VII Congresso da Associação Latino- Americana de População (ALAP)

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Transcrição:

VII Congresso da Associação Latino- Americana de População (ALAP) XX Encontro Nacional de Estudos Populacionais ( ABEP) Migração na metrópole: um estudo de caso sobre a Região Metropolitana de São Paulo Palavra chave- Metropolização; migração; deslocamentos populacionais

1. Migração no Brasil nas últimas décadas O fenômeno mais analisado nos processos migratórios brasileiros sempre foi a migração rural-urbana. Estima-se que entre 1960 e o final dos anos 1980 saíram do campo em direção às cidades quase 43 milhões de pessoas, incluídos aí os efeitos indiretos dessa migração, ou seja, a presença dos filhos dos migrantes. Martine e Camargo (1984) detalharam estas cifras para os anos 60, quando cerca de 13,7 milhões de pessoas teriam deixado o campo, número que aumentou para 15,6 milhões nos anos 70. A partir dos anos 80 esta parcela migratória perdeu importância relativa e as migrações tornaram-se cada vez mais urbano-urbanas. Estes movimentos migratórios vincularam-se principalmente à urbanização e à industrialização no Sudeste, especialmente em São Paulo; de outro lado, ocorreram também o que estes autores chamaram de movimentos centrífugos, onde parcela da população do Sul e do Nordeste deslocou-se em direção às fronteiras agrícolas do Norte e Centro-Oeste, tanto pela expansão da agroindústria como pelo garimpo do ouro e de pedras preciosas, além da exploração de outros minérios. Os dados mostram redução de perdas populacionais em áreas tradicionalmente expulsoras, como Minas Gerais, Ceará e Paraná. De outro lado, áreas receptoras como os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, sobretudo suas regiões metropolitanas, mostram redução no volume migratório. Embora o saldo migratório para o estado de São Paulo tenha atingido 667 mil pessoas entre 2000 e 2010, a região metropolitana de São Paulo vem apresentando saldos decrescentes, conforme atestam os saldos migratórios anuais: saldo anual negativo de 25 mil pessoas entre 1980 e 1991, que se inverteu nos anos 90 para um saldo positivo de quase 35 mil pessoas, voltando a apresentar um saldo negativo de quase 30 mil pessoas entre anos 2000 a 2010. Dentro do estado, as diversas regiões administrativas têm comportamentos distintos: há regiões com perdas continuadas, como as Regiões Administrativas de Araçatuba, Marília e Presidente Prudente; há regiões com ganhos expressivos, como a Região de Campinas, e outras com ganhos reduzidos, como as de Ribeirão Preto, Sorocaba, Araçatuba, São Jose dos Campos, São Jose do Rio Preto e Baixada Santista. As Regiões Administrativas Central e Bauru também apresentam saldos migratórios positivos, mas em menor escala. Assim, observam-se mudança nos fluxos migratórios, que continuam volumosos para o estado, mas diminuem em direção à principal metrópole, sobretudo para o seu núcleo. (dados elaborados por Pasternak, S., a partir de informações publicadas no anexo digital de Pinto da Cunha, J.M. in Arrecht, M. (2015).

O crescimento da metrópole paulistana foi essencialmente periférico, embora tenha diminuiu nos anos 2000. Os saldos migratórios para a capital forma de 69 mil pessoas entre 1980 e 1991, -51 mil entre 1991 e 2000 e 32 mil entre 2000 e 2010. Para os outros municípios metropolitanos na Grande São Paulo, para os mesmo períodos, foram positivos, de 44 mil, 75 mil e 2 mil pessoas. Percebe-se que há um saldo positivo nos municípios periféricos e negativo na capital metropolitana. A partir deste quadro, colocam-se algumas questões centrais: Quem são estes migrantes que vêm residir na Região Metropolitana de São Paulo? Qual o seu perfil? Este perfil tem mudado ao longo do tempo? Migrantes e não migrantes apresentam perfis distintos? O peso da migração é diferente, por tipo de município da região metropolitana? Há diferenças entre os migrantes residentes na capital e nos demais municípios da metrópole? 2. Quem eram e quem são os migrantes que residem na metrópole paulista 2.1 Características populacionais Entre migrantes recentes - ou seja, com tempo de residência inferior a 10 anos no município onde moravam na data do Censo - a estrutura etária costuma ser mais jovem que entre os não migrantes. Isto é explicado pelas teorias correntes sobre migração, que colocam como a parcela populacional mais propensa a migrar aquela pertencente às faixas jovens e em idades produtivas, que mudam de município/região de residência em busca de melhores condições de vida e de maiores oportunidades de trabalho e emprego. De fato, em 1991 66,39% dos migrantes que viviam na metrópole paulista estavam na faixa etária entre 15 e 34 anos, enquanto entre os não migrantes a proporção de indivíduos nesse grupo era de 40,08%. No ano 2000 os migrantes nestas faixas etárias atingiam 67,13%, mas já em 2010 o contingente reduziu-se para 63,55%. A razão de sexo entre os migrantes favorece o sexo feminino, com proporção que vem aumentando nas últimas décadas: em 1991 o percentual de mulheres entre os migrantes atingiu 50,56%, subiu para 51,76% no ano 2000, e se manteve em 51,29% no ano 2010.. No que diz respeito ao quesito cor, a proporção de pretos + pardos entre os migrantes aumentou em cada uma das décadas consideradas: era 37,19% em 1991, passou a 40,08% em 2000 e atingiu 43,37% no ano 2010.

