Artigo referente à CONFERÊNCIA 3 - Sexualidade, Moralidade e Educação - Curso Diversidade Sexual e Igualdade de Gênero

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Transcrição:

Artigo referente à CONFERÊNCIA 3 - Sexualidade, Moralidade e Educação - Curso Diversidade Sexual e Igualdade de Gênero O USO DOS PRAZERES EM MICHEL FOUCAULT Gerson Gilvanei Carvalho Dispositivo de Sexualidade e Poder Para definir dispositivo de sexualidade precisamos esclarecer o que é um dispositivo. Dispositivo é um conjunto de meios planejadamente dispostos com vistas a um determinado fim. São mecanismos como regras, preceitos e prescrições. Foucault (1993) pretende através deste termo demarcar um conjunto decididamente heterogêneo. O dito e o não dito são os elementos do dispositivo.estes elementos englobam discursos instituições, organizações, arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais e filantrópicas. (p.244) Estes elementos podem estabelecer uma rede onde estão constantemente mudando de posição, modificando essas funções.o dispositivo é a rede onde existe um jogo entre estes elementos. Por ter em vista um determinado fim o dispositivo é uma função estratégica dominante. Trata-se de uma certa manipulação das relações de força, de uma intervenção racional e organizada nestas relações de força que sustentam tipos de saberes e são sustentados por eles. Essa intervenção racional pode atuar nas relações de força para desenvolvêlas em determinada direção, seja para bloqueá-las, para estabilizá-las e utilizalas.desta forma o dispositivo, esta sempre inscrito em um jogo de poder. Para Foucault (1993), o dispositivo de sexualidade esta intimamente ligado ao poder. Compreendendo poder como um feixe de relações mais ou menos organizado, mais ou menos piramidalizado, mais ou menos coordenado. Poder é um

feixe aberto de relações. (p.248) Esse poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades, praticas e subjetividade. Na obra História da Sexualidade 2 o uso dos prazeres o autor analisa a relação, dispositivo de sexualidade e poder, nos textos da antiguidade clássica que prescrevem estratégias em relação ao uso dos prazeres. A questão central a saber é como, o individuo se constitui a si mesmo como um sujeito moral de suas próprias ações, a relação de si para consigo. É a partir do discurso filosófico que o dispositivo de sexualidade vai se interligar com o poder, a verdade e a liberdade.quando a filosofia afirma que com o sexo o homem não vai simplesmente fabricar prazeres mais vai produzir verdade, que será a sua verdade. Quando as prescrições filosóficas afirmam para as pessoas que, em seu sexo, esta o segredo de sua verdade, uma liberdade e seu poder. Liberdade é Temperança ou o mais real dos homens é rei de si mesmo É na Grécia Clássica que Foucault localiza a questão da relação da verdade com o prazer sexual. É a partir do discurso da temperança em relação aos prazeres sexuais que os filósofos buscam a felicidade tanto do individuo como da cidade. As prescrições dos filósofos buscam como objetivo reger a atitude do indíviduo em relação a si mesmo, a maneira pela qual ele garante uma própria liberdade no que diz respeito aos seus desejos. É a forma de soberania, que ele exerce sobre si que constitui a felicidade e a boa ordem da cidade. A temperança é a grande verdade que os filósofos prescrevem. Ser livre em relação aos prazeres é não estar o seu serviço, é não ser seu escravo. A pior servidão é ser subjugado pelos prazeres. A liberdade da temperança é poder que se exerce sobre si e que se exerce sobre os outros. A temperança é um principio racional que governa o homem superior e lhe possibilita exercer uma autoridade perfeita sobre si mesmo e, por isso, está apta a comandar os outros. Desta forma o exercício do poder político exigira, como seu próprio princípio de regulação interna, o poder sobre si. Para os filósofos clássicos o homem, o chefe, o senhor, é aquele capaz de controlar seu próprio apetite, uma intensa paixão. Homem livre é aquele que demonstra o poder de comandar em si próprio os prazeres e os desejos.

Para Foucault (2006) a temperança, entendida como um dos aspectos de soberania sobre si, é uma virtude qualificadora daquele que tem que exercer domínio sobre os outros. Assim como a justiça, a coragem e a prudência, a temperança evitara o caos social e os abusos e violência sobre os súditos. O domínio de si é o caráter viril da temperança. Esta é, no sentido pleno, uma virtude de homem. É o domínio de si e o domínio do outro. O espaço interno e o externo. O homem comanda a casa, a cidade, os escravos, as crianças e as mulheres. O domínio de si é uma qualidade de homem, é uma maneira de ser homem. Nessa moral de homens feita para homens, a elaboração de si como sujeito moral consiste em instaurar de si para consigo uma estrutura de virilidade. A liberdade ativa é a virtude de temperança. É na condição de homem livre, aquele que controla os desejos, que domina a virilidade sexual, em que se estabeleceu uma virilidade ética e uma virilidade social. No uso desses prazeres de macho é necessário ser viril consigo como se é masculino no papel social. Dominar a atividade de homem que se exerce face aos outros na pratica sexual. É preciso ser ativo em relação ao que por natureza é passivo é que deve permanecê-lo.impor os princípios da razão, da medida é uma virilidade social e uma virilidade ética que convém ao exercício da virilidade sexual. O homem possui a virtude ética em sua plenitude.virtude de comando, a temperança e a coragem. Logos, verdade e a estética da existência A liberdade poder que caracteriza o modo de ser do homem temperante não pode ser concebida sem uma relação com a verdade. Dominar os seus próprios prazeres e submetê-los ao logos formam uma única e mesma coisa. Para os gregos não se pode praticar a temperança sem uma forma de saber. Não se pode constituir-se como sujeito moral no ouso dos prazeres sem constituir-se ao mesmo tempo como sujeito de conhecimento.(foucault, 2006:80) A temperança implica que o logos seja colocado em posição de soberania no ser humano, somente desta forma ele poderá submeter os desejos e regular o comportamento. No intemperante, o desejo domina e exerce a tirania. A feminilidade é a intemperança, a passividade. Feminilidade é encontrar-se num estado de não-resistência e em posição de fraqueza e de submissão em relação à força dos prazeres; é ser incapaz de uma atitude de virilidade consigo que

