CATARINA MARIA SOUSA MAIA



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Transcrição:

LEUCEMIA NO CÃO Relatório Final de Estágio Licenciatura em Medicina Veterinária CATARINA MARIA SOUSA MAIA UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO VILA REAL, 2008

Júri de Apreciação Presidente: 1º Vogal: 2º Vogal: Classificação: Data: / / ii

As doutrinas apresentadas no presente trabalho são da exclusiva responsabilidade do autor. iii

A Coordenadora, (Prof. Doutora Ana Cristina Ferreira) iv

Aos meus pais e irmã v

AGRADECIMENTOS À Professora Doutora Ana Cristina Ferreira, pela orientação, transparência e disponibilidade, no desenvolvimento deste trabalho. A toda a equipa do Hospital Veterinário Montenegro, pelos dias de convívio, trabalho e conhecimentos adquiridos ao longo do estágio. Aos Médicos Veterinários e professores do Hospital Clinic Veterinari da Universidade Autónoma de Barcelona, profissionais inspiradores e exemplos a seguir nesta vida que é ser Médico Veterinário. A disponibilidade e vontade de ensinar que demonstraram, fascinaram-me por completo. Aos meus pais, pelo apoio que sempre demonstraram a todos os níveis, pois sem eles nada disto seria possível. É a eles que devo toda a minha formação ao longo da minha vida. À minha irmã Clara, que sempre me incentivou para evoluir tanto pessoal como profissionalmente e que tanto me ajudou na elaboração deste trabalho. Ao Nuno, pelo apoio, carinho, amizade, compreensão e companhia que sempre demonstra. À Ana, Belinha, Renata e Zi, grandes amigas e companheiras numa das melhores experiências da minha vida. Recordá-las-ei sempre com muito carinho. À Ana Alexandra, Cristina, Joana e Patrícia, pelos bons momentos e dias inesquecíveis que passamos juntas. vi

ÍNDICE GERAL I INTRODUÇÃO 1 II REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2 1. O Sistema hematopoiético 2 1.1. Arquitectura da medula óssea 2 1.2. Desenvolvimento celular normal 3 1.3. Mielopoiese 6 1.3.1. Produção de Neutrófilos e Monócitos 8 1.3.2. Produção de Eosinófilos e Basófilos/Mastócitos 11 1.3.3. Produção de eritrócitos 13 1.3.4. Produção de Plaquetas 15 1.4. Linfopoiese 16 2. Definição de Leucemia 18 3. Etiologia 21 4. Leucemia Aguda 22 4.1. Epidemiologia 23 4.2. Características clínicas 23 4.3. Diagnóstico 25 4.3.1. Hematologia 27 4.3.2. Bioquímica 27 4.3.3. Imagiologia 28 4.3.4. Medula Óssea 28 4.3.5. Diagnóstico específico 28 5. Leucemia Crónica 30 5.1. Epidemiologia 30 5.2. Características clínicas 30 5.3. Diagnóstico 31 5.3.1. Hematologia 32 5.3.2. Bioquímica 33 vii

5.3.3. Imagiologia 33 5.3.4. Medula Óssea 33 5.3.5. Diagnóstico específico 33 6. Classificação de Leucemia 35 6.1. Leucemias Agudas 36 6.1.1. Leucemia Mielóide Aguda 36 6.1.1.1. Leucemia Mielóide Indiferenciada (Mo) 36 6.1.1.2. Leucemia Mieloblástica/Mielocítica Aguda 38 6.1.1.3. Leucemia Pró-Granulocítica Aguda (M3) 39 6.1.1.4 Leucemia Mielomonocítica Aguda (M4) 40 6.1.1.5. Leucemia Monocítica/Monoblástica Aguda (M5) 40 6.1.1.6. Eritroleucemia Aguda (M6) 42 6.1.1.7. Leucemia Megacarioblástica Aguda (M7) 44 6.1.2. Leucemia Linfoblástica Aguda 44 6.1.2.1. LLA-L1, LLA-L2, LLA-L3 46 6.1.2.2. Leucemia de Grandes Linfócitos Granulares Aguda (LGLGA) 46 6.2. Leucemia Subaguda ou Crónica 48 6.2.1. Leucemia Mielóide (Mielocítica) Crónica 48 6.2.2. Leucemia Mielomonocítica Crónica 49 6.2.3. Leucemia Linfóide (Linfocítica) Crónica 49 6.2.3.1. Variante de grandes linfócitos granulares 50 7. Tratamento 52 7.1. Leucemias Agudas 52 7.2. Leucemia Crónica 55 8. Prognóstico 57 8.1. Leucemias Agudas 57 8.2. Leucemias Crónicas 57 III CASO CLÍNICO 58 III a) Dia 1-26 de Julho de 2008 58 1. Identificação 58 2. Anamnese 58 3. Exame Físico 59 viii

