ANÁLISE DA EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E DOS PRINCIPAIS SINTOMAS AUDITIVOS E EXTRA-AUDITIVOS EM MOTORISTAS DO TRANSPORTE COLETIVO DE GOIÂNIA



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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS E SAÚDE ANÁLISE DA EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E DOS PRINCIPAIS SINTOMAS AUDITIVOS E EXTRA-AUDITIVOS EM MOTORISTAS DO TRANSPORTE COLETIVO DE GOIÂNIA ROSANE CUNHA DE LIMA SIQUEIRA Goiânia GO 2012

1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS E SAÚDE ANÁLISE DA EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E DOS PRINCIPAIS SINTOMAS AUDITIVOS E EXTRA-AUDITIVOS EM MOTORISTAS DO TRANSPORTE COLETIVO DE GOIÂNIA ROSANE CUNHA DE LIMA SIQUEIRA Orientadora: Profª Drª Vera Aparecida Saddi Co-orientadora: Prof a Me. Danya Ribeiro Moreira Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Ciências Ambientais e Saúde, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais e Saúde. Goiânia - GO 2012

2 Dedicatória Dedico este trabalho à minha família, meu pai sempre presente, à minha mãe, meu esposo Jucelino, aos meus filhos Frederico e Eduardo, e aos meus sobrinhos pela ajuda, apoio e paciência durante minha ausência na dedicação ao mestrado.

3 Agradecimentos Agradeço a Deus a conclusão de mais esta etapa da minha vida. Para que esta pesquisa pudesse ser concluída, muitas pessoas contribuíram ao longo de sua realização. A todos aqueles que direta ou indiretamente, me apoiaram, agradeço pela atenção, paciência e carinho. À minha orientadora, Vera Aparecida Saddi, pelo incentivo ao ingressar no mestrado e por ter me ensinado nas entrelinhas das orientações, muito além do que seu papel exigia. Agradeço imensamente pela paciência, dedicação, compromisso e seriedade dispensadas, para que chegássemos ao fim. À minha amiga e co-orientadora, Danya Ribeiro Moreira, por toda ajuda e conhecimento que tanto somaram para melhoria deste trabalho. À empresa HP transportes LTDA que permitiu a realização deste estudo, na pessoa da coordenadora geral, Indiara Ferreira. A todos os funcionários da empresa que se prontificaram a ajudar, fornecendo informações necessárias. Agradeço imensamente a todos os motoristas que participaram desta pesquisa, pelo carinho, disponibilidade e atenção dispensados. À Mariela Santos Anjo pelo incentivo presente desde o início. Aos meus filhos, Frederico e Eduardo, um agradecimento afetuoso e um pedido de desculpas pela ausência. Ao meu esposo Jucelino, pela sua compreensão e por acreditar e depositar confiança na minha capacidade, possibilitando a realização deste mestrado. À minha mãe que tanto me ajudou e ajuda, meu eterno agradecimento. Aos meus irmãos, Patrícia e Paulo, que tanto me deram suporte para a realização deste mestrado. Ao amigo Danylo Luz, por toda prontidão em me ajudar nas horas de desespero. Ao professor Antônio Márcio, pela ajuda na análise dos dados. À amiga, Yvone Portilho do Nascimento, pela sua dedicação incontestável, por sua vontade de ajudar em qualquer circunstância.

