A reflexão do professor de piano sobre sua prática pedagógica: uma introdução



Documentos relacionados
O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

A EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES -PROBLEMA NA INTRODUÇÃO DO ESTUDO DE FRAÇÕES. GT 01 - Educação Matemática nos Anos Iniciais e Ensino Fundamental

O PERCURSO FORMATIVO DOS DOCENTES QUE ATUAM NO 1º. CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA

TUTORIA DE ESTÁGIO: CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS

FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

DA UNIVERSIDADE AO TRABALHO DOCENTE OU DO MUNDO FICCIONAL AO REAL: EXPECTATIVAS DE FUTUROS PROFISSIONAIS DOCENTES

Pedagogia. Comunicação matemática e resolução de problemas. PCNs, RCNEI e a resolução de problemas. Comunicação matemática

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Um espaço colaborativo de formação continuada de professores de Matemática: Reflexões acerca de atividades com o GeoGebra

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES E ENSINO DE MATEMÁTICA: UMA EXPERIÊNCIA EM GRUPO

Critérios de seleção e utilização do livro didático de inglês na rede estadual de ensino de Goiás

PROPOSTA PEDAGOGICA CENETEC Educação Profissional. Índice Sistemático. Capitulo I Da apresentação Capitulo II

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

1.3. Planejamento: concepções

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS DE ANÁPOLIS

O PERFIL DOS PROFESSORES DE SOCIOLOGIA NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE FORTALEZA-CE

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

MBA MARKETING DE SERVIÇOS. Turma 19. Curso em Ambiente Virtual

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

Curso: Alfabetização e Letramento na Ed. Infantil e nas séries iniciais

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

PESQUISA QUANTITATIVA e QUALITATIVA

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

Como mediador o educador da primeira infância tem nas suas ações o motivador de sua conduta, para tanto ele deve:

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

LEITURA E ESCRITA: HABILIDADES SOCIAIS DE TRANSCREVER SENTIDOS

A PROPOSTA DE ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA DOS PCN E SUA TRANSPOSIÇÃO ENTRE OS PROFESSORES DE INGLÊS DE ARAPIRACA

Formação, desafios e perspectivas do professor de música

Aprendizagem da Matemática: um estudo sobre Representações Sociais no curso de Administração

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

O ORIENTADOR FRENTE À INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIENCIA NA ESCOLA REGULAR DE ENSINO

PRÁTICA PROFISSIONAL INTEGRADA: Uma estratégia de integração curricular

O que fazer para transformar uma sala de aula numa comunidade de aprendizagem?

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

24 O uso dos manuais de Matemática pelos alunos de 9.º ano

Formação de Professores: um diálogo com Rousseau e Foucault

Mostra de Projetos Como ensinar os porquês dos conceitos básicos da Matemática, visando a melhora do processo ensino e aprendizado

A Experimentação Investigativa no Ensino de Química: Reflexões. partir do PIBID FRANCIELLE DA SILVA BORGES ISIS LIDIANE NORATO DE SOUZA CURITIBA 2013

METODOLOGIA DO ENSINO DA ARTE. Número de aulas semanais 4ª 2. Apresentação da Disciplina

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

PROBLEMATIZANDO ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS


PLANTANDO NOVAS SEMENTES NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

EDUCADOR INFANTIL E O PROCESSO FORMATIVO NA CONSTRUÇÃO DE ATORES REFLEXIVOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

WALDILÉIA DO SOCORRO CARDOSO PEREIRA

universidade de Santa Cruz do Sul Faculdade de Serviço Social Pesquisa em Serviço Social I

Crenças, emoções e competências de professores de LE em EaD

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E ENSINO DE FÍSICA E AS NOVAS TECNOLOGIAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

CURSOS PRECISAM PREPARAR PARA A DOCÊNCIA

Indisciplina escolar: um breve balanço da pesquisa em educação. Juliana Ap. M. Zechi FCT/UNESP

tido, articula a Cartografia, entendida como linguagem, com outra linguagem, a literatura infantil, que, sem dúvida, auxiliará as crianças a lerem e

PROFESSORES DO CURSO DE TECNOLOGIA EM HOTELARIA: CONHECENDO A CONSTITUIÇÃO DE SEUS SABERES DOCENTES SILVA

Justificativa: Cláudia Queiroz Miranda (SEEDF 1 ) webclaudia33@gmail.com Raimunda de Oliveira (SEEDF) deoliveirarai@hotmail.com

DEMOCRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO

ALGUNS ASPECTOS QUE INTERFEREM NA PRÁXIS DOS PROFESSORES DO ENSINO DA ARTE

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

TRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA. Profa. Maria Antonia Ramos de Azevedo UNESP/Rio Claro.