4. Diagnósticos diferenciais 59 5. Exames complementares 60 5.1. Hemograma (Anexo 2) 60 5.2 Esfregaço de sangue (Anexo 2) 61 5.3. Bioquímica sanguínea (Anexo 2) 61 5.4. PCR 61 5.5. Imagiologia 61 6. Tratamento 62 III b) Dia 2 27 de Julho de 2008 63 1. Exame Físico 63 2. Exames complementares 63 2.1. Hemograma (Anexo 3) 63 2.2. Esfregaço de sangue 64 2.3. Citologia Aspirativa com agulha fina de Gânglio Poplíteo (Anexo 3) 64 2.4. Citologia Aspirativa da Medula Óssea (Costela) (Anexo 3) 64 3. Tratamento 65 III c) Dia 3 28 de Julho de 2008 66 1. Exame Físico 66 2. Exames complementares 66 2.1. Hemograma (Anexo 4) 66 2.2. Proteinograma (Anexo 4) 67 Discussão 67 IV CONCLUSÃO 69 V - BIBLIOGRAFIA 70 ANEXOS I ix

ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Visão do conjunto da Hematopoiese 4 Figura 2. Origem monofilática de todas as células sanguíneas e imunes 6 Figura 3. Visão do conjunto da granulopoiese da série neutrofílica 9 Figura 4. Desenvolvimento dos Neutrófilos 10 Figura 5. Visão do conjunto da Eritropoiese 13 Figura 6. Desenvolvimento do Eritrócito 14 Figura 7. Megacariócito 15 Figura 8. Desenvolvimento do Megacariócito 16 Figura 9. Representação esquemática da classificação das alterações linfoproliferativas e mieloproliferativas 20 Figura 10. Esquema para classificar as Leucemias Mielóides no Cão 36 Figura 11. Leucemia Mielóide Indiferenciada 37 Figura 12. Leucemia Mieloblástica Aguda 38 Figura 13. Leucemia Monocítica Aguda 41 Figura 14 a) e b). Eritroleucemia Aguda 42 Figura 15. Mielose Eritrémica 43 Figura 16 a) e b). Leucemia Linfoblástica Aguda 45 Figura 17. Leucemia Linfóide de Grânulos Grandes 47 Figura 18 a) e b). Leucemia Granulocítica Crónica 49 Figura 19. Leucemia Linfóide Crónica 50 Figura 20. Fotografia do Drac 58 x

ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Funções, fontes celulares e colónias alvo dos factores de crescimento mielopoiéticos 7 Tabela 2. Colorações citoquímicas em células de Leucemias Agudas de Cães 26 Tabela 3. Diferenças citológicas dos três tipos de LLA 46 Tabela 4. Protocolo de quimioterapia para o tratamento de Leucemia Aguda 54 Tabela 5. Protocolo de quimioterapia para o tratamento de Leucemia Crónica 56 xi

ÍNDICE DE ANEXOS Anexo 1. Tabelas com as principais causas das alterações do exame físico e alterações hematológicas Anexo 2. Exames complementares referentes ao dia 26 de Julho Anexo 3. Exames complementares referentes ao dia 27 de Julho Anexo 4. Exames complementares referentes ao dia 28 de Julho Anexo 5. Casuística do Hospital Veterinário Montenegro Anexo 6. Casuística do Hospital Clínic Veterinari da Universidade Autónoma de Barcelona I VIII XI XVI XVII XXIX xii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS - Rácio Macho:Fêmea ADN Ácido Desoxirribonucleico ALT Alaninoaminotransferase ANBE Esterase -naftilbutirato ANC Todas as células nucleadas AST Aspartatoaminotransferase BFU-E Unidade formadora de burst eritróide BFU-Mk - Unidade formadora de burst megacariocítica BID Duas vezes por dia bpm Batimentos por minuto BUN Ureia sanguínea CAE Esterase de Cloroacetato Células NK Células Natural Killer CFU Unidade formadora de colónias CFU-Baso Unidade formadora de colónias basófilo CFU-E Unidade formadora de colónias eritróide CFU-Eos Unidade formadora de colónias eosinófilo CFU-G Unidade formadora de colónias granulócito CFU-GEMM Unidade formadora de colónias granulocítica, eritróide, monocítica e megacariocítica CFU-GM Unidade formadora de colónias granulócito-macrófago CFU-L Unidade formadora de colónias linfócito B CFU-linfócito Unidade formadora de colónias linfocítica CFU-M Unidade formadora de colónias macrófago CFU-Mk - Unidade formadora de colónias megacariócito CFU-T Unidade formadora de colónias linfócito T CID Coagulação Intravascular Disseminada Cl - - Cloro CMH Concentração média de hemoglobina CMHC - Concentração média de hemoglobina corpuscular xiii