4 RESUMO Os motoristas de ônibus urbano, particularmente, os que atuam em áreas metropolitanas, estão expostos a vários agentes físicos agressores presentes no ambiente de trabalho, dentre eles, o ruído. Níveis elevados de ruído, são originados de diversas fontes como o trânsito, sons de buzinas e alto-falantes, apitos dos guardas, conversas entre usuários no interior do veículo, dentre outros. A exposição ocupacional ao ruído intenso pode ocasionar alterações no organismo do trabalhador, sendo essas manifestações mais conhecidas no sistema auditivo. Porém, a exposição a níveis elevados de ruído pode ocasionar também alterações em outros órgãos e sistemas, refletindo, na capacidade de comunicação, distúrbios digestivos, endócrinos, no sistema nervoso e na qualidade do sono, interferindo assim, nos aspectos cognitivos, emocionais, sociais e laborais do individuo. O presente estudo teve como objetivo avaliar os níveis de exposição ao ruído urbano e caracterizar suas possíveis associações com os sintomas auditivos e extra-auditivos, em um grupo de 100 motoristas de transporte coletivo da cidade de Goiânia. O modelo usado consistiu em um estudo transversal que quantificou os níveis de exposição ao ruído urbano e suas possíveis consequências na saúde geral e auditiva de motoristas de uma empresa de transporte coletivo da cidade de Goiânia. Para tanto, foram realizadas mensurações objetivas por meio de um medidor de nível de pressão sonora, com a finalidade de verificar o nível de ruído próximo à zona auditiva direita dos motoristas. As avaliações subjetivas foram obtidas por meio de um questionário contendo questões referentes à saúde auditiva e geral. Os resultados obtidos para diferentes níveis de pressão sonora, bem como aqueles obtidos por meio do questionário, foram processados para as análises estatísticas descritivas e comparativas. Os principais resultados encontrados neste estudo, demonstraram que as médias dos NPS encontrados nos seis ônibus das duas linhas selecionadas variaram de 80.3 db (A) a 83.3 db (A), ou seja, medições dentro do recomendado pelas Normas NR 15 e NHO-01. Quanto aos sintomas auditivos decorrentes da exposição ao ruído, a queixa de zumbido foi a mais relatada pelos motoristas. Dentre os sintomas extra-auditivos, as alterações psicológicas e comportamentais foram as mais verificadas, seguidas pelas alterações orgânicas como problemas do aparelho osteomuscular, aparelho digestivo e a cefaleia. As associações entre tempo de exposição e sintomas auditivos e extra-auditivos investigados não apresentaram resultados estatisticamente significativos. Palavras-chave: Ruído; Motoristas; Audição.

5 ABSTRACT Bus drivers working at metropolitan areas are often exposed to several aggressive physical agents in their work environment, such as noise. Inside the busses, high noise pressure level (NPL) can derive from several sources, including the traffic itself, horns, loud speakers, whistles, passengers chatting inside the vehicle, among others. Occupational exposition to high NPL can cause changes in the employees health, especially those affecting the auditory system. However, high NPL exposition can also be associated to other physiological changes affecting personal communication abilities, digestion, endocrine and nervous system, sleeping functions, and interfering with cognitive, emotional, social and labor performances. The present study aimed to evaluate the exposition to urban NPL and its possible association with auditory and extra auditory symptoms in a group of 100 urban bus drivers from Goiânia, Goiás, Brazil. It comprised a cross-sectional study that quantified the exposition to urban NPL and its possible consequences on the general and auditory health of bus drivers from an urban transportation company in the city. In order to quantify NPL, objective measurements were taken close to the right ear of the bus drivers, by using a dosimeter. Subjective evaluations were taken by using a structured questionnaire comprising general and auditory health questions. The results obtained for different NPL measurements and for the questionnaire were processed for descriptive and comparative statistical analysis. In this study, noise pressure levels measured on six selected vehicles varied from 80.3 db (A) to 83.3 db (A), following the rules established by the national policies (NR 15 and NHO-01). Tinnitus was the most common auditory symptom reported by the group. Among extra auditory symptoms, psychological and behavioral changes were the most frequent complaints, followed by organic changes, such as musculoskeletal problems, digestive disorders and headaches. In this study, no significant statistical association was demonstrated between the noise pressure exposure time (duration of bus driving) and auditory or extra-auditory symptoms. Keywords: noise, bus drivers, hearing

