será, todavia, facultativa tal propositura junto ao JEC. 282, II aplica-se à ação monitória visando a identificação das partes, qualificando-as e fornecendo-se seus endereços. O endereço do réu servirá para que se proceda à citação. 282, III - aplica-se à ação monitória eis que exige que o autor indique o fato e os fundamentos jurídicos do pedido, cabendo-lhe a narração dos fatos e dos fundamentos jurídicos do pedido que constituem a causa de pedir, de modo que não é necessária a citação de artigos de lei, eis que cabe ao juiz aplicar o direito ao fato jura novit curia, ainda que aquele não tenha sido expressamente invocado. Contudo, em caso de exame de ordem, geralmente é avaliado a indicação exata do fundamento legal. A descrição do fato constitutivo do direito do autor, já que este não dispõe de título executivo capaz de dispensálo da demonstração da causa debendi, bem como a exigibilidade (ocorrência do termo ou condição etc) do crédito poderá ser, por exemplo: (a) Narrativa dos fatos que permitam a determinação da quantidade devida, quando se tratar de dinheiro ou bem fungível. Narrativa descritiva do determinado bem móvel. (b) Descrever ou apresentar em anexo o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa, conforme prescreve art. 614, II, do CPC. 282, IV - determina que o autor faça o pedido, com as suas especificações. Assim, deve o autor pedir a expedição de mandado de pagamento ou de entrega da coisa, no prazo de quinze (15) dias (CPC, art. 1.102.b) O pedido in casu é o próprio objeto da ação que levou a parte a invocar a tutela jurisdicional. Tratando-se de ação monitória onde se pede a entrega de coisa fungível, cabendo a escolha ao credor, caberá a esse fazer a devida menção, para que quando da expedição do mandado de entrega se faça a devida determinação. 282, V o valor da causa é indispensável. O valor da causa é a soma pecuniária da demanda para os fins legais, correspondendo, portanto, ao valor do benefício pleiteado pelo autor à época do ajuizamento da ação, estabilizando-se nessa oportunidade o mencionado valor atribuído pelo autor, ainda que haja modificações supervenientes como por exemplo, atualizações monetárias ou quaisquer outros acréscimos relativos a períodos posteriores.
282, VI - Deve a petição inicial indicar as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados. Ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito cabe o ônus da prova (CPC, art. 333, I). Não quer dizer aqui que o autor deva fazer as provas de imediato, mas sim que esse indique os meios que utilizará para tanto (depoimento pessoal, prova testemunhal, documental, pericial, etc.). Tal inciso aplica-se à ação monitória, eis que com o oferecimento de embargos por parte do réu, poderá haver lugar para a produção de provas. 282, VII ainda que o art. 1.102.b, do CPC, estabeleça que estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá de plano a expedição de mandado de pagamento ou de entrega da coisa no prazo de quinze dias, temse que o pedido de citação do réu deverá ser feito, para pagar ou entregar a coisa objeto do pedido, no prazo de 15 dias, advertindo-o de que na falta de oposição de embargos, ocorrerá revelia e constituir-se-á de imediato um título executivo judicial, convertendo-se assim o mandado inicial em mandado executivo na forma legal. Cabe esclarecer que tal mandado será rotulado de mandado de citação, citando o réu para fazer o pagamento ou entregar a coisa fungível ou móvel, e para que o mesmo oponha, querendo, embargos dentro de igual prazo, sob pena de revelia, com a conversão do mandado de citação em mandado executivo, e formação do título executivo judicial. Deve-se observar que no caso de coisa fungível, cabendo a escolha da entrega ao credor, caberá ao mesmo fazer a devida especificação na inicial, para que tal menção conste do respectivo mandado de entrega. E, ainda, em decorrência do art. 39, I, do CPC, compete ao advogado, na inicial, declarar o endereço em que receberá