2.2 Procedência Para a verificação da procedência escolheu-se como variável o local de residência dos migrantes cinco anos antes do Censo. Assim, para 1991 considerou-se o local de moradia em 1986; para 2000 o local de residência em 1995; e para 2010, o local de moradia em 2005. A partir daí constatou-se que: O volume total de migrantes, no Brasil, foi de 2,55 milhões na década de 80, passando a 3,12 milhões na década de 90. Na primeira década do segundo milênio esse volume caiu para 2,41 milhões de pessoas, das quais 87.975 eram migrantes procedentes do exterior (3,65% do total da migração). O volume de migrantes oriundos de outros estados atingiu 806 mil em 1991, caindo para 717 mil no ano 2000. Em 2010 este volume tornou a aumentar, atingindo um total de 1.214.519 migrantes inter-estaduais, 52,35% da migração brasileira, bastante superior aos percentuais de 1991 e 2000, que eram de 31% e 23% daquele total, respectivamente. Inverteu-se, assim, no período mais recente, a tendência de redução dos fluxos inter estaduais; O volume da migração intra-estadual também registrou aumento, de 750 mil no ano 2000 para 1.105 mil em 2010. Mas cabe apontar que o peso da migração intra metropolitana aumentou, mostrando sua importância crescente. Em 1986, mais de 800 mil migrantes que moravam na metrópole tinham residido anteriormente no interior do estado, cifra que se reduziu para 172 mil em 1995 e para 120 mil em 2005. Tabela 1). Ao que tudo indica, o interior do Estado de São Paulo ofereceu melhores condições de absorção de contingentes populacionais nos últimos anos da década de 2000, refletindo o processo de desconcentração das atividades econômicas- sobretudo as da indústria de transformação- além da dinamização dos setores de comércio e serviços. Tal situação pode ter sofrido mudanças em período recente, em razão da crise econômica e do aumento das taxas de desemprego Tabela 1- Procedência da migração intra estadual dos migrantes residentes na metrópole de São Paulo em 2000 e 2010

procedencia intra estadual NA 2000 % NA 2010 % RMSP 585.897 78,12% 470.595 42,57% interior do estado 172.134 22,95% 119.828 10,84% Estadode São Paulo 750.031 100,00% 1.105.412 100,00% Fonte: Dados elaborados por Pasternak, S. a partir de Cunha,J.M.P. Dinâmica demográfica e migratória 1991-2010, in Marques, E. 2015, p 146 A tabela 2 mostra que as regiões de procedência dos migrantes mudaram pouco nos últimos 20 anos: uma diminuição da migração oriunda da região Nordeste, ligeiro aumento dos que residiam anteriormente no Sul e aumento dos migrantes intraestaduais. O fluxo de baianos continuou estável, diminuindo o de pernambucanos e mineiros. Essa alteração se deveu, muito provavelmente, ao aumento dos fluxos de curta distância em direção às áreas urbanas e ao aumento dos níveis de qualificação da força de trabalho jovem. Tais jovens conseguiram, ao que tudo indica, uma inserção mais satisfatória nas cidades de seus estados e ou regiões de origem, sem necessidade de fazer deslocamentos de maior distância em busca de melhores salários. Tabela 2- Migrantes recentes, segundo região e principais estados de procedência de moradia anterior. Região Metropolitana de São Paulo Regiões e estados 1991 2000 2010 Região Norte 1,05 0,98 0,96 Região Nordeste 39,96 35,68 34,09 Bahia 13,89 13,87 13,2 Pernambuco 9,34 6,71 6,09 Região Sudeste 52,61 58,3 56,04 Minas Gerais 7,27 4,88 5,83 São Paulo 42,36 51,37 47,65 Região Sul 4,61 2,65 3,62 Reião Centor Oeste 1,53 2,37 0,55 Ignorado/naõ reponde 0,22 3,73 total

Fonte: IBGE Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 2.3 Renda A distribuição de renda individual, em salários mínimos, mostra que a maioria dos migrantes concentra-se nas faixas de renda mais baixas (menos de 1 salário mínimo e de 1 a 3 salários mínimos), para as três datas consideradas: 64,18% dos migrantes dos anos 1980, 64,62 % dos migrantes dos anos 1990 e 68,44% dos migrantes entre 2000 e 2010. A renda média dos migrantes aumentou no período: em 1991 foi de 2,40 salários mínimos, em 2000 alcançou 2,54 salários mínimos e em 2010, 2,84 salários mínimos. Como o percentual de migrantes pobres aumentou ligeiramente, este aumento da média se deve à maior presença de migrantes com mais de 10 salários mínimos: 3,79% em 1991, 5,34% em 2000 e 4,55% em 2010. A mensuração da renda individual em salários mínimos durante duas décadas pode mascarar a variação do poder de consumo deste salário. Assim, estes resultados devem ser vistos com cautela. A renda dos não migrantes que a declaram (o percentual de não declaração é alto) era, até 2000, mas alta que a dos migrantes: em 1991 atingia 3,37 salários mínimos, em 2000 foi de 3,79 salários mínimos. Entretanto, em 2010 reduziu-se a 2,60 salários mínimos, com proporção dos que usufruem renda individual de 10 e mais salários mínimos, bastante inferior às proporções registradas nas datas precedentes: 5,82% em 1991, 7,51% em 2000 e apenas 3,54% em 2010. A população de não migrantes sofreu processo inverso à dos migrantes, já que a proporção dos mais ricos e elevou-se entre 1991 e 2000 e declinou pouco em 2010. Chama a atenção que a percentagem de migrantes com maior renda seja superior à de não migrantes (3,54% entre os não migrantes e 4,55% entre os migrantes). E quando se cruza esta informação com a migração por local atual de moradia, percebe-se o peso da migração em municípios ricos, como Santana do Parnaíba. Durante o período 2000-2010 a movimentação inter municipal com destino a cidades ricas, sobretudo, de pessoas com renda elevada, foi significativa. Tabela 3 Migrantes segundo faixa de renda individual. Região Metropolitana de São Paulo, 1991, 2000 e 2010