6 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição dos motoristas de ônibus de acordo com a faixa etária... 42 Tabela 2. Distribuição dos motoristas de ônibus de acordo com a escolaridade... 42 Tabela 3. Distribuição dos motoristas de ônibus de acordo com a percepção de trabalhar com equipamentos ruidosos... 48 Tabela 4. Distribuição dos motoristas de ônibus de acordo com a sensação de mal estar após o período de trabalho.... 49 Tabela 5. Distribuição dos motoristas de ônibus de acordo com a moradia em locais ruidosos.... 49 Tabela 6. Distribuição dos motoristas de ônibus de acordo com sua frequência em locais ruidosos.... 49 Tabela 7. Distribuição dos motoristas de ônibus de acordo com a prática de atividades ruidosas fora o ambiente de trabalho.... 50

7 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Limites de níveis de exposição ao ruído ocupacional, conforme as normas de vários países. Fonte: FLEIG (2004)... 18 Quadro 2: Limites de tolerância ao ruído ocupacional segundo a norma brasileira NR -15. Fonte: NR-15.... 18 Quadro 3: Limites de tolerância ao ruído ocupacional segundo a norma de Higiene ocupacional NHO-01. Fonte: NHO-01 Fundacentro.... 19 Quadro 4: Quantidade de linhas por tipo e área operacional. Fonte: RMTC, GOIÂNIA 2011.... 28 Quadro 5: Categorização dos sintomas extra-auditivos... 51

8 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Níveis de ruído registrados na linha 003 (Terminal Maranata- Rodoviária) nos diferentes picos e horários.... 45 Figura 2: Níveis de ruído registrados na linha 020 (Terminal Garavelo-Terminal da Bíblia) nos diferentes picos e horários... 46 Figura 3: Gráfico de distribuição dos 100 motoristas avaliados neste estudo de acordo com o tempo de exercício na profissão.... 48 Figura 4: Gráfico de distribuição dos 100 motoristas avaliados neste estudo de acordo com a presença de sintomas auditivos.... 50 Figura 5: Gráfico de distribuição dos 100 motoristas avaliados neste estudo de acordo com alterações psicológicas e comportamentais... 51 Figura 6: Gráfico de distribuição dos 100 motoristas avaliados neste estudo de acordo às alterações cognitivas.... 52 Figura 7: Gráfico de distribuição dos 100 motoristas avaliados neste estudo de acordo às alterações orgânicas... 52 Figura 8: Gráfico de distribuição dos 100 motoristas avaliados neste estudo de acordo com a exposição à vibração.... 53 Figura 9: Gráfico de distribuição dos 100 motoristas avaliados neste estudo de acordo com o uso de medicamentos e fatores agravantes para perda auditiva.... 54

9 LISTA DE ABREVIATURAS ACOEM American College of Occupational and Environmental Medicine ANTP Associação Nacional de Transporte Público APL Alteração Permanente do Limiar ATL Alteração Temporária do Limiar CID Classificação Internacional de Doenças db Decibel db (NA) Decibel Nível de audição db(a) Decibel A (com ponderação do filtro A) DPM Distúrbios psiquiátricos menores FUNDACENTRO Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho HAS Hipertensão arterial sistêmica Hz Hertz ISO International Standard Organization ISO International Standardization Organization KHz Quilo Hertz LA eq Nível de Energia equivalente NHO Norma de Higiene Ocupacional NPS Níveis de Pressão Sonora NR Norma Regulamentadora PAINPSE Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados PUC-GO Pontifícia Universidade Católica de Goiás REM Rapid Eyes Moviment RMTC Rede Metropolitana de Transporte Coletivo SNC Sistema Nervoso Central TCLE Termo de Consentimento Livre e esclarecido VCI Vibração de corpo inteiro WHO World Health Organization

