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Transcrição:

PARECER N 14.376 CEDIC. Vínculo empregatício. Estabilidade. Reconhecimento judicial. Ato de demissão nulo. Efetividade. Efeitos da sentença. Reiteração do Parecer 13417/02. Vem a esta Equipe de Consultoria da Procuradoria de Pessoal da Procuradoria-Geral do Estado, encaminhado pela Subchefia Jurídica da Casa Civil do Governo do Estado, Expediente Administrativo (EA) n. 368-1600/03-3, no qual se questiona acerca da contagem de tempo de efetivo serviço relativamente ao período que transcorreu entre a data da demissão, posteriormente declarada nula, e o momento da inativação dos servidores. A questão emerge da proposta da chefia da Divisão de Recursos Humanos da Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais do Estado do Rio Grande do Sul (SEDAI), acerca da necessidade de fazer integrar no Ato de Reconhecimento de Vínculo o período que se inicia na data da demissão do empregado e finda no momento de passagem à inatividade, já que este lapso temporal deveria compor o tempo de trabalho do mesmo uma vez reconhecida judicialmente a nulidade da despedida e a estabilidade do trabalhador. A proposta de alteração do ato foi suscitada em razão de pedido formulado por José Antonio Vieira Lobo, o qual pretende seja declarado tal período como compondo o tempo de trabalho do mesmo. A Subchefia Jurídica da Casa Civil do Governo do Estado, então, encaminha o EA para análise por esta Procuradoria-Geral do Estado acerca da alteração do ato de reconhecimento do vínculo. Foi anexado, por determinação da Subchefia Jurídica da Casa Civil, o EA 571-1600/03-2, bem como, nesta Casa, foram desarquivados para análise os EAs 16494-1000/97-7 e 41975-1000/02-3. É o sucinto Relatório.

2 A questão trazida pela Subchefia Jurídica da Casa Civil já teve tratamento nesta Procuradoria-Geral do Estado, no particular pelo Parecer 13417/02. Para o correto trato da mesma, deve-se ter presente que se está, para o que aqui importa, diante de situação nascida do reconhecimento judicial de nulidade de ato jurídico demissão de empregado e, conseqüentemente, de reconhecimento de vínculo a ser mantido entre as partes. Portanto, desde logo deve-se ter presente que o ato jurídico nulo é aquele que, existindo no mundo jurídico, de regra não poderá produzir efeitos já que afetado em sua validade. É preciso que se considere que a decisão no âmbito da jurisdição trabalhista tem caráter declaratório, produzindo efeitos ex tunc, neste aspecto, posto que apenas reconhece uma situação pré-existente em função da espécie de invalidade que atinge o ato e de tratar-se, a relação de trabalho, de contrato-realidade. No caso particular, o ato jurídico demissão foi declarado inválido, sob a espécie de ato nulo. Dessa forma, sendo nulo o ato demissional e a sentença judicial dotada de caráter declaratório, a situação jurídica afetada por tal ato jurídico deve ser restabelecida como se nada a tivesse atingido no período. Ou seja, a demissão, sendo nula, faz com que a situação jurídica seja restabelecida em sua inteireza, dela advindo os efeitos a que estaria apta a produzir caso não tivesse sido atingida pelo ato agora reconhecido sem validade. Não se trata, na espécie, de ato inválido sob a forma de ato anulável, o qual teria condições de produzir efeitos até o reconhecimento do vício, mas de ato nulo, o qual não pode produzir efeitos, a não ser em situações especiais e relativamente a aspectos secundários ao mesmo. Sendo nulo, o seu reconhecimento retroage ao momento de seu ingresso no mundo jurídico. Ou seja, desde que passou a existir este ato não estava apto a produzir os efeitos dele decorrentes acaso tivesse validade. Dessa forma, sendo nulo o ato demissório, a situação laboral por ele atingida deverá retomar as características e circunstâncias que possuía no momento de sua edição, produzindo, desde então, os efeitos que lhe seriam próprios até o momento em que seja atingida por outro ato, agora válido, que lhe ponha fim.

3 No caso analisado, a relação de trabalho que subjaz teve seu fim determinado pela inativação do trabalhador, devendo seu tempo de duração, necessariamente, abranger aquele período transcorrido entre a demissão nula e a data da aposentadoria do mesmo. Como já definido no Parecer 13417/02: Já em relação ao segundo questionamento, relativo à efetividade da servidora no período de 15.01.96 (data da demissão pela CEDIC) a 05.01.98 (data da concessão da aposentadoria pelo INSS), releva salientar que guarda estreita vinculação com a reclamatória trabalhista n 00871.018/97-7, na qual se controverte acerca da nulidade da despedida e conseqüente direito à reintegração e ao pagamento dos salários correspondentes ao período de afastamento. Em realidade, caso mantida a sentença da 18a Vara do Trabalho, que considera nula a despedida, embora afaste a reintegração em virtude da aposentadoria, e condena o Estado do Rio Grande do Sul ao pagamento dos salários e vantagens, devidos entre a despedida e a inativação, este período deverá ser considerado como de efetivo exercício, porque conseqüência necessária da invalidação judicial da demissão do servidor estável, que visa precisamente impedir que os efeitos produzidos durante o período de afastamento injurídico subsistam. (Grifei) No caso particular, verificando-se, em cada situação particular, a ocorrência do reconhecimento de nulidade do ato de demissão em juízo e o trânsito em julgado da decisão, há que se promover o adequado ato de reconhecimento de vínculo, no qual o tempo de trabalho declarado deverá computar aquele ocorrido entre a demissão declarada nula e o ato que põe validamente fim à relação de trabalho, na espécie a aposentadoria do servidor. Como se lê, ainda, no Parecer acima referido: Por fim, convém alertar para o equívoco da publicação de ato de "reintegração" em hipóteses como a presente, em que o servidor, por já se encontrar inativado, não retoma o exercício das funções, bem como para a incorreção da menção ao "caráter efetivo", eis que a servidora não detém esta condição. De fato, o ato administrativo deve limitar-se à declaração do vínculo e da estabilidade judicialmente reconhecidos, bem como do regime previdenciário e do regime jurídico.

4 Portanto, deve a Administração proceder à publicação do Ato de Reconhecimento de Vínculo, nele anotando como tempo de serviço aquele que se inicia com o ingresso do servidor, tendo como momento final a data de concessão de sua aposentadoria pelo órgão previdenciário. É o Parecer. Porto Alegre, 22 de setembro de 2005. JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS PROCURADOR DO ESTADO EA 368-1600/03-3 EA 571-1600/03-2

Processos nºs 000368-16.00/03-3 000571-16.00/03-2 Acolho as conclusões do PARECER nº 14.376, da Procuradoria de Pessoal, de autoria do Procurador do Estado Doutor JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS. Restituam-se os expedientes à Excelentíssima Senhora Subchefe Jurídico da Casa Civil. Em 26 de outubro de 2005. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.