ASPECTOS DE IDENTIDADE PATRIMONIAL EM UMA CIDADE LIMPA: O CASO CURITIBA



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Transcrição:

ASPECTOS DE IDENTIDADE PATRIMONIAL EM UMA CIDADE LIMPA: O CASO CURITIBA Orientando: Guilherme Alves Bomba (História UEL) Orientadores: Zueleide Casagrande e Jorge Romanelo Este artigo tem como principal função analisar a percepção de um visitante, vindo de uma cidade nova e tida como modernista, sobre a cidade de Curitiba, buscando entender os elementos que auxiliem na percepção de uma consciência patrimonial histórica e cultural. Partindo do ponto que a cidade de Curitiba possui um amplo campo de discussões possíveis, sejam estas historiográficas, memoriais ou identitárias, por ser uma cidade secular e manter preservado muito de sua origem, o presente trabalho busca como principal foco a discussão sobre uma cidade limpa, como premissa de uma valorização do patrimônio, memória e da própria identidade. PALAVRAS CHAVE: PATRIMÔNIO; CURITIBA; IDENTIDADE; O objetivo deste trabalho vai muito além do que um relatório sobre uma viagem a uma cidade como Curitiba, seria este uma tentativa de análise sobre o patrimônio histórico e cultural da capital paranaense, buscando determinados elementos que ajudem na idéia de uma identidade, e até mesmo de um saudosismo, sem aludir com isso um desprendimento ao novo, longe disso, mas uma valorização do novo preservando o que já se possui. Contudo, antes que se possa discutir o patrimônio histórico-cultural em Curitiba, e indispensável definir o que seria este. Caso se fale somente sobre patrimônio isolando os termos do conjunto supramencionado, entender-se-ia sobre aquilo que é passado de pais para filhos, um bem de herança, segundo termos legais. Entretanto, quando a análise partir para o sentido histórico e cultural, o conceito é bem mais complexo, pois

envolve diversos meandros da vida de uma dada sociedade, por se referir aos bens incomensuráveis como a memória coletiva construída socialmente e identidade de um povo. Neste sentido, o que se entende é que por meio da valorização do patrimônio histórico-cultural, pode-se obter um favorecimento da identidade local. O patrimônio só fará sentido se contextualizado, por isso além do elemento em si, o entorno será de grande valia para a análise em questão. Por esse motivo, a atenção principal deste trabalho recorrerá a uma forma de preservação do patrimônio e seu entorno. A proposta de Cidade Limpa, inicialmente promulgada na cidade de São Paulo, limitava o tamanho dos outdoors e outras formas de limitação da poluição visual na cidade. Isso proporcionaria uma valorização do que já se há construído que inclusive é de muito valor, seja econômico ou culturalmente dito. Houve muitas opiniões controvérsias, tanto dos comerciantes que deveriam regularizar a fachada de suas empresas, importante citar que a fachada deveria ser ocupada no máximo em 50% (cinqüenta por cento) por uma propaganda, além dos publicitários que as planejariam. Os argumentos foram diversos, contudo há um que chama muito a atenção, em um site de relacionamentos pessoais é colocada uma questão que foi muito debatido por outras pessoas que ali também escreveria nesta página ela chama de velhos saudosistas, aqueles que valorizam a lei cidade limpa, possuem medo do novo, saudade e querem voltar ao passado. Uma resposta chamou muito a atenção, por ser um profissional da mesma área que a pessoa que fez o comentário inicial, um publicitário, ele cita que longe disso cidades como Nova York também possuem limitações, entretanto existem espaços determinados para que preencha com propagandas e telões, um exemplo a Times Square. Isso foi debatido no início de 2006, quando a Lei 14.223/06 ainda era um projeto municipal. Antes destes existem outros projetos para tal, mas nenhum com um impacto tamanho na sociedade como um todo. Voltando a Curitiba, que também adotou oficialmente o projeto em 08 de fevereiro de 2008, as placas de lojas ou também chamados de letreiros, podem ocupar somente 20% (vinte por cento) da edificação. O decreto assinado em 2005, por Beto Richa, prefeito de Curitiba, tinha como intuito deixar a cidade mais bonita e valorizar as edificações, querendo melhorar a paisagem urbana e a veiculação publicitária. Agora a questão que definirá o desenvolvimento deste trabalho: Como o controle de letreiros, e até mesmo essa manutenção do patrimônio histórico-cultural pode auxiliar na percepção

