PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DO CAFÉ PRODUZIDO PELO CAFEEIRO ACAIÁ MG-1474 (SAFRAS 18 A 200), SUBMETIDO A DIFERENTES LÂMINAS DE IRRIGAÇÃO E PARCELAMENTOS DE N E K 1 MIRIAN DE LOURDES OLIVEIRA E SILVA 2, MANOEL ALVES DE FARIA, WESLEY MATTIOLI 4, JOSÉ ROBERTO DE SOUZA GARCIA 5 2 Engª Agrícola, M.Sc. Eng.Mecânica - Pesquisadora do CBP&DC Depto. de Engenharia (UFLA/MG), e-mail: misilva@ufla.br RESUMO Com o objetivo de avaliar os efeitos de diferentes lâminas de irrigação e diferentes parcelamentos de adubação via água de irrigação na produtividade e qualidade do cafeeiro, instalou-se em Lavras, MG, um experimento com cafeeiro Acaiá MG-1474. Foram testadas 5 diferentes lâminas de irrigação e parcelamentos de adubação de N e K (, 6 e ). As lâminas aplicadas correspondiam a percentuais da evaporação do tanque Classe A (ECA), sendo 0%, 100%, 80%, 60% e 40%, correspondendo, respectivamente, aos tratamentos L 0, L 1, L 2, L e L 4. A produtividade acumulada nas 5 safras (18 a 200), em sacas/ha, do cafeeiro Acaiá, foi influenciada pelo fator Lâmina de Irrigação. Foi observado um crescimento em função do aumento da lâmina aplicada, com um incremento médio da ordem de 57,2%, 8,12%, 5,4% e 27,46%, nos tratamentos L1, L2, L e L4, respectivamente, comparados ao tratamento não irrigado (L0). A qualidade foi avaliada em função da análise sensorial da bebida (prova de xícara) e dos métodos físico-químicos dos grãos. Verificou-se que a irrigação não prejudicou a qualidade da bebida, produzindo café classificado como de bebida dura ou mole/apenas mole, e que o tratamento 100% da ECA foi o que apresentou maior porcentagem de grãos retidos na peneira 16 e acima desta e melhor tipo, 5-6. Concluiu-se que a irrigação aumenta a produtividade dos cafeeiros no município de Lavras-MG, sem interferir na qualidade dos grãos, sendo a reposição de água equivalente a 100% da ECA, o tratamento recomendado. 1 Fontes de financiamento do projeto: FAPEMIG e CONSÓRCIO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DO CAFÉ. Engº Agrônomo, Prof. titular do Departamento de Engenharia da UFLA Lavras/MG., Cx.P. 7, CEP: 7200-000, e-mail: mafaria@ufla.br, fone: 0xx58210 4 Graduando em Engenharia Agrícola, bolsista de Iniciação científica PIBIC/CNPQ - UFLA/MG. 5 Graduando em Engenharia Agrícola, bolsista de Iniciação do CBP&DC UFLA/MG Engenharia Agrícola 58
Palavras-chave: irrigação do cafeeiro, fertirrigação, produtividade, qualidade. INTRODUÇÃO O Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo que a exportação deste produto representa uma significativa fonte de divisas para o país. Baseados nisso, os produtores têm adotado novas tecnologias de condução e manejo da lavoura, como por exemplo a irrigação e fertirrigação, a fim de aumentar a produtividade e consequentemente, a margem de lucro. O café é dos poucos produtos agrícolas, no Brasil, que tem seu preço associado a parâmetros qualitativos; assim seu valor é acrescido com a melhoria da qualidade, SOUZA (16). A qualidade da bebida do café está diretamente relacionada com diversos constituintes físicos, físico-químicos e químicos, que são responsáveis pela aparência do grão torrado, pelo sabor e aroma característicos das bebidas e, dentre estes constituintes, destacam-se os compostos voláteis, fenólicos, ácidos graxos, proteínas e algumas enzimas, cuja presença, teores e atividades conferem ao café um sabor e aroma peculiares, AMORIM (168). A irrigação do cafeeiro, no Brasil, ganhou importância com o avanço desta cultura para