renda individual 1991 2000 2010 ( em SM) NA % NA % NA % menos de 1 984.340 36,83 1.305.081 41,84 778.047 32,30 1 a 3 730.763 27,34 710.839 22,78 869.956 36,13 3 a 5 255.470 9,56 316.773 10,15 154.550 6,42 5 a 10 173.879 6,51 238.822 7,66 137.257 5,70 10 a 20 6.633 2,48 99.323 3,18 69.343 2,88 mais de 20 35.004 1,31 6.733 2,16 40.309 1,67 ignorada 426.765 15,97 381.514 12,23 358.445 14,89 total 2.672.550 100,00 3.119.465 100,00 2.407.907 100,00 Fonte: IBGE- Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 Tabela 4- Não migrantes segundo faixa de renda individual. Região Metropolitana de São Paulo, 1991, 2000 e 2010 renda individual 1991 2000 2010 ( em SM) NA % NA % NA % menos de 1 4.598.935 36,01% 5.574.191 37,76% 6.003.198 34,75 1 a 3 2.322.087 18,18% 2.375.204 16,09% 6.058.429 35,07 3 a 5 1.165.611 9,13% 1.443.725 9,78% 1.276.045 7,39 5 a 10 1.079.268 8,45% 1.522.402 10,31% 976.637 5,65 10 a 20 489.573 3,83% 686.964 4,65% 394.447 2,28 mais de 20 253.987 1,99% 422.572 2,86% 216.891 1,26 ignorada 2.862.930 22,41% 2.735.476 18,53% 2.350.430 13,61 total 12.772.391 100,00% 14.760.534 100,00% 17.276.077 100,00 Fonte: IBGE- Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 2.4 Ocupação Para caracterizar a ocupação dos migrantes e dos não migrantes em 2000 e 2010, foram utilizadas as categorias sócio-ocupacionais, conforme detalhado na metodologia a seguir. A Tabela 5 mostra a distribuição das grandes categorias ocupacionais entre migrantes e não migrantes, em 2000 e 2010. Tabela 5- Migrantes e não migrantes ocupados, segundo categorias socioocupacionais. Região Metropolitana de São Paulo, 2000 e 2010.

migrantes não migrantes categorias socio ocupacionais 2000 2010 2000 2010 dirigentes 0,92% 2,00% 1,48% 1,77% profissionais de nível superior 5,55% 12,59% 8,40% 12,85% pequenos empregadores 2,59% 1,16% 4,04% 1,36% ocupações médias 18,76% 22,86% 29,13% 28,13% trabalhadores doterciário 27,48% 18,50% 23,82% 18,12% trabalhadores do secundário 28,13% 23,63% 22,97% 21,70% trabalhadores do terciário não especializado 15,86% 18,52% 9,70% 15,52% agricultores 0,71% 0,74% 0,45% 0,56% total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% Fonte- IBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 No ano 2000, o perfil de migrantes e não migrantes era bastante distinto: entre os migrantes havia maior concentração nas categorias hierarquicamente inferiores. Assim, a proporção de trabalhadores do terciário não especializado entre os migrantes de 2000 era de 15,86% dos ocupados, enquanto para os não migrantes atingia apenas 9,70%. De outro lado, a proporção das categorias superiores se invertia: 6,47% dessas categorias correspondiam aos migrantes e 9,88% aos não migrantes. A metrópole paulista absorvia os migrantes em posições pior situadas na hierarquia ocupacional. Já em 2010 os dados se alteram e surpreendem: entre os migrantes, 14,59% são ocupados como dirigentes e profissionais de nível superior. Esta proporção é semelhante à dos não migrantes, de 14,62%. A migração para a metrópole mudou de perfil. Os migrantes ainda apresentam uma proporção um pouco mais elevada de ocupados no terciário não especializado: 18,52%, contra 15,52% de não migrantes.entre operários da construção civil, prestadores de serviços não especializados, ambulantes e "biscateiros" e empregados domésticos, os migrantes somam 22,2% do total de ocupados. No ano 2000 esta proporção era bem mais elevada e alcançava 44% dos migrantes recentes. Algumas hipóteses podem ser colocadas para explicar as mudanças apresentadas em 2010. A principal delas diz respeito à maior qualificação dos migrantes e à sua situação mais competitiva no mercado de trabalho, em comparação a décadas anteriores. Isso parece ter ocorrido tanto entre os migrantes com algum tempo de residência em São Paulo, que foram passando por um processo de qualificação ou treinamento profissional, ao longo da década considerada, como entre os recémchegados que apresentam melhores condições de inserção e possuem um conhecimento maior sobre as exigências do mercado de trabalho metropolitano.

