INFILTRAÇÃO EM ALVENARIA ESTUDO DE CASO EM EDIFÍCIO NA GRANDE FLORIANÓPOLIS

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Transcrição:

INFILTRAÇÃO EM ALVENARIA ESTUDO DE CASO EM EDIFÍCIO NA GRANDE FLORIANÓPOLIS Bruna Moro Cechinel; Fábio Linemberg Vieira; Priscila Mantelli; Sávio Tonel Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina - IF-SC Av. Mauro Ramos, 950, Florianópolis/SC. CEP 88020-300 E-mail: brunacechinel@yahoo.com.br Resumo: A infiltração em alvenaria, como em toda a edificação, causa sérios danos, como problemas de saúde e desvalorização do imóvel. É de suma importância a identificação da origem do problema para que a solução seja precisa e definitiva. Este artigo tem o objetivo de elucidar alguns tipos de infiltração em alvenaria e apresentar um estudo de caso desta patologia em um edifício comercial/ residencial localizado na Grande Florianópolis. E, para a elaboração do mesmo, valemo-nos de pesquisas em livros e sites, orientação pedagógica e material didático. Ao final, verificamos que a infiltração originou-se a partir de falha em elemento hidrossanitário, aliado ao uso de produtos de limpeza agressivos à argamassa. Palavras Chave: infiltração, alvenaria, pulverulência 1 Introdução Há muito tempo atrás, os romanos e incas utilizavam a albumina (clara de ovo, sangue, óleos, etc.) na prevenção das patologias causadas pela infiltração da água visando uma maior durabilidade das construções. No Brasil, nas cidades históricas, existem igrejas e pontes em perfeito estado de conservação, nas quais a argamassa de assentamento das pedras foi aditivada com óleo de baleia, utilizado como plastificante e tornando as estruturas menos permeáveis. Nas atuais edificações brasileiras, há uma grande incidência de infiltrações em alvenaria devido às mais diversas causas, ocasionando condições de insalubridade e o conseqüente desconforto pessoal, além de contribuir para uma acelerada deterioração dos respectivos materiais. Na grande maioria das vezes, os trabalhos de recuperação estão baseados em diagnósticos distorcidos, resultando em soluções incompletas ou não eliminando as reais causas, provocando, muitas vezes, o retorno do problema. O conhecimento das formas de manifestação das patologias devido à presença da umidade é um dado essencial que permite identificar claramente as causas e propor as soluções adequadas. Este estudo mostra algumas formas de manifestação das patologias devido à presença da umidade, os danos que elas causam nas edificações e suas possíveis soluções de reparação. O objetivo é o aprofundamento do conhecimento técnico deste fenômeno e sua aplicação a um estudo de caso em um edifício na Grande Florianópolis/SC. 2 Materiais e métodos O método utilizado para a elaboração deste trabalho envolveu pesquisa bibliográfica e estudo de caso. Inicialmente fizemos visitas ao local onde se encontra a patologia, cenário do nosso estudo de caso. Nessas visitas, avaliamos o local, realizamos inspeção visual tanto na área interna quanto externa, tiramos fotos detalhadas da patologia e do local, retiramos amostras que seguiram para ensaios no Laboratório de Saneamento do IF-SC Unidade Florianópolis. Os resultados desses ensaios farão parte do corpo do artigo. 18

Para darmos embasamento científico consistente ao trabalho, valemo-nos de pesquisas bibliográficas, as quais foram realizadas, em sua maioria, com livros científicos específicos sobre o assunto pertencentes à Biblioteca Hercílio Luz do IF-SC Unidade Florianópolis. Também utilizamos materiais encontrados em sites especializados no assunto e orientação de professores e encontros semanais. 3 Formas de manifestação das infiltrações São várias as formas sob as quais as patologias, devido à presença de umidade, podem se manifestar; tais manifestações poderão ser detectadas visualmente através de ensaios, análises ou cálculos específicos. Em seu artigo, Nappi (1995, p.1), afirma que muitas vezes, apenas a observação visual poderá acarretar incertezas sobre a patologia, devido ao fato de vários destes sintomas não serem específicos de um dado tipo de infiltração. Pode-se afirmar que a umidade em uma edificação se manifesta de várias formas diferentes, dentre as quais se destacam: - umidade por capilaridade; - umidade de construção; - umidade de precipitação; - umidade devido a outras causas. 