cp Comprimido CSF-1 Factor estimulador de colónias - 1 Epo Eritropoietina FA Fosfatase Alcalina FAB Francês-Americano-Britânico FAL Fosfatase alcalina leucocitária fl fentolitros G-CSF Factor estimulador de colónias granulocítico GLG Grandes Linfócitos Granulares GM-CSF Factor estimulador de colónias granulocítico-macrofágico GV Glóbulos vermelhos Hb - Hemoglobina HCV-UAB Hospital Clínic Veterinari Universitat Autònoma de Barcelona Ht Hematócrito HVM Hospital Veterinário Montenegro i.m. - Intramuscular i.v. Intravenoso IgA Imunoglobulina A IgG - Imunoglobulina G IgM Imunoglobulina M IL-10 Interleucina-10 IL-11 Interleucina-11 IL-3 Interleucina-3 IL-4 Interleucina-4 IL-5 Interleucina-5 IL-6 Interleucina-6 IL-8 Interleucina-8 IL-9 Interleucina-9 IR Índice Reticulocitário K + - Potássio KCl Cloreto de Potássio LGLG Leucemia de Grandes Linfócitos Granulares LGLGL Leucemia de Grandes Linfócitos Granulares Aguda LIP Lipase xiv

LLA Leucemia Linfoblástica Aguda LLA-L1 Leucemia Linfoblástica Aguda L1 LLA-L2 Leucemia Linfoblástica Aguda L2 LLA-L3 Leucemia Linfoblástica Aguda L3 LLC Leucemia Linfocítica Crónica LMA Leucemia Mielóide Aguda LMC Leucemia Mielóide Crónica LMMA Leucemia Mielomonocítica Aguda LMoA Leucemia Monocítica Aguda M:E Rácio Mielóide:Eritróide M0 Leucemia Mielóide Indiferenciada M1 Leucemia Mielocítica sem Maturação M2 Leucemia Mielocítica com Maturação M3 Leucemia Pró-Granulocítica Aguda M4 Leucemia Mielomonocítica Aguda M5 Leucemia Monocítica/Monoblástica Aguda M5a Leucemia Monoblástica Pouco Diferenciada M5b - Leucemia Monocítica Diferenciada M6 Eritroleucemia Aguda M7 - Leucemia Megacarioblástica Aguda M-CSF Factor estimulador de colónias macrofágico meq milequivalentes mmol milimol MPO Mieloperoxidase Multi-CSF Factor estimulador de colónias múltiplo N:C Rácio Núcleo:Citoplasma Na + - Sódio NEC Células não eritróides ºC Graus centígrados PAS Ácido periódico de Schiff PCR Reacção em cadeia da polimerase pg picogramas PLT Plaquetas PO Per os xv

PT Proteínas Totais Pu/Pd Poliúria/Polidípsia rpm Respirações por minuto s.c. Subcutâneo SCF/KL Factor das células estaminais / c-kit ligandina SID Uma vez por dia Tpo Trombopoietina TRC Tempo de replecção capilar UI Unidades Internacionais UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro VCM Volume celular médio xvi