A PRÁTICA DE MONITORIA PARA PROFESSORES EM FORMAÇÃO INICIAL DE LÍNGUA INGLESA DO PIBID

5 Conclusão e Considerações Finais

Elvira Cristina de Azevedo Souza Lima' A Utilização do Jogo na Pré-Escola

A INVESTIGAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS: TORNANDO POSSÍVEL O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE INGLÊS Hilda Simone Henriques Coelho 1

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

MODELAGEM MATEMÁTICA: PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO 1

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

EDUCAÇÃO FÍSICA PARA PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS (PNEE): construindo a autonomia na escola

METODOLOGIA & Hábito de estudos AULA DADA AULA ESTUDADA

A AÇÃO-REFLEXÃO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

A ARTE NA FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: EM BUSCA DE UMA PRAXE TRANSFORMADORA

Universidade Federal do Acre Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

PROCESSO DE TRABALHO GERENCIAL: ARTICULAÇÃO DA DIMENSÃO ASSISTENCIAL E GERENCIAL, ATRAVÉS DO INSTRUMENTO PROCESSO DE ENFERMAGEM.

ORATÓRIA ATUAL: desmistificando a idéia de arte

PROGRAMA ESCOLA DA INTELIGÊNCIA - Grupo III ao 5º Ano

COORDENADORA: Profa. Herica Maria Castro dos Santos Paixão. Mestre em Letras (Literatura, Artes e Cultura Regional)

XI Encontro de Iniciação à Docência

!"#$% #!$%&'()(*!#'+,&'(-.%'(.*!/'0.',1!,)2-(34%5! 6,-'%0%7.(!,!#'%8(34%! &#'(%)*%+,-.%

GT Psicologia da Educação Trabalho encomendado. A pesquisa e o tema da subjetividade em educação

O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS: CONTRIBUIÇÕES PARA UM DEBATE

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

Palavras-chave: Fisioterapia; Educação Superior; Tecnologias de Informação e Comunicação; Práticas pedagógicas.

A EDUCAÇÃO PARA A EMANCIPAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE: UM DIÁLOGO NAS VOZES DE ADORNO, KANT E MÉSZÁROS

Currículo e tecnologias digitais da informação e comunicação: um diálogo necessário para a escola atual

CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR: REFLETINDO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

AS REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORES SOBRE A DOCENCIA COMO PROFISSÃO: UMA QUESTÃO A SE PENSAR NOS PROJETOS FORMATIVOS.

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA ATUAÇÃO EM EAD NOS CURSOS DE PEDAGOGIA DE SANTA CATARINA

ABORDAGENS MULTIDISCIPLINARES NAS TRILHAS INTERPRETATIVAS COM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL II: VISITAS GUIADAS AO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

Pibid 2013 Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR. UM PROJETO INTEGRADO DE INVESTIGAÇÃO ATRAVÉS DA METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO

ITINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

Categoria Temática- Sequenciamento Proposto Modelo de Comércio Exterior- Padronização das Ações Preparação

PROJETO BRINQUEDOTECA: BRINCANDO E APRENDENDO

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

Transcrição:

1 A reflexão do professor de piano sobre sua prática pedagógica: uma introdução Denise Cristina Fernandes Scarambone denisescarambone@yahoo.com.br Maria Isabel Montandon misabel@unb.br Universidade de Brasília Resumo. Esta comunicação apresenta minha pesquisa (em andamento) no programa de mestrado da UnB. O objetivo da pesquisa é compreender até que ponto e como professores de piano refletem sobre suas práticas pedagógicas. Por um lado, pesquisas sobre a atuação de professores de piano apontam a tendência dos mesmos ensinarem como aprendeu, sem refletir sobre alternativas a materiais, conteúdos, objetivos e procedimentos. Por outro, e de acordo com DEWEY (1959), ZEICHNER e LISTON (1987) todas as pessoas refletem, variando somente os níveis e a natureza dessa reflexão. Alguns trabalhos de pesquisa na área reforçam tal afirmação (BOZETTO, 2004). A pesquisa se apóia nas perspectivas reflexivas do ensino como o pensamento reflexivo de DEWEY (ano); nos processos de reflexão na e para a prática de SCHÖN, (1992, 2000), a reflexão como prática social de ZEICHNER (1992, 1993, 1996) e a reflexão crítica de CONTRERAS (2002). A metodologia usada no trabalho é o estudo de caso (YIN, 2005; MERRIAN, 1998). Palavras-chave: professor de piano, práticas pedagógicas, ensino de instrumento INTRODUÇÃO A literatura atual sobre atuação e formação de professores tem enfatizado a necessidade dos professores lidarem com os desafios propostos pela educação atual. Cada vez mais, a prática docente se dá em um ambiente no qual predomina a complexidade e o imprevisto, onde frequentemente surgem dificuldades de diferentes naturezas relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem, incluindo aí a relação com os alunos, com seus pares, e escola, ao conteúdo e metodologias de ensino, entre outros. Esses acontecimentos do cotidiano têm revelado que práticas fundamentadas em prescrições técnicas são incapazes de dar respostas satisfatórias para a realidade apresentada, pois esta sempre apresentará novas e complexas dificuldades (SCHÖN, 1992; PÉREZ GÓMEZ, 1992). Critica-se um ensino que pretende dar resposta padrão para uma realidade que se mostra particular e contextual. Assim, questiona-se a aplicação generalizada de modelos e métodos pré-determinados diante de situações diversas e complexas da sociedade educacional. Nesse aspecto, a literatura aponta a necessidade de uma nova visão ao ensino que compreenda os fenômenos educativos como situações complexas, incertas e singulares,

2 em contraposição às limitações advindas da perspectiva tecnicista. (PÉREZ GÓMEZ, 1992, SCHÖN, 1992, ZEICHNER, 1992, CONTRERAS, 2002). A área de musica tem acompanhado essas discussões, verificando a necessidade de oferecer propostas que preparem esse professor atual, autônomo, independente, e com capacidade de recriar e transformar o cotidiano e se adaptar a novas situações (TOURINHO, 2006, p. 8). Várias pesquisas têm investigado os campos de atuação e práticas pedagógicas do professor de instrumento (TOURINHO, 2006; BOZZETTO, 2004; LOURO, 2004; MONTANDON, 1998). Esses trabalhos investigam a formação para a docência do instrumento de professores graduados em música e a preparação que atenda aos diversos campos e possibilidades de atuação do professor de instrumento. Outras pesquisas concentram-se na análise de metodologias adotadas por professores de piano (FONTERRADA; GLASER, 2006; TOURINHO, 2006; CARVALHO, 2004; LOURO, 2004; MONTANDON, 2004). Pesquisas sobre a atuação de professores apontam para a tendência do professor de instrumento ensinar da forma como aprendeu, seguindo os modelos de seus professores, embora adquiram conhecimento também a partir da experiência prática própria e de seus pares, e de cursos (CARVALHO, 2004; LOURO, 2004). Alguns autores atribuem a tendência de reproduzir modelos à falta de formação específica para o professor de instrumento, mesmo dentro da formação como professores (SANTOS, 1998). Muito dos argumentos dos autores é o de que a perpetuação de modelos reprodutivos acaba por continuar a ênfase dada ao virtuosismo e à execução técnica, característicos do que tem sido chamado de ensino tradicional (FONTERRADA; GLASER, 2006; VIEGAS, 2006; LOURO, 2004; MONTANDON, 2004). Embora a tendência de professores de instrumento em reproduzirem modelos seja uma realidade, seja por falta de formações ou situações que possam questionar, refletir e rever a pertinência de modelos de ensino do instrumento, é possível supor também que a experiência diante das diversidades e peculiaridades da prática, por si, desenvolva níveis de reflexão sobre a própria atuação (DEWEY, 1959). Diante de tais discussões apontadas pela literatura, surgiram as seguintes questões que nortearam a pesquisa: Como os professores refletem suas práticas? Qual é a natureza da sua reflexão? Sobre o que ele reflete, quais são suas indagações, análises, preocupações? Em que momentos o professor pensa sobre sua prática? Quais os fatores que desencadeiam suas reflexões?

