USO DA IMPRESSÃO 3D NA FABRICAÇÃO DE ÓRTESES UM ESTUDO DE CASO

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USO DA IMPRESSÃO 3D NA FABRICAÇÃO DE ÓRTESES UM ESTUDO DE CASO Bruno O. Fernandes Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curitiba, Paraná, Brasil parafalarcomfernandes@gmail.com José A. Foggiatto Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curitiba, Paraná, Brasil foggiatto@utfpr.edu.br Paloma H. Poier Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curitiba, Paraná, Brasil palomahoh@gmail.com RESUMO As órteses são dispositivos utilizados para melhorar o padrão anatômico e funcional de membros com limitações devido a enfermidades ou acidentes. Este trabalho propõe uma nova metodologia para o projeto e a fabricação de órteses customizadas utilizando tecnologias como o escaneamento e a Impressão 3D para assegurar uma melhor adaptabilidade e maior conforto para o usuário. Foi utilizado um programa para realizar o escaneamento 3D a partir de uma série de fotos do modelo do membro afetado. A órtese foi modelada em um programa CAD-3D a partir da superfície gerada no escaneamento e fabricada por Impressão 3D em PLA. O resultado mostrou-se promissor e atualmente a órtese está sendo utilizada por uma criança com paralisia cerebral e avaliada por sua terapeuta ocupacional. PALAVRAS-CHAVE Órteses; Tecnologia Assistiva; Impressão 3D; Escaneamento 3D. ABSTRACT Orthoses are devices used to improve the anatomical and functional pattern of members with limitations due to illness or accidents. This paper proposes a new methodology for the design and manufacturing of customized orthoses using scanning and 3D printing technologies to ensure better adaptability and comfort for the user. A program was used to perform the 3D scan, from a series of photos of the affected limb model. The orthosis was modeled in a 3D-CAD software from the surface generated in scanning, and was manufactured in PLA by 3D Printing. The result was promising and currently the orthosis is being used by a child with cerebral palsy and being evaluated by an occupational therapist. KEYWORDS Orthosis; 3D printing; Assistive Technology; 3D Scanning. INTRODUÇÃO Segundo o Comitê de ajudas técnicas a Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social [1]. As órteses são dispositivos de Tecnologia Assistiva utilizadas em diferentes contextos de tratamento. Podem ser empregadas para facilitar a cicatrização em procedimentos pós-cirúrgicos e 1

traumáticos, para a manutenção ou promoção da amplitude articular, na substituição ou facilitação de uma função, na prevenção e correção de deformidades, para apoiar um membro lesionado, entre outras possíveis aplicações [2]. O uso das órteses pode evitar ou adiar procedimentos cirúrgicos e invasivos [3]. A Figura 1 mostra um exemplo de órtese comercial. Figura 1: Exemplo de órtese comercial. Fonte: http://www.exclusivasiglesias.com/ Embora as aplicações e benefícios das órteses sejam conhecidos e aceitos, no Brasil, a sua utilização é limitada devido a diversos entraves divulgados em um relatório do Conselho Nacional de Saúde em 2010 [4]. Segundo o documento, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza alguns modelos de órteses para a população, entretanto os municípios desconhecem os procedimentos para aquisição dos mesmos [4]. Os processos burocráticos de licitação para a compra normalmente atrasa a entrega aos usuários e, consequentemente, prejudicam o tratamento. Sobre a qualidade dos produtos, o Grupo de Trabalho relatou não haver nenhum procedimento padrão para testar as características das órteses vendidas ou cedidas pelo SUS, nem mesmo pelos órgãos de controle Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). O relatório também aponta como deficitária a gestão de recursos para esta finalidade [4]. Além da disponibilização pelo SUS existem as órteses comerciais e órteses confeccionadas por terapeutas ocupacionais em contexto clínico. As órteses comerciais têm como característica negativa a impossibilidade de modelagem personalizada ou de mudança nos ângulos articulares. No caso das órteses confeccionadas pelos terapeutas, especialmente para membro superior, as tecnologias de desenvolvimento são bastante artesanais, o que, em alguns casos implica em desconforto para o usuário e imprecisão de forma. Além disso, o custo unitário é alto devido ao valor do material utilizado. Durante o processo de prescrição e confecção de uma órtese é necessário um exame detalhado do membro que receberá o dispositivo. Deve-se observar e considerar as proeminências ósseas, as deformidades existentes e outras estruturas que possam causar pontos de pressão ou lesões [5]. Após o desenvolvimento também é essencial o acompanhamento dos pais e terapeutas para assegurar que a órtese esteja auxiliando na funcionalidade ou impedindo o avanço de deformidades [5]. Crianças com Paralisia Cerebral são usuárias de órteses entre outros dispositivos de Tecnologia Assistiva, pelo motivo de que podem apresentar diversos problemas relacionados ao controle motor e ter suas habilidades funcionais comprometidas [2]. Estas crianças podem ter limitações que as impedem de realizar tarefas e atividades típicas do cotidiano infantil. A reabilitação e a Tecnologia Assistiva são recursos terapêuticos que buscam gerar independência e autonomia, dentro das possibilidades das mesmas [2]. Em grande parte dos casos, crianças com Paralisia Cerebral apresentam alterações de tônus muscular e padrões inadequados de movimento e postura [3]. Estas alterações podem afetar os membros superiores e inferiores, mas com relação ao membro superior, a Paralisia Cerebral é considerada uma das patologias de maior dificuldade para definição do tratamento e evolução [6]. As contraturas em membros superiores são frequentes e em alguns casos há acometimento da articulação do punho. Segundo Sposito [7], estas deformidades podem acarretar a perda de 60% da função manual. Para melhor compreensão da deformidade em flexão de punho é importante conhecer os padrões saudáveis de flexão desta articulação. Segundo a literatura, a maior amplitude ativa possível do punho é de 90 [8] (Figura 2), partindo da posição neutra (0 ) ilustrada na Figura 3. Em caso de desiquilíbrios sensório- 2

motores decorrentes da Paralisia Cerebral este ângulo pode ser superior a 90 graus. Figura 2: Maior grau de flexão de punho Figura 3: posição neutra ou 0 grau Tanto os ângulos de flexão do punho quanto as articulações da mão podem apresentar alterações devido a espasticidade [9]. A espasticidade é aumento na tensão do músculo quando ele é passivamente alongado, a qual é causada por um exagero do reflexo de estiramento muscular [10] e está presente em 88% dos casos de Paralisia Cerebral [11]. Quando não tratada, causa contraturas, rigidez, luxações, dor e deformidades. Como tratamento preventivo destas deformidades, as crianças devem ser acompanhadas por equipe multidisciplinar em geral formada por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, médicos neurologistas, ortopedistas entre outros, para evitar o tratamento cirúrgico e invasivo. O tratamento conservador, ou não cirúrgico, baseia-se na mobilização, alongamento, estiramento passivo e utilização de órteses. De acordo com Sposito [7] as órteses são comumente empregadas para manter o comprimento muscular e impedir a evolução das contraturas, pois quando um musculo é passivamente estirado ocorre uma diminuição da sensibilização do reflexo de estiramento, com redução da espasticidade [7]. Com o intuito de contribuir no processo de melhoria do tratamento conservador, este trabalho apresenta