I INTRODUÇÃO O relatório que se apresenta insere-se no âmbito do estágio curricular da licenciatura em Medicina Veterinária da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Neste trabalho a parte prática foi realizada no Hospital Veterinário Montenegro (HVM) no período compreendido entre 1 de Janeiro e 30 de Junho de 2008, e no Hospital Clínic Veterinari da Universidade Autónoma de Barcelona (HCV- UAB) entre o dia 7 de Julho e 29 de Agosto de 2008. Este estágio teve como orientadores o Dr. Luís Montenegro, médico veterinário do HVM, e o Dr. Xavier Roura, director clínico do HCV-UAB. O tema deste relatório compreende a Leucemia no Cão. Na aprendizagem que adquiri nestes 6 anos do curso, constatei que a área de Hematologia me despertava interesse e como tal gostaria de desenvolver um trabalho inserido neste campo. Durante o meu estágio, verifiquei que muitos Médicos Veterinários não realizam por rotina avaliações microscópicas de esfregaços de sangue, punções de medula óssea ou de linfonodos, o que se deve, com frequência, ao receio de não conseguirem preparálos de uma forma adequada, ou identificar alterações importantes que possam estar presentes, e por isso, estas preparações tem como destino um laboratório de referência. Foi por este motivo que decidi apostar nesta área, uma vez que senti uma enorme curiosidade em aprender e aprofundar os meus conhecimentos, e neste caso, sobre Leucemias. Neste trabalho, abordo, em primeiro lugar um pouco sobre o Sistema Hematopoiético e desenvolvimento celular normal, nomeadamente Mielopoiese e Linfopoiese, seguindo-se uma descrição acerca das Leucemias Agudas e Crónicas. Por fim, dou a conhecer um caso clínico real, o qual tive oportunidade de assistir e acompanhar, durante o meu ano de estágio. Espero que consiga transmitir um pouco mais de conhecimentos acerca da Leucemia canina, nomeadamente das alterações mieloproliferativas e linfoproliferativas, tão características pela sua enorme diversidade e particularidade na proliferação neoplásica de células do sangue e da medula óssea. 1

II REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1. O Sistema hematopoiético 1.1. Arquitectura da medula óssea Todas as células sanguíneas têm uma vida média finita, no entanto, nos animais jovens elas mantêm-se a um nível constante. Para o conseguir, é necessário uma reposição constante de células na circulação mediante a produção e emissão de células a partir da medula óssea. (Reagan, Sanders, & DeNicola, 1999) A produção de células sanguíneas ocorre na medula óssea dos animais adultos, onde o microambiente é único e propício ao seu desenvolvimento. (Harvey, 2001) Este microambiente hematopoiético constitui uma complexa rede de variadas células estromais, células acessórias, factores de crescimento de glicoproteína e componentes da matriz extracelular (Raskin, 1996), que afectam profundamente a sobrevivência, proliferação e diferenciação da célula estaminal hematopoiética e célula progenitora. (Harvey, 2001) As células estromais, nomeadamente células endoteliais, células reticulares tipo fibroblastos, adipócitos e macrófagos (Raskin, 1996), produtoras de componentes da matriz extracelular; e células acessórias, constituídas por subconjuntos de linfócitos e células Natural Killer (NK); produzem uma variedade de factores de crescimento positivos e negativos. Assim, para proporcionar um suporte estrutural, a matriz extracelular é importante na ligação das células hematopoiéticas e factores de crescimento com as células estromais, de modo a que a proliferação e diferenciação das mesmas possa ocorrer. (Harvey, 2001) A produção de células hematopoiéticas ocorre intra e extramedularmente. Em animais jovens, a hematopoiese intramedular ocorre na maior parte dos ossos do seu corpo e a extramedular ocorre primariamente no fígado, baço e nódulos linfáticos. Num animal adulto normal, a produção de células hematopoiéticas ocorre principalmente a nível intramedular na terminação proximal de ossos longos, ossos lisos, como costelas, e ossos irregulares, como o íleo e vértebras. A produção pode ocorrer extramedularmente nos adultos quando é necessária uma demanda de células 2