10 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO... 12 2. REVISÃO DA LITERATURA... 14 2.1 Fundamentação Teórica... 14 2.1.1 Conceitos físicos de som... 14 2.1.2 Ruído... 15 2.1.3 O ruído como agente ocupacional... 16 2.1.4 Sintomas apresentados pelo trabalhador em decorrência da exposição ao ruído ocupacional... 20 2.1.4.1 Sintomas Auditivos... 20 2.1.4.2 Sintomas extra-auditivos decorrentes da exposição ao ruído ocupacional... 23 2.1.5 O Transporte Coletivo Urbano Brasileiro... 26 2.1.6 A profissão de motorista de ônibus urbano... 29 2.2 Revisão de literatura... 30 2.2.1 Sintomas auditivos e extra-auditivos da exposição sonora em motoristas de ônibus... 30 3. OBJETIVOS... 40 3.1 Objetivo Geral... 40 3.2 Objetivos específicos... 40 4. METODOLOGIA... 41 4.1 População de estudo... 41 4.2 Procedimentos utilizados na coleta de dados... 42 4.3 Análise Estatística dos Dados... 44 5. RESULTADOS... 45 5.1 Medições do ruído nas linhas de ônibus urbano... 45 5.2 Resultados obtidos no questionário... 47 5.2.1 Exposição ao Ruído Ocupacional... 47 5.2.2 Exposição ao Ruído Não Ocupacional... 49 5.2.3 Sintomas auditivos investigados no grupo de motoristas... 50 5.2.4 Sintomas extra-auditivos avaliados... 50

11 5.2.5 Sintomas relativos à exposição a vibração investigados no grupo de motoristas... 53 5.2.6 Fatores agravantes para perda auditiva... 53 5.3 Associações entre o tempo de exposição ao ruído e os sintomas auditivos e extra-auditivos investigados nos motoristas de ônibus... 54 6. DISCUSSÃO... 55 CONCLUSÃO... 63 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 64 REFERÊNCIAS... 66 APÊNDICES... 78 ANEXOS... 96

12 1. INTRODUÇÃO O avanço tecnológico industrial ocorrido nas últimas décadas inegavelmente trouxe vários benefícios à sociedade. Porém, esse avanço vem acontecendo de forma acelerada, indiscriminada e não planejada, resultando em uma série de implicações que podem comprometer a saúde física e mental dos trabalhadores, bem como sua qualidade de vida (BATTISTON; CRUZ; HOFFMAN, 2006). Vários agentes estressores podem ser encontrados no ambiente de trabalho, dentre eles, ruído, calor, vibrações, pressões, radiação e agentes químicos, como cigarro, gases e vapores (FERNANDES; MORATA, 2002). Existem também os estressores organizacionais, que são aqueles relacionados à organização do trabalho, como ritmo, turno e ergonomia. Esses estressores podem ser encontrados de forma combinada no ambiente de trabalho, acarretando condições capazes de influenciar na saúde geral e no bem estar dos trabalhadores (BATTISTON; CRUZ; HOFFMAN, 2006). Dentre os agentes físicos nocivos, o ruído é o mais comumente encontrado no ambiente de trabalho (SELIGMAN, 1997; SUTER, 2001; DIAS; CORDEIRO, 2007; BARROS et al, 2007). Segundo Kwitko (2001), o ruído é definido como um som indesejável, que constitui um real e presente perigo à saúde das pessoas, pois pode produzir um sério estresse físico e psicológico ao individuo. A Organização Pan-Americana de Saúde (2001) enfatiza que o ruído constitui um importante agravo à saúde dos trabalhadores em todo o mundo. O ruído pode ocasionar alterações no organismo do trabalhador assim como, afetar seus aspectos cognitivos, emocionais, sociais e laborais (MEDEIROS, 1999). A exposição ocupacional ao ruído intenso está associada a várias manifestações, sendo que a mais conhecida ocorre no sistema auditivo, podendo ser classificada em três categorias: Trauma Acústico, Alteração Temporária do Limiar (ATL) e Alteração Permanente do Liminar (APL) (MEDEIROS, 1999). Porém, níveis elevados de ruído podem atingir outros órgãos e sistemas, além do auditivo, ocasionando distúrbios de comunicação, neurológicos, vestibulares,