uma proposta de metodologia para a produção de órteses customizadas utilizando tecnologias de escaneamento e impressão 3D. A impressão 3D (ou Manufatura Aditiva) é uma tecnologia cada vez mais empregada no desenvolvimento de produtos, visto o seu potencial de aplicação [12]. O processo, de maneira geral, consiste na deposição de sucessivas camadas de material uma sobre a outra, partindo de uma geometria modelada em um sistema CAD 3D (Computer Aided Design) [13]. Na área da saúde a manufatura aditiva tem sido aplicada em preparações para cirurgias, diminuindo as possibilidades de erro e o tempo para os procedimentos, na criação de estruturas chamadas de scaffolds utilizadas para facilitar o desenvolvimento celular, em próteses implantadas ou substitutivas de membros [14]. Dispositivos de Tecnologia Assistiva também têm sido fabricados com a manufatura aditiva. Segundo Silva e Maia [15], desde 2001 existem pesquisas com a aplicação da Manufaura Aditiva em desenvolvimento de Tecnologia Assistiva no Brasil. Os autores relatam a produção do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) que apoia projetos para auxílios para a vida diária, recursos de acessibilidade ao computador, órteses e próteses, adequação postural, auxílios para cegos ou com visão subnormal, auxílios para surdos ou com déficit auditivo [15]. No caso das órteses, existem relatos, porém poucas pesquisas científicas divulgadas. Entretanto, existem indícios de que esta tecnologia pode favorecer o processo de desenvolvimento destes dispositivos. Um dos fatores indicativos é a velocidade de produção. Quanto mais rápido for o início do uso de órteses, melhores serão os resultados obtidos. 3

Portanto, a impressão 3D é a tecnologia mais adequada para assegurar essa agilidade na fabricação. Além da diminuição do tempo de espera, acredita-se que a metodologia proposta resolva outros problemas encontrados nas órteses atuais: imprecisão, desconforto e alto custo. Para avaliar o método, foi realizado um estudo de caso com uma criança com paralisia cerebral de uma instituição de atendimento a pessoas com deficiência. METODOS/PROCEDIMENTOS O trabalho foi desenvolvido seguindo a metodologia ilustrada na Figura 4: Seleção do caso Seleção do Caso Aquisição da anatomia Escaneamento 3D Modelagem 3D Impressão 3D Acabamento Avaliação Figura 4: metodologia utilizada. A criança foi selecionada a partir da avaliação e indicação do terapeuta ocupacional da instituição. Trata-se de um adolescente de 14 anos, cadeirante, com tetraparesia espástica decorrente da Paralisia Cerebral. Ele apresenta deformidade nas articulações dos punhos, sendo este o motivo da indicação de órteses. Segundo a avaliação da terapeuta ocupacional, a órtese mais adequada seria a estática seriada. Como a deformidade já estava instalada, não haveria condições de uma órtese que posicionasse punho e mão diretamente para a posição neutra. Seria necessário, portanto, uma angulação gradativa. Aquisição da anatomia Depois de selecionada a criança, o passo seguinte foi definir a melhor maneira para capturar a forma do membro que receberá a órtese. Verificou-se que esta é a etapa mais importante do processo. Com o objetivo de causar o menor desconforto na criança, optou-se por utilizar um procedimento rápido de aquisição da forma da articulação do punho. Logo, a alternativa de usar gaze engessada, por exemplo, foi descartada. Foi utilizada a massa de modelar. Este material, além envolver o punho do paciente com facilidade, não é agressivo para a pele e apresenta características lúdicas. Devido a deformidade do punho da criança foram necessários alguns cuidados no posicionamento para obter a maior amplitude passiva possível. Primeiramente, a terapeuta ocupacional, responsável por acompanhar o processo, realizou massagens para alongar a