permita ser mais forte do que si próprio. Nesse sentido, o homem de prazeres e de desejos, o homem do não-domínio ou da intemperança é um homem ignorante e efeminado. A linha de demarcação entre homem viril e um homem efeminado não coincide com a nossa oposição entre hétero e homossexualidade; ela também não se reduz à oposição entre homossexualidade ativa e passiva. Ela marca a diferença de atitude em relação aos prazeres; e os signos tradicionais dessa feminilidade preguiça, indolência, recusa das atividades - um tanto rudes - do esporte, gosto pelos perfumes e pelos adornos, lassidão. (Foucault 2006:78) Para os gregos a negatividade ética não é amar dois sexos, também não é preferir seu próprio sexo ao outro; é ser passivo em relação aos prazeres. A relação sexual é sempre pensada a partir do ato modelo da penetração e de uma polaridade que opõe atividade e passividade. É percebido como a relação entre superior e inferior, aquele que domina é aquele que é dominado, o que, submete e o que é submetido, o que vence é o que é vencido. As práticas de prazer são refletidas através das mesmas categorias que o campo das rivalidades e das hierarquias sociais. E pode-se compreender, a partir daí, que há, no comportamento sexual um papel que é intrinsecamente horroroso e que é valorizado de pleno direito: é o que consiste em ser ativo, em dominar, em penetrar e em exercer, assim a sua superioridade. Na mulher essa passividade não deve ser reprovada, pois faz parte de sua natureza e seu status social impõe. Já para o rapaz de origem livre existe serias dificuldades neste jogo de valores. Ele deve evitar as marcas das inferioridades, da dominação, da servidão aceita. É considerado vergonhoso se ele se prestou a ser objeto complacente do prazer do outro. Seu lugar não se superpõe ao de escravo e nem ao de uma mulher. No jogo das relações sexuais nada impede nem proíbe que um adolescente seja o parceiro sexual de um homem. Em Atenas, certas leis protegem as crianças livres contra os adultos que durante um certo tempo não terão o direito de entrar nas escolas, contra os escravos que ficam sujeitos à morte se procuram corrompê-las, contra pais ou tutores que são punidos se as prostituem. Para os atenienses é difícil aceitar ser governado por alguém que se identificou, quando jovem, ao papel do objeto de prazer para os outros. Quando, no jogo das relações de prazer, desempenha-se o papel do dominado, não se poderia

ocupar, de maneira valida, o lugar do dominante no jogo da atividade cívica e política. É moral e politicamente incompatível com as responsabilidades e o exercício do poder na cidade, um homem que foi marcado pela passividade sexual. É em função dessa dificuldade na relação entre homens e rapazes que a atenção foi concentrada no fato de um dos parceiros ser jovem, ou seja, de não ter ainda atingido um status viril. Percebemos que para os antigos gregos a reflexão sobre o uso dos prazeres se orienta para uma estilização da atitude e uma estética da existência. Foucault (2006) diz que a estilização, visto que a rarefação da atividade sexual se apresenta como uma espécie de exigência aberta: pode-se constata-la facilmente: nem os médicos, ao darem conselhos de regime, nem os moralistas, ao pedirem aos maridos para respeitar suas esposas, nem aqueles que dão conselhos sobre a boa conduta no amar rapazes, dirão exatamente o que é preciso ou não fazer na ordem dos atos ou práticas sexuais. E a razão disso não está sem dúvidas, no pudor ou na reserva dos autores, mas no fato de que o problema não é esse: a temperança sexual é um exercício da liberdade que toma forma no domínio de si; e esse domínio se manifesta na maneira pela qual o sujeito se mantém e se contem no exercício de sua atividade viril, na pela qual se relaciona consigo mesmo na relação que tem, com os outros. Para Foucault, essa atitude, muito mais do que os atos que se cometem ou os desejos que se escondem, dão base aos julgamentos de valor. Valor moral que é também um valor estético, e valor de verdade, visto que, ao manter-se na satisfação das verdadeiras necessidades, ao respeitar a verdadeira hierarquia do ser humano, e não esquecendo jamais o que se é verdadeiramente, é que se poderá dar à sua própria conduta a forma que assegura o renome e merece a memória.(2006:85)

Bibliografia SILVA, Tomaz (ORG). O Sujeito da Educação: estudar foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1994. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 2: o uso dos prazeres. RJ: Edições Graal; 11ª. Edição; 2006. FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. RJ: Edições Graal; 11ª Edição; 1993. VEIGA NETO, Alfredo. Foucault e a Educação. Belo Horizante: Autêntica; 2ª ed., 2005.