COMARCA DE JUNQUEIRO DECISÃO

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Transcrição:

Processo nº 016.07.500252-9 Prisão preventiva Réu: Beneval da Silva Imputações: arts. 121 e 213, ambos do CP COMARCA DE JUNQUEIRO DECISÃO EMENTA: Penal e Processual Penal. Prisão preventiva. Homicídio e estupro. Provas da existência do homicídio e indícios suficientes de autoria. Êxito da instrução criminal e ordem pública postas em risco. Decretação da custódia cautelar. Inteligência dos arts. 311 e seguintes do CPP. Vistos etc., O(A) REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO, com atribuições nesta Comarca, ofertou denúncia em desfavor de BENEVAL DA SILVA, qualificado nos autos, atribuindo-lhe a prática do crime de homicídio previsto no art. 121, 2º, do CP. Posteriormente, o órgão ministerial aditou a denúncia, acusando também a Sra. MARIA IRENE DOS SANTOS e atribuindo aos dois acusados, além do delito de homicídio, também o de estupro (CP, art. 213) (fls. 252-254). Consta da peça acusatória e de seu aditamento, em síntese, que o acusado Beneval da Silva mantinha, concomitantemente, um relacionamento amoroso com a ré Maria Irene e sua filha, ora vítima, Angélica da Silva Souza, de doze anos de idade, na época, sendo que, em virtude desse triângulo amoroso, os acusados, no dia 03/12/2005, por volta das 02h40min, retiraram a vítima de sua casa, onde dormia, e levaram-na para um local próximo e lá mataram a menor com 54 (cinqüenta e quatro) facadas, conforme laudo de exame cadavérico de fls. 24-24v. Foi decretada a prisão preventiva do acusado Beneval da Silva (fls. 05-07), que impetrou ordem de habeas corpus no TJAL (fls. 133-154), sendo que tal ordem foi denegada (fls. 229-232). A denunciada Maria Irene também ajuizou um habeas corpus no TJAL (fls. 312-324), que também foi denegado (fls. 352-356). Os denunciados foram interrogados e negaram qualquer envolvimento nos crimes (fls. 108-111, 126-127, 277-288). Defesas prévias (fls. 113-114, 289-292 e 294). Foram ouvidas várias pessoas durante a instrução do feito e, em virtude do aditamento à denúncia e da reabertura do prazo para defesas prévias, ainda existem várias outras a serem inquiridas.

2 237). Foi revogada a prisão preventiva do réu Beneval da Silva (fls. 235- É o sucinto relatório. Decido. Analisando detidamente os autos, entendo que é imperiosa a decretação da prisão preventiva de Beneval da Silva. Como se sabe, a custódia cautelar pode ser decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou do querelante, ou mediante representação da autoridade policial, em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, desde que presentes os pressupostos (fumus boni iuris e periculum in mora) e condições de admissibilidade, previstos em lei. As condições de admissibilidade são disciplinadas pelo o art. 313 do Código de Processo Penal e resultam, de plano, verificadas no caso em análise, vez que o agente foi denunciado pelos crimes de homicídio e estupro, praticados dolosamente e que são punido com reclusão. Assim, satisfeita está a reclamação do art. 313, I, do supracitado diploma legal. Restam analisar os pressupostos prisão preventiva, que tem natureza de medida cautelar, quais sejam: o fumus boni iuris e do periculum in mora. É o que passarei a fazer. 2.1 Do fumus boni iuris. A segregação provisória é uma medida cautelar e, assim, para ser decretada exige-se a presença dos requisitos gerais de toda tutela cautelar, entre eles, o fumus boni iuris, que se desdobra em dois aspectos, quais sejam, prova da existência do crime e indício suficiente de autoria (CPP, art. 312, in fine). Tais exigências estão satisfeitas. Com efeito, pelo menos a existência do delito de homicídio é induvidosa, em face do laudo pericial de fls. 24-24v. Por outro lado, há indícios veementes de que o acusado Beneval foi um dos autores dos delitos, conforme demonstram os depoimentos das testemunhas ouvidas em juízo, que indicaram que o réu nem sequer foi ao enterro e ao velório da vítima, que praticamente era sua enteada, e que a morte da menor ocorrera quando ela, finalmente, estava disposta a contar, para a avó, os abusos sexuais que o citado réu, durante anos, supostamente praticava contra ela (fls. 157-158, 164-166). De todos os depoimentos, o que mais traz indícios de que o acusado foi um dos executores dos crimes é o do Sr. José da Conceição. Tal testemunha afirmou que, alguns meses antes do homicídio da menor, o réu lhe confidenciou que estava mantendo um relacionamento amoroso com a vítima e sua mãe, e, por ser aquela uma pessoa menor de idade, precisava matá-la (fls. 159-160 e 307-310). Vejamos um trecho do depoimento: Que cinco meses antes do crime, o acusado disse ao depoente que tinha a intenção de matar Angélica. Que o motivo alegado pelo