musculatura e posicionar o membro superior. Quando o membro superior foi posicionado e o punho estabilizado na posição de maior amplitude articular passiva possível - estipulada pela terapeuta ocupacional - uma porção de massa de modelar foi colocada ao redor da região da qual se desejava adquirir a forma. O molde foi então retirado e levado para o escaneamento 3D. Foi necessário repetir o processo duas vezes, visto que na primeira tentativa a quantidade de massa utilizada foi subdimensionada (150g) e as paredes ficaram muito finas. Isso resultou em alteração da geometria do molde durante o transporte. Infelizmente isso somente foi percebido na etapa de avaliação. Na aquisição da anatomia para a segunda órtese, foi utilizado o dobro de massa. Além disso, foram medidas algumas distâncias consideradas importantes: a largura da mão, do punho e o comprimento dos dedos. Desta vez 4

não houve alteração nas dimensões da forma e seguiu-se para a etapa de escaneamento. Escaneamento 3D Para realizar o escaneamento do molde, foi adotada uma solução que dispensou o uso de equipamentos específicos. Foi utilizado o software 123D Catch (Autodesk Inc.), disponível para computadores, tablets e celulares. O programa é bastante intuitivo, de simples operação e realiza o escaneamento 3D a partir de fotos (de 20 a 40) tiradas ao redor do objeto que se deseja o modelo tridimensional. Foram respeitadas as recomendações de utilização contidas no tutorial do programa, sendo estas: a utilização de uma superfície plana e de cor sólida para posicionar o objeto, a colocação de quadrados de papel coloridos ao redor do modelo para facilitar a interpretação das imagens pelo programa, e a utilização de uma escala ao lado do modelo para facilitar o posterior dimensionamento do modelo 3D. Objetos com referências bem definidas são mais facilmente reconhecidos pelo programa, portanto, foi desenhado um quadriculado no molde escaneado. Para assegurar a conformidade dimensional, o molde teve suas dimensões verificadas a partir das medidas coletadas no momento de aquisição da forma. A primeira órtese não passou por esse procedimento, e não foi identificada a variação dimensional da peça antes da modelagem e fabricação. A Figura 5 mostra uma das fotos utilizadas no escaneamento; nela é possível notar que o modelo foi preparado segundo as recomendações do tutorial. Figura 5 - Molde preparado para o escaneamento. As fotos capturadas foram processadas pelo 123D Catch, que gerou um modelo tridimensional do objeto (exportado para o formato obj). Modelagem 3D A representação tridimensional da mão e do braço é o ponto de partida para o desenvolvimento da órtese. Como a superfície gerada pelo escaneamento possui uma malha muito complexa e muito detalhada. Isso acarreta problemas na modelagem, pois malhas muito complexas, como se pode observar na Figura 6, dificultam ou impedem o uso de operações ou ferramentas como cortes, espessamento, arredondamentos ou suavizações. O alto nível de detalhamento, que a princípio pode parecer uma vantagem, pode gerar pontos de pressão, como por exemplo, nas dobras da pele em articulações dos dedos ou do punho. 5

Figura 6 - Malha obtida no 123D Catch. Como os softwares disponíveis não permitiram simplificar essa malha de maneira automatizada, a estratégia selecionada foi utilizar a malha obtida somente como referência para a modelagem da órtese a partir de uma malha simplificada. O primeiro passo foi importar a malha, vinda do escaneamento, no programa 3DS MAX (Autodesk Inc.). Para se obter a superfície adequada a ser usada como referência, deletaram-se as partes laterais e inferiores do modelo. A superfície resultante é mostrada na Figura 7. A modelagem partiu de um plano simples que foi conformado, através da movimentação de vértices e arestas, primeiramente na parte