intimação. Cabe destacar, ainda, que em se tratando de monitória para a cobrança de crédito, tem-se como necessário que o autor instrua a inicial com o respectivo cálculo atualizado do débito (art. 614, II, CPC). A citação para o réu pagar ou entregar a coisa objeto da ação monitória, em quinze (15) dias, poderá ser feita por correio, que é a regra legal (CPC, art. 221, I e 222), por oficial de justiça, ou por edital (súmula 282/STJ) caso assim pretenda o autor, sendo que em qualquer caso deverá ser esclarecido que o mesmo tem tal prazo para: - Pagar a quantia reclamada pelo autor, ficando nesse caso, isento do pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios; - Entregar a coisa objeto da ação monitória, ficando nesse caso, isento do pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios; - Oferecer embargos, que suspenderão a eficácia do mandado inicial. Deverá constar do ofício o mandado, ficando o réu devidamente advertido, de que não sendo efetuado o pagamento (ou a entrega da coisa) e nem oferecido embargos no prazo de quinze (15) dias, contados da forma prevista pelo art. 241 do CPC, constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial, em mandado executivo, com o prosseguimento da ação para entrega da coisa (CPC, art.621) ou penhora (CPC, art. 652), sendo o caso, quando a ação prosseguirá sob forma de execução. II - INTRODUÇÃO: Necessidade de facilitar o acesso do credor ao título executivo. Simplificação procedimental: busca-se eliminar a complexidade do juízo ordinário de conhecimento derivada das exigências do contraditório. Sua finalidade é alcançar a formação de título executivo judicial de modo mais rápido do que na ação condenatória convencional. A tutela monitória foi criada para aquelas situações em que, embora não exista título executivo, há concretamente forte aparência de que aquele que se afirma credor tenha razão. III - CONCEITO e OBJETO da Ação Monitória: Art. 1102, a, CPC a ação monitória compete a quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma de dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel. O juiz examinará a prova escrita trazida com a inicial. Considerando a peça devidamente instruída, determinará expedição de mandado para que o réu pague ou entregue a coisa em quinze dias (art. 1102b).
a) Para Pagamento de Soma em Dinheiro Para que se possa reivindicar o pagamento de soma em dinheiro, torna-se necessário que concorram os requisitos legais atinentes à liquidez, certeza e exigibilidade da dívida que se pretende cobrar pela ação monitória. Liquidez: é a obrigação certa quanto à sua existência e determinada quanto ao seu objeto. Certeza: é a exatidão do crédito, sem qualquer dúvida ou incerteza da sua existência. Exigibilidade: é a condição de estar vencida a obrigação constante do respectivo título de crédito. Logo, é necessário demonstrar de plano na instrução do processo, mediante prova escrita, a certeza, a liquidez e a exigibilidade da obrigação pretendida, não se admitindo o acertamento do débito no curso dos embargos e eventualmente opostos pelo devedor. b) Para Entrega de Coisa Fungível De acordo com o art. 85 do CC, são fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Uma saca de arroz ou de feijão constitui um bom exemplo de coisa fungível. O dinheiro, por sua vez é bem fungível por excelência. Já uma tela de Da Vinci constitui tipicamente uma coisa infungível. O objetivo da monitória é a entrega de coisa móvel fungível que se encontre em poder de outrem, desde que se faça a respectiva prova escrita, acerca do direito que tem a outra parte de entregar tal coisa fungível. c) Para Entrega de Determinado Bem Móvel De acordo com o art. 82, do CCC, são móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Exige-se para o manejo da ação monitória, que o bem móvel seja determinado, ou seja, estabelecido, fixo, e que a parte faça prova escrita de seu pretenso direito sobre tal bem, descrendo-o. IV - LEGITIMIDADE ATIVA: 1. Todo aquele que se apresentar como credor de obrigação de soma de dinheiro, de coisa fungível ou de coisa certa móvel; tanto credor originário, como o cessionário ou sub-rogado. 