2.5 Educação Para os anos 1991 e 2000 foi possível calcular os anos de escolaridade para os grupos considerados: assim em 1991 os migrantes com 12 anos e mais de escolaridade eram 6,04% do total de migrantes, enquanto entre os não migrantes esta proporção atingia 7,98%. No ano 2000, estes percentuais subiram para 7,44% e 10,8%, respectivamente. A escolaridade melhorou para os dois grupos, mas o diferencial entre migrantes e não migrantes se manteve, com pequena desvantagem para o primeiro grupo. No ano 2010, a informação novamente surpreendeu, pois a proporção de pessoas com nível superior completo, especialização, mestrado e doutorado foi maior entre os migrantes que entre os não migrantes: 20,52% e 19,36%, respectivamente. Com segundo grau completo aconteceu o mesmo: 32,81% dos migrantes e 31,91% dos não migrantes. Este dado corrobora os dados da renda acima apresentados e, decididamente, a migração para a metrópole de São Paulo passou a apresentar outro perfil: mais rica e melhor posicionada na hierarquia ocupacional; mais velha, mais feminina e menos branca; com nível educacional equivalente ou até mesmo superior ao dos não migrantes. Tal situação permite indagar se a migração de longa distância tem sido também empreendida por indivíduos melhor preparados para enfrentar os desafios e com maiores informações sobre o local de destino e suas possibilidades de emprego. 3. Espacialização dos migrantes no tecido metropolitano 3.1 Espaços da migração: a perda de atração dos municípios metropolitanos No contexto metropolitano, observa-se que o município-núcleo, embora ainda receba forte volume migratório, deixou de ser, gradualmente, o local de residência preferencial nas últimas décadas. Em 1991, 58,79% dos migrantes residiam nos municípios do entorno metropolitano; já no ano 2000 esta porcentagem subiu para 61,46% e em 2010 para 66,50%. A Tabela 6 mostra que, se em 1991 e 2000 houve a manutenção da proporção de migrantes na população metropolitana, em 2010 esta se reduziu em 5 pontos percentuais, para 12,23%. O incremento de migrantes entre 1991 e 2000 foi de mais de 100 mil pessoas para a capital; já entre 2000 e 2010 ocorreu uma perda de quase 235

mil migrantes residentes. Em relação aos municípios do entorno metropolitano, o movimento populacional foi semelhante: crescimento de 346 mil migrantes residentes entre 1991 e 2000 e decréscimo de 470 mil entre 2000 e 2010. A proporção de migrantes caiu bastante tanto na capital como nos outros municípios em 2010, reafirmando uma redução substancial da migração para a metrópole. Tabela 6 População total e migrante residente no núcleo e nos municípios da periferia metropolitana. Região Metropolitana de São Paulo, 1991-2010 ano local migrantes população total % migrantes núcleo 1.101.394 9.646.185 11,42% periferia 1.571.156 5.798.757 27,09% 1991 total 2.672.550 15.444.942 17,30% 2000 2010 núcleo 1.202.220 10.434.252 11,52% periferia 1.917.244 7.444.451 25,75% total 3.119.464 17.878.703 17,45% núcleo 967.750 11.253.503 8,60% periferia 1.440.157 8.430.471 17,08% total 2.407.907 19.683.974 12,23% Fonte- IBGE Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. Neste processo, até 2000 havia uma clara associação entre as taxas de crescimento dos municípios e a proporção de migrantes- o que apontava a migração como responsável pelo crescimento demográfico de muitos municípios periféricos. Em 1991, todos os municípios com taxas de crescimento maiores que 5,5% entre 1980 e 1991 possuíam proporção de migrantes maior que 30%: Arujá, Barueri, Embu-Guaçu, Francisco Morato, Itapevi, Jandira, Itaquaquecetuba e Santana do Parnaíba. Outros municípios com percentuais de migrantes maiores que 30% também apresentavam altas taxas de crescimento: eram mais 13 municípios, num total de 21, entre os então 38 municípios metropolitanos onde moravam mais de 30% de migrantes. Em 2000 o número de municípios com mais de 30% de residentes migrantes diminuiu para 15, mas a associação entre proporção alta de migrantes e taxa de crescimento elevada se manteve, com exceção de Carapicuíba, onde 30,36% da população foi classificada como migrante e com crescimento de 2,19% ao ano.

Em 2010 todas as taxas de crescimento se reduziram, assim como todas as proporções de migrantes residentes. O único município com percentual de migrantes maior que 30% é Santana de Parnaíba, aliás, o município com maior taxa de crescimento demográfico na década. Apenas 3 municípios metropolitanos apresentaram taxas de crescimento demográfico anual superior a 3% entre 2000 e 2010: Cotia, com 25,54% de migrantes; Mairiporã, com 18,16% de migrantes e Santana do Parnaíba, com 35,98% de migrantes, o município com maior percentual. Cabe assinalar que a associação entre proporção de migrantes e crescimento já não é tão evidente, dado que Mairiporã apresenta percentual de migrantes inferior a muitos outros municípios com taxas de incremento menores, como Pirapora do Bom Jesus, Itapevi, Cajamar, Arujá e Taboão da Serra. As perguntas que se colocam em relação a esses dados dizem respeito às características desses municípios: porque eles foram escolhidos como lócus preferencial de residência dos migrantes recentes? Teriam alguma especificidade? Para Santana do Parnaíba, em particular, pode-se formular a hipótese da migração de população de renda alta e média, em virtude da expansão de condomínios residenciais de Alphaville e Tamboré, que atraíram profissionais liberais e empresários, compondo um novo perfil de migração, de profissionais muito qualificados, em busca de segurança e melhor qualidade de vida. Parte importante desses migrantes seria originária de municípios vizinhos, sobretudo do município de São Paulo. 3.2 Em que tipo de municípios residem os migrantes? 3.2.1 Metodologia Tendo em vista analisar as formas e condições de inserção dos migrantes na maior região metropolitana brasileira procedeu-se à construção de uma tipologia de municípios, com base nas categorias sócio ocupacionais elaboradas e utilizadas no âmbito da pesquisa sobre 14 metrópoles brasileiras, levada a cabo pela rede Observatório das Metrópoles 1 (INCT/CNPq). Para tanto, procedeu-se a uma análise fatorial da distribuição da população ocupada residente nos 38 municípios da região 1 Referências sobre o Observatório das Metrópoles podem ser obtidas no site www.observatoriodas metrópoles.net