hematopoiéticas. Em doenças mieloproliferativas é comum observar-se células neoplásicas nestes locais. (Morrison, 1998) A medula óssea pode ser dividida em dois compartimentos funcionais, um intravascular e outro extravascular. O espaço extravascular, em cães normais, contém cerca de 50% de gordura e 50% de células hematopoiéticas, variando respectivamente cada um entre 25 e 75%. No momento da demanda de células hematopoiéticas, a quantidade de gordura diminui drasticamente e a percentagem de células hematopoiéticas aumenta proporcionalmente. O espaço extravascular também contém estroma que promove física e funcionalmente o suporte da proliferação das células hematopoiéticas. Estes dois espaços, intravascular e extravascular, estão separados por uma parede fenestrada. No cão, esta parede é constituída por três camadas, nomeadamente células endoteliais, células adventícias e membrana basal. Também podemos encontrar nesta estrutura vários poros que vão controlar a entrada de células maduras na corrente sanguínea, daí que, na leucemia, uma alteração ou destruição desta parede, provocará a saída de células hematopoiéticas imaturas para a circulação sanguínea. (Morrison, 1998) 1.2. Desenvolvimento celular normal No espaço extravascular, a produção de células pela medula óssea envolve um processo complexo de proliferação e diferenciação das células progenitoras pluripotentes. Todas as células sanguíneas da medula óssea surgem de uma célula estaminal comum. (Morrison, 1998) Esta célula estaminal pluripotencial origina as linhas celulares linfóides e mielóides (Morrison, 1998), isto é, origina diferentes fases de células progenitoras, que, posteriormente se diferenciam em células da série eritrocítica, granulocítica, megacariocítica e agranulocítica (monócitos e linfócitos). (Raskin, 1996) O resultado final deste processo é a emissão de eritrócitos, leucócitos e plaquetas na corrente sanguínea. (Reagan, 1998) (Figura 1) 3

Rubriblasto Prórrubricito Rubricito Metarrubricito Célula Policromatofílica Eritrócito Mielócito eosinófilo Metamielócito eosinófilo Eosinófilo em banda Eosinófilo CÉLULA- MÃE MIELÓIDE Mielócito eosinófilo Mielócito neutrófilo Metamielócito neutrófilo Neutrófilo em banda Neutrófilo segmentado Mielócito basófilo Metamielócito basófilo Basófilo em banda Basófilo Monócito CÉLULA-MÃE MULTI POTENCIAL Plaquetas CÉLULA- MÃE LINFÓIDE Linfócito B Figura 1. Visão do conjunto da Hematopoiese. (Reagan et al., 1999) Linfócito T O Sistema hematopoiético constitui um conjunto de três compartimentos extravasculares funcionais, onde as células se irão diferenciar antes de serem lançadas na corrente sanguínea (Feldman, Zinkl & Jain, 2000) Compartimento da célula estaminal Estas células raras são muitas vezes descritas por terem capacidade de autorenovação (Raskin, 1996) e de conseguirem estabelecer e manter a integridade da hematopoiese, sangue periférico e células imunes através da proliferação clonal. (Feldman et al., 2000) 4

Estas células estaminais são caracterizadas pela capacidade de auto-renovação a longo prazo e pela habilidade em se diferenciar em múltiplas linhagens celulares. (Raskin, 1996) Neste compartimento, as células estaminais pluripotentes dão origem às células progenitoras multipotentes, conhecidas como unidades formadoras de colónias granulocitica, eritróide, monocítica e megacariocítica (CFU-GEMM) e unidade formadora de colónias linfocítica (CFU-linfócito). (Feldman et al., 2000) Compartimento da célula progenitora Estas células derivam das células estaminais hematopoiéticas. Existem poucas células progenitoras multipotentes com capacidade de auto-renovação, e muitas células progenitoras unipotentes com capacidade de auto-renovação inferior, mas mais resistentes na diferenciação (Feldman et al., 2000). Isto é, estão destinadas à produção celular mas de um pequeno número de linhagens celulares. (Raskin, 1996). Alguns progenitores de macrófagos e granulócitos podem ser medidos depois de 7 a 14 dias em cultura de colónias semi-sólidas, permitindo a identificação das unidades formadoras de colónias (CFU) conhecidas como CFU-GM (granulócito-macrófago), CFU-G (granulócito), CFU-M (macrófago), CFU-Eos (eosinófilo), CFU-Baso (basófilo), CFU-Mk (megacariócito) e CFU-E (eritróide). Estas células progenitoras seguem maturação para formarem linhagens específicas de células reconhecíveis morfologicamente. (Raskin, 1996) As CFU-L (linfócito) dão origem as CFU-L (linfócito B) e CFU-T (linfócito T). (Feldman et al., 2000) Compartimento da célula precursora Este grupo inclui uma linhagem específica de células blásticas e seus progenitores. Não possuem capacidade de auto-renovação e são unipotentes. Quase todas as células percursoras estão na fase activa do ciclo celular. Este compartimento contém percentagem igual de células percursoras mielóides e eritróides e cerca de 10% é composto por linfócitos, células plasmáticas e macrófagos. O compartimento de 5

