6. Descrição detalhada e análise do bem A sede do Círculo dos Trabalhadores Cristãos, compreende um conjunto de edificações construídas em diferentes períodos e que tem passado por sucessivas alterações e adaptações de uso ao longo do tempo. As edificações que constituem este conjunto são: um bloco frontal - identificado como a Casa do Operário propriamente dita - ocupa toda a testada do terreno; contíguo a este bloco e construídos sobre a divisa lateral direita do terreno encontram-se dispostos em seqüência, o barracão adaptado para teatro, uma garagem para 06 carros e um pequeno depósito (Fig. 73). Na divisa da lateral esquerda do terreno, após a entrada de automóveis, encontram-se uma pequena copa semi-aberta, duas instalações sanitárias, uma cozinha, uma garagem para 04 carros e uma sala de aulas (Fig. 39). O fundo do terreno era ocupado por uma residência que foi ampliada e reformada em 2009 e adaptada para a Casa de Nazaré, alterando substancialmente a construção original (Fig. 35). Com exceção da Casa do Operário (bloco frontal) as construções são em geral precárias - embora mantidas em razoáveis condições de uso - empregando estrutura convencional de tijolos autoportantes e coberturas de telhas de fibro-cimento, predominando a utilização de esquadrias de metal e vidro e piso de cimento queimado (Fig.77). A distribuição destas construções não obedece a nenhum tipo de planejamento geral, refletindo mais uma ocupação circunstancial e a utilização de recursos escassos; as sucessivas adaptações respondem a demandas imediatas de necessidade de espaço para as atividades do Círculo. Deste conjunto, apenas o bloco frontal - construído entre 1946 e1956 - mantém a integridade formal e física originais, constituindo-se em sua mais significativa construção e objeto deste dossiê. Assim, a descrição detalhada será referente apenas a este edifício que é proposto para preservação. A Casa do Operário encontra-se implantada sobre os limites frontal e laterais direito e esquerdo do terreno. É uma construção de dois pavimentos, com 453,60 m2 no térreo e 114,12 m2 no segundo pavimento. Sua volumetria de características bastante regulares se encontra integralmente preservada, assim como sua cobertura. Apenas a elevação frontal, no nível do pavimento térreo, sofreu algumas alterações ao longo do tempo mas, de modo geral, também preserva a grande parte de suas características originais. Internamente, os revestimentos de pisos, paredes e forros foram quase integralmente alterados, com poucos elementos originais preservados. A construção emprega estrutura de pilares e vigas de cimento armado. A vedação é feita com tijolos de barro maciços e todas as esquadrias das elevações são de metal e 45
vidro; algumas preservam os vidros fantasia originais. As portas internas, no entanto, são de madeira. Sua organização planimétrica revela as preocupações funcionalistas que começam a ser difundidas na época de sua construção. Segundo consta de sua escritura, a estrutura de concreto armado foi calculada para permitir uma eventual ampliação vertical com a construção de um terceiro pavimento; cada um dos pavimentos é constituído por um amplo salão com instalações sanitárias, que oferecem a possibilidade de se adequar a distintos usos, indicando claramente o propósito de criação de uma planta flexível, inclusive a de um apartamento no segundo pavimento, conforme é apontado em sua escritura. Esta solução é compatível com o objetivo da construção do imóvel para aluguel e, assim, gerar renda para a Instituição. As esquadrias são posicionadas em função dos espaços internos e com o objetivo de garantir iluminação e ventilação satisfatórias em todos os cômodos, sem preocupações com alinhamentos e simetrias absolutas. O edifício possui uma entrada de automóveis que dá acesso ao interior do terreno, situada na lateral esquerda da elevação frontal e coberta pela projeção do segundo pavimento. O restante da área do térreo é quase totalmente ocupada com amplo salão que ocupa toda a área frontal da edificação; na lateral direita, no limite da divisa do terreno, se encontra a escada que dá acesso ao segundo pavimento; sob a escada se localizam uma instalação sanitária e um depósito com portas voltadas para o salão. A área dos fundos da edificação é ocupada por uma sala estreita e comprida que se comunica ao salão frontal por uma porta interna, mas também possui acesso independente pela entrada de automóveis. Esta sala é ocupada pela secretaria do CTC. Na lateral direita desta sala sobre a divisa do terreno - se verifica a presença de duas instalações sanitárias: uma se abre para a sala e a outra para o teatro, que ocupa a área nos fundos contígua a este edifício. O segundo