inferior do braço. Em seguida, o plano foi dividido; uma parte dele seguiu a extensão da palma e dos dedos e a outra seguiu o dedo polegar. Para finalizar, foram modeladas as superfícies laterais. Figura 7 - Superfície de referência. Durante essa etapa, a modelagem foi realizada de forma que a malha que estava sendo gerada acompanhasse a geometria da superfície de referência, no entanto deveria ser suave e não demasiadamente detalhada, para evitar pontos de pressão. Outro detalhe importante é que a superfície foi gerada considerando um espaçamento (offset) de um milímetro entre a superfície de referência e a nova malha, pois depois da impressão seria aplicada uma camada de EVA (Acetato de Vinila) na órtese. A Figura 8 mostra superfície obtida pela modelagem, onde é possível notar uma malha muito mais simples do que a obtida pelo escaneamento 3D. Para transformá-la em um modelo sólido, que pudesse ser produzido por manufatura aditiva, a superfície recebeu um espessamento de três milímetros. Esta fase foi a mais demorada de todo processo e depende muito da experiência do projetista no uso do programa de modelagem. Foram utilizadas cerca de cinco horas para concluir o modelo. 6

Figura 9 - Órtese impressa em PLA Figura 8 - Superfície obtida por modelagem Impressão 3D A primeira órtese foi impressa em resina acrílica fullcure 720 (Stratasys Inc.) com a impressora Eden 250 disponível no Núcleo de Prototipagem e Ferramental (NUFER) da UTFPR. O processo, denominado Polyjet, deposita finas camadas de resina, que são imediatamente curadas pela exposição à luz ultravioleta. No entanto, o custo desse material inviabiliza a aplicação para órteses, visto a órtese custaria R$ 807,00 (sem considerar o custo da hora/ máquina). A segunda órtese, ilustrada na Figura 9, foi fabricada na impressora 3D CLONER (Microbras). Esta máquina é nacional e usa o processo FDM (Modelagem por Fusão e Deposição). Foi utilizado o biopolímero PLA (ácido poliláctico) na forma de filamento. Esse material é fundido e forçado através de um bico extrusor calibrado que deposita cada uma das camadas. A grande vantagem desse processo é o preço do material, visto que a órtese foi produzida a um custo de R$ 27,00 (sem considerar o valor da hora/máquina). Embora a qualidade superficial não seja tão boa quanto a órtese impressa em resina acrílica, isso não inviabiliza o seu uso para essa aplicação. Acabamento Como a Impressora 3D utilizada na segunda órtese possui apenas um bico extrusor e a geometria da órtese possuía regiões suspensas (com necessidade de suporte para a sua fabricação), foi necessária uma etapa de pósprocessamento para a retirada dos suportes e lixamento das superfícies. Para aumentar o conforto da órtese durante sua utilização, foi colocada uma camada de EVA na superfície que entraria em contato com a mão da criança. A cola utilizada foi o cianoacrilato. O sistema de fixação da órtese na mão da criança foi feito com tiras de velcro que contornam a mão e o antebraço. Elas são coladas à superfície inferior da órtese, onde há outra tira de velcro. Para que o velcro não entrasse em contato direto com a pele da criança, foram confeccionadas proteções de EVA. Avaliação A etapa de avaliação foi planejada em duas fases: a primeira ocorreu no momento da colocação da órtese na criança, onde a equipe de execução do projeto e a terapeuta ocupacional analisaram a adaptabilidade do dispositivo. Para a segunda etapa foi desenvolvido um instrumento de avaliação contendo sete questões. Os itens de avaliação foram baseados nos princípios encontrados na literatura 7