2. Pode ser Pessoa Física ou Jurídica, de Direito Privado ou Público. V - LEGITIMIDADE PASSIVA: 1. Haverá de ser aquele que, na relação obrigacional de que é titular o promovente da ação, figure como obrigado ou devedor por soma de dinheiro, de coisa fungível ou coisa certa móvel. O mesmo se diz de seu sucessor universal ou singular. 2. O falido ou o insolvente civil não pode ser demandado pela via porque não dispõe de capacidade processual e também porque não pode haver execução contra tais devedores fora do concurso universal. 3. Pessoa Jurídica de Direito Público: a doutrina diverge (não pode ser demandado --- CF /100 --- a Fazenda Publica pressupõe precatório com base em sentença condenatória). Porém, o STJ sumulou que É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública (Súmula 339) 4. Quanto a pessoas jurídicas de direito privado não há restrições. VI - PROVA 1. Requisito indispensável ao uso da ação monitória é a existência de prova escrita sem eficácia de título executivo, em favor do autor. Exigência essa do art. 1102, a, CPC. Essa prova escrita poderá ser tanto do próprio punho do devedor, como escrita por terceiro e assinada pelo mesmo ou por quem legitimamente o represente. Assim, um bilhete, um recibo ou uma carta, desde que demonstre determinada obrigação será hábil ao ajuizamento da ação monitória. 2. A prova escrita tanto pode ser pré-constituída (instrumento elaborado no ato da realização do negócio jurídico para registro da declaração de vontade), como também pode ser casual (escrito surgido sem a intenção direta de documentar o negócio jurídico, mas que é suficiente para demonstrar sua existência). 3. Se aceita começo de prova por escrito.
4. A cognição será sumária. O juízo de probabilidade da existência do direito é mera delibação feita com o objetivo de emitir ou não o mandado, num pronunciamento que no direito brasileiro não tem eficácia declaratória, não fica acobertado pela coisa julgada e serve somente para desencadear para o réu o ônus de embargar, caso pretenda resistir. A probabilidade buscada é menos do que a certeza que num processo ordinário levaria o juiz a emitir juízo de procedência da demanda, mas basta para os fins limitados que caracterizam o mandado1. 5. Quanto ao ônus da prova, não há novidade alguma. Prevalecem as regras gerais do art. 333/CPC, ou seja, ao autor compete provar o fato constitutivo de seu direito e ao réu incumbe a prova do fato impeditivo, modificativo ou extintivo daquele direito. 6. A prova pelo autor deve evidenciar, por si só, a liquidez, certeza e exigibilidade da obrigação, porque o mandado de pagamento a ser expedido liminarmente tem de individuar a prestação reclamada pelo autor e não haverá oportunidade para o credor completar a comprovação do crédito e seu respectivo objeto. Deve-se apresentar memória de cálculo discriminada. VII - DO PROCEDIMENTO A primeira fase se destina à formação do título executório. O JUIZ após verificar a prova deferirá de plano a expedição do mandado de pagamento ou de entrega da coisa, em desfavor do réu, que o cumprirá no prazo de quinze dias. Dentro do prazo de 15 dias, o réu poderá fazer o pagamento ou a entrega da coisa reclamada pela monitória. Poderá, ainda, o réu oferecer, querendo, embargos que suspenderão a eficácia do mandado inicial (CPC, art. 1.102.c), independentemente de segurança do juízo, que não se exige no procedimento monitório, eis que nesse caso, em tal fase, ainda não há um título executivo. Assim, o DEVEDOR citado pode: a) efetuar o pagamento OU de entregar a coisa no prazo de 15 dias2; b) permanecer inerte revel; c) oferecer embargos no prazo de 15 dias3. Na hipótese de o réu não embargar ou ter seus embargos rejeitados, a decisão inicial que havia determinado a expedição do mandado automaticamente se transformará de pleno direito em título