A Bíblia e a Reforma Protestante

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Transcrição:

A Bíblia e a Reforma Protestante

Antes de começar... A Reforma Protestante foi deflagrada no Século XVI. Mas a história da Igreja Cristã não começa no Século XVI. A igreja (ἐκκλησία) é construída progressivamente desde o Antigo Testamento Reveja o sermão do Pr Carlos Machado na IPBG no site http://goo.gl/2cwvbr A Igreja não começa com Lutero; A Igreja não começa na Europa, mas em Jerusalém; A Igreja não aparece após sua institucionalização pelo Imperador Constantino, (Séc. IV) ela já existia muito antes desse evento;

Antes de começar... Quando a Reforma Protestante aconteceu, a Igreja: Já tinha definido o Cânon do Novo Testamento e ratificado o Cânon judaico do Antigo Testamento; Já tinha definido os termos das doutrinas básicas emanadas dessas Escrituras: a Trindade, as duas naturezas, o nascimento virginal, a morte vicária, a ressurreição, a natureza da Igreja, o Retorno do Senhor e o Juízo Final, o Novo Céu e a Nova Terra; os Sacramentos do Batismo e da Eucaristia; já tinha estabelecido ministérios de bispos, presbíteros e diáconos; já tinha estabelecido um padrão do governo e deliberação do tipo conciliar [padrão estabelecido desde os tempos apostólicos: pareceu-nos bem ao Espírito Santo e a nós (Atos 15:9)].

Portanto... Os fundamentos da Igreja foram estabelecidos antes da Reforma Protestante. É o legado pensado, ensinado e transmitido por Moisés, os Profetas, os Apóstolos, os Pais Apostólicos e os Pais da Igreja (Efésios 2.20). Os reformadores não queriam criar uma nova Igreja. Os reformadores não repudiavam o catolicismo da igreja (sua universalidade), mas o romanismo (erros, desvios e superstições). Os reformadores queriam reformar a Igreja de sempre, cujos fundamentos estavam bem estabelecidos.

Os proto-reformadores Os Valdenses (ou huguenotes) São uma denominação cristã que teve sua origem entre os seguidores de Pedro Valdo um comerciante de Lyon que iniciou seu movimento por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou a sua atividade e seus bens, que repartiu entre os pobres.

Os proto-reformadores Os Hussitas Jan Hus foi um professor universitário na Charles University em Praga e um firme defensor das ideias do Inglês John Wycliffe. Hus defendia a fé baseada na Bíblia, defendendo sua autoridade como a única que deveria ser aceita pelos cristãos Defendia também que a eucaristia deveria ser realizada através do pão e do vinho e ministrada a todos (leigos e clérigos) em oposição ao ensino romano.

Os proto-reformadores Os Morávios Início no Século XIV. A missão principal de um sacerdote é pregar as Escrituras. A Bíblia dever ser acessível a todos nas várias línguas vulgares. Os irmãos morávios exerceram uma forte influência espiritual sobre outros grupos e movimentos protestantes, especialmente na Inglaterra. A convivência com alguns morávios causou profundo impacto em João Wesley e contribuiu para a sua conversão e o surgimento do metodismo.

vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de Sir Isaac Newton A Reforma Protestante foi um movimento cristão reformista deflagrado no início do século XVI por Martinho Lutero que, abraçando as idéias dos préreformadores, publica suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517. SOLA GRATIA SOLA FIDES SOLO CHRISTUS SOLA SCRIPTURA SOLI DEO GLORIAE

A Bíblia e a Reforma a necessidade No início, o apreço dos cristãos pelas Escrituras era tanto, que muitos chegavam a usá-las de modo supersticioso. Era comum abrir a Bíblia ao acaso e lerem o primeiro versículo que encontrassem, considerando como uma resposta divina direta.

A Bíblia e a Reforma a necessidade A reação da Igreja a esta prática popular errada foi: Reprimi-la púplica e repetidamente pelos concílios da Igreja. Permitir um crescente distanciamento entre a Bíblia e os crentes. Consequentemente: O Magistério e a Tradição encobriram [e na prática substituíram] a Bíblia na tomada de decisões. A interpretação alegórica dos textos sagrados foi usada pela Igreja para fundamentar certos dogmas que simplesmente não se encontravam claros no texto sagrado.

