UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ANA MARIA PORTO DA COSTA



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Transcrição:

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ANA MARIA PORTO DA COSTA AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE VIDA E SAÚDE DE MULHERES IDOSAS ADSCRITAS AO PROGRAMA MÉDICO DE FAMÍLIA DE NITERÓI - ILHA DA CONCEIÇÃO: UMA DISCUSSÃO A LUZ DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Rio de Janeiro 2008

ANA MARIA PORTO DA COSTA AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE VIDA E SAÚDE DE MULHERES IDOSAS ADSCRITAS AO PROGRAMA MÉDICO DE FAMÍLIA DE NITERÓI - ILHA DA CONCEIÇÃO: UMA DISCUSSÃO A LUZ DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Dissertação submetida ao corpo docente da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários á obtenção do grau de Mestre em Saúde da Família. Orientador: Luiz Guilherme Pessoa da Silva Rio de Janeiro 2008

ANA MARIA PORTO DA COSTA AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE VIDA E SAÚDE DE MULHERES IDOSAS ADSCRITAS AO PROGRAMA MÉDICO DE FAMÍLIA DE NITERÓI - ILHA DA CONCEIÇÃO: UMA DISCUSSÃO A LUZ DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Dissertação apresentada à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Saúde da Família Aprovada em BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Luiz Guilherme Pessoa da Silva Universidade Estácio de Sá Profª. Drª. Monica de Assis Instituto Nacional do Câncer/UnATI-UERJ Profª Drª Valéria Ferreira Romano Universidade Estácio de Sá

AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Luiz Guilherme, que se mostrou um ser humano admirável e inesquecível, que com respeito, firmeza, companheirismo e bom humor transformaram esta árdua tarefa em uma experiência gratificante e enriquecedora. À Aline, secretária do mestrado, pela gentiliza em me socorrer quando foi preciso e mesmo à distância. Aos meus colegas de mestrado, Claudia Rabelo, Márcia Augusta, Roberto Funchs e Pedro Rocha pelo companheirismo, trocas e apoio. À Marilza Miranda, coordenadora do Grupo Básico de Trabalho II do Programa Médico de Família, pelo importante apoio em parte desta jornada. À Denise Herbas, pelo apoio e ajuda na garimpagem das informações sobre o PMF - Ilha da Conceição que constam deste trabalho. À Rosidaile, pela grande disponibilidade e apoio. Aos funcionários da Policlínica Comunitária da Ilha da Conceição, em especial à Elza e Sheila, e as Auxiliares de Enfermagem do PMF, Neise, Daise, Ana Lucia e Vânia pelo apoio durante o período de entrevistas. Às entrevistadoras da pesquisa, Maria Cândida, Maria e Jaqueline, que com dedicação, entusiasmo e sensibilidade realizaram a coleta de informações, principais ingredientes deste trabalho. Às professoras Valéria Romano e Mônica Assis pelas contribuições feitas na qualificação e que ajudaram a compor esta tese. Aos amigos Marcia e Haroldo Skaba, presentes em todos os momentos e sempre disponíveis. Aos amigos Cristina, Carlos e Lucia pelo apoio ao cuidar de Gabriel em vários fins de semana.

Ao Paulo, grande companheiro em todas as aventuras da vida em comum. Aos meus filhos, Bruno, Caio e Gabriel, meus três melhores e maiores projetos. Aos meus pais pelo apoio em todos os momentos da minha vida. Às idosas da minha vida e, especialmente, àquelas do Programa Médico de Família de Niterói, por compartilharem suas experiências fazendo da minha vida e do meu trabalho cotidiano um enorme aprendizado.

Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.... Os Estatutos do Homem Thiago de Mello

DEDICATÓRIA À minha família, pelo apoio e compreensão em todos os momentos. À minha irmã Lucia Regina, com muito amor.

