APELANTE: APELADOS: RELATOR: ALMIR ALVES DE SOUZA DELPHOS SERVIÇOS TÉCNICSO S.A. BRADESCO SEGUROS S.A. Desembargador MARIO ASSIS GONÇALVES Ação de cobrança. Seguro obrigatório (DPVAT). Danos morais. Termo inicial da incidência dos juros. Citação. Rateio das custas e compensação da verba honorária. Sucumbência recíproca. Nos termos do art. 20, caput, do Código de Processo Civil, que adota o princípio da sucumbência, a sentença condenará o vencido, ou seja, aquele que perdeu a demanda, a pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios ao patrono do vencedor. Nas hipóteses em que tal critério não seja suficiente, deve-se levar em consideração para fixar tal condenação o princípio da causalidade segundo o qual incumbe àquele que deu causa à propositura da demanda a responsabilidade pelo pagamento das despesas dela decorrentes. Ocorre, porém, que, sendo cada litigante em parte vencedor e vencido, deve-se aplicar a regra contida no artigo 21 do Código de Processo Civil, com distribuição recíproca e proporcional das despesas e honorários. No caso em análise, o apelante restou parcialmente vencedor na demanda ajuizada para receber a diferença relativa ao seguro obrigatório DPVAT e indenização por danos materiais e morais, estando correta a determinação de rateio das custas e compensação da verba honorária. O apelante havia requerido na inicial indenização por danos materiais no valor de R$ 5.443,50, relativa à diferença do seguro e de R$ 9.000,00, referentes à diminuição de sua capacidade laborativa, além de R$ 12.000,00, pelos danos morais sofridos, sendo, evidente, que decaiu da metade dos pedidos. Melhor sorte não lhe assiste no que pertine aos juros moratórios aplicáveis à indenização por danos morais. A hipótese cuida de responsabilidade contratual, devendo-se aplicar a regra contida no verbete sumular nº 54 do Superior Tribunal de justiça, a contrário senso. De fato, em relação à indenização securitária, aquela corte superior já se pronunciou sobre o termo inicial dos juros moratórios, tendo sido editado o verbete sumular nº 426. Recurso ao qual se nega seguimento. D E C I S Ã O (Art. 557, caput, do CPC) Cuida-se de ação de cobrança de seguro obrigatório DPVAT proposta por Almir Alves de Souza em face de Delphos Serviços Ténicos S.A e Bradesco Seguros S.A. em razão de incapacidade permanente decorrente de acidente de trânsito ocorrido em abril de 2004. Afirma que não recebeu a integralidade o valor que lhe era devido, pretendendo receber Pág. nº 1
diferença relativa ao seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre DPVAT, além de indenização por danos materiais, no montante de R$ 9.000,00 (nove mil reais) e danos morais. Contestação (fls. 54/66). Réplica (fls. 71/73). Ata da audiência de conciliação (fls. 98) Decisão saneadora (fls. 100). Laudo pericial (fls. 136/141). Sentença (fls. 151/153) julgando extinto o processo em relação ao segundo réu, na forma do artigo 267, IV, do Código de Processo Civil e condenando o autor nos ônus de sucumbência, observada, porém, a gratuidade que lhe foi deferida. Em relação ao primeiro réu, o magistrado julgou parcialmente procedentes os pedidos, condenando-o ao pagamento de R$ 721,00 referentes à diferença percentual encontrada entre o laudo pericial produzido pela empresa e o perito do juízo, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de 1% ao mês contados do pagamento a menor. O magistrado condenou o primeiro réu, ainda, ao pagamento de R$ 2.000,00, a título de danos morais, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de 1% ao mês a contar da citação. Por fim, determinou o rateio das custas e a compensação dos honorários, considerando a sucumbência recíproca. Inconformado, o autor apelou (fls. 155/164) requerendo a reforma da sentença a fim de que os juros moratórios arbitrados para o dano moral incidam a contar do evento danoso, bem como para que o primeiro réu seja condenado integralmente nos ônus de sucumbência, ressaltando que não houve na hipótese sucumbência recíproca. Contrarrazões (fls. 176/195). É o relatório. Vistos e examinados, passo a decidir. A sentença não merece reparos. Nos termos do art. 20, caput, do Código de Processo Civil, que adota o princípio da sucumbência, a sentença condenará o vencido, ou seja, Pág. nº 2