executivo judicial (art. 1102c caput e 3º.). Constituído o título executivo e já sendo possível executar, ingressa-se, sem solução de continuidade, na fase executiva do processo. A execução, no processo monitório, independe de nova demanda (petição inicial e demais formalidades). LOGO, CONVERTIDO o mandado inicial em mandado executivo, a execução far-se-á pelas regras do cumprimento da sentença (art. 475-J e seguintes). Não haverá nova citação, conforme determina o 3º, do art. 1.102c. O ato que dará ciência do mandado (agora já executivo), abrindo-lhe oportunidade para pagar ou garantir o juízo, será a intimação operada no curso do processo. Pela nova disciplina do cumprimento de sentença, deixa de existir a oportunidade para nomear bens à penhora. O devedor, que poderá ser na pessoa de seu advogado, será desde logo intimado da penhora (art. 475-J, 1º., acrescido pela Lei 11.232). O devedor poderá utilizar-se da impugnação prevista no art. 475-L, no prazo de quinze dias a partir da juntada aos autos do comprovante da intimação da penhora. Determina o art. 475-J que caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. VIII - OUTROS PONTOS a) EMBARGOS À AÇÃO MONITÓRIA A defesa do demandado na ação monitória é feita por meio de embargos. Não se fala em contestação porque o mandado de citação não o convida a defender-se.
O tema de embargos é ainda bastante controvertido. Para alguns será processado no próprio processo (não será apenso), para outros se trata de nova demanda, geradora de outro processo. A maioria entende que devem ser de forma incidental. b) PEDIDO ALTERNATIVO Segundo o art. 288, do CPC, o pedido será alternativo, quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo. No pedido alternativo, pede-se mais de uma coisa, para que se conceda uma ou outra em amparo ao direito do autor. O CC em seus art. 252 e ss. Trata das obrigações alternativas. A ação monitória admitirá o pedido alternativo, cabendo à parte, na hipótese de reivindicação da entrega de coisa móvel, pedir como pedido alternativo, a devolução da importância paga pelo mesmo e consubstanciada em prova escrita da obrigação, facultando-se, assim, ao réu, pagar ou entregar a coisa reivindicada. c) CITAÇÃO POR OFICIAL DE JUSTIÇA, POR EDITAL E POR HORA CERTA A doutrina tem debatido, e os tribunais não chegaram a um consenso, acerca da possibilidade de citação ficta por edital ou hora certa no processo monitório. Destaca-se a Súmula 196 do STJ, segundo a qual ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de embargos, logo, se mesmo na execução, que já se inicia com título executivo, prevalece esse entendimento, não pode ser diferente no processo 2 O réu estará isento de custas e honorários advocatícios se pagar ou entregar os bens no prazo de quinze dias (art. 1102c, 1º.). 3 Havendo embargos ficará suspenso o mandado inicialmente deferido e o procedimento seguirá o rito ordinário do processo comum de conhecimento (art. 1102c, caput e 2º.). Outrossim, não se impõe ao réu o ônus de ter bem penhorado para apresentar embargos (art. 1102c, 2º.) monitório. Assim, não comparecendo o réu para pagar ou embargar, caberá nomeação de curador especial com legitimidade para interpor embargos ao mandado. A Súmula 282 do STJ admite citação por edital no processo monitório. d) Súmulas do STJ: STJ Súmula nº 247-23/05/2001 - DJ 05.06.2001 Contrato de Abertura de Crédito - Ação Monitória O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória. STJ Súmula nº 282 DJ 13/05/2004 Citação por edital Cabe a citação por edital em ação monitória. STJ Súmula nº 292-05/05/2004 - DJ 13.05.2004 Reconvenção - Ação Monitória - Conversão do Procedimento A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do procedimento em ordinário. STJ Súmula nº 299-18/10/2004 - DJ 22.11.2004 Ação Monitória Fundada em Cheque Prescrito É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito. STJ Súmula nº 339 Súmula 339 do STJ: Cabimento de ação monitória contra a Fazenda Pública