de uma identidade curitibana, ou, além disso, de uma identidade paranaense com traços históricos diferentes daqueles encontrados no Norte Novo do Paraná? Curitiba é uma cidade com mais de 350 anos de história. Desde que o capitão Ébano Pereira estabeleceu-se na região com um grupo de garimpeiros, em 1649, Curitiba cresceu muito e passou por vários ciclos econômicos. Seus habitantes construíram um amplo patrimônio histórico e cultural ao longo desses três séculos e meio. É uma cidade antiga para os padrões brasileiros. Esses três séculos e meio de vida, trazem a Curitiba a grandiosidade da experiência e feitos que devem ser preservados. Acredita-se que as primeiras construções na região de Curitiba iniciaram-se na atual Praça Tiradentes e no bairro de São Francisco. Nessa área se concentram edificações importantes do século 18, como a Igreja da Ordem e a Casa Romário Martins, além de várias construções do século 19 e início do 20. O patrimônio histórico tem o seu lugar no sagrado reservado, ou seja, um patrimônio só será considerado como tal, a partir do momento em que ele seja valorizado e representado em seu sentido real, como identificação da memória de um povo e de sua história. O se deve cuidar é para que este estudo, não se torne um catálogo de coleções desprovido de sentido, sendo assim não é possível analisar uma imagem da Basílica de Curitiba querendo dela retirar o significado, se não possuir o conhecimento sobre o seu entorno, e sobre sua própria história. O presente trabalho procura muito mais do que fatos históricos expressos em edificações, além disto, toda uma significação embasada em teóricos de outras áreas, afinal, por que não utilizar textos de arquitetos, já que estes ajudaram na compreensão de estilos, momentos artísticos e objetivos de cópias ou réplicas? E outras matérias devem ser consideradas. A antropologia nos ensina, em seus princípios fundantes, que cultura não pode ser pensada a partir da idéia de um conjunto fixo de elementos que resistem imunes à longa noite dos tempos, sejam eles artefatos, canções ou mitos. As culturas são dinâmicas, e a existência dessa propriedade independe do grau de contato com outras culturas. Em outras palavras, usos e sentidos estão sendo constantemente ressignificados, não implicando esse processo perda, mas

justamente vitalidade. Embora possa parecer sacrílego, a incorporação de qualquer bem num acervo ou inventário exemplifica exatamente essa dinâmica. O patrimônio cultural está dividido em diversas etapas e formas, e falar somente do patrimônio material, ou de edificações, traria para este trabalho determinada falta de significação, isso, pois ao falar das edificações o que se busca é a sua relação com a construção de atos e hábitos sociais que representam e individualizem a sociedade curitibana. Neste sentido, pode-se e devem-se retomar os espaços arquitetônicos, sociais e de memórias apontados, desde que se façam relações com outros elementos e que se chame atenção para a tensão das vivências e das seleções. Um reexame da história do patrimônio no Brasil mostra que na sua origem as políticas relativas ao patrimônio foram pensadas de forma ampla, incorporando muitos dos elementos que estão hoje em cena nesse debate. Reconhecidamente um pioneiro mundial nessa área, Mario de Andrade elaborou, em 1936, juntamente com Paulo Duarte, o texto do decreto que dispõe sobre a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), promulgado pelo Presidente da República no ano seguinte. Logo no seu primeiro artigo, o texto versa que: "Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico." A lei implicava, portanto, tanto o material, quanto o que hoje se denomina de imaterial. As discussões sobre patrimônio intensificaram-se nas décadas de 60 e 70, quando várias reuniões, conferências e encontros foram realizadas tanto nacionalmente como internacionalmente. Inúmeros documentos com objetivo de proteção ao patrimônio de diversas nações surgiram e a idéia de patrimônio ampliou-se como adjetivo Cultural apresentado também pela Constituição do Brasil de 1988 no artigo 216. Dessa forma, o termo cultural abrange uma diversidade de trabalhos que resultam na ação do homem como bem cultural e assim, como patrimônio que é, deve ser considerado e protegido. Os bens culturais que herdamos do passado e vivenciamos no presente contribuem para a formação da identidade, na formação de grupos, nas categorias

sociais e no resgate à memória, permitindo estabelecer elos entre o pertencimento, a história e as raízes. Atribuir significação a algo implica um valor, portanto, a significação cultural de um bem pressupõe um valor estético, histórico, científico ou social a ele atribuído por gerações passadas, presentes ou futuras. (IPHAN, 1995, p. 283). A capital do Estado do Paraná possui diversas colonizações, e trouxe consigo em cada colonizador o ar europeu, que é bem retratado em sua arquitetura e culturas. Curitiba pode ser vista, de duas formas, a primeira de uma metrópole com cara de interior, ou interior com cara de metrópole, pois a dualidade entre passado e futuro é grandiosa. Não há como se buscar em uma viagem entender tudo sobre uma cidade e seu povo, entretanto muito disso pode ser apreendido em detalhes que fazem toda a diferença. Se comparada com Londrina, cidade do norte do Paraná com pouco mais de setenta anos, e tantas outras cidades do Brasil, Curitiba é uma cidade muito antiga e cheia de traços desta idade em suas edificações. Entretanto há muito de moderno em Curitiba recentemente estudos realizados apontam para um mesmo arquiteto nestas duas cidades, que com seus traços modernistas pode em alguns pontos dar uma determinada idéia de identidade unitária ao Paraná, seu nome Villanova Artiga, é reconhecido nacionalmente, inclusive uma de suas obras em Londrina, a estação rodoviária foi tombada como patrimônio histórico. Este trabalho não se preocupa com o que foi tombado ou não, pois cabe aí uma série de detalhes políticos e econômicos que não condiz com as necessidades deste projeto. O que se interessa não pelo denominação que este receba, mas pelo seu papel psico - social, no sentido de ampliação e aplicação na construção de uma identidade. Partindo das análises dos monumentos e dos hábitos sociais em relação a estes, o que se procura é entender como a manutenção e a conservação do patrimônio histórico, pode auxiliar para que uma pessoa possa se autodenominar e reconhecer, enquanto parte de um todo social, ou seja, que ela possa se assimilar com outros indivíduos seja por afinidades ou por sua história.