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ANG - Associação Nacional de Gerontologia BPC - Benefício de Prestação Continuada CNDI - Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos DATAPREV - Serviço de Processamento de Dados da Previdência e Assistência Social ECG Eletrocardiograma ESF - Estratégia de Saúde da Família HAS Hipertensão Arterial Sistêmica IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IQV - Índice de Qualidade de Vida LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MEEN Mini Exame do Estado Mental MPAS - Ministério da Previdência e Assistência Social NEPE Núcleo de Educação Permanente OMS Organização Mundial de Saúde ONU Organização das Nações Unidas PMF Programa Médico de Família PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio PNI - Política Nacional do Idoso PNSI - Política Nacional de Saúde do Idoso PNSPI - Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa PSF Programa de Saúde da Família

RMV - Renda Mensal Vitalícia SAU - Serviço de Atendimento ao Usuário SBG - Sociedade Brasileira de Geriatria SBGG - Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia SESC - Serviço Social do Comércio SUS - Sistema Único de Saúde THD - Técnico de Higiene Dental UBS Unidade Básica de Saúde UFF - Universidade Federal Fluminense

RESUMO Introdução: Este estudo faz uma revisão das políticas públicas voltadas à população idosa e analisa, sob este enfoque, as condições de vida e saúde de mulheres idosas adscritas ao Programa Médico de Família, na Ilha da Conceição, Niterói, RJ. Material e Métodos: Através de um inquérito domiciliar realizado entre os meses de agosto de 2007 a janeiro de 2008, foram entrevistadas 283 mulheres com 60 anos ou mais, selecionadas através de amostra aleatória simples. Para a avaliação das condições sócio-demográficas, recursos econômicos, recursos sociais, condição de saúde física, utilização dos serviços de saúde, saúde mental, atividades realizadas e necessidades/problemas da população estudada utilizouse o questionário Brazil Old Age Schedule (BOAS), adaptado às necessidades deste estudo. Foram incluídas questões referentes ao conhecimento acerca das políticas públicas direcionadas ao indivíduo idoso. Resultados: A idade da população variou de 60 a 85 anos, sendo que 50% das entrevistadas se encontravam na faixa etária entre 60-69 anos, 43,8% eram viúvas e 65% tinham primário incompleto. Os arranjos familiares foram variados, predominando a composição de casal sem filho, 17,7%. Sessenta e dois por cento da amostra analisada ganha entre um e dois salários mínimos, 78% recebem pensão do marido, 38,9% recebem aposentadoria e 44,2% nunca trabalharam. A renda mensal de 21,2% das idosas estudadas é a única fonte de renda familiar e 41,3% ajudam na despesa da casa. A maioria, 97,9%, das entrevistadas refere pelo menos uma morbidade e 47,2% das idosas analisadas referem piora da condição de saúde nos últimos cinco anos. Os problemas de saúde mais prevalentes foram hipertensão arterial, reumatismo e incontinência urinária. O edentulismo (ausência de dentes) atinge 57,6% do grupo estudado. Grande parte, 79,8%, procura atendimento de saúde no Programa Médico de Família (PMF). Entre as dificuldades encontradas quanto a utilização dos serviços de saúde foram citados dificuldades de acesso ao serviço quando dele necessita, 40,3%, a demora na realização de exames clínicos, 50,9%, a demora na marcação de consultas com especialistas, 39,9%, a falta/irregularidade do medicamento no PMF, 38,9%, e o preço do medicamento na farmácia, 37,1%. A saúde está entre os maiores problemas e carências citadas pelo grupo analisado. A maioria das idosas entrevistadas (83,7%) sente-se satisfeitas em relação à vida e 56,6% têm expectativas para o futuro. Toda a amostra desempenha atividades no tempo livre, mas a maioria destas é desenvolvida no domicílio e no bairro. Atividades culturais e atividades físicas são pouco realizadas pelo grupo estudado. Questões referentes à saúde física e mental estão entre as principais carências e preocupações das idosas entrevistadas. O conhecimento sobre políticas públicas voltadas aos indivíduos idosos é uma realidade para 30% e, destas, 19,4% citaram o Estatuto do Idoso. Quanto aos direitos garantidos pelo Estatuto do Idoso, os mais conhecidos são passe livre e atendimento preferencial ao idoso. Conclusão: As condições de vida e saúde da população estudada ainda estão longe de ser a ideal e demonstram a maior vulnerabilidade das mulheres idosas seja nas condições sócio-demográficas, econômicas, de saúde e pelo desconhecimento das políticas públicas e direitos nelas contidos. Apesar do avanço que as políticas públicas brasileiras representam para a cidadania e a conquista do envelhecimento ativo percebe-se o distanciamento entre a prática e a teoria. O estudo de populações idosas pode nortear revisões das políticas vigentes, que deveriam considerar, como indicado nas Assembléias Internacionais sobre Envelhecimento, as questões de gênero como forma de contribuição para a conquista da equidade. Palavras-chave: envelhecimento, políticas públicas, inquérito populacional, gênero.