considerados importantes para o sucesso do uso da órtese [16]: 1. Eficácia no posicionamento ou funcionalidade desejada; 2. Facilidade de colocação; 3. Facilidade de retirada; 4. Facilidade de higienização; 5. Localização do velcro; 6. Conforto; 7. Estética. Para cada item, o respondente deve atribuir um valor de 0 a 10. O respondente também deve observar se, após o uso diário, houve sinais de pontos de pressão, tais como vermelhidão ou lesões. Devido a dificuldade de expressão verbal da criança o instrumento foi encaminhado para a sua família e para a terapeuta ocupacional. Síntese da aplicação da metodologia Esta metodologia está em desenvolvimento e, embora os resultados tenham sido considerados bons, estão sendo feitos estudos para a substituição do programa 123D Catch pelo uso de escâneres a laser para o escaneamento direto ou indireto dos membros que receberão as órteses. A intenção é evitar a dependência com o programa comercial que atualmente disponibiliza gratuitamente os modelos 3D no formato STL. A etapa de modelagem 3D deverá também será reavaliada visando acelerar esse processo. Outros programas serão testados para a simplificação das superfícies fornecidas pelos escâneres. O objetivo principal do desenvolvimento dessa metodologia é simplificar ao máximo cada etapa para que a produção de órteses utilizando a impressão 3D possa se popularizar nas instituições que atendem crianças com deficiência. O fluxograma ilustrado na Figura 10 mostra as etapas da metodologia destacando os principais recursos utilizados. Figura 10: Síntese da metodologia aplicada ao caso. RESULTADOS Seleção do Caso ADOLESCENTE DE 14 ANOS NECESSIDADE DE ÓRTESE DEVIDO A DEFORMIDADE EM MEMBRO SUPERIOR ESQUERDO Aquisição da anatomia POSICIONAMENTO REALIZADO PELA TERAPEUTA OCUPACIONAL MOLDE EM MASSA DE MODELAR Escaneamento 3D PREPARAÇÃO DO MOLDE PARA O ESCANEAMENTO ESCANEAMENTO VIA PROGRAMA 123D CATCH (Autodesk Inc.) Modelagem 3D MODELAGEM NO PROGRAMA 3DS MAX (Autodesk Inc.) Impressão 3D PLANEJAMENTO DOS SUPORTES FABRICAÇÃO NA IMPRESSORA 3D CLONER Acabamento RETIRADA DOS SUPORTES E LIXAMENTO COLOCAÇÃO DE CAMADA DE EVA E DOS VELCROS Avaliação MELHORA IMEDIATA COMPARAÇÃO DE IMAGEM INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO A primeira órtese (Figura 11) não foi validada. Na etapa de colocação ela não se adequou a anatomia do braço e da mão da criança. Foi verificado que o molde teve a sua geometria alterada durante o transporte. Com excelente acabamento superficial, a órtese feita em resina acrílica poderia ser utilizada para essa aplicação se o custo do material não fosse tão alto. 8

Figura 11 - Primeira órtese não validada. A segunda órtese, mostrada nas Figuras 12 e 13, foi aprovada pela terapeuta ocupacional no momento da colocação e via instrumento de avaliação. A geometria, acabamento e elementos de fixação foram imediatamente considerados adequados ao caso em estudo. Figura 13 - Vista inferior da órtese. A Figura 14 ilustra a mão da criança sem o uso da órtese. Verifica-se que, em função da contratura causada pela espasticidade, o ângulo formado entre o antebraço e a mão é de 42 graus. Figura 12: Vista lateral da órtese. Figura 14: Mão da criança sem o uso da órtese. Este ângulo evidencia a gravidade da deformidade, pois a maior flexão possível, segundo a literatura, é de 90 graus, no caso da criança esta amplitude chega a aproximadamente 138 graus (figura 14). 9

Observa-se na Figura 15 que, com o uso da órtese, o ângulo entre o antebraço e a mão aumentou para 106 graus, diminuindo o valor de flexão para 74º. É previsto que a criança receba outras órteses futuramente, aumentando gradativamente esse ângulo. Até o momento, não foi possível avaliar o ganho de amplitude articular ativa, mas observase, através da comparação entre as Figuras 14 e 15, a melhora imediata após a colocação da órtese. Itens avaliados 1 a 10 Eficácia no posicionamento 8 ou funcionalidade desejada Facilidade de retirada 9 Facilidade de colocação e posicionamento Facilidade de higienização 8 Localização do velcro 