A Bíblia e a Reforma a oportunidade Dois fatores contribuíram para popularização da Bíblia no final da Idade Média: a invenção da imprensa, em meados do Século XV, simplificou e barateou substancialmente a produção dos livros. a obra dos chamados humanistas bíblicos. Esses eruditos começaram a estudar a Bíblia nos originais hebraico e grego e produziram valiosas edições críticas desses originais. Com a difusão do conhecimento de grego e hebraico, começaram a surgir traduções para as línguas vernaculares. Na segunda metade do século XV e no início do século XVI, a Bíblia foi traduzida para o alemão, o italiano, o espanhol, o francês, o tcheco, o inglês e outros idiomas europeus.

A Bíblia e a Reforma ad fontes Os humanistas seculares difundiram o lema ad fontes, de volta às fontes (no caso, à literatura greco-romana). Os reformadores fizeram o mesmo com a Bíblia, a verdadeira fonte da tradição cristã. Compararam os ensinos Bíblicos com a Tradição dogmática e Magisterial da Igreja. Descobriram conflitos insolúveis, e perceberam que a Escritura devia ter a precedência. Se a Igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, então não foi a Igreja que formou a Escritura, mas o contrário.

A Bíblia e a Reforma - desdobramentos O livre exame das Escrituras. Se a Bíblia é a Palavra de Deus, escrita para a instrução e o encorajamento do povo de Deus, todo cristão tem o direito e o dever de lê-la e estudá-la. Os reformadores conheciam os riscos envolvidos nesse princípio, mas mesmo assim resolveram assumi-los. Houve, então, o entendimento de que livre exame não significa livre interpretação, meramente pessoal, subjetiva, aleatória. Os reformadores produziram comentários dos livros da Bíblia levando em consideração o que havia de melhor na tradição exegética da Igreja Antiga.

A Bíblia e a Reforma pra nós... Os reformadores criam na Bíblia como sendo a Palavra inspirada de Deus. Consideravam a Bíblia como a autoridade suprema e como côrte final em disputas teológicas. Onde a Bíblia fala, nós falamos; onde a Bíblia se cala, nós nos calamos Thomas Campbel Infalibilidade da Igreja Infalibilidade da Bíblia.

A Bíblia e a Reforma pra nós... Lutero...desejava encontrar Cristo em todas as partes da Escritura Melanchthon... a Escritura deve ser entendida gramaticalmente antes de ser entendida teologicamente; Calvino... a primeira função de um intérprete é deixar o autor dizer o que ele diz, ao invés de atribuir a ele o que pensamos que ele deveria dizer.

O Método Histórico-Gramatical A expressão Interpretação HISTÓRICA leva em consideração o contexto histórico, a criação e circunstâncias em que as palavras da Bíblia foram escritas. O intérprete deve, portanto, esforçar-se para, do presente, transportar-se para a posição histórica de seu autor, olhar através de seus olhos, observar o seu entorno, sentir com o seu coração, e pegar sua emoção.

O Método Histórico-Gramatical A expressão Interpretação GRAMATICAL enfatiza o impacto que o estilo gramatical desempenha em qualquer determinado texto. A forma de um texto geralmente diz muito sobre a sua interpretação. Uma parábola deve ser lida de forma diferente do trecho de uma carta. Este por sua vez é diferente de uma profecia, de um salmo, de um provérbio, de uma lei ou de uma história de milagre. O texto, então, deve ser interpretado levando-se em conta a sua forma literária.

O Método Histórico-Gramatical O método histórico-gramatical procura identificar, através das palavras registradas no texto, a intenção do autor. Três etapas: (1) o que o texto diz, (2) o que quer dizer, e (3) o que quer dizer para nós hoje. O intérprete procura deixar que o autor diga o que ele de fato quer dizer, em vez de atribuir-lhe o que pensa que ele deva dizer (Calvino).

Uma Reflexão... Rev. Jasiel Botelho, em comentário oral nos dá um importante insight sobre a importância da Bíblia para o Cristão Reformado do Século XXI: A Bíblia foi escrita em grego e hebraico populares. Uma pessoa com capacidade mediana possui um vocabulário de aproximadamente 1.500 palavras, podendo se estender até 3.000 no caso dos grandes leitores. Quando João Ferreira de Almeida traduziu a Bíblia, usou um Português clássico que tem mais de 10.000 vocábulos algo que somente alguns eruditos são capazes de alcançar. A maioria da população tem dificuldade de entender a Bíblia não por causa de sua mensagem, mas por causa da sua linguagem.