O COTIDIANO DO GRUPO ESCOLAR JOSÉ RANGEL: UM ESTUDO ATRAVÉS DAS EXCURSÕES



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Transcrição:

O COTIDIANO DO GRUPO ESCOLAR JOSÉ RANGEL: UM ESTUDO ATRAVÉS DAS EXCURSÕES JUNQUEIRA, Lígia de Souza 1 Universidade Federal de Juiz de Fora O objetivo deste estudo centra-se no resgate do cotidiano do Grupo José Rangel 2 através dos registros sobre as excursões escolares realizadas no período de 1949 a 1960 nesta instituição Tais atividades foram práticas pedagógicas complementares e recorrentes nos programas dos grupos escolares, desde o início de sua organização, tendo ganhado relevância de forma acentuada, no final da década de 1920, quando da implementação da Reforma de Ensino Primário 1927/1928 do Estado de Minas Gerais 3. Esta proposta reformista foi influenciada pelos preceitos da Escola Nova, tendo valorizado as excursões escolares como recursos fundamentais para a aprendizagem e socialização dos alunos. Neste caso, os registros destas práticas revelaram-se, em certa medida, ricos de sentidos ao permitirem resgatar nuances significativas da cultura escolar desta instituição. Para a realização do trabalho, recorreu-se aos Livros de Atas de Excursões do Grupo José Rangel (1949-1960), encontrados no acervo dos primeiros grupos escolares de Juiz de Fora. A investigação apoiou-se, ainda, no texto legal do decreto n 8094, de 22 de dezembro de 1927, que aprova os P rogramas do Ensino Primário, como também o decreto n 7970-A, de 15 de outubro d e 1927, introdutor do Regulamento de Ensino Primário, bem como na literatura pertinente ao estudo do cotidiano escolar. Quanto ao recorte temporal adotado neste estudo, 1949 a 1960, cabe aqui registrar que, em conseqüência das limitações impostas pelas fontes encontradas no acervo consultado, diante das quais deparou-se com uma imensa lacuna, não foi possível localizar outros registros de excursões anteriores ao ano de 1949. Sabe-se, 1 Aluna da graduação de Pedagogia e bolsista do Programa de Treinamento Profissional da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora. 2 Primeiro Grupo Escolar da cidade de Juiz de Fora, criado no ano de 1906, entretanto instalado em 4 de fevereiro de 1907. 3 Já na Reforma João Pinheiro, nos programas de ensino de Geografia e de História do Brasil apontava-se o uso das excursões com o objetivo de complementar o ensino e a aprendizagem dos alunos. Ver Mourão, página 120, capítulo XXI.

porém, que através de estudos em outras fontes deste acervo, há indícios claros da ocorrência freqüente destes eventos na escola estudada, fato que nos revela a precariedade e o descaso com relação à preservação de tais documentações, o que urge uma intervenção mais efetiva de entidades e, também, de nós pesquisadores comprometidos com a preservação da memória cultural de nossas instituições escolares. Reconstituindo contextos: As Excursões Escolares e os movimentos reformadores (1920-1946) Pode-se dizer que no final da década de 1920, o Brasil passou por significativas mudanças nos setores político, econômico e social, transformações essas, gerativas do início da transição de uma sociedade de base agrário-exportadora para uma sociedade de economia industrial-urbana. Em decorrência de tais mudanças observou-se a emergência e a consolidação de novos grupos sociais. A expansão da classe média e do operariado permitiu a estas classes maior participação nos movimentos reivindicatórios por melhores condições de vida e maior acesso à escolarização. Essas transformações impulsionaram o debate sobre o atraso em que se encontrava o sistema educacional brasileiro, estimulando também inúmeras reformas educacionais estaduais e no Distrito Federal. 4 Segundo Nagle (2001), estes movimentos reformistas foram influenciados em suas concepções por diferentes ideários educacionais presentes naquela década. De um lado o entusiasmo pela educação marcado, fortemente, pelo pensamento nacionalista, que via na ampliação da escolarização popular o único instrumento capaz de garantir o progresso e moralização do regime político do país, até então, estruturado em um modelo excludente e exclusivista. A centralidade deste pensamento educacional volta-se para a erradicação do analfabetismo e a expansão da escola pública. Nesse caso, acreditava-se que a difusão de escolas seria o caminho mais curto para o Brasil atingir a marcha das grandes nações do mundo. 5 Do outro lado, sustentou-se a crença na remodelação profunda da escola, até então estruturada de forma arcaica e tradicional, como o melhor caminho para se sustentar a formação de um novo homem e de uma nova sociedade o otimismo pedagógico. Este pensamento foi influenciado por um dos movimentos educacionais mais 4 Ver Nagle: Educação e Sociedade na Primeira República. 5 O ideário do entusiasmo pela educação influenciou as Reformas do Ensino empreendidas nos estados de São Paulo, Ceará, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal. 2