7 7 Conforto 7 Estética 9 Tabela 1: Itens avaliados pela terapeuta ocupacional DISCUSSÃO Figura 15: Órtese posicionada na mão da criança. Com relação ao instrumento de avaliação desenvolvido o mesmo foi respondido pela terapeuta ocupacional após duas semanas de uso. As respostas podem ser verificadas na Tabela 1. As menores pontuações foram as de conforto, localização do velcro e facilidade de colocação e posicionamento. Nos itens de estética e facilidade de retirada a avaliação foi próxima ao maior escore. A família não respondeu a avaliação até o momento. Na avaliação imediata do uso da órtese foi possível observar um aumento na amplitude articular passiva de quarenta e dois para cento e seis graus. Durante a colocação da órtese, observou-se que a articulação do punho não se apoiou completamente no dispositivo (Figura 15). Acredita-se que, com o uso contínuo, e consequente aumento da amplitude articular, a acomodação ocorrerá. Essa inconformidade sugere que o ângulo do punho no momento de aquisição da forma era maior do que o ângulo que de fato a órtese deveria apresentar. Essa diferença pode ter sido causada por diversas variáveis, como a temperatura, o alongamento realizado anteriormente, condições de conforto da criança, etc. Para tentar padronizar essas condições, será necessária a elaboração de um protocolo de obtenção do molde. Estão sendo estudadas outras concepções para a órtese prevendo um sistema de articulação regulável que permitirá maior flexibilidade no posicionamento do melhor ângulo para a órtese. Sobre a avaliação respondida pela terapeuta ocupacional, todos os quesitos obtiveram escore acima de 5. Porém aqueles de menor nota, como conforto, localização do velcro e facilidade de colocação e posicionamento serão discutidos com 10

a terapeuta com a intenção de promover melhorias nas próximas órteses. Na avaliação do material PLA, utilizado na impressão 3D da segunda órtese, foi verificado que ele possuía resistência suficiente para essa aplicação, tendo um custo aproximadamente trinta vezes menor que o custo da resina acrílica utilizada na primeira órtese. As falhas na etapa de aquisição da anatomia acarretaram no descarte da primeira órtese. Esta atividade exige habilidade e rapidez na moldagem do membro que receberá a órtese, não deve causar desconforto e nem agredir a pele da criança. Desse modo, a massa de modelar cumpre os requisitos, porém provoca imprecisões dimensionais e geométricas, causadas principalmente no transporte ou no manuseio. Elas podem ser minimizadas através de medições do membro, e da verificação, nas etapas seguintes, da replicação dessas medidas. Para estudos futuros sugere-se a utilização de outros materiais para a moldagem, como o alginato material utilizado na odontologia que, apesar de mais caro, garante maior precisão geométrica, também não é agressivo à pele, e tem uma cura rápida [17]. A etapa de modelagem 3D da órtese foi considerada crítica, pois ela depende da experiência do profissional no programa de modelagem. Estudos estão sendo realizados para definir qual programa é o mais adequado para transformar as superfícies escaneadas em superfícies que permitam o espessamento, gerando o sólido base para a órtese. A avaliação da funcionalidade e da eficácia da órtese em possibilitar o aumento da amplitude articular está em andamento. Outros aspectos relacionados ao uso contínuo - como facilidade de higienização, conforto, ocorrência de pontos de pressão, durabilidade e resistência dos materiais também estão em processo de avaliação. CONCLUSÃO Sugere-se a criação de um protocolo para a aquisição da anatomia, pois o posicionamento correto do membro que receberá a órtese é fundamental para o sucesso do projeto e depende do profissional de saúde que está acompanhando o processo. O instrumento de avaliação