13 cardiovasculares, endócrinos, respiratórios, hormonais e comportamentais (SELIGMAN; SCHNEIDER; IBÃNEZ, 2001). Dentre as diversas profissões que expõem o trabalhador aos níveis elevados de ruído, destaca-se a de motoristas de ônibus. Esses trabalhadores, especificamente, estão expostos aos Níveis de Pressão Sonora (NPS) elevados em toda a sua jornada de trabalho, sendo o ruído originado de diferentes pontos. A partir da década de 50, ocorreu no Brasil, aumento significativo da demanda no setor de transporte, sendo considerado um dos serviços mais essenciais à sociedade, refletindo também na economia do país (HOFFMAN, 2000). A exposição aos ruídos de forte intensidade verificada no interior de transportes coletivos urbanos, associada à poluição sonora ambiental dos grandes centros, fator idade e longo tempo de exposição podem gerar consequências sobre a saúde dos condutores desse tipo de transporte. Assim, a identificação dos sintomas auditivos e extra-auditivos, decorrentes da exposição diária aos ruídos intensos, torna-se fundamental nessa população de trabalhadores. Analisando a importância desse profissional, qualquer distúrbio em sua saúde, como perda auditiva, déficit na atenção e concentração, alterações cardiovasculares e neurológicas, dentre outras, podem ocasionar acidentes e erros na condução, comprometendo não somente os motoristas, mas também passageiros e pedestres. Consultando os bancos de dados bibliográficos nacionais e internacionais, nenhum estudo sobre as condições de saúde auditiva e extra-auditiva em motoristas do transporte coletivo de Goiânia foi encontrado, justificando assim o presente estudo. Neste contexto, a presente pesquisa teve como objetivo quantificar os níveis de ruídos ocupacionais a que os motoristas de ônibus urbano são expostos em Goiânia, bem como caracterizar a presença de sintomas auditivos e extraauditivos nesta classe de trabalhadores.

14 2. REVISÃO DA LITERATURA Neste capítulo, serão abordados conceitos referentes aos sons e aos ruídos e suas influências sobre a saúde geral do trabalhador, especificamente sobre os motoristas de transporte coletivo urbano. 2.1 Fundamentação Teórica 2.1.1 Conceitos físicos de som A parte da física que estuda o som é a acústica, que apresenta duas importantes modalidades: a acústica física, que trata do estudo puro das vibrações e ondas mecânicas e a acústica fisiológica ou psicoacústica, que estuda a sensação que o som produz no indivíduo. A psicoacústica refere-se à percepção individual de ruídos, sons, músicas e vozes humanas e está relacionada ao relato do ouvinte quanto à sensação para a altura (Picth) e a intensidade do som, o Loudness (RUSSO, 1993). A acústica pode ser definida como geração, transmissão e recepção de energia na forma de ondas vibracionais na matéria. Isso ocorre quando átomos e moléculas de um fluido ou sólido são deslocados de sua posição normal e uma força interna elástica de restauração atua no sentido de fazê-los voltar a essa posição. O fenômeno acústico mais familiar é a sensibilidade ao som. Um distúrbio vibracional é interpretado como som quando sua frequência atinge uma faixa de 20 a 20.000 Hz com uma intensidade capaz de produzir uma sensação auditiva (FROTA, 2000). A World Health Organization (WHO, 1995) define o som como um agente físico resultante da vibração de moléculas do ar e que se transmite como uma onda longitudinal. É, portanto, uma forma de energia mecânica. O som evoca uma resposta fisiológica nos sistemas auditivos, periférico e central. Essa resposta pode ser descrita e medida por métodos apropriados, por meio de parâmetros físicos (como um movimento vibratório da membrana do tímpano), ou de parâmetros eletrofisiológicos (alterações nos potenciais sensoriais bioelétricos e do tecido neural). No entanto, nem toda onda sonora evoca a

