ARREMATAÇÃO. PREÇO VIL. NÃO CARACTERIZAÇÃO. O preço vil refere-se a conceito jurídico indeterminado, cabendo ao intérprete decidir se os valores do bens penhorados são extremamente inferiores ao valor da avaliação, tendo-se em mente o princípio da razoabilidade e a satisfação da pretensão executória. Na hipótese dos autos, verifica-se que o bem foi arrematado por valor ligeiramente superior a 20% (vinte por cento) do valor atribuído pelo oficial de justiça. Agravo de petição não provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de agravo de petição, em que são partes COMÉRCIO VAREJISTA DE ÓLEOS LUBRIFICANTES MARGALHO LTDA. EPP, como agravante, e JOÃO RAMIRO DE OLIVEIRA e MARGALHO POSTO E SERVIÇOS LTDA., como agravados. RELATÓRIO Irresignada com a r. decisão proferida pela 13ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro (fls. 378), da lavra do Juiz Ricardo Georges Affonso Miguel, que, complementada pela decisão de embargos de declaração de fl. 382, julgou improcedentes os embargos à arrematação, interpõe agravo de petição a executada. Em suas razões, às fls. 384/388, insurge-se contra a arrematação realizada, alegando que não foi intimada pessoalmente da hasta 4841 1
pública, bem como que o bem penhorado foi arrematado a preço vil. Contraminuta do exequente, às fls. 393/318, com requerimento de condenação da agravante por litigância de má-fé. Dispensável a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho diante do que dispõe o artigo 85 do Regimento Interno desta Egrégia Corte e por não evidenciadas as hipóteses dos incisos II e XIII do art. 83 da Lei Complementar nº 75/93, nem as hipóteses previstas no anexo do Ofício PRT/1ª Reg. Nº 214/13-GAB, de 11/03/2013. É o relatório. VOTO ADMISSIBILIDADE Conheço do agravo de petição interposto, porquanto estão presentes os requisitos subjetivos e objetivos de admissibilidade recursal. MÉRITO NULIDADE DA ARREMATAÇÃO Pretende a agravante a declaração de nulidade da arrematação realizada, alegando que não foi intimada pessoalmente da hasta pública, nos termos do art. 687, do CPC, e da Súmula n o 121, do STJ. Pois bem. Compulsando os autos, verifico que a reclamada foi intimada, através de seu patrono, à fl. 361, da subsistência da penhora, bem como da nomeação do leiloeiro. Após, à fl. 367, foi intimada, através do Diário Oficial, das datas designadas para a realização do primeiro e do segundo leilão. Outrossim, à fl. 371, foi notificada da homologação do Auto de Arrematação. Somente após a última publicação opôs embargos à arrematação, alegando a nulidade dos atos 4841 2
por ausência de intimação pessoal (fls. 373/375v). Diferentemente do alegado pela agravante, em que pese o disposto no CPC, o Processo do Trabalho possui regramento próprio acerca do tema, conforme disposto no art. 888, da CLT, in verbis: Art. 888 - Concluída a avaliação, dentro de dez dias, contados da data da nomeação do avaliador, seguir-se-á a arrematação, que será anunciada por edital afixado na sede do juízo ou tribunal e publicado no jornal local, se houver, com a antecedência de vinte (20) dias. (Redação dada pela Lei nº 5.584, de 26.6.1970) 1º A arrematação far-se-á em dia, hora e lugar anunciados e os bens serão vendidos pelo maior lance, tendo o exequente preferência para a adjudicação. (Redação dada pela Lei nº 5.584, de 26.6.1970) 2º O arrematante deverá garantir o lance com o sinal correspondente a 20% (vinte por cento) do seu valor. (Redação dada pela Lei nº 5.584, de 26.6.1970) 3º Não havendo licitante, e não requerendo o exequente a adjudicação dos bens penhorados, poderão os mesmos ser vendidos por leiloeiro nomeado pelo Juiz ou Presidente. Redação dada pela Lei nº 5.584, de 26.6.1970) 4º Se o arrematante, ou seu fiador, não pagar dentro de 24 (vinte e quatro) horas o preço da arrematação, perderá, em benefício da execução, o sinal de que trata o 2º deste artigo, voltando à praça os bens executados. (Redação dada pela Lei nº 5.584, de 26.6.1970) Desta forma, não há que se falar em necessária intimação pessoal sobre a realização da hasta pública. Nego provimento. PREÇO VIL Defende a executada que os bens penhorados foram arrematados por preço vil. Pois bem. No caso, foram arrematados 2.941 (dois mil novecentos e 4841 3