as regiões consideradas marginais ao seu cultivo quanto às necessidades hídricas, como por exemplo, as regiões de cerrado, entre elas o Triângulo Mineiro e o Oeste Baiano. Também nas regiões consideradas aptas à cafeicultura sem irrigação, como é o caso do sul de Minas, na qual a ocorrência de estiagens prolongadas nas fases críticas da cultura têm promovido uma redução significativa na produção, os cafeicultores vêm usando cada vez mais essa prática. Vários autores verificaram o efeito positivo da irrigação na produção do cafeeiro (ARAÚJO, 182; SANTINATO et al., 16). A qualidade do café é influenciada por vários fatores, por isso, vários países estabeleceram normas e padrões de classificação quanto ao tipo, bebida, peneira (tamanho do grão), cor e composição química do grão. Vários pesquisadores, entre eles, CHAGAS et al. (16), vêm desenvolvendo trabalhos visando correlacionar a composição química e a atividade da enzima polifenoloxidase do grão com a qualidade da bebida. O elevado potencial da Região Sul de Minas, para a produção de cafés finos de bebida mole e apenas mole, foi levantado por SOUZA (16) com base na atividade da polifenoloxidase, constatandose que, aproximadamente 86,5% das amostras de café do Sul de Minas, exibem cafés de bebida dura, mole e estritamente mole. Por se tratar de uma prática nova na cafeicultura, a irrigação deve ser estudada de forma detalhada. Aspectos fisiológicos dessa cultura Engenharia Agrícola 5
são sensivelmente influenciados pela irrigação e a falta de informações precisas leva ao uso inadequado da irrigação. Assim, este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de diferentes lâminas de irrigação e parcelamentos de N e K na qualidade e produtividade acumulada de 5 safras do cafeeiro. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado na área experimental do Departamento de Engenharia da UFLA, em Lavras, MG (21º45 S; 45º00 W; 18 m) ocupando uma área de 0,24 ha. Utilizou-se plantas de cafeeiro (Coffea arabica L.) da cultivar Acaiá Cerrado (MG-1474), plantadas em espaçamento,0 x 0,6 m. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados com parcelas subdivididas, com 4 repetições. As parcelas receberam 5 tratamentos sendo uma parcela sem irrigação, L 0, e 4 lâminas de irrigação resultantes da multiplicação da evaporação do tanque Classe A (ECA) pelos fatores: 1,0 (L 1 ); 0,8 (L 2 ); 0,6 (L ) e 0,4 (L 4 ). As subparcelas receberam os tratamentos de N e K, via água de irrigação, correspondentes a, 6 e parcelamentos de adubação, na época tradicional de aplicação (outubro a março). A irrigação ocorreu toda vez que o saldo acumulado da ECA menos a precipitação atingia 40 mm e o volume de reposição calculado com base na área efetivamente molhada. O sistema de irrigação utilizado foi o gotejamento. O número total de plantas por parcela foi de 0 (10 por sub-parcela), sendo a parcela útil composta de 24 plantas (8 por sub-parcela). O critério utilizado para definição do momento de colheita foi a percentagem de frutos verdes menor ou igual a 15% nas amostragens realizadas. Realizada a colheita de cada safra e após a secagem no terreiro, procedeu-se ao beneficiamento e avaliação de suas produtividades padronizadas a 1% de umidade. Os dados provenientes das colheitas das safras 18/1, 1/2000 e 2000/2001 foram apresentados por Alves (1), Vilella (2001) e Silva (2002), respectivamente. Determinou-se no final de 5 safras a produtividade acumulada. Para a análise da qualidade foram avaliadas amostras de café beneficiadas em cada safra e preparadas por via seca, classificando-as quanto ao tamanho dos grãos (peneiras: 1, 18, 17, 16, 15, 14 (peneiras circulares) e 12, 11, 10, (peneiras oblongas- moca). Para a classificação do café quanto à bebida, procedeu-se às análises pela prova de xícara e pelo método químico, no qual avaliou-se os parâmetros: Engenharia Agrícola 60