pavimento é composto também por um amplo salão e duas instalações sanitárias que se localizam em frente à escada. O salão térreo é iluminado por esquadrias dispostas na elevação central; a sala dos fundos não possui aberturas além da porta de acesso externo. O salão do pavimento superior possui aberturas tanto na elevação frontal como posterior. Os banheiros do pavimento superior possuem aberturas na elevação posterior mas as esquadrias basculantes dos banheiros do pavimento térreo e a escada se abrem na alvenaria da divisa lateral direita. Para sua adequação ao uso atual, a porta central e as duas esquadrias do pavimento térreo foram vedadas por gesso acartonado (Fig.27). O acesso ao imóvel é feito pela porta localizada na lateral direita da elevação frontal, que se abre para um 46
pequeno hall que dá acesso à escada. A porta original em estrutura metálica e vidro, em duas folhas foi substituída por uma porta de vidro temperado que corre paralela à parede pelo lado externo e é protegida por uma grade de metalon que se abre também para o lado externo. O salão do pavimento térreo foi adaptado para uma ampla sala de aulas, mas a estrutura de vigas e pilares permanece aparente (Fig. 46 e 47). Para agenciar o acesso independente ao banheiro e depósito situados no vão embaixo da escada, foi construída uma parede em gesso acartonado, criando um corredor a partir do hall de entrada (Fig. 49). O acesso ao pavimento superior é feito pela escada, executada em um só lance, com 23 degraus (Fig. 50). O revestimento original da escada foi substituído por um piso de cerâmica esmaltada. O salão deste pavimento foi dividido com paredes de gesso acartonado em duas salas de aula (Fig. 51 e 62), uma sala de espera e atendimento aos alunos (Fig. 52); a secretaria do curso, situada acima da escada, apresenta uma solução espacial que aparenta ser bem antiga pela características de suas portas e do armário embutido existente, embora não se saiba se o mesmo é original (Fig. 58 e 59). A parede que delimita os espaços das salas de aula foi executada de modo que um dos basculantes da porta de acesso ao balcão ficasse para dentro de uma das salas prejudicando portanto, a percepção do conjunto da esquadria pelo lado interno, mas garantindo o acesso ao balcão pelo grande hall de circulação e estar criado (Fig. 55 e 56). O piso original de tacos de madeira foi substituído por piso cerâmico e o forro de madeira tipo lambris foi substituído por forro de PVC branco (Fig. 54 e 63). As portas da secretaria, em madeira, assim como as portas dos banheiros são originais (Fig. 60 e 61). Os banheiros deste pavimento permanecem nos locais originais, porém o alteamento dos pisos internos - que originaram na conformação de degraus de altura acima do convencional - indicam uma provável intervenção (Fig. 70). O banheiro da lateral direita preserva o forro original de madeira tipo lambris, com alçapão (Fig. 70). O revestimento de piso e paredes, assim como as louças originais foram substituídos nos dois sanitários. (Fig. 69). Todas as esquadrias metálicas das portas e janelas do pavimento superior são originais e se encontram em razoáveis condições de uso (Fig. 57 e 66). O único espaço do edifício que é utilizado pelo Círculo dos Trabalhadores Cristãos é a sala que se encontra nos fundos do pavimento térreo, onde funciona, simultaneamente, a secretaria da Instituição e as aulas do curso de informática. A porta de acesso a esta sala é original da época de construção, em madeira almofadada (Fig. 42 e 43). A porta que liga esta sala ao salão principal permanece isolada; entretanto, as 47
características desta porta, de dimensões e material distintos da porta de acesso externo, sugerem que não seja original da época da construção. A sala também preserva o piso original de ladrilhos hidráulicos nas cores preto de beige (Fig. 44). Para dar privacidade ao acesso do banheiro, foi criada uma parede de alvenaria de tijolos que também sustenta a caixa d água que o abastece (Fig. 44). O pé direito deste cômodo é bastante alto, mas ele não possui nenhum tipo de abertura para ventilação e iluminação diretas. A entrada de automóveis, que dá acesso à sala da secretaria da Instituição e às demais construções do interior do terreno, possui pé direito bastante alto o que permitiu a instalação, em época indeterminada, de um mezanino de madeira que foi utilizado para depósito de materiais; atualmente esta estrutura encontra-se sem uso e totalmente comprometida pelo ataque de cupins (Fig. 40). O piso da entrada é de cimento queimado com pigmento verde e se encontra bastante danificado, com rachaduras, trincas e muitos remendos (Fig. 36 e 41). Neste espaço chama a atenção o nicho criado na