células percursoras está dividido em 3 grupos funcionais: proliferação, maturação e armazenamento. (Feldman et al., 2000) No quadro que se segue (Figura 2) estão apresentadas as diferentes fases celulares e tipos de células destes três compartimentos. (Feldman et al., 2000) Figura 2. Origem monofilática de todas as células sanguíneas e imunes. A célula estaminal hematopoética diferencia-se através de três compartimentos o compartimento da célula estaminal, da célula progenitora e da célula percursora e depois de maturar, as células sanguíneas são libertadas na corrente sanguínea. No desenvolvimento da célula estaminal em células sanguíneas diferenciadas, a capacidade de auto-renovação decai, e a proporção de células mitóticas e o número de células totais diminui. (Feldman et al., 2000) 1.3. Mielopoiese A hematopoiese é caracterizada pela relação entre factores de crescimento, moléculas inibidoras e elementos estromais. Os factores de crescimento podem exercer os seus efeitos sinergicamente nas células estaminais e expandir as células progenitoras ou actuar na maturação dos vários progenitores das várias linhagens celulares. Os 6

factores primariamente envolvidos são o factor estimulador de colónias macrofágico (M-CSF), factor estimulador de colónias granulocítico (G-CSF), factor estimulador de colónias granulocítico-macrofágico (GM-CSF), interleucina-3 (IL-3) ou factor estimulador de colónias múltiplo (multi-csf), interleucina-4 (IL-4), interleucina-5 (IL- 5), factor das células estaminais /c-kit ligandina (SCF/KL), factor de crescimento dos mastócitos, Eritropoietina (Epo), e Trombopoietina (Tpo). (Raskin, 1996) (Tabela 1) Factor Função Fonte Celular Células alvo IL-3 Progenitores mielóides imaturos; Produção de Neutrófilos, Monócitos, Eosinófilos, Basófilos, Megacariócitos e Eritrócitos. Progenitores mielóides imaturos; Sinergismo com outros factores. Linfócitos -T CFU-Blast, BFU-E, CFU-GM, CFU-GEMM, CFU-M, CFU-Eos, CFU-Baso, CFU-Mk, BFU-Mk. Linfócitos -T CFU-Blast, BFU-E, CFU-GM, IL-4 CFU-Baso, CFU-Mk. IL-5 Eosinofilopoiese; Basofilopoiese. Linfócitos -T CFU-Eos, CFU-Baso. Progenitores mielóides imaturos; Macrófagos, Fibroblastos e CFU-Blast, CFU-GM, CFU-Mk. IL-6 Sinergismo com outros factores. Linfócitos. IL-9 Eritropoiese Linfócitos -T BFU-E e CFU-E IL-11 G-CSF M-CSF GM-CSF SCF/KL Progenitores mielóides imaturos; Sinergismo com IL-3 Produção e maturação de Neutrófilos; Sinergismo com outros factores. Produção e Monócitos; Diferenciação de Macrófagos. Progenitores mielóides imaturos; Produção de Neutrófilos, Monócitos, Basófilos e Eosinófilos. Células estromais da medula óssea Macrófagos, Fibroblastos e células endoteliais. Células endoteliais, Fibroblastos, Macrófagos e Linfócitos T. Células endoteliais, Fibroblastos, Macrófagos e Linfócitos T. CFU-Blast, CFU-Mk. CFU-Blast, CFU-GM, CFU-G CFU-GM, CFU-M CFU-Blast, BFU-E, CFU-GM, CFU-GEMM, CFU-M, CFU-Eos, CFU-Baso, CFU-G, CFU-Mk, BFU-Mk Epo Eritropoiese Células intersticiais renais. BFU-E,CFU-E, CFU-Mk, Trombopoiese; Produção de Células endoteliais, Fibroblastos. BFU-Mk, CFU-Mk, Tpo Megacariócitos e Plaquetas. Progenitores mielóides imaturos; Fibroblastos. CFU-Blast, CFU-Baso, BFU-E, Sinergismo com outros factores. CFU-Mk. Tabela 1. Funções, fontes celulares e colónias alvo dos factores de crescimento mielopoiéticos. IL = interleucina; CSF = factor estimulador de colónias; M = Macrófago; G = Granulócito; GM = Granulócito-macrófago; GEMM = Granulócito-monócito-eritróide-megacariócito; Epo = Eritropoietina; Tpo = Trombopoietina; CFU = unidade formadora de colónias; BFU = unidade formadora de Burst ; SCF/KL = factor das células estaminais /c-kit ligandina; Mk = Megacariócito; Eos = Eosinófilo; Baso = Basófilo; E = Eritróide; Mac = Macrófago; Neut = Neutrófilo. (Raskin, 1996) As células estaminais multipotenciais são muito mais responsivas quando combinadas com factores de crescimento, do que isoladamente. Por exemplo, IL-3, interleucina-6 (IL-6), GM-CSF, e SCF actuam na célula estaminal CFU-GEMM. Contrariamente, M-CSF influencia a diferenciação dos progenitores dos monócitos. Não só a presença dos factores de crescimento mas também a sua concentração, regula a 7