3.1 Umidade por capilaridade Entendemos por capilaridade o fenômeno da ascensão da água do solo nas paredes de uma edificação através da tensão superficial. A intensidade da tensão superficial está diretamente relacionada à viscosidade do líquido. A ascensão da água nas paredes se dá pelos capilares que, para Verçoza (1985), são oriundos da descontinuidade dos materiais utilizados na construção civil, formando uma rede de espaços cheios de ar, que vão sendo saturados pela água à medida que esta se desloca dentro do material. Não só água do solo, mas também os sais existentes no terreno e nos próprios materiais de construção são dissolvidos pela água e transportados através das paredes para níveis superiores. Ao evaporar, esta água provocará a cristalização destes sais que fecharão os poros existentes, reduzindo a sua permeabilidade e aumentando o nível da umidade. Podemos perceber a ação da água pela capilaridade visualmente, pois ela provoca o aparecimento de manchas nas regiões geralmente junto ao solo, acompanhadas de manchas de bolor, criptoflorescências, eflorescências ou vegetação parasitária, principalmente nos locais de pouca ventilação. 3.2 Umidade de construção A maioria dos materiais utilizados atualmente nas construções necessita de água como, por exemplo, as argamassas. Parte desta quantidade de água evapora rapidamente, mas a outra parte demora muito tempo para fazê-lo. O processo de secagem de materiais porosos acontece em três fases distintas: na primeira há evaporação somente da água superficial; na segunda fase, a água contida nos poros de maiores diâmetros evapora num processo muito demorado; finalmente, a água existente nos poros de menores dimensões começa a ser liberada, num processo extremamente lento podendo acontecer ao longo de muitos anos. De forma geral, as patologias devido a este tipo de umidade cessam num período mais ou menos curto de tempo, que depende das características e do tipo de utilização do edifício e da região climática em que o mesmo está inserido. INFILTRAÇÃO EM ALVENARIA - ESTUDO DE CASO EM EDIFÍCIO NA GRANDE FLORIANÓPOLIS 19

3.3 Umidade de precipitação Quando a edificação é atacada por este tipo de umidade, iremos perceber o aparecimento de manchas de dimensões variáveis nas paredes exteriores em períodos de precipitações, que tendem a desaparecer. No entanto, em períodos prolongados de chuvas, pode haver a ocorrência de bolores, eflorescências e criptoflorescências. Segundo Nappi (1995, p.3), A chuva em si não se constitui em problemas para a construção. No entanto, quando está acompanhada pelo vento, gera uma componente horizontal tanto maior quanto maior for a sua intensidade. Ainda para este autor, a energia das gotas de água pode provocar penetração direta, sempre que essas gotas caiam em fissuras ou em juntas mal vedadas. Além disso, a ação continuada da chuva pode formar uma cortina de água que, ao escorrer pela parede, pode penetrar nela por gravidade, como resultado da sobpressão causada pelo vento ou por ação da capilaridade dos materiais. 3.4 Umidade devido a outras causas Por serem muitas as ocorrências deste tipo de umidade, torna-se muito difícil sistematizar todas as causas possíveis. De maneira geral, caracterizam-se pela sua natureza pontual em relação a sua localização, decorrente normalmente de falhas de instalações, defeitos de construção, acidentes ou falta de manutenção. Para Verçoza (1985), a umidade pode se manifestar também por percolação, ou seja, a passagem da água através de um corpo por transmissão de grão a grão. É como um fenômeno de osmose. No caso das alvenarias, a água encharca um grão, que por sua vez vai encharcar o grão seguinte, até atravessar toda a parede. 