quarenta e um) litros de gasolina pela quantia de R$ 1.825,00 (mil oitocentos e vinte e cinco reais). Nos termos do Auto de Reavaliação de fls. 359/359v, o Oficial de Justiça atribuiu ao bem o valor e R$ 9.117,10 (nove mil cento e dezessete reais e dez centavos). A arrematação consiste na venda dos bens penhorados do devedor, realizada pelo Estado, cujo escopo é satisfazer o crédito alimentar do trabalhador. O artigo 888, 1º, da CLT determina que a arrematação ocorra pelo maior lance. O preço vil refere-se a conceito jurídico indeterminado, cabendo ao intérprete decidir se os valores do bens penhorados são extremamente inferiores ao valor da avaliação, tendo-se em mente o princípio da razoabilidade e a satisfação da pretensão executória. A respeito do tema, Cândido Rangel Dinamarco ensina que: (...) como preço vil é um conceito indeterminado, os lances de valor abaixo da avaliação devem ser examinados caso a caso pelo juiz, a quem compete aprovar ou não o resultado da hasta pública. Esse juízo é feito no momento da assinatura do autor da arrematação (art. 693), não o assinando o juiz quando entender que o lance vencedor na praça ou no leilão haja sido vil. (Instituições de Direito Processual Civil. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 560) Em relação à dificuldade de conceituação do tema, o Professor Cássio Scarpinella Bueno considera que: É difícil senão impossível definir o que é preço vil em abstrato. E isso porque se trata de conceito vago e indeterminado que, como tantos outros do próprio CPC, pressupõem um fato concreto, certo e delimitado no tempo e no espaço para ser expresso, definido, concretizado. É conceito que só existe na aplicação do direito, em sua dinâmica. (Código de Processo Civil Interpretado. Antonio Carlos Marcato. Coordenador, São Paulo: Atlas, 2004 p. 1964) 4841 4
saber: A propósito, este E. TRT já se manifestou da seguinte forma, a ARREMATAÇÃO. PREÇO VIL. O conceito de preço vil se dá em decorrência da necessidade de se atribuir um certo grau de valoração subjetiva ao ato expropriatório, de forma que seja levado em consideração o valor da avaliação, a quantidade de interessados pelo bem, o grau de dificuldade de seuaproveitamento no mercado, entre outros fatores. Ora, o valor pode até ser considerado baixo, aos olhos do agravante, o que não se confunde com o conceito de vil. (00341-1999-262-01-00-6 RTOrd, Relator Juiz Convocado Marcelo Antero de Carvalho, DJ 11.11.2009) A par dessas considerações e utilizando como parâmetro o percentual de 20% a fim de perquirir a caracterização, ou não, do lance vil, na hipótese dos autos, verifica-se que o bem foi arrematado por valor ligeiramente superior a 20% (vinte por cento) do avaliado. No mais, devem ser prestigiadas, no caso em tela, a duração razoável do processo e a efetividade da execução, pois o reconhecimento da nulidade da arrematação em virtude do lance vil implicaria no retardamento do levantamento do crédito judicialmente reconhecido do reclamante, de natureza alimentar. Assim, com amparo no princípio constitucional da duração razoável do processo e, ainda, ensejando assegurar a efetividade da execução, considero como válida a arrematação dos bens penhorados, razão porque nego provimento ao remédio recursal. CONCLUSÃO Ante o exposto, CONHEÇO do agravo de petição, e, no mérito, NEGO-LHE PROVIMENTO, nos termos da fundamentação supra. 4841 5
DISPOSITIVO Vistos e examinados, ACORDAM os Desembargadores que compõem a Sétima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, CONHECER do agravo de petição, e, no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, nos termos da fundamentação. Rio de Janeiro, 5 de Agosto de 2015. Desembargadora do Trabalho Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva Relatora rajf 4841 6