ABSTRACT Introduction: This study reviews the public politics turned to the elder people and analyses, under this situation, the life and health qualities of the elder women on the programa Médico de Família, in Ilha do Governador, Niterói, RJ. Methods: In a domiciliary survey made between August 2007 and January 2008, 283 sixth (or more) years old women were interviewed through simple random samples. For the evaluation of the demographic-social conditions, economic resources, social resources, physical health conditions, use of the health services, mental health, activities e needs/problems of the studied population it was used the Brazil Old Age Schedule questionnaire, adapted top this studies needs. It were included questions about the elder individual public politics knowledge. Results: The population average ages has varied from 60 to 80 years old, known that 50% of the interviewed women had between 60 and 69 years old, 43,8% were widowers and 65% had not finished the primary school. The familiar groups were many, mainly the compositions of couple without kids, 17,7%. There was 62% of the analyzed samples earned between 1 and 2 minimum wages, 78% receiving husbands pension, 38,9% receiving retirement wages and 44,2% never worked. The mensal budget of 21,2% of the studied elder women is the only familiar earns and 41,3% helps in the house expenses. The majority, 97,9% of the interviewed has at least one disease and 47,2% has complaints about the health conditions decline in the last 5 years. The most frequent health issues were hypertension, rheumatism and urinary incontinence. The edentulous (teeth absence) were 57,6% of the studied group. A big part, 79,8% searches for health attendance in Programa Médico de Família (PMF). Under the difficulties found with the health services utilization were pointed the poor access when it s needed, 40,3%, the long time in the clinic examination, 50,9%, the long time to the specialists consultancy scheduling, 39,9% the absence of medication in the PMF, 38,9%, the medicines prices at the drugstores, 37,1%. Health is between the biggest issues and needs by what it was said in the analyzed group. The majority of the interviewed elder women (83,7%) feel satisfied with their lives and 56,6% have expectations about the future. All the people interviewed in the group do activities in their free time, but the majority of these activities done inside home or in the neighborhood area. Cultural and physical activities are less practiced by the studied group. Mental and physical health questions are between the main need and worries of the interviewed elders. The elder people public politics is a reality for 30% e, 19,4% of these commented about the Estatuto do Idoso. Conclusion: The studied population s life and health conditions are very far from the desired ones and the major vulnerability of the elder women, the demographic-social, economic, the health and the ignorance about the public policies in it contained. In spite of what the Brazilian s public politics advances represents to the citizenship and the conquer of the active ageing process, there is a perceptive distance between theoretically and practical situations. The elder populations study can guide current political reviews, that should consider, as indicated in the Ageing International Assemblies, the questions of gender as a form of conquering the fairness. Key words: Ageing, Public policies, Population Survey, Gender.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Comparação da população residente total em 1980, 1991 e 2000, Brasil...25 Figura 2: Proporção de idosos por região, no período de 1990-2000, Brasil...28 Figura 3: Crescimento da população com 80 e mais anos entre 1980 e 2025. Brasil...30 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Projeção de crescimento da proporção da população de 60 anos ou mais de idade, segundo o sexo, Brasil, 2000 2020...29 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Aumento projetado da população de mais de 60 anos, em números absolutos e percentuais, entre os anos de 1950 e 2025. Comparação entre vários países...21 Tabela 2: Distribuição dos arranjos familiares da população brasileira, em famílias com idosos, segundo PNAD 1996...33 Tabela 3: Distribuição das características sócio-demográficas da população estudada, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em2008...81 Tabela 4: Distribuição dos recursos econômicos da população estudada, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2008...83 Tabela 5: Distribuição da condição de saúde física da população estudada, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2008...85 Tabela 6: Tabela 6: Distribuição da condição de saúde física da população estudada, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2008...87