produção de células, tal como demonstrada pelos efeitos diferenciais do GM-CSF na formação de granulócitos e monócitos/macrófagos. Os factores de crescimento medeiam as suas acções através de receptores de citocinas, e esta ligação promove o início de uma trajectória na proliferação e maturação celular. (Raskin, 1996) Os inibidores da hematopoiese incluem o factor de transformação crescimento- o qual inibe as células estaminais e faz diminuir a actividade da IL-3 e do receptor kit ligandina; e prostagalndina E 1 e E 2, que suprime a CFU-M, CFU-GM e CFU-G. As quimocinas, a superfamília das pequenas citocinas pró-inflamatórias ligadas a aminoácidos homólogos, regulam o movimento e a distribuição tecidular de leucócitos, isto é, possuem um papel importante na migração de neutrófilos (IL-8, péptido activador de neutrófilos-2), recrutamento de monócitos (proteína quimiotática dos monócitos, proteína induzível pelo interferon, proteína inflamatória macrofágica), ou actividades adicionais dos monócitos, eosinófilos e basófilos (Rantes, quimocina derivada das células T). (Raskin, 1996) 1.3.1. Produção de Neutrófilos e Monócitos Os neutrófilos e os monócitos formam-se a partir da célula progenitora bipotencial CFU-GM na medula óssea. Existe uma relação inversa entre as concentrações de GM-CSF e a expressão do gene c-fms. A altas concentrações de GM- CSF, a produção de granulócitos é favorecida devido à baixa expressão do gene c-fms, ao passo que, a baixas concentrações de GM-CSF a produção de monócitos/macrófagos é preferida. Elevadas concentrações de GM-CSF isoladamente ou associado a IL-3, aumenta a produção de progenitores granulocíticos a partir de CFU-G. Para a diferenciação terminal de progenitores de CFU-G em neutrófilos maduros, G-CSF é necessário. O mieloblasto é a primeira célula progenitora neutrofílica ou granulocítica reconhecível morfologicamente. Antes do mieloblasto, as células que surgem, tal como CFU-GM, são consideradas células mononucleares indistinguíveis com aspecto semelhante a uma célula linfóide. (Raskin, 1996) A produção de monócitos a partir das células CFU-GM requer baixas concentrações de GM-CSF + M-CSF ou IL-6 + M-CSF. O monoblasto e o promonócito 8

são as primeiras células reconhecíveis no desenvolvimento do monócito a partir dos progenitores de CFU-M. M-CSF, também conhecida como CSF-1, é regulada pela sua própria ligação de retroacção na produção de monócitos e é responsável pela maturação de monócitos em macrófagos. (Raskin, 1996) Substâncias inibidoras promovem um mecanismo de balanço para limitar a produção de células. Algumas moléculas reguladoras nomeadamente interleucina-8 (IL- 8), proteína induzível pelo interferon-10, proteína inflamatória macrofágica- e factor macrofágico quimiotático e de activação, tendem a suprimir as células progenitoras primitivas e a favorecer o crescimento de células progenitoras mais maduras. (Raskin, 1996) Aproximadamente 4 ou 5 divisões ocorrem durante alguns dias, para se formarem os mieloblastos, promielócitos e mielócitos. (Harvey, 2001) (Figura 3) Figura 3. Visão do conjunto da granulopoiese da série neutrofílica. (Reagan et al., 1999) O primeiro precursor do granulócito é o mieloblasto. É uma célula grande, com um núcleo redondo ou oval com uma cromatina finamente granular, e um ou mais nucléolos proeminentes. A quantidade de citoplasma é pequena ou moderada e azul. Cada mieloblasto divide-se para formar dois promielócitos. Estes, são parecidos aos mieloblastos, no entanto podem não ter nucléolos e ter uma zona perinuclear clara dentro do citoplasma e múltiplos grânulos muito pequenos de cor rosada ou púrpura no 9