3 Esses questionamentos definiram o objetivo geral desta pesquisa ora em andamento: compreender como os professores de piano refletem sobre suas práticas pedagógicas, analisando a natureza e os níveis de reflexão presentes em seu discurso. 1. A perspectiva do ensino como prática reflexiva A prática reflexiva implica no reconhecimento que os professores podem desempenhar um papel ativo em suas práticas, como produtores e construtores de conhecimentos. A seguir, apresento propostas que sugerem o professor como produtor de conhecimentos. 1.1. O pensamento reflexivo de Dewey Dewey, em seu livro Como pensamos (1959), descreve as várias maneiras pelas quais os homens pensam. Segundo o autor, pensar chama-se, às vezes, a esse curso desordenado de idéias que nos passam pela cabeça automática e desregradamente (p. 14) Assim, a melhor maneira de pensar é o que ele chama de pensamento reflexivo, ou seja, uma espécie de pensamento que consiste em examinar mentalmente o assunto e dar-lhe consideração séria e consecutiva (p. 13). Segundo o autor, o pensamento reflexivo faz um ativo, prolongado e cuidadoso exame de toda crença ou espécie hipotética de conhecimento, exame efetuado à luz dos argumentos que apóiam a estas e das conclusões a que as mesmas chegam. (DEWEY, 1959, p. 18) O que Dewey pretende argumentar é que o pensamento reflexivo também consiste em uma sucessão de coisas pensadas, contudo a diferença é que não basta a mera sucessão irregular de idéias. Em sua abordagem, a reflexão não é simplesmente uma seqüência de idéias, as partes sucessivas de um pensamento reflexivo derivam umas das outras e sustentam-se umas às outras (DEWEY, 1959, p. 14). A reflexão, para Dewey, inicia quando começamos a investigar a veracidade das idéias e procuramos a garantia dos dados existentes. Assim as fases do ato de pensar reflexivo abrangem a formulação de questionamentos (um estado de indagação) e a análise das práticas (um ato de pesquisa). Dewey (1959) faz uma importante distinção entre a ação humana que é reflexiva e a que é rotina. Para ele a ação rotineira é orientada por impulso, tradição e autoridade. Por outro lado, na ação reflexiva (DEWEY, 1959), a lógica da razão e da emoção estão entrelaçadas e caracterizam-se pela visão ampla de perceber os problemas. Os professores com ações

