A C Ó R D Ã O 7ª T U R M A INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS/MATERIAIS. PERDA DE UMA CHANCE. FRUSTRAÇÃO DA CONTRATAÇÃO PELO EMPREGADOR. Ao dar início a um processo seletivo para vaga de emprego, o empregador, de forma inequívoca, manifesta seu interesse na futura contratação de um empregado. Assim, tendo o Autor sido aprovado no processo de seleção, que consistiu na análise de currículo, entrevistas e submissão ao exame admissional, e não tendo a Ré demonstrado a ocorrência de qualquer fato impeditivo à admissão do obreiro, tampouco que a vaga tenha sido ocupada por outro profissional de maior qualificação, faz jus o Acionante a indenização por danos morais/materiais, eis que frustrada, de forma injustificada, a sua contratação. A submissão do candidato ao exame admissional realizado por médico do próprio empregador demonstra, indubitavelmente, o interesse na sua contratação. Apelo a que se dá provimento para condenar a Acionada ao pagamento de indenização por danos morais/materiais em virtude da perda de uma chance. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes: LUCAS MESSIAS DOS SANTOS, como Recorrente, e MA AUTOMOTIVE BRASIL LTDA, como Recorrida. A r. sentença de fls.47/51, proferida pela 1ª Vara do Trabalho de Resende, da lavra da Exmª Juíza Letícia Costa Abdalla, julgou improcedentes os pedidos formulados na exordial. O Autor manifesta seu inconformismo no recurso 5818 1
ordinário de fls.55/61, postulando, inicialmente, a concessão do benefício da gratuidade de justiça. No mérito, pugna pela condenação da Ré ao pagamento de indenização por danos morais e materiais, em virtude da perda de uma chance, decorrente da promessa de emprego que não se efetivou. Dispensado o recolhimento das custas processuais, ante a concessão do benefício da gratuidade de justiça. Apesar de devidamente notificada, a Ré não apresentou contrarrazões, conforme se extrai da certidão de fls.64. Deixo de encaminhar os autos ao Ministério Público do Trabalho, eis que não configurada qualquer das hipóteses previstas no art. 85, I, do Regimento Interno do E. Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO DO CONHECIMENTO Conheço do recurso ordinário interposto pelo Autor, por preenchidos os seus pressupostos de admissibilidade, à exceção do pedido de concessão da gratuidade de justiça, por falta de interesse recursal, uma vez que tal benefício já foi deferido ao Apelante, conforme se extrai da decisão de fls.62. NO MÉRITO DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS Postula o Demandante a reforma do julgado original para que seja a Ré condenada ao pagamento de indenização por danos morais e materiais, em razão da promessa de emprego que não se concretizou. Concluiu o MM Magistrado de 1º grau pela improcedência dos pleitos em questão, por entender que o Acionante não teria se desincumbido do encargo processual de 5818 2
comprovar os fatos narrados na peça inaugural. A sentença merece reparo. Alegou o Demandante na exordial que, em abril de 2013, após ter sido aprovado em entrevista de emprego junto à Ré, inclusive sendo considerado apto para o trabalho em exame admissional realizado por médico da própria empresa, teve frustrada, de forma imotivada, a sua contratação. Afirma que os litigantes teriam superado a fase das tratativas para a formalização do contrato de trabalho e que a promessa de emprego não se efetivou por culpa da Acionada, razão pela qual faz jus à indenização por danos morais e materiais pela perda de uma chance. Em sua defesa, sustentou a Ré que o Demandante teria, de fato, participado de processo seletivo para uma vaga de trabalho por ela oferecida, sendo aprovado nas fases de análise de currículo e entrevistas; realizando, ainda, exame admissional. Informa que, diferentemente do alegado pelo obreiro, o exame admissional não assegura a contratação do concorrente à vaga de emprego, tratando-se apenas de uma das fases do processo seletivo, que somente se finda com a integração à empresa, o que não ocorreu com o Acionante. Rechaça, ainda, a Acionada a alegação de que teria solicitado ao Demandante seu desligamento da empresa com a qual mantinha contrato de trabalho, bem como de que teria feito qualquer promessa de trabalho. No caso em tela, é inequívoco que o Autor se candidatou à vaga de emprego oferecida pela Ré, sendo, pois, aprovado no processo seletivo por ela organizado, que consistia em análise de currículo e entrevistas. Diferentemente do alegado pela Demandada, não podemos admitir que o exame admissional consista em uma simples 5818 3