polifenoloxidase, índice de coloração, acidez titulável total, fenólicos totais, açúcares redutores, açúcares não redutores (CHAGAS et al., 16). RESULTADOS E DISCUSSÃO A produtividade acumulada nas 5 safras (18 a 200), em sacas/ha, do cafeeiro Acaiá, foi influenciada pelo fator Lâmina de Irrigação (Tabela 1). Foi observado um crescimento em função do aumento da lâmina aplicada (Figura 1), com um incremento médio da ordem de 57,2%, 8,12%, 5,4% e 27,46%, nos tratamentos L1, L2, L e L4, respectivamente, comparados ao tratamento não irrigado (L0) (Tabela 2). Tais incrementos vêm sustentar as afirmações de MATIELLO & DANTAS (187) e de SANTINATO et al.(16), que encontraram, respectivamente, incrementos na produtividade de 4% e de 48% em cafeeiros irrigados, quando comparados com cafeeiros não irrigados. As produtividades do cafeeiro em sacas/hectare nas cinco primeiras colheitas (safras 18 a 200) e o total acumulado, pode ser observada na Tabela 2. Tabela 1. Quadro de análise de variância para produtividade do cafeeiro (Coffea arabica L.) Acaiá MG-1474, na safra 200, em sacas de café beneficiado por hectare (sc/ha), UFLA, Lavras/MG, 2004. Fator de Variação G.L. Q.M. Lâmina Bloco Resíduo 1 Parcelamento Lâmina x Parcelamento Resíduo 2 4 12 2 8 0 256.5556 * 5610.652101 265.71515 4.1054 NS 268.48461 NS 11.81855 5 21.58 Total Média Geral: R 2 (%): CV 1 (%): CV 2 (%): 5.78 17.6 12.4 * significativo ao nível de 5% de probabilidade. NS: não significativo. Engenharia Agrícola 61
400 Produção acumulada (sacas/ha) 50 00 250 200 150 220,7 281,2 4,2 2,1 04,0 y = 1,182x + 224,6 R 2 = 0,557 0 20 40 60 80 100 Lâm inas de irrigação (%EC A) Figura 1. Produção acumulada do cafeeiro (C o ffea ara bica L.) A caiá M G-1474, em sacas/ha, período de 18 a 200, em função das lâminas de irrigação, UFLA, Lavras/MG. A qualidade da bebida não foi prejudicada pela irrigação e os resultados variaram de ano para ano, produzindo café classificado como de bebida dura ou mole/apenas mole, e que as médias do tratamento 100% da ECA foi o que apresentou maior porcentagem de grãos retidos na peneira 16 e acima desta e melhor tipo, 5-6. Nas Tabelas e 4 apresentam-se, de forma resumida, os resultados obtidos através das análises sensorial, química e física do café colhido nas cinco colheitas. De modo geral, os grãos do café colhido foram classificados como de aspecto bom, cor esverdeado e seca boa. Tabela. Porcentagens médias da distribuição em peneiras dos grãos de café beneficiados, provenientes das safras 18/1, 1/2000, 2000/2001, 2001/2002 e 2002/200, relativas aos tratamentos de diferentes lâminas de irrigação aplicadas ao cafeeiro Acaiá MG-1474, UFLA, Lavras, 2004. Engenharia Agrícola 62