importantes do início do século XX, importado da Europa e dos Estados Unidos a Escola Nova (ibidem). Na perspectiva do ideário escolanovista, o ensino deveria estar centrado no aluno, a disciplina voltava-se para a dimensão formativa do indivíduo, que deveria se dar de dentro para fora, o objetivo da escola era educar e não apenas instruir, os alunos deveriam aprender fazer fazendo 6. A escola seria, então, espaço onde as capacidades individuais poderiam ser ampliadas e aprimoradas, no sentido de melhor socializar o indivíduo. Deveria, ainda, estabelecer uma relação direta com a sociedade, transformando-se em uma sociedade em miniatura, capaz de produzir uma verdadeira revolução social 7. Além das mudanças pedagógicas analisadas, anteriormente, o movimento educacional, em questão, defendia uma escola, laica, única e gratuita, onde a educação deveria ser proporcionada a todos, que deveriam receber de forma equânime, o mesmo tipo de educação. Pretendia-se com esse movimento criar uma igualdade de oportunidades, a partir daí, floresceriam as diferenças naturais segundo os talentos e as características de cada um. A função da educação era formar um cidadão livre e consciente que pudesse incorporar-se ao Estado. O movimento da Escola Nova no Brasil ganhou espaço, principalmente, a partir da organização da Associação Brasileira de Educadores (ABE). Entretanto, sua consolidação ocorreu durante as implantações das várias reformas educacionais instituídas no decorrer da década de 1920. Dentre estas, destacou-se a de Minas Gerais, idealizada pelo então Secretário do Interior, Francisco Campos, durante o governo Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1926-1930), político que imprimiu profundas mudanças nos setores econômico, político e educacional do Estado, criando a Universidade de Minas Gerais e implementando a Reforma do Ensino Primário e Normal de 1927/28 8. Com relação a proposta de remodelação da escola primária várias frentes foram abertas no sentido de sustentar novos métodos e novas práticas de ensino. As excursões escolares ganharam grande relevância na época, tornando-se importante recurso pedagógico, como pode ser visto no decreto n 8094, de 22 de dezembro de 1927, que aprovou os programas do ensino primário. No trecho que se refere às práticas escolares, Excursões Escolares, são abordadas as finalidades destas excursões: 6 Veiga, 2000. 7 Nagle, 2001. Peixoto, 1983. 8 Peixoto, 1983. 3

As excursões aos varios pontos da séde escolar trazem preciosos subsidios ao ensino das materias do programma. Constituem ellas um excelente exercicio physico e fazem entrar pelos olhos o dever de cooperar para o bem publico. Offerecem optimos assumptos para composições e facultam, com conhecimento de novas cousas, a ampliação do vocabulario. É onde melhor se pode comprehender as sciencias physicas e naturaes, é onde melhor se faz a inciação no estudo da geographia. Ellas despertam o sentimento do passado, essencial à comprehensão da historia, fazendo ver os velhos monumentos locaes, as ruas e estradas mais antigas, os logares onde viveram os nossos maiores, os beneficios que nos legaram (ARQUIVO MINEIRO, Legislação 1927, grifo meu). Nota-se no texto legal que tais práticas ganharam centralidade, não apenas pelo seu caráter didático-pedagógico no seu sentido mais estrito, mas por enfatizar a possibilidade do desenvolvimento da capacidade de observação dos alunos, além de destacar outras finalidades, como a de promover o desenvolvimento físico da criança e, sobretudo, a de prepará-la para o bom convívio na sociedade. Observa-se, claramente, no corpo da lei a preocupação diretiva e moralizadora atribuída ao processo educativo. Nesse sentido pode-se inferir que legava-se à escola o papel de inculcar princípios que formassem física e moralmente a criança para que se tornasse um cidadão ordeiro e pacífico. O decreto acima explicitado ressalta as excursões como um importante instrumento informativo, cuja prática na escola deveria ser permanente e metódica. O desenvolvimento dessas práticas pedagógicas deveria ser antecedido de um programa adaptado às mesmas. As excursões como recurso pedagógico não deveriam ser consideradas como passeios meramente recreativos, mas sim assumir o papel de uma atividade onde os alunos investigassem, ativamente, conceitos científicos e curiosidades diversas. Através do decreto que institui a Reforma - decreto n 7970-A, de 15 de outubro de 1927 é aprovado o regulamento de ensino primário. Ao tratar das atividades de excursão em sua Parte IX denominada Do Funcionamento Escolar, Capítulo IV Da Ordem dos Trabalhos Escolares, Art. 319, observa-se a seguinte proposição: Os professores promoverão, sempre que possível, excursões escolares, como meio de educação e de ensino, os directores das escolas reunidas e de grupos, auxiliados pelos respectivos professores, bem como os professores das escolas singulares, estudarão, as respectivas sedes e organização para os seus estabelecimentos um programma de excursões para os alumnos de cada anno do curso (ARQUIVO MINEIRO, Legislação, 1927, grifo meu). 4