metropolitana paulista, excluindo-se a capital, de acordo com os diferentes tipos de categorias sócio-ocupacionais. A variável síntese categoria sócio-ocupacional constitui um sistema de hierarquização social obtido com a combinação das variáveis censitárias renda, ocupação e escolaridade e que fornece uma proxy da estrutura social. Como resultado dessa hierarquização chegou-se a uma estrutura sócio-ocupacional composta de 8 grandes categorias (cats) agrupadas segundo a existência simultânea de certas características no que diz respeito à ocupação, escolaridade, renda, posição na ocupação e ramo de produção/atividade. Maior detalhamento das categorias sócioocupacionais pode ser encontrado em Pasternak, S. e Bógus, L. (1998, pag.73-75) e Bógus, L e Pasternak,S, 2015. A análise fatorial realizada para 37 municípios da periferia da Região Metropolitana de São Paulo em 1991 e para 38 municípios em 2000 e 2010 resultou em dois eixos que explicam 75% e 74% da variância em 1991 e 2000. Em 2010 o primeiro eixo explicou 43,95% da variância e o segundo, 29,54%. A partir desses eixos foram estabelecidos os clusters que resultaram em 5 grandes aglomerados ou tipos, a saber: a) cluster popular, que reúne os municípios com grande proporção de trabalhadores da sobrevivência e da construção civil. Esses municípios, tanto em 1991 quanto em 2000, apresentaram uma distribuição bastante semelhante das categorias sócio-ocupacionais e das suas densidades relativas (quantas vezes a categoria socioocupacional estava representada no cluster em relação à média da população como um todo), sendo a maior densidade para os dois períodos (1,54 em 1991 e 1,36 em 2000) a dos trabalhadores do terciário não especializado. Em 2010 a distribuição mudou bastante, sendo a densidade dos trabalhadores do terciário não especializado bem menor, de apenas 0,94, mas com densidade alta de trabalhadores domésticos (1,17) e de operários da construção civil (1,21). Em 2010 o perfil deste cluster é menos nítido que nos anos anteriores, com densidade significativa de pequenos empregadores e mesmo de profissionais de nível superior. Pertencem ao tipo popular em 2010 os municípios de Arujá, Cotia, Embu-Guaçu, Guararema, Juquitiba, Mairiporã, Pirapora do Bom Jesus, São Lourenço, Santa Isabel, Suzano e Vargem Grande Paulista. Os municípios em 2000 pertencentes a este cluster

incluíam Itapecerica, que em 2010 tornou-se operário tradicional e excluíam Santa Isabel, em 2000 classificado como operário tradicional. b) cluster agricola, que reúne os municípios com forte presença de trabalhadores agrícolas. Tal como no caso anterior a similaridade das distribuições de 1980 e 1991 permite estabelecer a mesma tipologia para os dois anos considerados. Os municípios agrícolas de Biritiba Mirim e Salesópolis se distinguem pela alta porcentagem de trabalhadores agrícolas residentes: 35,2% em 1991, 16,7% em 2000 e 26,10% em 2010 Também é significativa a presença nesses municípios de trabalhadores do terciário não especializado. Trata-se de áreas pouco urbanizadas da Região Metropolitana de São Paulo, com menores facilidades de acesso aos locais de concentração dos empregos, em outros municípios metropolitanos. c) cluster operário tradicional, que reúne os municípios de residência operária, sobretudo de moradia de operários da indústria tradicional, de serviços e da construção civil. Estes municípios apresentam no ano 2000 densidades relativas elevadas de trabalhadores do terciário, do secundário e de trabalhadores do terciário não especializado. Dentre os 18,4% dos ocupados que pertenciam ao operariado secundário em 2000 3,4% eram da indústria tradicional e 5,9% da construção civil. De outro lado, 7,8% eram trabalhadores do terciário não especializado. Assim, cerca de 17% da população ocupada residente no cluster era composta destes elementos. Em 1991, os municípios de tipo operário tradicional possuíam 31% da sua população ocupada como operários secundários. Em 2010, os trabalhadores do secundário somavam 29,70% do total de ocupados, com quase23% entre operários de serviços, indústria tradicional e construção civil. Fazem parte deste tipo os seguintes municípios, em 2010: Embu, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Itapevi, Itaquaquecetuba, Pirapora do Bom Jesus, Poá Rio Grande da Serra e Taboão da Serra. Em 2000, aos municípios de: Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Itapevi, Itaquaquecetuba, Jandira, que era operário tradicional em 2000, ascende a operário moderno e Taboão da Serra, em 2000 operário moderno, transforma-se em operário tradicional em 2010. d) cluster operário moderno, que no ano 2000 reúne municípios com densidade elevadas de trabalhadores residentes do proletariado secundário (1,03), sobretudo da indústria moderna (1,06), também possuem presença expressiva os trabalhadores de