4 Danos causados pelas infiltrações Em uma obra, a falta de uma boa impermeabilização ou até mesmo a ausência de manutenção desta pode permitir que a água penetre nas alvenarias das mais diversas formas, como exposto anteriormente, trazendo umidade para dentro da edificação e causando alguns problemas. A umidade, dependendo da intensidade, pode prejudicar a saúde dos usuários da edificação e prejudicar a parte estética do local, pois geralmente percebemos que existe uma infiltração quando o revestimento, por exemplo, começa apresentar manchas, bolhas ou até mesmo desprender-se da parede. De acordo com Verçoza (1985), há vários problemas que podem ser provocados pela umidade nas edificações, dentre eles, pode-se citar: goteira e manchas, mofo e apodrecimento, eflorescências, criptoflorescências e gelividade. Já para Bauer (1994), acrescenta-se aos danos supracitados o descolamento dos revestimentos, que podem ser por empolamento ou em placas, podendo ou não ser acompanhados por pulverulência. 4.1 Goteiras e manchas Este é um tipo de dano quase inaceitável em uma construção, pois a partir do momento em que a umidade começa a criar goteiras e conseqüentemente manchas na edificação, é porque a água não encontrou barreiras que impedissem sua passagem. Segundo Verçoza (1985), esta umidade intensa e permanente deteriora qualquer material e desvaloriza a obra. 4.2 Mofo e apodrecimento Estas patologias são causadas pela umidade devido a uma infiltração, pois sabemos que fungos, para reproduzirem-se, precisam de ar e água. 20

Mais comuns em peças de madeira, também atacam a alvenaria provocando a desagregação do material, deixando o revestimento pulverulento. O apodrecimento do material ocorre devido ao mofo e bolor, provocados por fungos, que fixam suas raízes na madeira e/ou alvenaria, destilando enzimas ácidas que provocam, com o tempo, a destruição do material. No caso específico das alvenarias, percebemos a manifestação do mofo quando temos escurecimento da superfície, com conseqüente desagregação do material. 4.3 Eflorescência Eflorescências são causadas pela presença de água nas paredes, gerando sais que se manifestam na superfície da alvenaria através de manchas, descolamento ou descoloramento da pintura, entre outros. É válido observar que a eflorescência só irá ocorrer se a água encontrar sais solúveis na alvenaria que podem aparecer nos tijolos, na areia, no concreto, no cimento, ou na argamassa. A água dissolve estes sais que são trazidos para a superfície; neste lugar, a água evapora e os sais sólidos ou em forma de pó são depositados sobre a alvenaria, deixando a parede com má aparência. Caso a eflorescência esteja localizada entre o reboco e a parede, uma rede de capilares começa a se formar gerando mais passagens para umidade, o que aumenta a força de repulsão ao reboco, aumentando as chances do mesmo soltar da parede. Segundo Bauer (1994), podemos citar alguns sais causadores de eflorescências: - carbonatos, que podem ser de cálcio ou magnésio, provenientes da carbonatação da cal lixiviada da argamassa e os carbonatos de potássio e sódio originam-se da carbonatação dos hidróxidos alcalinos de cimentos com elevado teor de álcalis; - hidróxidos de cálcio provêm da cal liberada na hidratação do cimento; - sulfatos de cálcio desidratados provêm da hidratação do sulfato de cálcio do tijolo, sulfatos de magnésio e cálcio originam-se do tijolo e água de amassamento, sulfatos de potássio e sódio formam-se da reação tijolo-cimento, agregados e água de amassamento; - cloretos de cálcio e magnésio provêm da água de amassamento e cloretos de alumínio e ferro da limpeza com ácido muriático; - nitratos de potássio, sódio e amônia originam-se do solo adubado ou contaminado. 4.4 Criptoflorescência Segundo Verçoza (1985), esta patologia também é causada pela reação entre a água e os sais, mas neste caso, os sais dissolvidos formam cristais, que ficam dentro da parede ou estruturas. O crescimento destes cristais, ou seja, o aumento de depósito de sais pode provocar rachaduras ou até a quebra da parede. Os sulfatos são os maiores causadores da criptoflorescência, pois em contato com a água aumentam muito de volume, provocando a desagregação dos materiais, principalmente na superfície. 