fase do processo seletivo. Na verdade, pela incidência dos princípios da primazia da realidade e da razoabilidade, entendemos que o exame médico admissional evidencia o real interesse do empregador na contratação do candidato; sendo certo que a não concretização da admissão, superada tal fase, só pode ser justificada pela conclusão de que o trabalhador não se encontra apto para desenvolver as tarefas funcionais que seriam exigidas no cargo para o qual estaria sendo contratado. A aprovação nas fases seletivas, bem como a submissão ao exame admissional realizado por médico da Ré, que concluiu pela aptidão do Autor para o cargo, gerou, indubitavelmente, expectativa na sua contratação, a qual restou frustrada de forma injustificada. Diga-se, inclusive, que a Ré não apresentou qualquer motivo que pudesse obstar a contratação do obreiro, tampouco que a vaga então por ela oferecida tenha sido ocupada por outro trabalhador com maior aptidão profissional; o que já seria discutível, na altura dos desdobramentos detectados nos autos. Registre-se, por derradeiro, que o Autor solicitou a ruptura do contrato de trabalho mantido com seu ex-empregador, como revela o termo de rescisão acostado a fls.14, evidenciando, assim, seu interesse em pertencer ao quadro de empregados da Acionada. Ante todo o exposto, entendemos que, in casu, restou frustrada, por culpa exclusiva da Ré, a contratação do Demandante, razão pela qual faz jus o mesmo ao pagamento da devida reparação. Nesse particular, diga-se que o dano moral ou extrapatrimonial é uma espécie de dano que, diferentemente do material, não pode ser ligado à ideia do restabelecimento de uma situação anterior, pelo fato de haver heterogeneidade entre a reparação, que se converte em patrimonial apenas de forma indireta, 5818 4
e a ofensa, que é de natureza puramente imaterial. De fato, para que se caracterize a responsabilidade civil por dano material, caso não seja mais possível o restabelecimento da situação cuja restituição integral deve ser anteriormente buscada, torna-se necessária a comprovação não apenas da ação ou da omissão injusta, mas também dos danos objetivamente causados, e da expressão econômica que lhes possa equivaler, em último caso, sendo esta a configuração da relação de causalidade e valoração, em sentido material, a propiciar a devida reparação judicial. Como não pode o dano de tal natureza ser medido por seus efeitos patrimoniais diretos, a relação de causa e efeito (nexo causal) há de ser aferida diretamente entre a conduta relevantemente ofensiva e a pessoa, na dimensão direta de seus atributos fundamentais e de sua dignidade, não sob a ótica da prova material e da lógica do prejuízo objetivo, aplicáveis somente nos casos de violação a bens de caráter patrimonial, e não de ofensa a bens imateriais. Nestes termos, a ocorrência de conduta que deflagre ofensa grave e injusta a direitos da personalidade impõe a culpa do seu causador pela reparação dos danos que são indevidamente impostos às pessoas, devendo ser conferida efetiva proteção aos direitos que decorrem diretamente do princípio nuclear da dignidade da pessoa humana. Frustrada, de forma injustificada, a contratação do obreiro, incontestável a ofensa moral e material cometida contra ele; o que enseja o deferimento do pleito de indenização por danos morais e materiais. No tocante ao valor da indenização, temos que o mesmo deve ser fixado com prudência e parcimônia, sem exorbitar os limites impostos pelo princípio da razoabilidade; resguardando, contudo, o caráter pedagógico da penalidade imposta ao empregador. 5818 5
Portanto, ante a existência de dano à esfera moral e material do trabalhador que justifica a reparação indenizatória, considerando, também a natureza e o alcance da ofensa e a capacidade econômica da Ré para suportar a penalidade, fixo o valor da indenização em R$10.000,00 (dez mil reais). Os juros e atualização monetária deverão observar os parâmetros contidos na Súmula nº439, do TST. CONCLUSÃO Dou parcial provimento. Pelo exposto, CONHEÇO do recurso ordinário interposto pelo Autor e, no mérito, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao apelo para condenar a Ré ao pagamento de indenização por danos morais e materiais, no valor global de R$10.000,00 (dez mil reais), na forma da fundamentação supra. Em razão do provimento parcial do apelo autoral, fixo o valor da condenação em R$10.000,00 (dez mil reais) e custas de R$200,00 (duzentos), pela Ré, ante a inversão do ônus de sucumbência. ACORDAM os Desembargadores que compõem a 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, CONHECER do recurso ordinário interposto pelo Autor e, no mérito, DAR PARCIAL PROVIMENTO ao apelo para condenar a Ré ao pagamento de indenização por danos morais e materiais, no valor global de R$10.000,00 (dez mil reais), nos termos do voto supra. Rio de Janeiro, 27 de Agosto de 2014. Desembargador Rogério Lucas Martins Relator 5818 6