serviços auxiliares. Em 2010 as densidades dos trabalhadores da indústria moderna nestes municípios atingiu 1,20. Fazem parte deste tipo, em 2010, os municípios de: Barueri, Caieiras, Cajamar, Carapicuiba, Diadema, Guarulhos,Jandira, Mauá e Ribeirão Pires. e) cluster elite industrial, que reúne os municípios deste tipo, tanto em 2000 quanto em 2010. Esses municípios apresentam densidades elevadas de residentes pertencentes aos grupos profissionais de nível superior (1,59 para 2000 e 1,49 em 2010) e aos dirigentes, que atingiram 1,73 no ano 2000 e 1,66 em 2010. Esse cluster distingue-se também por apresentar densidades elevadas para os pequenos empregadores (1,26 em 2000 e 1,44 em 200). Embora a densidade dos trabalhadores do secundário seja inferior à unidade, ela é expressiva para os trabalhadores da indústria moderna em 2000 (1,10), embora menor em 2010 (0,91). Fazem parte deste tipo, em 1991, os municípios de: Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, que constituíram o berço da indústria metalúrgica, automobilística e metal-mecânica do Estado de São Paulo. A esses municípios somou-se em 2000 Santana do Parnaíba, importante área de expansão de serviços ligados à indústria e onde se localizam os maiores condomínios de alta renda, onde residem empresários e profissionais pertencentes às elites dirigente e intelectual. Osasco, que não integrava este conjunto em 2000, já o faz em 2010, muito provavelmente devido à construção recente de condomínios residenciais verticais de luxo, nos limites com a capital. Muitos desses conjuntos residenciais possuem as características de condomínios-clube e, por terem um preço inferior aos imóveis localizados em bairros contíguos da capital paulista, atraem uma população formada por profissionais de maior escolaridade, renda e maior qualificação, alterando o perfil dos moradores e a tipologia do município. 3.2.2 Tipologia de municípios e migração Tanto em 1991, como em 2000 e 2010, os municípios com maior proporção de migrantes são os do tipo operário tradicional e popular. São tipos que se caracterizam por constituírem o local de moradia de camadas bastante pobres da população metropolitana. A proporção de migrantes no total da metrópole sofreu forte redução entre 2000 e 2010, de mais de 5 pontos percentuais, contrariamente ao que aconteceu entre 1991 e 2000, quando a proporção de migrantes praticamente se manteve. Nesta primeira década todas as tipologias tiveram pequena redução no

percentual de migrantes, com exceção do polo, onde aconteceu um pequeno aumento. Na década seguinte as perdas forma substanciais (Tabela 7), inclusive no polo. O tipo de município que mais perdeu migrantes, proporcionalmente, foi o tipo operário tradicional, onde a proporção de migrantes era maior. São municípios com residentes distintos dos municípios populares, mas que também abrigam camadas hierarquicamente inferiores: em 2010 a densidade relativa dos operários tradicionais foi de 1,04, dos operários da construção civil de 1,23 e dos trabalhadores domésticos 1,19. Proporcionalmente estas 3 categorias abrangiam mais de 11% dos ocupados. No ano 2000 os empregados domésticos apresentavam densidade de 1,28, os operários tradicionais, 1,35 e os da construção civil, 1,43. Nota-se que o perfil operário era mais forte em 2000. De certa forma, este cluster se popularizou em 2010, perdendo a intensidade relativa de moradia dos trabalhadores do secundário. Os municípios componentes em grande parte se mantém, com exceção de Cajamar, Carapicuiba e Jandira, que integram o tipo operário moderno em 2010, Santa Isabel, que se torna popular e Itapecerica, popular em 2000 e operário tradicional em 2010. Neste cluster moravam, em 2010, 342 mil migrantes. Tabela 7- Migrantes recentes, em percentual da população, segundo tipo de municípios. Região Metropolitana de São Paulo, 1991-2010, e taxa geométrica de crescimento % de migrantes taxa de crescimento da pop migrante tipos de municípios 1991 2000 2010 2000-1991 2010-2000 2010-1991 agrícola 26,95 26,19 17,32-0,76-8,87-9,63 popular 28,62 26,94 18,01-1,68-8,93-10,61 operário tradicional 37,09 31,57 19,90-5,52-11,67-17,19 operário moderno 26,15 25,53 15,82-0,62-9,71-10,33 elite industrial 27,77 21,60 16,63-6,17-4,97-11,14 polo 11,42 11,52 8,60 0,10-2,92-2,82 total 17,30 17,45 12,23 0,15-5,22-5,07 Fonte: IBGE Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 A tipologia chamada popular, que servia de residência para quase 222 mil migrantes em 2010, é a que apresenta a proporção imediatamente inferior à da tipologia operário tradicional. Também vê sua proporção cair fortemente. Como perfil, o cluster popular assemelha-se ao operário tradicional: as mesmas categorias que somavam 11% no cluster operário tradicional somavam 13,75% dos ocupados no cluster popular, onde a