viga de sustentação do pavimento superior onde ficava exposta a imagem de São José (Fig. 38). A composição da fachada é marcada pela presença do balcão no pavimento superior cujo acesso é feito por uma esquadria metálica composta por uma porta central ladeada por aberturas basculantes; este conjunto é protegido por uma marquise plana cujas dimensões correspondem à área do balcão. Do lado direito ao balcão, observa-se a presença de duas esquadrias basculantes e, do lado esquerdo, a presença de três esquadrias também basculantes; estas possuem as mesmas dimensões e características construtivas, assim como o mesmo espaçamento; cada um desses conjuntos de aberturas é protegido por uma marquise plana, posicionada no mesmo alinhamento da marquise do balcão (Fig. 25). Deste modo, a marquise do balcão e a marquise que protege as duas esquadrias basculantes da lateral direita apresentam a mesma dimensão enquanto que a marquise da lateral esquerda é mais comprida, uma vez que protege três esquadrias. A distribuição destes elementos confere um discreto dinamismo à fachada, que evita a organização pautada em uma simetria axial, criando um novo ritmo a partir da distribuição das aberturas que pode ser traduzido no esquema 3 2 2. A marquise do balcão apresenta uma largura ligeiramente maior que as marquises laterais (20 cm.) e é arrematada em ângulo reto nos dois lados. As marquises laterais, por sua vez, apresentam arremate em ângulo reto nas suas extremidades externas e arremates arredondados nas extremidades voltadas para a marquise do balcão (Fig. 27). Este tratamento diferenciado das marquises rompe com o ritmo estabelecido pelas aberturas e volta a realçar a importância do balcão como elemento organizador da fachada. 48
Imagens antigas do edifício apontam que originalmente o pavimento térreo apresentava, além da entrada de automóveis e a porta de entrada localizada na lateral direita, uma porta larga ladeada por duas janelas basculantes que se abriam para o salão, provavelmente as que hoje se encontram vedadas - tanto interna como externamente - com alvenaria de gesso acartonado. Esta porta corresponde, em posicionamento e largura, ao balcão do pavimento superior. Na extremidade da lateral esquerda, a entrada para automóveis preserva, ainda hoje, o portão metálico de duas folhas, com a sua metade inferior vedada e com grades na parte superior. Todas as aberturas do pavimento térreo são protegidas por uma marquise plana e contínua que percorre toda a extensão da elevação frontal. Sobre esta marquise, observa-se ainda a presença de aberturas estreitas correspondendo, em comprimento, às aberturas abaixo da marquise; estas eram protegidas por vidros e grades, e garantiam a melhor iluminação dos espaços internos. As duas esquadrias da lateral esquerda ainda preservam sua forma de vedação original; as demais foram substituídas por vidro temperado (Fig. 27 e 32). As marquises e os frisos de massa que percorrem o limite inferior dos basculantes e do balcão do segundo pavimento são pintados com cor contrastante aos panos de alvenaria e criam linhas horizontais que marcam a composição da fachada frontal. Como destaque da elevação frontal, verifica-se, acima das marquises, a presença da inscrição feita em massa que identifica sua origem: Casa do Operário. No entanto, a inscrição se encontra pintada com a mesma cor da alvenaria, sendo, portanto, pouco perceptível. A parte superior da elevação frontal acima da primeira marquise ainda preserva a textura original da parede trabalhada com texturas (Fig. 29); a parede do térreo foi revestida com ladrilhos que se encontram atualmente cobertos por pintura (Fig. 27). A cobertura agenciada em quatro águas possui engradamento de madeira, telhas francesas e é protegida por platibanda nas quatro elevações. A platibanda é arrematada por um friso saliente de massa que possui como, detalhe em sua face inferior, pequenos dentículos (Fig. 31). A drenagem das águas pluvias, originalmente feita por calhas embutidas, tornaram-se ineficazes; foram então instaladas saídas em tubos de pvc que foram afixadas nas paredes da elevação posterior e frontal, que joga as águas diretamente sobre as marquises superiores (Fig. 30 e 31). Acima da primeira marquise da elevação frontal também se observa a estrutura metálica de sustentação de painel de comunicação do curso que funciona no local atualmente. 49
O passeio foi refeito e hoje se apresenta com pedra de basalto preta (tipo macaquinho) tendo o nome do curso (Exato) destacado em pedras na cor. Vermelha (Fig. 25). Na elevação posterior ainda se observa a torre de rádio que foi utilizada pela Radio Educadora que ocupou a parte inferior do imóvel por muitos anos (Fig. 33) 50