citoplasma, considerados primários. Os promielócitos dividem-se para formar os mielócitos. (Reagan et al., 1999) O mielócito é mais pequeno que os primeiros precursores e tem um núcleo redondo a oval ou ligeiramente dentado e com uma cromatina granular fina a moderada. Estas células têm quantidades moderadas de citoplasma azul. Nesta fase, deixam-se de produzir grânulos primários e formam-se os secundários, maiores. Para os neutrófilos, eosinófilos e basófilos, o desenvolvimento é idêntico até à fase de mielócito, fase esta em que se podem distinguir os mielócitos neutrófilos dos mielócitos eosinófilos e basófilos, pela cor dos grânulos secundários. Nos mielócitos neutrófilos, os grânulos secundários são rosa-claro e muito difíceis de reconhecer através do microscópio óptico. (Reagan et al., 1999) O mielócito sofre duas divisões para gerar os metamielócitos, fase a partir da qual já não existem divisões. O metamielócito neutrófilo é mais pequeno que o mielócito e tem um núcleo com forma de rim. A cromatina é moderadamente granular e mais espessa e densa que a do mielócito. O citoplasma é azul e contém grânulos primários e secundários, facilmente visíveis ao microscópio. (Reagan et al., 1999) Os metamielócitos neutrófilos transformam-se em neutrófilos de banda. Estes são redondos e mais pequenos, com núcleo em forma de ferradura e possuem quantidades moderadas de citoplasma azul ou azul claro. O neutrófilo em banda ao maturar, dará origem a um neutrófilo segmentado, pequeno, com citoplasma que vai de azul claro a rosa, e um núcleo segmentado. A cromatina nuclear é grossa, granular e densa. (Reagan et al., 1999) (Figura 4) A B C D E F Figura 4. Desenvolvimento dos Neutrófilos. A Mieloblasto; B Promielócito; C Mielócito neutrófilo; D Metamielócito neutrófilo; E Neutrófilo em banda; F Neutrófilo segmentado. (Reagan et al., 1999) Os precursores dos monócitos surgem das células estaminais, que são precursores comuns para ambas as células das linhas dos granulócitos e monócitos. Para o desenvolvimento dos monócitos são necessários menos dias quando comparado com o 10

desenvolvimento dos granulócitos. Os monócitos são considerados células inacabadas mas entram nos tecidos para se transformarem em macrófagos. Na medula óssea normal, aparecem pouquíssimas células da família dos monócitos. (Harvey, 2001) Os monoblastos são os primeiros precursores reconhecíveis microscopicamente na medula óssea, embora seja impossível diferenciá-los dos mieloblastos. (Reagan et al., 1999) Os monoblastos dão origem aos promonócitos, caracterizados por serem grandes, com núcleo oval, às vezes dentado com um tipo de cromatina reticular ou em forma de encaixe. Possui pequenas ou moderadas quantidades de citoplasma azul o que torna difícil a distinção com mielócitos ou metamielócitos neutrófilos. (Reagan et al., 1999) Os promonócitos dão origem aos monócitos que são maiores que os neutrófilos segmentados. A cromatina nuclear tem áreas de condensação mas tem uma forma de encaixe ou reticular em comparação com a cromatina condensada do neutrófilo maduro. O citoplasma é tipicamente azul-acizentado e com alguns vacúolos discretos. (Reagan et al, 1999) 1.3.2. Produção de Eosinófilos e Basófilos/Mastócitos Os eosinófilos e basófilos partilham um progenitor comum. Evidências indicam uma produção concorrente das duas linhas celulares sob a influência da IL-5. Estão envolvidos factores de actuação precoce como IL-3, SCF e G-CSF, e factores de actuação tardia, nomeadamente IL-5 e GM-CSF. A IL-3, GM-CSF e IL-5 estão activos nas fases intermediárias da eosinofilopoiese e na fase final de maturação dos eosinófilos. O facto de, pacientes humanos receberem como terapia IL-2 e desenvolverem eosinofilia que é bloqueada por um anticorpo monoclonal contra IL-5, sugeriu que IL-2 induz a produção de IL-5 pelos linfócitos T. Embora ocorra sinergismo entre factores de crescimento, particularmente nos estádios mais precoces, o regulador primário da eosinofilopoiese é a IL-5. (Raskin, 1996) Embora ainda viva na incerteza o facto dos basófilos e mastócitos se originarem a partir do mesmo progenitor numa fase precoce do seu desenvolvimento, o desenvolvimento tardio de cada linha celular é regulado por um conjunto diferente de 11