densidade dos trabalhadores domésticos atinge 1,41 e a dos operários da construção civil, 1,33. Meyer, Grostein e Biderman (2004) chamam grande parte destes municípios de "dormitórios de renda baixa. Pode-se inferir que a presença de forte proporção de migrantes até 2000 e ainda em 2010 vincule-se à renda média baixa- presente nos dois subconjuntos - e denote que os migrantes mais pobres têm como uma das únicas opções de moradia residências em áreas mais afastadas e desprovidas de infra-estrutura física e social, mesmo tendo que arcar com maior tempo de deslocamento casa- trabalho. Somando-se os volumes de migrantes destes dois clusters, são mais de 563 mil residentes migrantes, cerca de 23% do total de migrantes residindo na metrópole em 2010. A presença da estrada de ferro ajuda a explicar a localização da moradia das camadas populares, uma vez que esse meio de transporte possibilita o deslocamento para outras áreas da metrópole, onde haja oferta de trabalho e emprego. O trem interliga municípios ao norte, como Caieiras, Franco da Rocha e Francisco Morato; a oeste, como Osasco, Carapicuíba, Barueri, Jandira e Itapevi. Em direção ao sudeste, passa por São Caetano do Sul e Santo André; em direção ao porto de Santos, passa por Mauá e Ribeirão Pires. No sentido leste, na direção do Rio de Janeiros, atravessa Ferraz de Vasconcelos, Poá, Suzano, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes e Guararema. A rede ferroviária metropolitana, embora precária e insuficiente, ainda é a garantidora da mobilidade no espaço da metrópole para a população de baixa renda. Percebe-se que, entre os 11 municípios do cluster operário tradicional, apenas Embu e Pirapora não possuem ligação ferroviária com a capital, o que dificulta a circulação dos residentes e os condena a certo isolamento. Como nesses municípios ainda existem áreas onde são desenvolvidas atividades rurais, a carroça e o cavalo são meios de transporte bastante utilizados, além das motos e das viagens a pé. Os 9 municípios do cluster operário moderno serviam de moradia para 476 mil migrantes em 2010. Em números absolutos, só não é ultrapassado pelo polo, onde residiam 968 mil migrantes na mesma data. Proporcionalmente, entretanto, este total representa apenas 16 % do total populacional. Como município novo no cluster surge Jandira. O cluster operário moderno é o único com densidade superior a 1 para os trabalhadores da indústria moderna (1,20). Entre ocupações médias e trabalhadores da

indústria moderna, seus ocupados somam 17,86% do total. Analisando-se o perfil dos seus municípios, percebe-se que muitos deles apresentam ainda terra barata e são bastante distantes do polo. Guarulhos, Caieiras, Cajamar e Mauá têm empregos industriais. Os municípios do tipo elite industrial apresentam também proporção de migrantes de cerca de 15% da população total em 2010, tal como os do cluster operário industrial. A migração para estes municípios- com exceção de Santana do Parnaíba, com perfil específico- reduziu-se muito entre as 3 datas. Concluindo: A migração se reduziu para a metrópole como um todo e para os distintos clusters. Municípios pobres são os que apresentam ainda a maior taxa de migrantes, principalmente os classificados como populares e operário tradicional. A perda relativa foi maior na tipologia operário tradicional, justamente onde a proporção costumava ser maior. O padrão de migração difere bastante conforme o destino do migrante para a RMSP, como mostra a Tabela 8: os migrantes que residiam no polo eram oriundos majoritariamente de outros estados da federação, enquanto os que moravam na periferia em 2005 tinham prévia residência sobretudo em outros municípios da metrópole. Isto parece indicar um fluxo de outros estados ara o polo e, posteriormente, para outros municípios periféricos. Ou seja, o ponto de chegada preferencial seria ao capital. Em seguida os migrantes se distribuiriam pela periferia. Os municípios que apresentavam mais de 30% de migrantes oriundos de outros estados, além da capital, foram: Barueri, Cajamar, Carapicuíba, Diadema, Guarulhos e Mauá, entre os do tipo operário moderno; Osasco e São Bernardo, entre os da elite industrial. Tabela 8 - Residência dos migrantes em 2005, por tipologia de município. Região Metropolitana de São Paulo

residência dos migrantes em 2005 tipologia dos municípios RM SP resto do ESP outros estados total agrícola 77,36% 17,43% 5,21% 100,00% popular 86,35% 4,74% 8,91% 100,00% operário tradicional 68,67% 5,93% 25,40% 100,00% operário moderno 57,02% 7,57% 35,41% 100,00% elite industrial 60,49% 9,22% 30,29% 100,00% polo 10,34% 16,11% 73,55% 100,00% RM total 44,30% 11,28% 44,42% 100,00% Fonte: Cálculos de Pasternak, S., a partir de Cunha, J.M.P. Dinâmica demográfica e migratória 1991-2010: realidades e mitos in Marques, 2015, p 146 Como já foi afirmado a partir da análise da Tabela 2, o fluxo de migrantes intraestaduais, ou seja, oriundo do próprio Estado de São Paulo, aumentou entre 2000 e 2010, embora o do interior tenha diminuído. O fluxo que se mantém em patamar significativo é o dentro da região Metropolitana: em 2000 era de 586 mil migrantes, em 2010 chegou a 470 mil. Como afirma Cunha (2015, p 39), não seria razoável esperar que a RMSP voltasse a apresentar o mesmo desempenho migratório do passado- particularmente em termos de volumes de migração- tendo em vista que, com a queda da fecundidade, a pressão demográfica nas tradicionais áreas de origem reduziu-se significativamente. Mas dentro da própria metrópole o potencial redistributivo populacional se mantém. Mesmo que os dados mostrem apenas parte desta mobilidade (são dados do quinquênio imediatamente anterior ao Censo, deixando de registrar o que aconteceu nos outros 5 anos), os volumes são grandes: no período 1986-91 cerca de 463 mil pessoas mudaram de município dentro da RMSP; entre 1995 e 2000 este valor correspondia a 586 mil e no quinquênio 2005-2010, a 470 mil. (Cunha, 2015, p 131) O maior fluxo intrametropolitano é o de moradores que deixam de residir no polo e se dirigem a outros municípios da RMSP: do total de migrantes dentro da metrópole, 55,31% saíram do polo e fixaram residência em outros municípios da metrópole. Estes fluxos mostraram-se bastante variados, dividindo-se quase que igualmente entre mudança para áreas hierarquicamente inferiores (17,57% para áreas populares e 30,74% para áreas operário tradicionais) e para áreas consideradas hierarquicamente superiores (28,75% para áreas operário modernas e 22,65% para áreas da elite industrial). Os municípios limítrofes, como Guarulhos (que recebeu quase 35 mil migrantes moradores