15 sensação auditiva. Por exemplo, o ultrassom tem uma frequência muito alta para excitar o sistema auditivo e, assim, para evocar a percepção do som. Para um som ser detectado pelo aparelho auditivo é preciso que ele esteja dentro da faixa de frequência de 20 a 20.000 Hz (WHO, 1995). O som apresenta três características fundamentais incluindo a frequência, a intensidade e o timbre. A frequência é definida como o número de ciclos que as partículas materiais realizam em um segundo ou o número de vibrações por unidade de tempo. É medida pela unidade chamada Hertz (Hz) e refere-se à altura do som, permitindo classificá-lo em uma escala que varia de baixo a alto. A intensidade é definida como a energia que atravessa uma área num intervalo de tempo, ou a força exercida pelas partículas materiais sobre a superfície na qual incidem, podendo ser expressa em função da amplitude, que é a medida do afastamento máximo das partículas materiais de sua posição de equilíbrio. A intensidade permite classificar o som em uma escala de fraco a forte. Já o timbre, é uma qualidade da fonte sonora e não do som, permitindo diferenciar a mesma nota musical emitida por instrumentos diferentes, por meio de diversas frequências harmônicas, as quais compõem um determinado som complexo (RUSSO, 1993). 2.1.2 Ruído O ruído é uma palavra derivada do latim rugitu, que significa estrondo. A Comissão de Saúde Pública da Espanha em 2000, definiu o ruído como um som inarticulado e confuso, mais ou menos forte(uña; GARCÍA; BETEGÓN, 2000). Segundo a WHO (1995), o ruído é comumente definido como energia acústica audível que pode afetar ou prejudicar o bem estar fisiológico ou psicológico das pessoas. Fisicamente, não existe distinção entre som e ruído, sendo que o conceito de ruído está associado a qualquer som definido como desagradável ou indesejável. Frota (2000) assinala que o ruído é um sinal acústico aperiódico, originado da superposição de vários movimentos de vibração com diferentes frequências que não apresentam relação entre si. Segundo Kwitko (2001), o ruído é definido como um som indesejável, que constitui um real e presente perigo à saúde das pessoas, pois pode produzir um sério estresse físico e psicológico.

16 Do ponto de vista da higiene do trabalho, o ruído é um fenômeno físico vibratório com características indefinidas de vibrações de pressão em função da frequência. Isto é, para uma dada frequência, podem existir variações de diferentes pressões ao longo do tempo (SALIBA, 2004). De acordo com a Norma - ISO 2204/1973 (INTERNATIONAL ORGANIZATION STANDARD, 1973), os ruídos podem ser classificados, segundo a variação do nível de intensidade com o tempo, como contínuos, intermitentes e de impacto. Os ruídos contínuos apresentam níveis de variações desprezíveis (aproximadamente 3 db), com maior duração durante o período de observação. Os ruídos intermitentes apresentam uma variação contínua de valor aplicável (aproximadamente 3 db) no período de observação. E os ruídos de impacto ou impulso apresentam picos de energia acústica de duração inferiores a um segundo. 2.1.3 O ruído como agente ocupacional A audição é um sentido fundamental à vida, pois é a base da comunicação humana. Como qualquer outra função do corpo, apresenta um ponto de equilíbrio para que funcione adequadamente. O aparelho auditivo deve ser exercitado e estimulado para o seu desenvolvimento e aprimoramento, porém, sofrerá exaustão se for por demais exigido e exposto a agentes que possam lesá-lo (SALIBA, 2004). O trabalhador, em seu ambiente de trabalho, é constantemente exposto a diversos riscos ambientais nocivos. Dentre eles, destaca-se o ruído, um agente físico presente em diversas atividades profissionais e no cotidiano da população. Os efeitos do ruído na audição são estudados desde o primeiro século. No texto de história natural de PLÍNIO, o velho, casos de surdez são relatados em moradores próximos às Cataratas do Rio Nilo. Ramazzini, em 1713, descreveu a surdez como uma das doenças dos bronzistas. Thomas Barr, em 1800, relatou a presença de surdez em trabalhadores na produção de vidros. Porém, de maneira mais contundente, somente neste século os estudos foram impulsionados pela constatação de surdez em soldados da Segunda Guerra Mundial (SANTOS, 1994). Nos anos 90, o processo denominado Terceira Revolução Industrial ou Reestruturação Produtiva representou uma nova forma de produzir, viabilizada pelos avanços tecnológicos e por novas formas de organização do trabalho. Tal revolução