4.5 Gelividade Verçoza (1985) explica que esta patologia só irá ocorrer se existir penetração da água na alvenaria. Com base no comportamento da água e em suas características físicas, sabemos que no ambiente ela congela a 0º, mas dentro de capilares, esta pode estar congelada a 6ºC, temperatura que podemos ter no período de inverno, provocando, desta forma, o congelamento da água. 4.6 Descolamento Bauer (1994) afirma que entre os problemas mais comumente encontrados nos revestimentos em argamassa, destacam-se os descolamentos, que podem aparecer da seguinte forma: - descolamento por empolamento acontece principalmente devido a cal não hidratada existente na INFILTRAÇÃO EM ALVENARIA - ESTUDO DE CASO EM EDIFÍCIO NA GRANDE FLORIANÓPOLIS 21

argamassa, que depois de aplicada irá se extinguir, aumentando consideravelmente de volume; - descolamento em placas deve-se a falta de aderência das camadas do revestimento à base, por exemplo, um chapisco executado com areia fina não tem rugosidade suficiente para garantir a fixação da argamassa na superfície. O autor destaca que estes tipos de descolamento podem vir ou não acompanhados de pulverulência, que é a desagregação e conseqüente esfarelamento da argamassa. Em anotações em classe verificamos que em alguns casos, a presença de altas concentrações de cloretos podem ocasionar a eliminação da adesividade entre as partículas da argamassa, originando dessa forma a pulverulência. 5 Estudo de caso em edifício na Grande Florianópolis O objeto de estudo do presente artigo é um edifício residencial e comercial de três pavimentos (Fig. 1), executado em estrutura de concreto armado convencional (laje, viga e pilar), localizado no bairro Nossa Senhora do Rosário, em São José, na Grande Florianópolis. No seu pavimento térreo, constituído de lojas comerciais, observou-se que em uma dessas lojas havia uma grande infiltração na parede. Figura 1. Vista geral do edifício Figura 2. Revestimento argamassado danificado Após inspeção realizada pelo proprietário do imóvel, decidiu-se efetuar o reparo dessa infiltração, substituindo a camada de revestimento argamassado da alvenaria afetada (Fig. 2), acreditando-se solucionar o problema desta forma. Investigando-se o que poderia ter originado tal patologia, indagou-se ao proprietário a respeito do material e mão-de-obra empregados na época da construção da edificação, assim como na execução do reparo. Segundo ele, foi utilizada argamassa pré-misturada em toda a obra, assim como foram executadas as devidas impermeabilizações nos locais indicados, além da utilização de mão-de-obra experiente e de confiança. Tendo ele já investido na recuperação da área afetada e o problema retornado, atualmente nenhuma providência está sendo tomada e o problema persiste inviabilizando o uso do local. 6 Resultados e discussões Ao tomar conhecimento do problema, a equipe vistoriou o local e observou os seguintes aspectos técnicos: - há um descolamento com pulverulência do revestimento localizado no centro da parede (Fig. 3); - a parede afetada é a única em contato com o solo que apresenta esta patologia (Fig. 4); - a parede foi executada com blocos de concreto; - tanto os blocos quanto o chapisco executado não apresentam sinais de deteriorização; - não foi constatada a presença de goteiras, manchas, mofo e eflorescência. Com base em conhecimentos teóricos e práticos, formulamos hipóteses com o intuito de direcionar o estudo na busca de possíveis soluções para o problema, quais sejam: - infiltração de água pelo lado externo da parede, potencializado pelo fato de esta estar em contato direto com o solo; - ruptura de canalizações da rede de água potável, esgoto ou pluvial. Ao investigar a ocorrência da infiltração pelo lado externo, ventilou-se que pelo fato de a parede 22