na capital em 2005, um percentual de 14% dos migrantes vindos do polo), Santo André, com 11,6 mil (4,75%), São Bernardo, com quase 16 mil (6,5%), Osasco, que vai servir de moradia para 15 mil moradores antes residentes capital (6% dos migrantes que saíram de São Paulo), abrigaram volumes expressivos dos deslocamentos internos à própria região metropolitana. São também grandes receptores Cotia, município do tipo popular que recebeu 11 mil antigos residentes em São Paulo e Ferraz de Vasconcelos (que recebeu 9,3 mil), Taboão da Serra (14,3 mil) e Itaquaquecetuba ( 15,6 mil), todos municípios do tipo operário tradicional. Pouca distância da capital e o preço baixo do m2 explicam o boom imobiliário em Osasco; 35% dos que compraram apartamentos lá, nos últimos 5 anos, saíram de Sâo Paulo, a maioria da zona oeste ( Folha de São Paulo, Especial Morar, 25 de outubro de 2015, p. 6). Embora após 2010 este fenômeno seja até manchete de jornais, os dados acima mostram que já se iniciava entre 2005 e 2010. Apesar dos poucos metros a separarem Osasco da Cidade Universitária, os preços dos imóveis são, em média, 20% mais baratos no município vizinho. Em 2015 o preço médio dos imóveis novos no Butantã era de R$ 8.130,00 o metro quadrado, enquanto em Osasco atingia R$ 6.540,00 (consultoria Geoimóvel). Melhoras sensíveis no sistema de transportes explicam essa migração para Osasco: uma estação de trem da linha 9-esmeralda separa Osasco da Vila Leopoldina e três estações da linha 8- diamante ligam este município à Lapa. Pelo preço de um imóvel de um dormitório em São Paulo a pessoa pode comprar um de dois ou três quartos em Osasco. A diferença é muito significativa segundo palavras do presidente do grupo Abyara Brasil Brokers (Folha de São Paulo, 2015: p 6). A construção de imóveis mais sofisticados e a chegada de moradores de faixa de renda mais elevadas promovem o crescimento e a mudança de padrão da cidade. Outro fluxo forte, embora bem inferior ao do polo para a perifera, é a mudança de residentes dos municípios da elite industrial. Este fluxo é de quase 18% dos migrantes, embora represente apenas 32% do fluxo principal, polo periferia. Entre os migrantes com origem em municípios da elite industrial, boa parte (33%) se mudam dentro de municípios da mesma elite industrial, 31% vão residir em municípios tipo operário moderno. Apenas 14% irão se dirigir para municípios populares e agrícolas. Já entre os municípios vinculados à renda mais baixa, como os populares e operário tradicional, a migração dentro da mesma tipologia é dominante, mostrando que os

migrantes mais pobres têm como uma das únicas opções de residência as áreas mais afastadas e desprovidas de infra-estrutura, mesmo tendo que arcar com o desgaste de tempo e do elevado custo de deslocamento, já que a oferta de empregos nestes tipos de municípios é bastante reduzida. Sumarizando: A RMSP respondia, em 2010, por cerca de 56% do PIB estadual e por mais de 18% do nacional; em termos demográficos, 46% dos paulistas viviam ai em 2010. Assim ainda apresenta grande peso econômico e demográfico; A migração se reduziu para a metrópole como um todo e para os distintos clusters; o volume migratório para a RMSP tem-se reduzido, de cerca de 93 mil pessoas ao ano, nos anos 80, para cerca de 60 mil ao ano, entre 2000 e 2010; Os saldos migratórios negativos apresentados pela RMSP em 2000 e 2010 são, segundo Cunha e Baeninger (2005),perdas migratórias por troca intraestadual com regiões próximas, caracterizando mais uma certa extensão do processo de metropolização do que realmente uma grande desconcentração metropolitana. Municípios pobres são os que apresentam ainda a maior taxa de migrantes, principalmente os classificados como popular e operário tradicional A migração intrametropolitana tem um peso grande na migração total. A migração intrametropolitana atingiu cifras superiores a 47 mil pessoas/ano entre 2000 e 2010, e distingue-se por saída do polo e ida para os municípios periféricos. Entre estes os que mais recebem moradores antigos da capital estão Guarulhos, Osasco, Santo André, São Bernardo, Cotia, Taboão da Serra e Itaquaquecetuba Considerando-se o comportamento dos fluxos migratórios ao longo das décadas analisadas, a expectativa é de que a tendência observada no período se mantenha e até se acentue, considerando as mudanças recentes na dinâmica econômica e no mercado de trabalho da região metropolitana.. REFERÊNCIAS BIDERMAN, C. (2004) Cartografia econômica da metrópole In MEYER, R, GRONSTEIN, M. e BIDERMEN, C. São Paulo Metrópole. São Paulo, EDUSP, p. 110-157.

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