3 acusado foi porque tinha comido a vítima com 09 anos de idade e precisava matá-la (...) (fls. 307). Portanto, há indícios suficientes da autoria dos crimes e prova da materialidade deles, sendo certo que, no tocante à autoria, a lei contenta-se com simples indícios, elementos probatórios menos robustos do que os necessários para a materialidade, vez que não vigora, para fim de segregação provisória, o princípio do in duio pro reo, mas sim o do in dúbio pro societate, não sendo necessário existir a certeza que se exige, por exemplo, para a prolação de um édito condenatório. 2.2 Do periculum in mora. Provada a existência do crime e havendo indícios suficientes da autoria, a custódia cautelar poderá ser decretada quando presente o segundo requisito das medidas cautelares, qual seja, o periculum in mora, que, segundo a dicção legal, compreende a garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal (CPP, art. 312). No caso em tela, é a ordem pública e a instrução criminal que estão sendo postas em risco pelo acusado. Com efeito, o denunciado está ameaçando de morte a testemunha José da Conceição, o que põe em risco o êxito da instrução criminal, pois referida testemunha, provavelmente, ainda será ouvido por ocasião do eventual julgamento perante o Tribunal do Júri. Vejamos o que disse o Sr. José da Conceição: que no dia 24 de junho de 2005, encontrou-se com o acusado perto da Escola Agrícola num pé de árvore chamado Pau d arco (...) o acusado disse que já tinha comido a menina de 09 anos de idade e completando disse ainda que já havia comido a menina há dois anos (...). Que o depoente afirma que o acusado disse-lhe que comia a mãe e também comia a filha na vista da própria mãe (...). Que três dias antes da prisão do acusado, dois rapazes de aproximadamente trinta e cinco anos, ambos em uma moto, compareceram a residência do depoente e aos gritos pediram para que ele, depoente, abrisse a porta, dizendo que queria matá-lo; que o depoente abriu a porta e indagou aos mesmos se estava a mando de quem, tendo os mesmos informado que trabalhavam para o acusado; que eles estavam com uma bolsa que possivelmente seria uma arma e que disseram que vinha a mando do acusado. Que imagina que esse episódio ocorreu por que o acusado sabia que o depoente sabia do fato que envolvia a mãe da menor, a menor e ele... (fls. 159-160). Ouvido pela segunda vez, o Sr. José da Conceição informou: Que cinco meses antes do crime, o acusado disse ao depoente que tinha a intenção de matar Angélica. Que o motivo alegado pelo acusado foi porque tinha comido a vítima com 09 anos de idade e