Tabela 4. Resultado das análises de qualidade da bebida do café colhido nas cinco safras, pelos métodos químico e prova de xícara, em função das lâminas de irrigação e parcelamentos de adubação, aplicados ao cafeeiro Acaiá MG-1474, UFLA, Lavras-MG, 2004. Lâmina Parcelamentos Safra 8/ Safra /00 Safra 00/01 Safra 01/02 Safra 02/0 de de Método Prova de Método Prova de Método Prova de Método Prova de Método Prova de irrigação 1 adubação químico xícara químico xícara químico xícara químico xícara químico xícara M/AM 2 D M/AM D D D M/AM M D D L 0 6 M D D D D D M/AM AM 5 M/AM D D 4 D D D D D M/AM AM M/AM D D D D D D D M/AM AM M/AM D L 1 6 D D D D D D M/AM M M/AM D M/AM D D D D D M/AM D M/AM D dura D D D D D M/AM M D D L 2 M/AM D D D D D M/AM M M/AM M 6 D D M/AM D D D M/AM M M/AM M D D D D D D D AM M/AM D L 6 M/AM D D D D D M/AM M M/AM D M/AM D M/AM D D D M/AM M M/AM D M/AM D D D D D D D D M L 4 6 D D D D D D D D M/AM M M/AM D D D D D D AM M/AM M 1: L 0 =0%ECA; L 1 =100%ECA;L 2 =80%ECA;L =60%ECA;L 4 =40%ECA 2:M/AM=mole/apenas mole :M=mole 4:D=dura 5:AM=apenas mole CONCLUSÕES A irrigação do cafeeiro produziu efeitos significativos sobre a sua produtividade, sendo a lâmina L 1 (100% da ECA) a que proporcionou maior rendimento. As lâminas L 1 (100%ECA), L 2 (80%ECA), L (60%ECA) e L 4 (40%ECA) proporcionaram produções, respectivamente, 57,2%, 8,12%, 5,4% e 27,46 a mais que a testemunha L 0 (0%ECA), nas cinco safras da lavoura. Os resultados dos parâmetros físico-químicos analisados e da análise sensorial dos grãos promoveu a classificação de suas bebidas nos padrões Duro e Mole/Apenas Mole, sem uma predominância para um tratamento específico, não prejudicando assim a qualidade final dos grãos. Observou-se uma tendência de que grãos de maior tamanho foram encontrados quando se aplicou uma lâmina maior de irrigação (L 1 ), nas classificações por peneiras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, M. E. B. Respostas do cafeeiro (Coffea arabica L.) a diferentes lâminas de irrigação e fertirrigação. Lavras: UFLA, 1. 4p. (Dissertação Mestrado em Engenharia Agrícola). AMORIM, H.V. Estado nutricional do cafeeiro e qualidade da bebida. Revista de Agricultura, Piracicaba, v.4, n.2, p.-10, jun.168. Engenharia Agrícola 6
ARAÚJO, J.A.C. de. Análise do comportamento de uma população de café Icatu (H-4782-7) sob condições de irrigação por gotejamento e quebra-vento artificial. 182. 87 p. Dissertação (Mestrado) Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (ESALQ), Piracicaba/SP. CHAGAS, S.J. de R.; CARVALHO, V.D.; COSTA, L. Caracterização química e qualitativa de cafés de alguns municípios de três regiões produtoras de Minas Gerais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.1, n.8, p.555-561, ago. 16. MATIELLO, J.B.; DANTAS, S.F. de A. de. Desenvolvimento do cafeeiro e do sistema radicular com e sem irrigação em Brejão (PE). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 14, 187, Campinas. Resumos... Campinas, p.165, 187. PIMENTA, C.J. Qualidade do café (Coffea arabica L.) originado de diferentes frutos colhidos em quatro estádios de maturação. Lavras: UFLA, 15, 4p. (Dissertação Mestrado em Ciências dos Alimentos). SANTINATO, R.; FERNANDES, A.L.T.; FERNANDES, D.R. Irrigação na cultura do café. Campinas: Arbore, 16. 146p. SILVA, A. L. da. Estudo técnico e econômico do uso do sistema de irrigação por gotejamento na cultura do cafeeiro (Coffea arabica L.). 2002. 67p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola). Universidade Federal de Lavras, Lavras-MG. SOUZA, S.M.C. de. O café (Coffea arabica L.) na Região Sul de Minas Gerais: relação da qualidade com fatores ambientais, estruturais e tecnológicos. Lavras: UFLA, 16. 171p. (Tese - Doutorado em Fitotecnia). VILELLA, W. M. da C. Diferentes lâminas de irrigação e parcelamentos de adubação no crescimento, produtividade e qualidade dos grãos do cafeeiro (Coffea arábica L.). Lavras: UFLA, 2001. 6p (Dissertação- Mestrado em Engenharia Agrícola/ Irrigação e Drenagem). Engenharia Agrícola 64