O modelo instituído pela reforma citada, anteriormente, sofreu poucas alterações em termos legais. No entanto, no período transcorrido entre sua instituição e implementação em meados da década de 1940, alguns outros decretos foram criados no sentido de sustentar a organização de um sistema nacional de educação. Movimento marcado por avanços e retrocessos que na verdade pouco contribuíram para o aperfeiçoamento das práticas de excursão, mas que de certa forma possibilitaram a sedimentação de uma cultura escolar fortemente voltada para os aspectos disciplinadores e moralizadores da prática pedagógica formal. Em meados da década de 1930, observa-se no país uma tomada de consciência da precariedade das instituições escolares. Incitados por essa perspectiva, políticos e educadores realizam uma profunda revisão do sistema educacional brasileiro, visando promover oferta de oportunidades escolares a toda população, como também melhorar a qualidade do ensino. 9 Com o estabelecimento do Estado Novo, no ano de 1937, lutas ideológicas em torno dos problemas educacionais foram deixadas um pouco de lado, visto que não tinham a mesma importância que possuíam no início da década. Entretanto, por volta de 1942, através de iniciativas do então Ministro da Educação do governo Vargas, Gustavo Capanema, alguns ramos do ensino começam a sofrer modificações. Essas reformas, nem todas realizadas sob o Estado Novo receberam a denominação de Leis Orgânicas do Ensino. 10 Em 2 de janeiro de 1946, foi promulgado o decreto-lei n 8529, Lei Orgânica do Ensino Primário, o qual regulamentava e complementava a educação do ensino primário, que era dividido em duas categorias: ensino primário fundamental e o ensino supletivo, podendo-se afirmar com isso que a organização deste último teve o propósito de contribuir para a diminuição da taxa de analfabetismo. Percebe-se com isso um revigoramento da influência do movimento renovador e do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 11, que já abordavam a gratuidade, a obrigatoriedade e reforçavam a descentralização do ensino. É relevante destacar um grande avanço desta Lei, que foi a previsão do planejamento educacional, dos recursos para a implantação do sistema de educação primária. Porém, a aplicação desta legislação de ensino não pôde de fato se concretizar, uma vez que a mesma não era condizente com a realidade vivida. 9 Peixoto, 2000. 10 Romanelli, 1991. 11 Romanelli, 1991. 5

