TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO SÉTIMA CÂMARA CÍVEL. Agravante: MUNICÍPIO DE NITERÓI. Agravada: ZIMAR DA SILVEIRA COSTA. DECISÃO MONOCRÁTICA DIREITO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO MANEJADO CONTRA DECISÃO QUE, EM EXECUÇÃO FISCAL, INDEFERIU A PENHORA REQUERIDA PELA EXEQUENTE DIANTE DA AUSÊNCIA DE CITAÇÃO VÁLIDA DA EXECUTADA. NO CASO DOS AUTOS, CONSTATA-SE DO TEOR DA CERTIDÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA ÀS FLS. 16 QUE A DILIGÊNCIA CITATÓRIA FOI REALIZADA NA PESSOA DA FILHA E PROCURADORA DA EXECUTADA, TENDO A MESMA APRESENTADO PROCURAÇÃO COM PODERES PARA TANTO. ASSIM, CONSIDERANDO QUE O OFICIAL DE JUSTIÇA DETÉM FÉ PÚBLICA NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES E QUE CERCOU-SE DE CUIDADO AO JUNTAR A CÓPIA DA PROCURAÇÃO, A QUAL CONTÉM PREVISÃO EXPRESSA PARA O RECEBIMENTO DE CITAÇÕES, RESTA EVIDENTE A VALIDADE DA DILIGÊNCIA CITATÓRIA REALIZADA. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO NA FORMA AUTORIZADA PELO ART. 557, 1º-A DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, A FIM DE REVOGAR A DECISÃO ATACADA, RECONHECENDO COMO VÁLIDA A CITAÇÃO DA EXECUTADA E DETERMINANDO O PROSSEGUIMENTO DO EXECUTIVO FISCAL. DECISÃO CASSADA. 1
Cuida-se de agravo de instrumento interposto pelo MUNICÍPIO DE NITERÓI contra decisão interlocutória do Juízo da, proferida nos autos de execução fiscal, que indeferiu a penhora requerida pela exequente diante da ausência de citação válida da executada. Em suas razões recursais, de fls. 02/10, a agravante sustenta a validade da citação da executada na pessoa de sua procuradora, alegando que o Oficial de Justiça detém fé pública, presumindo-se que tenha ele se certificado da veracidade do instrumento procuratório acostado aos autos, assim como da identidade do procurador legalmente investido em tais poderes. Diante do alegado erro de julgamento, pede a reforma da decisão. É o breve relatório. Passo a decidir. O recurso interposto é tempestivo e ostenta os demais requisitos de admissibilidade recursal. Dele conheço, portanto, nos seguintes termos: O recurso merece provimento. No caso dos autos, a magistrada de primeiro grau indeferiu a penhora requerida pelo município, considerando inválida a citação da parte executada. Todavia, compulsando-se os autos e os documentos que o instruem, constatase a partir da certidão do Oficial de Justiça às fls. 16 do processo, que a diligência citatória foi realizada, sendo a executada citada na pessoa de sua filha e procuradora, informando que a mesma apresentou procuração, recebendo a contrafé e exarando o ciente. 2
De fato, verifica-se às fls. 17 dos autos, a cópia da referida procuração, na qual a executada outorga poderes especiais à procuradora, merecendo destaque o seguinte excerto:... A quem concede poderes especiais para tratar de quaisquer assuntos de interesse da outorgante, por mais especial que seja, podendo representá-la junto a quaisquer Repartições Públicas Federais, Estaduais, Municipais, Autarquias, lnstituto Nacional de Seguridade Social - INSS, Receita Federal do Brasil, Orgãos Governamentais, Secretarias de Estado e Municipais, Minístérios, Pessoas Jurídicas e Pessoas Físicas, em Juízo ou fora dele, no Foro em geral, em qualquer Instância, Juízo ou Tribunal, (...) podendo propor, variar e desistir de ações, acordar, discordar, receber citações (...). Assim, considerando que o Oficial de Justiça detém fé pública no exercício de suas funções e que cercou-se de cuidado ao juntar a cópia da procuração, sendo certo que a mesma contém previsão expressa para o recebimento de citações, resta evidente a validade da diligência citatória realizada. Tribunal: Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do nosso PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. PROCURAÇÃO. RECONHECIMENTO DE FIRMA. PODERES ESPECIAIS. DESNECESSIDADE. REVISÃO. MATÉRIA FÁTICO- PROBATÓRIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 1. Não se conhece de Recurso Especial quanto à matéria (art. 1.289, 3º, do Código Civil de 1916), que não foi especificamente enfrentada pelo Tribunal de origem, dada a ausência de prequestionamento. Incidência, por analogia, da Súmula 282/STF. 2. O Superior Tribunal de Justiça entende que o art. 38 do Código de Processo Civil, com a redação dada pela Lei 8.952/1994, dispensa o 3