aquele que perdeu a demanda, a pagar as despesas processuais e honorários advocatícios ao patrono do vencedor. Nas hipóteses em que tal critério não seja suficiente, deve-se levar em consideração para fixar tal condenação o princípio da causalidade segundo o qual incumbe àquele que deu causa à propositura da demanda a responsabilidade pelo pagamento das despesas dela decorrentes. Sobre a matéria, leciona Humberto Theodoro Júnior: Adotou o Código, assim, o princípio da sucumbência, que consiste em atribuir à parte vencida na causa a responsabilidade por todos os gastos do processo. Assenta-se ele na idéia fundamental de que o processo não deve redundar em prejuízo da parte que tenha razão. Por isso mesmo, a responsabilidade financeira decorrente da sucumbência é objetiva e prescinde de qualquer culpa do litigante derrotado no pleito judiciário. Para sua incidência basta, portanto, o resultado negativo da solução da causa, em relação à parte. (in Curso de Direito Processual Civil, vol. I, 2005, pág. 101). Trago a lume a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. LITISCONSORTE PASSIVO. EXTINÇÃO DO PROCESSO EM RELAÇÃO À PARTE ILEGÍTIMA. HONORÁRIOS. CABIMENTO. 1. A exclusão da lide de parte considerada ilegítima em litisconsórcio passivo inicial torna inequívoco o cabimento de verba honorária pelo sujeito passivo processual responsável pela inclusão indevida, por força da sucumbência informada pelo princípio da causalidade. 2. A regra encartada no artigo 20, do CPC, fundada no princípio da sucumbência, tem natureza meramente ressarcitória, cujo influxo advém do axioma latino victus victori expensas condenatur, prevendo a condenação do vencido nas despesas judiciais e nos honorários de advogado. 3. Deveras, a imposição dos ônus processuais, no Direito Brasileiro, pauta-se pelo princípio da sucumbência, norteado pelo princípio da causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à instauração do processo deve arcar com as despesas dele decorrentes. 4. É que a atuação da lei não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte a cujo favor se efetiva; por ser interesse do Estado que o emprego do processo não se resolva em prejuízo de quem tem razão. 5. Hipótese em que autora ajuizou ação ordinária em face do Estado do Rio Grande do Sul, o qual apresentou contestação, suscitando sua ilegitimidade passiva, que foi acolhida. 6. Precedente desta Corte: REsp 647830/RS, desta Relatoria, DJ de 21.03.2005. 7. Recurso especial provido, mantido o mesmo percentual da sentença, mas, em favor da Fazenda Pública. Pág. nº 3
(REsp 824702/RS Recurso Especial 2006/0044094-4 Primeira Turma Rel.: Ministro LUIZ FUX Julgamento: 13/02/2007 Data da Publicação/Fonte: DJ 08.03.2007 p. 171). Grifei. Ocorre, porém, que, sendo cada litigante em parte vencedor e vencido, deve-se aplicar a regra contida no artigo 21 do Código de Processo Civil, com distribuição recíproca e proporcional das despesas e honorários. No caso em análise, o apelante restou parcialmente vencedor na demanda ajuizada para receber a diferença relativa ao seguro obrigatório DPVAT e indenização por danos materiais e morais, estando correta a determinação de rateio das custas e compensação da verba honorária. De fato, o apelante havia requerido na inicial indenização por danos materiais no valor de R$ 5.443,50, relativa à diferença do seguro e de R$ 9.000,00, referentes à diminuição de sua capacidade laborativa, além de R$ 12.000,00, pelos danos morais sofridos, sendo, evidente, que decaiu da metade dos pedidos. Melhor sorte não lhe assiste no que pertine aos juros moratórios aplicáveis à indenização por danos morais. A hipótese cuida de responsabilidade contratual, devendo-se aplicar a regra contida no verbete sumular nº 54 do Superior Tribunal de justiça, a contrário senso. De fato, em relação à indenização securitária, aquela corte