Além da implantação dessa nova Lei, ocorreu o surgimento da nova Constituição Brasileira 12. Esta estabelecia que as diretrizes e bases da educação nacional deveriam ser legisladas pela União. O direito a educação se tornou então um direito universal, o ensino primário oficial ficou sendo gratuito para todos, além de confirmar que o ensino seria ministrado pelos poderes públicos, contudo poderia haver a livre iniciativa particular, desde que estas respeitassem as leis regulamentares. Propostas estas que já eram concretizadas desde o Império estímulo à iniciativa privada, bem como a gratuidade do ensino público elementar e defendidas desde o Manifesto dos Pioneiros e que de certa forma aparecem na Constituição de 1934. Percebe-se que a Constituição de 1946 propunha uma reorganização do sistema educacional até então vigente no país, procurando descentralizá-lo tanto administrativa como pedagogicamente. É importante destacar também que essa Constituição previa recursos mínimos que deveriam ser destinados à educação. Baseado nessa Constituição o então Ministro da Educação, Clemente Mariani propôs uma comissão de educadores com o objetivo de estudar, pesquisar para então realizar um projeto de reforma geral na educação do país. O projeto foi, após sua elaboração, encaminhado à Câmara Federal iniciando assim uma intensa e longa luta marcada por ideologias e valores opostos que resultaria na Lei 4024. Romanelli (1991) afirma também que esta lei manteve a estrutura tradicional do ensino, entretanto não prescreveu um currículo fixo e rígido para todo o território nacional, quebrando assim a rigidez que se encontrava até então. As Excursões no cotidiano do grupo José Rangel (1949-1960) Por todas as reflexões tecidas até aqui não é errôneo afirmar que, as excursões escolares deveriam colocar o aluno em contato com o mundo à sua volta, exercitando seus sentidos, seus pensamentos, promovendo uma melhora na sua relação com a sociedade, bem como oferecendo inúmeras oportunidades para se trabalhar o físico e o espiritual. (Cf. AGUAYO, 1963). Ainda, segundo Aguayo (1963), há diversos tipos de excursões, algumas delas objetivando trabalhar determinada disciplina ou assunto, e outras que se propunham orientar os alunos na seleção de um assunto ou para recolher materiais a fim de serem observados pelos mesmos. De acordo com o mesmo autor, toda excursão deveria ser organizada, antecipadamente, e era dever do professor conhecer e estudar o local em que seria 12 No ano de 1946. 6

realizada. Além disso, era também função do educador procurar solucionar dúvidas dos alunos, caso elas existam. As atas registravam que em espaço de um mês eram realizadas em média seis excursões nas várias séries. As professoras reconheciam que essas eram um importante instrumento didático e educativo. No Grupo Escolar José Rangel, eram também realizadas Reuniões de Leituras, nas quais as professoras coordenadas pela diretora discutiam questões relacionadas ao cotidiano do Grupo, bem como, assuntos pedagógicos e administrativos. Ao consultar algumas dessas atas, no período de 1956 a 1961, percebeu-se o quanto as excursões tinham um papel fundamental na aprendizagem do educando, visto que a diretora abordava o tema nas reuniões, solicitando às professoras que realizassem as excursões de acordo com o Programa de Ensino, pois assim elas seriam ainda mais proveitosas para os alunos. Imbuídos por esse ideário, os educadores do Grupo Escolar José Rangel realizavam diversas excursões, que em sua maioria aconteciam dentro do município de Juiz de Fora, e objetivavam, sobretudo, a fixação dos conteúdos ministrados em sala de aula. Para exemplificar, pode-se citar as excursões que visavam concretizar o ensino de história, nas quais os alunos eram levados às praças, museus e grupos escolares da cidade com o objetivo, de estudar a história de nosso país, sobretudo, do município de Juiz de Fora. Este é o caso da excursão 13, realizada em 22 de junho de 1950, pela classe de 2ª série da professora Maria Carolina Vieira da Cunha, no intuito de visitar o Grupo Escolar Duque de Caxias e motivada pelo estudo feito em sala sobre a cidade de Juiz de Fora. O relato destacado a seguir é elucidativo dessa constatação: [...] Sai do Grupo às 8:40 com 41 alunos presentes, em direção ao grupo Duque de Caxias. Fomos gentilmente recebidos pela professora Herminia Côrtes de Araújo, já avisada de nossa visita. As crianças, ao entrar, observaram o que havia: cartazes, mapas, retratos. Depois, fui lhes dando as necessárias explicações: começamos pelos retratos das autoridades da República, do Estado, do Município. Em seguida, passamos aos cartazes que se referiam: aos fundadores da cidade, aos beneméritos, à imprensa de ontem e de hoje, à vida religiosa, à iluminação e fundação da Cia. Mineira, às Associações beneficentes, às emissoras locais, à biblioteca Municipal, à Santa Casa [...]. Todos os mapas traziam completas explicações sôbre o assunto tratado e as necessárias datas. Conheceram os homens ilustres e benfeitores, que tanto elevaram o nome de Juiz de Fora. As crianças tomaram diversas notas em seus cadernos. Depois de tudo observado, fizemos as despedidas. Agradecemos às professôras que nos fizeram companhia e chegamos ao grupo as 10:10 em perfeita ordem. As crianças fizeram 13 Livro de Registros de Excursões do Grupo Escolar José Rangel de 1948 à 1958. 7

