O PÁTIO/ÁTRIO COMO PRINCIPIO ORGANIZADOR

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Transcrição:

O PÁTIO/ÁTRIO COMO PRINCIPIO ORGANIZADOR Escritórios: Arquitetos Associados, Bernardes Jacobsen e Tacoa Autoria: Ana Elísia da Costa e Luísa Medeiros dos Santos O tipo em arquitetura é um esquema formal abstrato que permite infinitas possibilidades de variação, expressas em modelos específicos. Neste contexto, o pátio/átrio pode ser entendido como um esquema tipológico que se organiza em torno de um ambiente central, o qual tem igual ou menor importância que os demais ambientes a sua volta, comportando-se como um princípio organizador da obra como um todo. 1 O pátio caracteriza-se por ser uma área descoberta em meio à edificação, ao contrário, o átrio é a incorporação desse espaço ao ambiente interno, conectando-se diretamente às áreas que o circundam e geralmente caracterizado pela elevação do pé direito. 2 Este estudo compara três exemplares que demostram a utilização deste tipo específico nas casas contemporâneas brasileiras, sendo eles: a Residência KS (2012), do escritório mineiro Arquitetos Associados (Figura 1a); a casa ML (2010), do escritório carioca Bernardes e Jacobsen Arquitetura (Figura 1b); e a Casa São Roque, do escritório paulista Tacoa (Figura 1c). Como premissa foram utilizados os seguintes questionamentos: Mesmo com arranjos distintos, quais são as soluções em comum utilizadas pelos arquitetos? E como este arranjo responde aos condicionantes estabelecidos por terrenos de diferentes contextos? Figura 1: (a) Residência KS. 2012. Natal- RN. Arquitetos Associados; (b) Residência ML. 2010. Porto Feliz SP. Bernardes e Jacobsen; (c) Casa em São Roque. 2009. São Roque SP. Tacoa Fonte: (a) http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=residencia-ks; (b) http://www.archdaily.com.br/br/755746/casa-ml-bernardes-jacobsen; (c) http://www.tacoa.com.br/# IMPLANTAÇÃO E PARTIDO FORMAL A implantação de uma residência está diretamente ligada às características do lote em que se insere, seu tamanho, geometria e topografia. Deste lote, decorrem também outras variáveis que condicionam o projeto, como parâmetros legais de construção, pressões sofridas pelos edifícios do entorno, orientação solar, vegetação existente, visuais, etc. Portanto, indaga-se como uma mesma tipologia arquitetônica pode responder ou adaptar-se à diferentes contextos. Das três residências estudadas, a única inserida em contexto urbano é a Residência KS, localizada em um terreno estreito de um condomínio privado em Natal - RN, que define rígidos parâmetros volumétricos. As demais caracterizam-se como casas de final de semana, afastadas do ambiente urbano a ML está localizada em Porto Feliz SP; e a São Roque, no alto de uma colina em São Roque - SP. Estas duas últimas estão implantadas em terrenos arborizados e de grandes dimensões, o que reduz as pressões do entorno sobre os projetos (Figura 2). 1 MAHFUZ, Edson da Cunha. Ensaio sobre a razão compositiva. Viçosa: UFV; Belo Horizonte: AP Cultural, 1995. 2 COTRIM CUNHA, Márcio; GUERRA, Abilio. Entre o pátio e o átrio: Três percursos na obra de Vilanova Artigas. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 150.01, Vitruvius, nov. 2012 < http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.150/4591 >.

Figura 2: Implantação das residências em escala 1:1000: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque Em terrenos levemente inclinados, as residências ML e São Roque são assentadas em platôs, que garantem o arranjo térreo das casas-pátio (Figura 3b e 3c). Por outro lado, o terreno plano da Residência KS sofre uma escavação para definir um pavimento semi-enterrado, que, junto com os demais pavimentos, não excede a altura máxima estabelecida pela regulamentação do condomínio (Figura 3a). a) b) c) Figura 3: Implantação e topografia dos terrenos das residências: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque Os diferentes terrenos condicionam utilizações distintas do pátio/átrio. Na São Roque, o pátio é utilizado quase inteiramente para inserção da piscina, provavelmente em função da reduzida extensão horizontal do seu platô. Assim, o seu pátio é também um espaço que absorve as demandas funcionais do programa. Em contraponto, o pátio da ML surge como um jardim e uma fonte de iluminação e ventilação, estando a piscina implantada além dos limites da casa, acomodada em um platô mais extenso do que o observado na São Roque. Já o átrio utilizado pelos Arquitetos Associados é apenas um ambiente que promove a integração visual nas direções horizontal e vertical entre os ambientes. Nos três casos, observa-se a adoção de um partido de volumetria compacta, o qual difere principalmente no tipo de fechamento utilizado. Na residência KS, observa-se que a volumetria parte da adição de volumes empilhados, os quais são cobertos por um invólucro semipermeável (Figura 4a). A residência ML opta por subtrações volumétricas em um prisma originalmente retangular, retirando as periferias e o centro, e assim criando a varanda externa e o pátio, respectivamente.