4 precisava matá-la (...). Que quando foi ameaçado pelo acusado vinha da cidade de Penedo. Que no dia seguinte ao seu depoimento prestado na delegacia, o acusado procurou o depoente em sua casa e disse: Você [foi] denunciar de mim?, tendo o depoente alegado que só apenas disse a verdade (...). Que os dois indivíduos em sua casa chegaram a dizer que queriam matar o depoente. Que os indivíduos disseram ao depoente que iam matá-lo por ordem do acusado. Que os indivíduos disseram que estavam ganhando dinheiro do acusado para matá-lo... (fls. 307-309). Como se percebe, ao ameaçar a testemunha José da Conceição, inclusive enviando, na casa dele, homens que expressamente dizem que vão matá-la a mando do réu, este coloca em risco o êxito da instrução criminal, pois, caso o denunciado seja pronunciado e continue assumindo uma postura ameaçadora, a referida testemunha poderá se recusar a depor perante o Tribunal do Júri ou omitir fatos de que tem conhecimento ou, o que é pior, efetivamente ser morta. Por outro lado, a ordem pública também está sendo posta em risco pelo denunciado. A ordem pública, segundo De Plácito e Silva, é a situação e o estado de legalidade normal em que as autoridades exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam e acatam, sem constrangimento ou protesto (in: Vocabulário Jurídico, RT, Forense, v. 3, p. 1001). Em outras palavras, a ordem pública é a paz, a tranqüilidade no meio social. Este fundamento da custódia cautelar, visa evitar que o(s) suposto(s) delinqüente(s) pratique(m) novos crimes, quer porque seja acentuadamente propenso à prática delituosa, quer porque, em liberdade, encontrará os mesmos estímulos relacionados com a infração cometida. Porém, o conceito de ordem pública, segundo Júlio Fabbrini Mirabete, não se limita a prevenir a reprodução de fatos criminosos, mas também a acautelar o meio social e a própria credibilidade da justiça em face da gravidade do crime e de sua repercussão. Acrescenta aquele festejado jurista: Embora seja certo que a gravidade do delito, por si, não basta para a decretação da custódia, a forma e execução do crime, a conduta do acusado, antes e depois do ilícito, e outras circunstâncias podem provocar imensa repercussão e clamor público, abalando a própria garantia da ordem pública, impondo-se a medida como garantia do próprio prestígio e segurança da atividade jurisdicional" (in: Código de Processo Penal Interpretado, Ed. Atlas, 9ª ed., p. 803). Ora, a periculosidade do agente, caso comprovado o seu envolvimento nos crime, é patente, pois ele é acusado de cometer crimes extremamente graves, sendo que um deles, o homicídio, fora executado com uma crueldade e violência repugnantes e absolutamente desnecessárias. De fato, conforme demonstra o laudo pericial de fls. 24-24v, a vítima foi morta com 54 (cinqüenta e quatro) feridas perfuro-incisas, localizadas no pescoço, tórax, abdômen, órgãos genitais, dorso, nádega, dentre outros. Tais circunstâncias demonstram que o agente, além de perigoso, é cruel e insensível, sendo certo que crimes graves como esses geram intranqüilidade social, agravando o risco de não se manter a ordem pública e, por essa razão, exige

5 do Estado-Juiz uma pronta e eficaz providência, sob pena de afetar a própria credibilidade da justiça. É esse o entendimento de nossos tribunais: Esta Corte, por ambas as suas Turmas, já firmou o entendimento de que a prisão preventiva pode ser decretada em face da periculosidade demonstrada pela gravidade e violência do crime, ainda que o agente primário (STF, RT 648/347). Não se vislumbra ilegalidade na decisão que manteve a custódia cautelar do paciente, se demonstrada a necessidade da prisão, atendendo-se aos termos do art. 312 do CPP e da jurisprudência dominante, sendo que a gravidade do delito e a periculosidade do agente podem ser suficientes para motivar a segregação provisória como garantia da ordem pública (STJ HC 17386 BA 5ª T. Rel. Min. Gilson Dipp DJU 08.10.2001 p. 00234). Assim, a conclusão a que se chega é a de que há provas da materialidade e indícios da autoria dos crimes de homicídio e estupro, que são punidos com reclusão, sendo certo que a conduta indiciariamente levada a efeito pelo agente põe em risco a ordem pública e êxito da instrução criminal, razão pela qual deve ser segregado. Isto posto, com fulcro nos arts. 311, 312 e 313, todos do CPP, DECRETO, para garantia da ordem pública e por conveniência da instrução criminal, A PRISÃO PREVENTIVA de BENEVAL DA SILVA, já qualificado nos autos. Expeça-se imediatamente o competente mandado de prisão. P. Intimem-se. Junqueiro/AL, 16 de julho de 2008. Hélio Pinheiro Pinto Juiz de Direito Substituto