um resumo escrito, e algumas leram os apontamentos trazidos. Outros exercícios serão feitos. Juiz de Fora, 22 de junho de 1950. Maria Carolina Vieira da Cunha. Outro exemplo de excursão 14 eram aquelas realizadas no museu Mariano Procópio, juntamente em seu parque ecológico. Onde visitavam o museu e observavam as plantas ali existentes, como podemos observar no exemplo abaixo, o qual se trata de uma excursão realizada no dia 26 de abril de 1955, pelas classes de 4ª séries, regidas pelas professoras Dalva Gama de Meneses e Jandira Abreu. Essa excursão planejada para uma visita ao Museu Mariano Procópio teve como objetivo conhecer o museu, ver as obras de arte, seus quadros e no parque ver de perto as plantas aquáticas, conforme descreve o registro: [...] Chegando ao Parque do Museu, subimos e fomos recebidos pelas encarregadas que nos guiaram em tôdas as salas, mostrando minuciosamente tôdos os objetos, moveis, quadros, etc. Os meninos tudo observavam com interesse, mostrando os conhecimentos de História do Brasil já adquiridos em aulas. Assim todos queriam ver o quadro de Parreiras sobre os Inconfidentes, na sua passagem, prêsos e algemados, por Matias Barbosa; o quadro que representa o esquartejamento de Tiradentes e outros. Viram e muito admiram, na sala do Duque de Caxias, vários objetos que lhe pertenceram, o manto de sua esposa, as armas que usava nos seus combates, etc. Viram na sala: D. Pedro II, as belas faianças que eram de uso no palácio em S. Cristovão, camas e objetos da Princesa Isabel; a farda da coroação do Imperador, ainda menor e farda que usou no dia do seu casamento. Enfim percorremos todo o Museu, encantados com tudo e após uma hora de agradavel visita, descemos ao Parque a ver as plantas aquáticas na lagôa existente [...]. Juiz de Fora, 26 de abril de 1955. Dalva Gama de Meneses e Jandira Abreu. A maioria das excursões era de cunho religioso, nelas as professoras levavam os alunos à Igreja onde rezavam o terço e algumas vezes oravam pela conversão dos espíritas e dos comunistas. Além disso, elas procuravam incutir nos alunos o dever católico de assistir à missa aos domingos e dias santos. Como a excursão 15 realizada no dia 23 de junho de 1949, pelas classes de 1ª séries, das professoras Odete de Castro Chagas e Maria Lídia de Azevedo, na qual visitaram a Catedral de Juiz de Fora, com o objetivo de obter a assistência fiel à Missa de preceito e respeito à Casa de Deus. [...] Depois de explicações sôbre a Santa Missa e suas partes principais, bem como sôbre a obrigatoriedade de assistí-la inteira, nos Domingos e Dias Santos, dirigimo-nos com nossas classes à Catedral de Juiz de Fora. Conduzidos os alunos ao interior da Igreja, fí-los ajoelharem-se em sinal de adoração ao S. S. Sacramento. Em 14 Livro de Registros de Excursões do Grupo Escolar José Rangel de 1958 à 1960. 15 Livro de Registros de Excursões do Grupo Escolar José Rangel de 1948 a 1958. 8