(Figura 4b). Na São Roque, dois volumes retangulares paralelos, que absorvem as áreas mais compartimentadas, são fechados por planos laterais, definindo as áreas dos estares e do pátio (Figura 4c). Figura 4: Esquemas volumétricos das residências: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque Além da volumetria compacta, a utilização de uma grelha compositiva que se adequa ao contexto do lote também é recorrente nos projetos estudados. O pátio e o átrio, assim como as alas e passagens, são distribuídos a partir dessa grelha, que organiza e relaciona os ambientes internos e externos (Figura 5). Átrio Pátio Figura 5: Grelhas compositivas das residências: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque ARRANJO FUNCIONAL O pátio surge também como um centro organizador dos setores funcionais das residências, no entanto, sem sobrepor-se hierarquicamente a eles. Além disso, a contemplação desse espaço através de um percurso que o circunda e/ou atravessa é uma característica evidente nas casas estudadas. Neste sentido, observa-se dois arranjos recorrentes: 1) o pátio/átrio que se conecta diretamente aos estares sociais e de jantar, seja fisicamente (Figuras 6b e 6c) ou apenas visualmente, como observado na relação do átrio da residência KS (Figura 6a); 2) o pátio/átrio que se conecta diretamente com as circulações, tornando-o um objeto a ser contemplado durante o percurso (Figura 7). Assim, ao redor dos pátios, constrói-se uma complexa rede de circulações, que podem ser espacializadas e/ou sugeridas na periferia das alas.

a) b) c) Figura 6: Relação - pátio/átrio x estares sociais nas residências: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque Fonte: (a) http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=residencia-ks (b) http://www.leonardofinotti.com/projects/ml-house (c) http://www.tacoa.com.br/# a) b) c) Circulação espacializada Átrio Pátio Figura 7: Circulações espacializadas nas residências: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque Em contrapartida à forte integração entre o pátio interno e o setor social da casa, os dormitórios têm suas principais aberturas, e, por conseguinte, suas principais visuais, voltadas para o lado externo da casa. Esse fato pode se dar pelas demandas de privacidade no ambiente íntimo, mesmo que pareça contraditório abrir-se para os olhos de estranhos e/ou vizinhos. Na ML e São Roque, que estão localizadas em terrenos afastados do ambiente urbano e de grandes dimensões, esse problema é amenizado, pois há um natural isolamento em relação ao entorno (Figura 8b e 8c). Na residência KS, localizada em um condomínio com lotes pequenos e vizinhos muito próximos, o problema é abrandado com o uso de uma varanda que é protegida pelo invólucro de tijolos gradeados, consolidando um espaço de transição entre dentro e fora (Figura 8a). a) b) c) Figura 8: Dormitórios nas residências: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque Fonte: Desenhos: MEDEIROS DOS SANTOS, 2015. Fotos: (a) http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=residencia-ks (b) http://www.leonardofinotti.com/projects/ml-house (c) http://www.tacoa.com.br/#