reflexivas questionam suas práticas e examinam criteriosamente as alternativas viáveis à realidade escolar. 4 1.2. O Ensino Reflexivo de Schön O trabalho de Schön (1992) é baseado na epistemologia da prática, que visa a valorização da prática como momento de construção de conhecimento, por meio da reflexão, análise e problematização desta, e o reconhecimento do conhecimento tácito, presente nas soluções que os profissionais encontram na própria ação. O conhecimento na ação, de acordo com Schön, se refere ao conhecimento tácito, implícito, interiorizado do professor, que está na ação (não a precede). Esse conhecimento é mobilizado pelos profissionais no seu dia-a-dia, configurando como um hábito. No entanto, Schön esclarece que esse conhecimento não é suficiente para atender às situações novas que extrapolam a rotina. Dessa forma, os profissionais constroem novas soluções, novos caminhos que se dá num processo que denomina de reflexão na ação. Essas construções reúnem um repertório de experiências em que mobilizam em situações similares, que configuram um conhecimento prático. Por sua vez, surgirão situações que superam o repertório construído, exigindo uma análise e uma contextualização desses conhecimentos práticos. A esse movimento Schön classifica como reflexão sobre a ação. A ampliação e a análise crítica das idéias de Schön favoreceram um amplo campo de pesquisas que conduziram à expansão de conceitos relativos ao professor que pensa e pesquisa sua prática. 1.3. A reflexão como prática social de Zeichner e Liston Zeichner e Liston (1996) atribuem à atividade reflexiva o caráter dialógico, propondo a reflexão como uma prática social, existindo a necessidade, portanto, da reflexão junto com outros profissionais. Os autores consideram a reflexão como uma das dimensões do trabalho pedagógico, mas que para compreendê-lo, ao refletir é preciso considerar as condições de produção desse trabalho. Dessa forma, Zeichner e Liston (1987) estabelecem três níveis diferentes de reflexão: O primeiro nível corresponde à análise das ações explícitas: o que fazemos é passível de ser observado (andar na sala de aula, fazer perguntas, motivar,...). O segundo nível implica o planejamento e a reflexão: planejamento do que se vai fazer, reflexão sobre o que foi feito, destacando o seu caráter didático. Por último, o nível das considerações éticas, que passa pela

análise ética ou política da própria prática, bem como das suas repercussões contextuais; este nível de reflexão é imprescindível para o desenvolvimento de uma consciência crítica dos professores sobre as suas possibilidades de ação e as limitações de ordem social, cultural e ideológica do sistema educativo. (ZEICHNER; LISTON, 1987, p. 28). 5 Os autores apresentados acima argumentam a favor de uma prática e de uma formação de professores que proporcione o desenvolvimento da autonomia e da capacidade de refletir, para que os mesmos possam atuar diante das complexas situações que surgem da prática profissional. No entanto, é preciso ter cuidado com o uso indiscriminado do termo reflexão (PIMENTA, 2002). Contreras (2002) alerta para o uso do termo reflexão pelos mesmos que defendem a visão instrumental e técnica do ensino em que o raciocínio técnico se apresenta como pensamento reflexivo, como processo de solução de problemas tomando a reflexão como prática individual (CONTRERAS, 2002, p. 161). 1.4. A reflexão crítica Contreras (2002, p. 162) pontua que a reflexão crítica não se refere apenas ao tipo de meditação que possa ser realizada pelos docentes sobre suas práticas e as incertezas que estas lhe provoquem, mas supõe também uma forma de crítica que lhes permita analisar e questionar as estruturas institucionais em que estão inseridos. Para o autor, os professores analisam e pensam a própria prática, bem como o sentido social e políticos aos quais estão inseridas. Para Kemmis (apud CONTRERAS, 2002), refletir criticamente significa colocar-se no contexto de uma ação, na história da situação, participar de uma atividade social e ter uma determinada postura diante dos problemas (KEMMIS apud CONTRERAS, 2002, p. 163). Ou seja, a reflexão tem a ver com a relação entre pensamento e ação nas situações reais históricas nas quais nos encontramos, pressupondo relações sociais e posições ideológicas e políticas. 2. Metodologia A metodologia selecionada para pesquisar sobre processos de reflexão dos professores de piano sobre suas práticas pedagógicas é o estudo de caso. Para Chizzotti (1991, p. 102) o estudo de caso define uma diversidade de pesquisas que coletam e registram dados de um caso particular ou de vários casos. Um estudo de caso é caracterizado como uma pesquisa empírica em que se investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida

6 real (YIN, 2005, p. 32). O estudo de caso é particularmente adequado a investigar processos e a responder perguntas do tipo como e por que (MERRIAM, 1998). O levantamento de dados será feito por meio de entrevistas reflexivas (SZYMANSKI; ALMEIDA; BRANDINI, 2004). Segundo as autoras, esse tipo de entrevista se caracteriza pela disposição do pesquisador de compartilhar continuamente sua compreensão dos dados com o participante. Além da entrevista reflexiva semi-estruturada (ROSA; ARNOLDI, 2006), serão usadas também entrevistas de estimulação de recordação e observação. A entrevista de estimulação de recordação consiste na realização de entrevista enquanto o professor assiste à sua própria aula em vídeo (PACHECO, 1995, p. 87). Segundo Beineke (2003) o professor, ao refletir sobre a aula enquanto a observa, pode expor, explicar e interpretar a sua ação cotidiana em sala de aula. 3. Situação atual da pesquisa: De acordo com ROSA e ARNOLDI (2006), os entrevistadores/pesquisadores são os responsáveis pelo direcionamento e condução da Entrevista, pois deverão oferecer garantias quanto à sua adequação. E só conseguirão esse resultado se forem profundos conhecedores da técnica e dos procedimentos corretos de aplicação, das formas de registros e da categorização (ROSA; ARNOLDI, 2006, p. 8). Por concordar com as autoras, duas entrevistas piloto já foram realizadas (SZYMANSKI; ALMEIDA; BRANDINI, 2004), com o objetivo de verificar o efeito das perguntas, a relação dessas com o objetivo da pesquisa, e meu próprio desempenho como entrevistadora. Uma vez reavaliado esses aspectos, estou, no momento, realizando entrevistas com os professores selecionados para a pesquisa: dois professores(as) de piano, um(a) professor(a) de uma escola de música pública e outro(a) de uma escola de música particular, ambos com cerca de cinco (05) anos de experiência como professores de piano. CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta deste estudo está relacionada ao fato de que o campo de atuação dos professores de instrumento - piano vem aumentando significativamente. Dessa forma, pesquisas que investiguem práticas pedagógicas de professores de instrumento poderão ampliar o conhecimento e a compreensão da prática docente. Além disso, poderão também subsidiar discussões sobre a área do ensino de instrumento dentro de uma dimensão

pedagógica, possibilitando o desenvolvimento de propostas que fomentem o pensamento reflexivo para professores em exercício. BIBLIOGRAFIA CAMPOS, S.; PESSOA, V.I. F. Discutindo a formação de professoras e professores com Donald Schön. In: FIORENTINI; GERALDI; PEREIRA (org). Cartografias do trabalho doente. Campinas: Mercado de Letras, 1998. CONTRERAS, J. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. DEWEY, John. Como pensamos. 3ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1959. FIORENTINI;GERALDI; PEREIRA (org). Cartografias do trabalho doente. Campinas: Mercado de Letras, 1998. FONTERRADA, M; GLASER, S. Ensaio a respeito do ensino centrado no aluno: uma possibilidade de aplicação no ensino do piano. Revista da ABEM, Porto Alegre, v.15, 91-99, set. 2006. IMBERNÓN, F. Formação Docente e Profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez. 6ª ed., 2006. LOURO, Ana Lúcia M. Formação do professor de instrumento. Grades curriculares dos cursos de bacharelado em Música. In: Fundamentos da Ed. Musical. Vol.4, ABEM, Porto Alegre, 1998, p. 106-109. MONTANDON, Maria Isabel. Trends in piano pedagogy as reflected by the proceedings of de national conference on piano pedagogy (1981-1995). Tese de Doutorado. University of Oklahoma, Ok, 1998. PACHECO, José Augusto. O pensamento e a acção do professor. Porto: Porto Editora, 1995. PIMENTA E GHEDIN (Orgs). Professor Reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 2002. ROSA, Maria Virgínia de F. P. C. e ARNOLDI, Marlene Aparecida G. C. A entrevista na pesquisa qualitativa: mecanismos para validação dos resultados. Belo Horizonte: Autêntica. 2006. SCHÖN D.A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: Nóvoa A. Os professores e a sua formação. Lisboa (PT): Dom Quixote; 1992. SCHÖN, Donald. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. Szymanski, Heloisa (org.); Almeida, Laurinda R. e Brandini, Regina Célia A. R. A entrevista da pesquisa em educação: a prática reflexiva. Brasília: Líber Livro. 2004. ZEICKNER, Kenneth. A formação Reflexiva de Professores: Idéias e Práticas. Educa, 1993. ZEICKNER, Kenneth; LISTON, Daniel. Reflective teaching: an introduction. Lawrence Eribaum Associates, New Jersey, 1996. 7