seguida, dispus as crianças nos bancos vagos a fim de assistirem à Missa, celebrada pelo Reverendo Padre Machado. Durante a celebração do Santo Sacrifícios os alunos puderam destacar suas partes principais: ofertório, consagração e comunhão fixando assim muito bem o que lhes que havia ensinado. Os alunos ainda tiveram ensejo para compreender que a Igreja é a Casa de Deus e que portanto é lugar de todo o respeito, principalmente durante a Missa em que Jesus se acha presente na hóstia consagrada, em corpo alma e divindade. Todas as fases da Missa foram acompanhadas com a maior atenção por partes dos alunos que demonstraram assim grande interesse pelo que haviam aprendido. Tudo foi realizado em meio da maior órdem, parecendo proveitosa a excursão que durou uma hora. Juiz de Fora, 23 de Junho de 1949. Maria Lídia de Azevedo e Odete de Castro Chagas. É importante destacar, também, que determinadas excursões abordavam não apenas uma disciplina, mostrando dessa forma uma certa preocupação com a integração dos conhecimentos, em um contexto dinâmico de aprendizagem, ou seja, a realidade concreta. Dentro desta perspectiva, podemos citar a excursão ao Parque Halfeld, no ano de 1954, na qual a professora abordou o ensino de Ciências Naturais e Geografia. Com a motivação do estudo feito sôbre as plantas sôbre alguns acidentes geográficos aí encontrados, como: lagos, córregos e algumas pequenas elevações, etc. Pode-se comprovar essas afirmações através da seguinte excursão: [...] Ao chegarmos ao local (..) demos uma volta pelo jardim, durante a qual, tiveram, as crianças, oportunidade de observar as plantas em geral. Parávamos de quando em quando para explicar e transmitir às crianças conhecimentos relativos ao assunto. Nessas pausas, foram feitas várias perguntas como verificação do estudo feito em classe. Continuando, mostramos ao mesmo tempo os acidentes geográficos alí existentes, como córregos, lago, nascentes e algumas pequenas elevações. As crianças, muitos interessadas, mostraram-se durante o percurso grande disposição de capacidade às explicações recebidas. (...) Juiz de Fora, 24 de março de 1954. Outro aspecto relevante decorre do fato das professoras apresentarem uma grande preocupação para com a socialização dos alunos. Elas procuravam desenvolver nos mesmos bons hábitos para se viver em sociedade tais como observar o tom de voz, cumprimentar pessoas conhecidas, ter delicadeza com pessoas idosas e deficientes, demonstrar respeito com os superiores, dentre outros. Como no exemplo abaixo: Relatório da excursão realizada no dia 27 de junho de 1949, pelas classes das 3ª séries, regidas pelas professoras: Maria Hilda Côrtes de Araujo e Ilka Ladeira Halfeld. Local: Academia de Juiz de Fora. Motivação: Concretizar o estudo feito em aula sobre as plantas. Objetivos de ensino: a) Observar as plantas de morro ou lugares secos, b) Observar a planta caracetristica do lugar, c) Comparar as plantas do morro com as do jardim: raizes, caules, flores, frutas e sementes, d) Plantas de ornamentação, plantas medicinais. Mostrar 9

em que consiste a defesa da raiz e estudar o terreno. Possibilidade de irrigação facil, adubação etc. Animais nocivos que frequentam a horta etc. Objetivos de educação: Desenvolver na criança bons hábitos para bem viver em sociedade. b) recomendar o tom de voz que devemos conservar quando estamos na rua. c) cumprimentar as pessoas conhecidas e, saber responder aos cumprimentos, principalmente as autoridades. d) delicadeza com as pessoas idosas e as que possuem defeitos fisicos etc. Após as lições do Rvdmo Pe. Encarregado da horta, que vieram concretizar o ensino feito em aula, foram as crianças, visitar os pateos de jogos do colegio. E assim voltamos ao Grupo, satifeitas de vêr que o ensino foi proveitoso e tudo correu com grande ordem. Juiz de Fora, 27 de Junho de 1949. Ilka Ladeira Halfeld, Maria Hilda Côrtes Araujo 16 (grifo meu). Deve-se abordar ainda a forma como as professoras assumiam o comportamento dos alunos. As atas relatam que no início das excursões as crianças se posicionavam em fila de dois em dois, com a finalidade de manter a ordem ao saírem de sala. Porém, no decorrer das mesmas, a disciplina nem sempre se mostrava satisfatória, obrigando as professoras intervirem quando necessário. As professoras que ministravam aula na primeira série realizavam juntamente com os alunos uma excursão dentro do Grupo Escolar, com a finalidade de que a turma pudesse conhecer as dependências físicas do Grupo Escolar, bem como as pessoas que lá trabalhavam. Outro fato registrado era que algumas excursões abordavam a importância da sopa escolar oferecida pelo Grupo aos seus alunos. Pode-se perceber tais afirmações em ata lavrada sobre a excursão realizada com o objetivo de estudar sobre a sopa escolar. Relatório da excursão realizada pela classe de 1ª série da professôra: Nair Vale Dutra Lima. Local: Grupo Escolar. Motivação: Sopa Escolar. Objetivo: Conhecer o Grupo e suas dependências. Desenvolvimento: A proposito do inicio da sopa escolar em nosso estabelecimento de ensino, conversei com a classe sôbre as substâncias necessárias para o preparo da sopa e sugerí às crianças, que possuem horta, a oferta, uma vez por semana, de verduras para a mesma. Logo surgiram as perguntas: - E onde entregamos as verduras? Aquí no grupo tem cozinha? Quem é a cozinheira? etc. Como as crianças, são novatas, não conheciam ainda a Cantina e sua encarregada, apresentou-se-me, então, a oportunidade de fazer com elas uma excursão, afim de que ficassem conhecendo essa parte do Grupo e também as demais de pendências do estabelecimento. Depois, de explicações em classe sôbre localização do Grupo, salas de aula, Diretora, gabinetes: dentário e medico, cantina, pateos, oficina: sala onde são dadas as aulas de trabalhos manuais, etc., levei, pois, a efeito a excursão e com ela os alunos poderam, conhecer bem, todas as dependências do prédio escolar e também a diretora, auxiliar, professôras, medico, dentista, enfermeiras, cozinheira, etc. Aproveitei a oportunidade para 16 Livro de Relatórios de Excursões do Grupo Escolar José Rangel de 1948 a 1958 10