17 teve abrangência global, introduzindo mudanças radicais na vida e relações de pessoas e países, tendo consequências no viver e adoecer das pessoas (SANTOS JUNIOR, 2003). A Conferência da Terra (ECO 92), realizada no Rio de Janeiro, em 1992, elaborou a Agenda 21, um programa de ação mundial para promoção do desenvolvimento sustentável, que envolve modificação de conceitos e práticas referentes ao desenvolvimento econômico e social. Neste contexto, o ruído foi considerado a terceira maior causa de poluição ambiental, precedido pela poluição da água e do ar. O ruído pode ser visto como um risco de agravo à saúde que atinge grande número de trabalhadores. Estudos ali apresentados indicaram que 16% da população dos países ligados à Cooperação de Desenvolvimento Econômico (ODCE), está exposta a níveis de ruído que provocam doenças no ser humano (apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006) São vários os sintomas do ruído no organismo humano, não só no funcionamento do sistema auditivo, mas também nas atividades físicas, mentais e fisiológicas do individuo, comprometendo o seu bem estar e podendo causar irritação, estresse e desequilíbrio bioquímico (CALIXTO, 2002). De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (2001) e a WHO (1980), o ruído pode perturbar o trabalho, o descanso, o sono e a comunicação dos seres humanos, podendo causar reações psicológicas, fisiológicas e até mesmo patológicas. A World Health Organization (WHO, 2003) recomenda que em áreas residenciais, o nível de ruído não ultrapasse 55 db(a). A partir de 55 db(a), pode ocorrer estresse leve, acompanhado de desconforto. O nível de 70 db(a) é tido como o nível inicial de desgaste do organismo, aumentando o risco de infarto, acidente vascular cerebral, infecções, hipertensão arterial e outras patologias. No nível de 80 db(a), ocorre a liberação de endorfinas, tornando o organismo dependente, enquanto que em 100 db(a), pode haver danos e ou perda da acuidade auditiva. Ferreira Júnior (1998) ressalta que os riscos de danos à saúde para a maioria dos agentes de natureza ocupacional dependem da sua quantidade ou intensidade de tempo de exposição diária. Com relação ao ruído, o parâmetro fundamental é o Nível de Pressão Sonora (NPS) ao qual o trabalhador se expõe durante as horas da jornada diária de trabalho.

18 No quadro 1 podem ser verificados os limites de níveis de exposição ao ruído ocupacional, conforme as normas de vários países, evidenciando diferenças entre as várias legislações. Quadro 1: Limites de níveis de exposição ao ruído ocupacional, conforme as normas de vários países. Fonte: FLEIG (2004). País Nível de ruído db(a) Tempo de Exposição (h/d) Nível máximo db(a) Alemanha 85 8 Japão 90 8 França 85 8 Inglaterra 85 8 135 Itália 85 8 115 Dinamarca 90 8 115 Suécia 85 8 115 Estados Unidos OSHA 90 8 115 Estados Unidos NIOSH 85 8 Canadá 90 8 115 Austrália 85 8 115 Brasil 85 8 115 No quadro 2 podem ser observados os limites de tolerância aos níveis de exposição ao ruído ocupacional, conforme norma nacional expedida pelo Ministério do Trabalho, por meio da Portaria nº. 3214, de 08 de junho de 1978. Quadro 2: Limites de tolerância ao ruído ocupacional segundo a norma brasileira NR -15. Fonte: NR- 15. Nível de ruído db(a) Máxima exposição diária permissível 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos

19 A Norma de Higiene Ocupacional (NHO) 01 de 2001, estabelece critérios e procedimentos para avaliação de exposição ocupacional ao ruído contínuo ou intermitente e ao ruído de impacto, em diferentes situações de trabalho que impliquem em risco potencial de surdez ocupacional, como pode ser observado no Quadro 3(MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2001). Quadro 3: Limites de tolerância ao ruído ocupacional segundo a norma de Higiene ocupacional NHO- 01. Fonte: NHO-01 Fundacentro. Nível de ruído db(a) Máxima exposição diária permissível 81 20 horas e 10 minutos 82 16 horas 83 12 horas e 41 minutos 84 10 horas e 4 minutos 85 8 horas 86 6 horas e 20 minutos 87 5 horas 88 4 horas 89 3 horas e 10 minutos 90 2 horas e 30 minutos 91 2 horas 92 1 hora e 45 minutos 93 1 hora e 15 minutos 94 1 hora 95 47,62 minutos 96 37,79 minutos 97 30 minutos Embora tanto a NR 15, quanto a NHO 01 sejam documentos de responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego, divergências são observadas sobre a avaliação do ruído ocupacional. Por exemplo, de acordo com a NR-15, para um nível contínuo de 90 db(a), o limite de tolerância para um trabalhador seria a exposição máxima de 4h, enquanto que na NHO-01, esta exposição é de apenas 2h e 30min. A NHO-01 utiliza o princípio da energia equivalente (LA eq ) para o cálculo da dose de exposição, enquanto que a NR-15 não menciona este tipo de princípio. A NHO-01 adota o valor "3" como incremento de duplicação da dose, enquanto que a NR-15 utiliza como incremento da dose o valor "5". Incremento de duplicação da dose é um incremento em decibéis que, quando adicionado a um determinado nível, implica em redução para a metade do tempo máximo de exposição permitido (PORTELA, 2008). Outros fatores que potencializam o ruído e interferem na saúde geral dos

20 indivíduos incluem a duração e distribuição espectral do ruído, além da suscetibilidade individual (MELNICK, 1989). Silva (2002) e Gonçalves (2009) acrescentam que além das características físicas do ruído (intensidade, frequência e duração), são descritos outros riscos ocupacionais que atuam juntamente em ambientes ruidosos, afetando a audição do trabalhador. Entre os fatores exógenos de risco para as alterações auditivas ocupacionais, destacam-se alguns produtos químicos ototóxicos, as vibrações e os fatores organizacionais do trabalho. 2.1.4 Sintomas apresentados pelo trabalhador em decorrência da exposição ao ruído ocupacional O ruído pode trazer alterações ao organismo do trabalhador, assim como afetar seus aspectos cognitivos, emocionais, sociais e laborais. Esses efeitos são comumente classificados de duas maneiras. A primeira corresponde à ação direta no sistema auditivo e é chamada de efeitos auditivos. A segunda resulta numa ação sistêmica sobre várias funções orgânicas e é chamada de efeitos extraauditivos (MEDEIROS, 1999). 2.1.4.1 Sintomas Auditivos O sistema auditivo desempenha funções importantes no organismo humano, pois é por meio dele que as informações chegam até nós, possibilitando a comunicação e interação entre o homem e o meio ambiente. Segundo Melnick (1989), os efeitos do ruído no sistema auditivo podem gerar sintomas que são classificados em três categorias: trauma acústico, alteração temporária do limiar (ATL) e alteração permanente do limiar (APL). O termo trauma acústico é restrito aos efeitos de exposição única a níveis de pressão sonoros elevados, como no caso de uma explosão (Melnick, 1989). Sons de curta duração e forte intensidade (explosões, estampidos de arma de fogo, detonações, etc.) podem resultar em perda auditiva imediata, severa e permanente, conceituada como trauma acústico. Todas as estruturas do sistema auditivo periférico podem ser lesadas, em particular, o órgão espiral, a delicada estrutura sensorial da parte auditiva da orelha interna (cóclea). O aparelho auditivo apresenta