Se por um lado as relações entre estar social e dormitórios com o pátio seguem um padrão nas residências, a inserção dos elementos de composição irregulares difere nos três casos, podendo-se ressaltar apenas dois pontos comuns: 1) tentativa de concentração dos elementos irregulares em núcleos, possibilitando a consolidação de plantas livres ou flexíveis; 2) concentração desses elementos em blocos internalizados ou em núcleos ligados ao perímetro externo, liberando o centro da residência para o desenvolvimento do pátio/átrio. A residência KS, no primeiro pavimento, materializa seus elementos irregulares na periferia da planta, e no segundo pavimento, interpõe a área de sanitários entre os dormitórios (Figura 9a). Mesmo com dimensões similares, as residências ML e São Roque trazem arranjos diferenciados: a primeira dilui os sanitários nos dormitórios e cria uma faixa funcional no perímetro externo da planta (Figura 9b); a segunda utiliza uma faixa periférica (serviço) e uma barra internalizada (banheiros) que configuram a composição das circulações especializadas. (Figura 9c). Figura 9: Elementos irregulares nas residências: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque ESPACIALIDADE Casas com um mesmo arranjo tipológico podem ou não desfrutar da mesma espacialidade, portanto é importante não se deter nas categorias tipológicas tradicionais, incorporando também a análise da tipologia espacial. 3 Para tanto, é necessário traçar percursos ou itinerários arquetípicos e avaliar a experiência que o espaço promove em seu interior, através do movimento. Esses percursos podem ser realizados através de passeios virtuais, possibilitados pela modelagem das maquetes 3D, vindo a construir uma representação que se aproxima da realidade, mas que não a reproduz fielmente. Neste sentido, define-se um itinerário fundamental para a construção da espacialidade doméstica: hall, estar, corredor íntimo e quarto. Ao acessar à casa, o principal ambiente com que se depara é o hall, o qual cumpre o importante papel de realizar a transição entre o ambiente externo e o ambiente interno, entre o público e o privado. Nas casas estudadas, não há um padrão em relação a este espaço. Na residência KS, o hall configura um espaço semiaberto, com pé direito duplo e fechamento em vidro, que estabelece uma pequena compressão espacial na passagem do exterior para o interior (Figura 10a). Na residência ML, o espaço é configurado por uma subtração no volume principal, o que acentua um pouco mais a compressão espacial do que no exemplo anterior (Figura 10b). Por fim, na residência São Roque, nota-se a ausência do hall, estando o ambiente externo ligado diretamente ao setor social, o que, porém, não impede a compressão espacial sofrida pelo plano horizontal regular do teto e pelos planos laterais paralelos (Figura 10c). Ainda que diferentes, os três casos revelam a intenção de antecipar visualmente a experiência espacial que a casa irá oferecer, seja através de planos envidraçados (KS), de uma conexão direta do hall com o pátio (ML) ou de superfícies totalmente translúcidas que separam o exterior do pátio interno (São Roque). Configuram-se assim tensões multidirecionais, com diversos pontos visuais de interesse, e ambientes muito dinâmicos. 3 DA COSTA, Ana Elísia. O gosto pelo sutil: confluências entre as casas-pátio de Daniele Calabi e Rino Levi. Tese (Doutorado em Arquitetura). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

Figura 10: O adentrar nas residências - hall: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque Após acessar, o usuário é acolhido na sala de estar, voltada à convivência de usuários e visitantes. Neste caso, a conexão visual e/ou física entre o pátio/átrio e os estares, já mencionada anteriormente, se torna fundamental para o entendimento da espacialidade, pois é uma característica típica da tipologia arquitetônica aqui estudada. Da sala, observa-se a dinâmica da vida doméstica, seja mais intensamente, como nas residências KS e São Roque (Figuras 11a e 11c), ou mais de maneira mais tênue, como na residência ML, onde as conexões visuais são filtradas pelos painéis de madeira semipermeáveis (Figura 11b). Dessa maneira, nos três casos, há um enriquecimento da dinâmica da casa e uma oferta de diversos pontos focais de interesse ao usuário, configurando uma tensão multidirecional na zona social. Figura 11: O acolher nas residências - estar: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque Fonte: (a) http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=residencia-ks (b) http://www.archdaily.com.br/br/755746/casa-ml-bernardes-jacobsen (c) http://www.tacoa.com.br/# O dormitório é o local onde os usuários se recolhem para sua intimidade, existindo uma maior demanda de privacidade por parte destes. Assim, o que ocorre nos três casos é a redução da dinâmica espacial do quarto em relação ao setor social da casa, porém sem tornar-se um ambiente totalmente estático, principalmente por possuir grandes portas-janela abertas para o exterior da residência, as quais dinamizam o espaço. O alinhamento entre a entrada do quarto e estas grandes

aberturas, notado nos três casos, define também o ponto focal de maior interesse, criando uma tensão unidirecional no ambiente (Figura 12). Figura 12: O recolher-se nas residências - dormitório: (a) KS; (b) ML; (c) São Roque