ensinar as crianças o modo pelo qual devemos nos conduzir pelos corredores: pisando de leve, sem correr e em silêncio. As crianças gostaram do passeio pelo grupo e ficaram satisfeitas com os diversos ensinamentos obtidos, e prometeram serem disciplinadas e trazerem sempre verduras para a Sopa Escolar. Juiz de Fora, 30 de Março de 1954. Nair Vale Dutra Lima. Diretora: Mercedes Macedo de Souza. 17 Ao término das excursões, as professoras pediam aos alunos que fizessem algumas atividades, dentre elas escrever uma redação sobre a excursão realizada. As melhores redações eram publicadas no jornalzinho da instituição. Considerações Finais Através dessa análise pôde-se perceber o quanto era importante a realização das excursões no Grupo Escolar José Rangel, uma vez que reforçava a aquisição dos conteúdos ministrados em sala de aula. Tal atividade ajudava os alunos a concretizarem e compreenderem melhor os assuntos que foram abordados na escola, como também desenvolver bons comportamentos em sociedade. Além de gerar e fixar conhecimentos, as excursões contribuíam para a formação do aluno como cidadão social e histórico, bem como para a construção de sua autonomia. Pode-se afirmar ainda que as excursões eram um meio lúdico de se adquirir e compreender informações, propiciando aos alunos experiências antes não desfrutadas. Percebeu-se também que os educadores desse Grupo estavam sempre preocupados em transmitir e fornecer ao aluno um aprendizado sadio, bem como um ensino de qualidade. Esse estudo contribuiu substancialmente para um melhor entendimento sobre o cotidiano pedagógico e extra classe do Grupo Escolar José Rangel. Referências Bibliográficas AGUAYO, A. M. Didática da Escola Nova. Tradução de J.B. Damasco Penna e Antônio D Avila.12.ed.São Paulo: Companhia Editora Nacional,1963. ESCOLA ESTADUAL DELFIM MOREIRA. Ata de Reunião de Leitura do Grupo Escolar José Rangel (1956-1961). Juiz de Fora. (documento não publicado) 17 Livro de Relatórios de Excursões do Grupo Escolar José Rangel de 1948 a 1958 11

ESCOLA ESTADUAL DELFIM MOREIRA. Ata de Registro das Excursões do Grupo Escolar José Rangel (1948-1958). Juiz de Fora (documento não publicado) ESCOLA ESTADUAL DELFIM MOREIRA. Ata de Registro das Excursões do Grupo Escolar José Rangel (1958-1960). Juiz de Fora (documento não publicado) FARIA, Luciano Mendes de; PEIXOTO, Anamaria Casassanta (org.). Lições de Minas: 70 anos da Secretaria de educação. Belo Horizonte. Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, 2000. MINAS GERAIS, Decreto n 8094, de 22 de dezembro de 1927. Aprova os Programas do Ensino Primário, Belo Horizonte, 1927. MINAS GERAIS, Decreto n 7970-A, de 15 de outubro d e 1927. Aprova o Regulamento de Ensino Primário, Belo Horizonte, 1927. MOURÃO, Paulo Kruger Corrêa. O Ensino em Minas Gerais no Tempo da República. Belo Horizonte: Centro Regional de Pesquisas, 1962. NAGLE, Jorge. Educação e Sociedade: na Primeira República. Rio de Janeiro. DP&A, 2001. PEIXOTO, Anamaria Casassanta. Educação no Brasil: Anos vinte. São Paulo: Edições Loyola, 1983. ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. A Organização do Ensino e o Contexto Sócio-Político após 1930. In:. História da Educação no Brasil (1930-1973). 14ed. Petrópolis: Vozes, 1991, cap.4. 12