reconhecimento de firma nas procurações ad judicia utilizadas em processo judicial, ainda que contenham poderes especiais. 3. Hipótese em que o Tribunal de origem concluiu, com base na prova dos autos, que "a procuração outorgada à fl. 28 da execução fiscal confere ao procurador os poderes da cláusula ad judicia et extra, autorizando-o a praticar todos os atos judiciais e extrajudiciais de defesa do representado e outorgando-lhe, ainda, poderes especiais de representação, o que compreende, conforme exposto, o poder de receber citação". A revisão desse entendimento implica reexame de fatos e provas, obstado pelo teor da Súmula 7/STJ. 4. Agravo Regimental não provido. (AgRg no AREsp 399.859/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/11/2013, DJe 06/03/2014) PROCESSUAL - CITAÇÃO - PESSOA NÃO HABILITADA - REPRESENTANTE LEGAL - ÔNUS DA PARTE - OFICIAL DE JUSTIÇA - ENCARGO DE CONFERIR. I - É nula a citação feita a quem não seja representante legal ou procurador do réu (CPC, Art. 215) II - A indicação do procurador ou do representante legal da Ré constitui ônus do autor. Nada importa a circunstância de a pessoa que recebeu a citação ter afirmado ser o representante da ré. III - Na dúvida e à míngua de indicação específica do autor, incumbe ao Oficial de Justiça exigir de quem está a receber citação, a prova de sua habilitação como representante legal do procurador. (REsp 219.661/ES, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/10/2000, DJ 12/02/2001, p. 95) 0006247-85.2007.8.19.0021 - APELACAO DES. PEDRO FREIRE RAGUENET - Julgamento: 28/01/2014 - VIGESIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL Civil. Processo civil. Embargos de terceiro em execução fiscal. Penhora de automóvel. Alegação de ilegitimidade e vício na citação. Sentença que acolhe os embargos e determina o cancelamento do gravame. Apelo do credor. Inadequação da via eleita. Tese que se 4
acolhe à luz da documental presente nos autos. Demanda executiva ajuizada em face de sociedade empresária. Presunção de dissolução irregular daquela, que deixou de funcionar no domicilio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes. Aplicabilidade do verbete sumular nº 435 do E. STJ. Demanda redirecionada em face daqueles que se afiguravam como principais responsáveis pela pessoa jurídica, consoante documento emitido pela JUCERJA. Citação que restou recebida pelo embargante, através de procurador com poderes especiais. Ausência de exibição do mandato que não elide a validade das assertivas lançadas pelo Oficial de Justiça, que detém fé pública. Embargante que se afigurava como parte do processo, e não apenas como terceiro interessado. Oposição de embargos que se afigura inadequada à luz do disposto no art. 1.046 do CPC. Impossibilidade de aplicação do princípio da fungibilidade para recebimento do pedido como embargos à execução, ante a existência de erro grosseiro. Ausência de uma das condições da ação, na modalidade de interesse-adequação, que autoriza a rejeição dos embargos nos termos do art. 267, VI, do CPC. Inversão das verbas de sucumbência, com aplicação do disposto na Lei nº 1.060/50 em favor do recorrido. Provimento do recurso e reforma da sentença combatida. Por tais fundamentos, dou provimento ao recurso na forma autorizada pelo art. 557, 1º-A do Código de Processo Civil, a fim de revogar a decisão atacada, reconhecendo como válida a citação da executada e determinando o prosseguimento do executivo fiscal. Rio de Janeiro, 08 de outubro de 2014. DES. CLÁUDIO BRANDÃO DE OLIVEIRA RELATOR 5