Toda história deve ter heróis ou patronos, e uma das funções do patrimônio histórico e cultural é exatamente esta, a de salva-guardar a imagem e os feitos de homens que com suas habilidades e coragem, tenham sido símbolos de um povo e/ou de um local. E aqueles que tenham um mesmo idealizado, compartilham de uma mesma história e sendo assim, partem para uma unificação. Não há como considerar somente os homens de renome e que são colocados nas paredes e nos monumentos, mas há muitos que em limites de bairros fazem e são a sua própria história. Em Curitiba, cada monumento tem um nome, seja de quem fez, ou o de quem é representado. E isso é indispensável para a compreensão da identidade curitibana, um nome, ás vezes não representa um individuo, mas uma nação. A capital paranaense é repleta de povos e culturas diferentes, desta forma se pode encontrar diversas representações de credos e tradições européias nos monumentos e edificações. Entender a representação de uma sociedade é algo muito complicado. Momentos e movimentos são diversos, e se não considerados trarão o erro. O início do século XX foi marcado por uma forte ânsia de modernidade. E o momento agora de Curitiba e de tantas outras cidades do Brasil e do mundo, e de uma troca entre o velho e o novo. A região curitibana ou do sul do Paraná, é especifica e muito diferente das regiões como do norte do Estado. É necessário para se definir a noção de região estabelecida para este trabalho. Grosso modo, uma região é uma unidade definível no espaço, que se caracteriza por uma relativa homogeneidade interna com relação a certos critérios. Os elementos internos que dão uma identidade à região (e que só se tornam perceptíveis quando estabelecemos critérios que favoreçam a sua percepção) não são necessariamente estáticos. Daí que a região também pode ter sua identidade delimitada e definida com base no fato de que nela poder ser percebido um certo padrão de interrelações entre elementos dentro dos seus limites. Vale dizer, a região também pode ser compreendida como um sistema de movimento interno. Por outro lado, além de ser uma porção do espaço organizada de acordo com um determinado sistema ou identificada através de um padrão, a região quase sempre se insere ou pode se ver inserida em um conjunto mais vasto. Curitiba e sua identidade não podem ser definidas por suas edificações ou monumentos. A sua origem, as pessoas que a concretizaram e até mesmo as relações atuais com outras regiões do país, são indispensáveis para tal.

Como previsto, ainda não há uma conclusão já pronta deste trabalho, já que as trocas e as construções identitárias são ininterruptas. Mas uma coisa é certa, tirar gigantescos anúncios das fachadas históricas, manter visualmente limpa a imagem da cidade, trás consigo a possibilidade de se analisar o passado e o desejo de tantos que fizeram da cidade ser o que é hoje. Não há saudosismo em valorizar o antigo, há a infinda possibilidade de perceber o surgimento e evolução de um povo, e mais que isto, a criação de uma identidade. Nem todos os homens são iguais, por que suas histórias seriam as mesmas? Modernizar é necessário, entretanto se saber de onde vêm é indispensável. Como a pergunta principal do trabalho ainda não foi respondida, ele não trás em si respostas ou soluções, haja vista muitas perguntas existem para guiar e não para serem respondidas. REFERÊNCIAS: BRASIL. Iphan (Org.). O Registro do Patrimônio Imaterial. Disponível em: <www.iphan.org.br>. Acesso em: 14 set. 2008. GOUBERT, Pierre. História Local in História & Perspectivas, Uberlândia, 6-45-47, Jan/Jun 1992. VEYNE, Paul. Como se Escreve a História. Brasília: UNB, 1982. BURKE, Peter. A Escola dos Annales, São Paulo: UNESP, 1991. BRASIL. Departamento do Patrimônio Histórico Dph (Org.). Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo - Conpresp. Disponível em: <http://www.patrimoniohistorico.sp.gov.br>. Acesso em: 14 jun. 2008. INDUSRSKY, Freda.(org.). Discurso, memória, identidade. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzato, 2000 CIDADE Limpa em Curitiba: Nova regra padroniza e disciplina a publicidade externa. (mas não proíbe) Disponível em:

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