Figura 3. Detalhe do descolamento do revestimento. 3 4 Figura 4. Comparação com revestimentos próximos. Figura 5. Vista geral do terraço. 5 6 Figura 6. Detalhe do ralo danificado. afetada estar em contato direto com o solo, e este se encharcar pela água de precipitação, transmitiria à parede umidade por percolação, atacando o revestimento. Esta hipótese não foi confirmada, pois após duas semanas contínuas de chuvas, as paredes permaneceram secas, o que denota que a água por precipitação não originava a patologia em questão. Aparentemente não se constatou ruptura de canalização nas proximidades da patologia. Decidiu-se, então, realizar nova vistoria, desta vez acompanhada pelo Prof. Eng. Civil Alexandre Lima de Oliveira, que nos levou a observar o terraço existente sobre a loja em questão (Fig. 5), onde se verificou a existência de manta asfáltica impermeabilizando os pontos críticos e um ralo seco em PVC para escoamento das águas pluviais e de limpeza do piso. Ao inspecionar criteriosamente este ralo, constatou-se que o fundo deste havia sido retirado (Fig. 6), ficando exposta a argamassa que constitui a parede com a patologia. Em paralelo, estava sendo analisada uma amostra do revestimento no Laboratório de Saneamento do IF-SC, cujo resultado está a seguir e o laudo na íntegra encontra-se em anexo (Tabela 1). Com o resultado do laudo, observamos concentração de cloretos acima dos parâmetros apontados pela norma NBR 9917-07/1987 MB 2686, motivando a investigação da fonte. Detectamos que a limpeza dos pisos externos é executada com uma solução diluída de água sanitária e cloro, produto esse com altas concentrações de cloretos. A água proveniente da limpeza escoa para o ralo mencionado anteriormente (Fig. 7), que parece ser insuficiente para a vazão de água ao qual é submetido, infiltrando esta água contaminada na parede estudada, sendo a causa provável da patologia em questão. Parâmetros Analisados Unidades A1* VMPNBR 9917-07/2007 Cloreto (Cl-) Coleta 01) mg kg-1 568 500 Tabela 1. *A1 Residência localizada em São José/SC. Fonte: Laudo de Determinação de cloreto em concreto, Laboratório de Saneamento IF-SC Unidade Florianópolis. Figura 7. Limpeza do terraço. INFILTRAÇÃO EM ALVENARIA - ESTUDO DE CASO EM EDIFÍCIO NA GRANDE FLORIANÓPOLIS 23

7 Considerações Finais Embasados pela revisão bibliográfica realizada, somada à orientação de professores experientes na área, concluímos que há fortes indícios apontando que o descolamento do revestimento argamassado acompanhado de pulverulência, descrito no estudo de caso, deve-se ao fato de o ralo seco, localizado no terraço sobre a parede em questão, ter sofrido alterações em suas características originais; nesse contexto, podemos citar a remoção do seu fundo, expondo a alvenaria da parede, aliando-se ao fato de ser utilizada na limpeza do terraço, uma solução diluída de água sanitária e cloro, que é altamente agressiva, para a argamassa à base de cimento. Recomendamos que para solucionar a patologia analisada, deve ser feita a substituição do ralo ali existente por outro mais adequado e íntegro. Também deverá ser removido todo o revestimento argamassado da parede afetada para que seja aplicado um novo. 6 Referências BAUER, l.a. Falcão. Materiais de Construção. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1994. v 2. FIORITO, Antônio J.S.I. Manual de Argamassas e Revestimentos. Estudos e Procedimentos de Execução. São Paulo: Pini, 2005. NAPPI, Sérgio C. B. Umidade em paredes. In: Congresso Técnico-Científico de Engenharia Civil. Anais. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis: 1995. v 4. RIPPER, Ernesto. Como Evitar Erros na Construção. São Paulo: Pini, 1984. VERÇOZA, Enio José. Impermeabilização na Construção. Porto Alegre: Sagra, 1985. Disponível em: http://www.ufv.br/dec/engcivil/disciplinas/civ362.htm. Acesso em 02/jun/2007. Disponível em: http://www.msbuilder.com/diy/dw103.shtml. Acesso em 14/mai/2007. Disponível em: http://www.rainguard.com/waterproofingproblems.htm. Acesso em 14/mai/2007. Disponível em http://www.vedacit.com.br. Acesso em 29/jun/2007. Responsabilidade de autoria As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição. 24