desenvolvido também será aprimorado com a inclusão de questões sobre os procedimentos de dispensação da órtese. Pretende-se no futuro comparar o método utilizado com os processos convencionais de desenvolvimento e disponibilização de órteses. A fim de eliminar os problemas encontrados durante o desenvolvimento da órtese, sugere-se o aprofundamento na análise de materiais a serem utilizados na aquisição da anatomia. Outro fator importante é a definição de um método para a modelagem tridimensional da órtese, a fim de possibilitar que profissionais menos experientes possam gerar os modelos de forma sistematizada. Finalmente, é esperado que as informações obtidas pelo acompanhamento deste e de outros casos, a longo prazo, possibilite aperfeiçoar essa metodologia para a fabricação de órteses com o uso das tecnologias de Impressão 3D. AGRADECIMENTOS À UTFPR, CNPq e CAPES pelas bolsas concedidas para a execução desse trabalho, a empresa All Copy, representante da Impressora 3D Cloner em Curitiba, pela impressão da órtese em PLA e a Escola de Educação Especial Vivian Marçal pela parceria nesse estudo piloto. REFERÊNCIAS [1] Brasil, 2009, Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Comitê de Ajudas Técnicas. Tecnologia Assistiva CORDE, Brasília, pp 138. [2] Van Petten A. M. V. N., Ávila A. F., Silva e Lima C. G., 2014, Efeito do uso de órtese de punho na função manual, Cad. Ter. Ocup, UFSCar, São Carlos, 22(1), pp 79-87. [3] Alon, G., Mcbride, K., 2003, Person with C5 e C6 tetraplegia achieve seleted functional gains using a neuroprosthesis, Arch Phys Med Rehabil, Baltimore, 84, pp 119-124. [4] Brasil, 2010, Grupo de Trabalho sobre Órteses e Próteses Relatório Final 2010. Acesso: 2015. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias /2011/relatorio/GT_orteseprotese.pdf > 11

[5] Poutney, T., 2008, Fisioterapia Pediátrica, 1 Ed., editora Elsevier, Cap. 7, pp 384. [6] Freitas A. D. 2004. Membro superior na paralisia cerebral, In: Lima C. L. F. A., Fonseca L. F., Paralisia cerebral, Rio de Janeiro, Koogan, pp. 163-168. [7] Sposito, M. M. M., 2010, Cirurgias e intervenções físicas no tratamento da espasticidade na paralisia cerebral, Acta Fisiátrica, 17(2), pp 84 91. [8] Magee D. J., 2002, Antebraço, Punho e Mão, In: Magee, D. J. editor, Disfunção Musculoesquelética, 3 ed., São Paulo, Ed. Manole, pp 289-344. [9] Cargnin A. P. M., Mazzitelli C., 2003, Proposta de Tratamento Fisioterapêutico para Crianças Portadoras de Paralisia Cerebral Espástica, com Ênfase nas Alterações Musculoesqueléticas., Rev. Neurociências, 11(1), pp 34-39. [10] Tachdjan M. O., 1995, Ortopedia pediátrica, 2 ed., Ed. Manole, São Paulo, 3, pp. 1622-712. [11] González, R. C., Sepúlveda, R. F. C., 2002, Tratamiento de La Espasticidad en Parálisis Cerebral con Toxina Botulínica, Rev. Neurol, 34 (1), pp 23-26. [12] Volpato, N.; 2007, Prototipagem rápida: tecnologias e aplicações, Edgard Blucher, São Paulo. [13] Hopkinson, N., Hague, R., Dickens, P., 2006, Rapid Manufacturing: an industrial revolution for the digital age, Wiley, England, [14] Cunico. M. W. M., 2015, Impressoras 3D: O novo meio Produtivo., Concep3D - Pesquisas Científicas Ltda., Curitiba. [15] Silva J. V. L., Maia I. A., 2014, Desenvolvimento de dispositivos de tecnologia assistiva utilizando impressão 3D, I Simpósio Internacional de Tecnologia Assistiva, Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva - CTI Renato Archer, Campinas-SP. [16] Agnelli, L. B., Toyoda, C. Y., 2003, Estudo de materiais para confecção de órteses e sua utilização prática por terapeutas ocupacionais no Brasil, Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, Jul./dez., 11 (2), pp 83-94. [17] Lee, C., Choi, C., 2006, Validity and Reliability of an Alginate Method to Measure Body Surface Area, J Physiol Anthropol, 25, pp 247 255. 12