superior já se pronunciou sobre o termo inicial dos juros moratórios, tendo sido editado o verbete sumular nº 426, cujo teor se transcreve: Os juros de mora na indenização do seguro DPVAT fluem a partir da citação. fluminense: Adotando tal entendimento, trago à colação jurisprudência CIVIL. CONTRATO DE SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. INDENIZAÇÃO. SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE AO TEMPO DA LIQUIDAÇÃO.Ação de cobrança de seguro obrigatório de veículo automotor por morte do marido da Autora.Rejeita-se a preliminar de falta de interesse processual, pois o prévio requerimento administrativo não configura óbice ao direito de ação.a indenização do seguro DPVAT deve ser quitada na forma da Lei nº 6.194/74 pelo valor do salário mínimo vigente quando da liquidação do sinistro. Nas ações fundadas em relação contratual os juros de mora fluem da citação. Primeiro recurso provido, desprovido o segundo apelo. (TJRJ. Décima Sétima Pág. nº 4
Câmara Cível. Apelação Cível nº 0029462-19.2008.8.19.0001. Rel. Des. Henrique de Andrade Figueira. Julgamento: 04/04/2012). Grifei. E mais: AGRAVO INOMINADO NA APELAÇÃO CÍVEL. DPVAT. COMPETÊNCIA NORMATIVA DO CNSP - PREVALÊNCIA DA LEI FEDERAL. SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO PAGAMENTO PARCIAL.1. Ab initio, a preliminar de falta de interesse de agir deve ser afastada, pois a quitação da indenização recebida não implica renúncia do montante não pago, nem em transação implícita, cabendo a cobrança da diferença em juízo, segundo verbete nº 86 da Súmula da Jurisprudência do TJ/RJ.2. Instruções editadas pelo CNSP não revogam o previsto em lei federal. Precedente do TJRJ. 3. O valor da indenização deve ser proporcional ao percentual de incapacidade permanente, até porque o artigo 3º, alínea "b", da Lei nº 6.194, de 19 de dezembro de 1974, vigente à época do acidente, estabelecia o valor máximo para a indenização, qual seja, até 40 salários mínimos, portanto, o percentual de invalidez apurado deverá incidir sobre tal valor. Precedentes. 4. É possível a vinculação da indenização ao salário mínimo, pois esta não visa atuar como índice de correção, não estando, assim, em desconformidade com as leis 6.205, de 29 de abril de 1975 e 6.423, de 17 de junho de 1977. Verbete nº 88 da Súmula da Jurisprudência do TJRJ. 5. O salário mínimo utilizado como base para o pagamento de seguro DPVAT é o vigente à época do pagamento administrativo. Precedentes.6. Tratando-se de relação contratual, os juros de mora devem incidir a partir da citação, conforme o verbete 426 da súmula do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes.7. No entanto, correta a sentença a quo ao aplicar a correção monetária a contar da data do pagamento a menor. Precedentes.8. Noutro giro, não merece prosperar o pedido de majoração dos honorários advocatícios, tendo em vista que o montante de 10% (dez por cento) encontra-se em perfeita sintonia com o artigo 20, 3º do Código de Processo Civil e jurisprudência desta Corte. Precedente. 9. Diante da matéria devolvida na apelação cível, restou incontroverso que a incapacidade permanente da autora é de 50% (cinquenta por cento). Desse modo, as alegações trazidas em sede de agravo inominado, voltadas para a questão do grau das lesões sofridas, não serão analisadas. 10. Ausência de interesse de agir quanto ao pedido de impossibilidade de retroação da Medida Provisória nº 451/2008, tendo em vista que nos termos do acórdão recorrido, foi aplicada a lei vigente à época do acidente. Precedente.11. Recurso não provido. (TJRJ. Décima Quarta Câmara Cível. Apelação Cível nº 0006269-04.2006.8.19.0014. Rel. Des. José Carlos Paes. Julgamento: 06/07/2011). Por tais razões, com fulcro no art. 557, caput do Código de Processo Civil nego seguimento ao recurso. Rio de Janeiro, 24 de abril de 2012. Certificado por DES. MARIO ASSIS GONCALVES A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br. Data: 24/04/2012 19:30:20Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0116875-75.2005.8.19.0001 - Tot. Pag.: 5 Pág. nº 5