Tabela 7: Distribuição da utilização dos serviços de saúde pela população estudada, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2008...89 Tabela 8: Distribuição dos problemas relacionados a aquisição de medicamentos pela população estudada, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2008...90 Tabela 9: Distribuição dos resultados relacionados a saúde mental (satisfação com a vida e expectativas para o futuro) referido pela população estudada, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2008...91 Tabela 10: Distribuição das atividades realizadas pela população estudada no seu tempo livre, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2008...93 Tabela 11: Distribuição das principais necessidades e problemas que afetam a população estudada, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2008...94 Tabela 12: Distribuição do conhecimento acerca do Estatuto do Idoso e os direitos nele garantidos pela população estudada, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2008...96

SUMÁRIO 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS...17 2. REFERÊNCIAL TEÓRICO 2.1. ENVELHECIMENTO, UM FENÔMENO MUNDIAL...19 2.2. BRASIL: COMO ESTAMOS ENVELHECENDO?...23 2.3. FEMINILIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO...38 2.4. POLÍTICAS PÚBLICAS NA ATENÇÃO AO IDOSO...40 2.5. ATENÇÃO BÁSICA EM NITERÓI - O PROGRAMA MÈDICO DE FAMÍLIA (PMF)...66 3. JUSTIFICATIVA...71 4. OBJETIVOS 4.1. OBJETIVO GERAL...72 4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS...72 5. METODOLOGIA 5.1. DESENHO DO ESTUDO...73 5.2. CAMPO DE ESTUDO...73 5.3. POPULAÇÃO FONTE, POPULAÇÃO ALVO E CRITÉRIOS DE INCLUSÃO...74 5.4. TAMANHO E ESTRATÉGIA DE SELEÇÃO DA AMOSTRA DO ESTUDO...75 5.5. INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO...75 5.6. COLETA DE DADOS...78 5.7. ANÁLISE ESTATÍSTICA...79 5.8. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES DE NATUREZA ÉTICA...79 6. RESULTADOS...80 7. DISCUSSÃO...97 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS...113 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...115 10. ANEXOS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO...124 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS...125

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS O processo de envelhecimento populacional, como um fenômeno mundial, vem produzindo impacto variado às diferentes sociedades pelo mundo, gerando diferentes expectativas e preocupações a cerca das possíveis repercussões desse processo para a sociedade. Para países como o Brasil, o envelhecimento populacional, apesar de recente, está ocorrendo rapidamente e é acompanhado por grandes desigualdades sócio-econômicas, culturais e de saúde, evidenciando o desafio a ser superado pela sociedade. Refletindo a diversidade do país, observa-se a heterogeneidade do grupo de idosos, onde as diferenças são marcantes e influenciam as condições de acesso a diferentes serviços. Resultado das relações desiguais de gênero, as condições de vida de muitas mulheres se refletem nas situações atuais de saúde, composição familiar, de renda, educação, de trabalho e oportunidades que as diferencia dos homens idosos. Com maior expectativa de vida, as mulheres que atualmente atingem 60 anos ou mais esperam viver por mais 22 anos. Porém, este maior número de anos vividos deve ser acompanhado por respeito, dignidade e significado (VERAS, 1994; CAMARANO, 2003). É inegável que muito se avançou com relação às questões voltadas a população idosa através das políticas públicas, reconhecendo o cidadão idoso como um novo ator social e o envelhecimento, um direito fundamental. Porém, apesar das políticas internacionais apontarem para a questão da feminização do envelhecimento, esta não foi considerada pelas instituições brasileiras. Nesse contexto, surgiu o interesse de avaliar uma população de idosas inseridas em meu universo de atuação, o Programa Médico de Família de Niterói, no bairro Ilha de Conceição, onde atuo desde 1993. Localizado ao norte do município de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, o bairro apresenta uma população de 7795 indivíduos, com 13,8% de idosos.

O bairro tem uma forte ligação com a indústria naval e pesqueira, além de uma grande capacidade organizativa, que lhes permitiu alcançar relevantes conquistas sociais. Tem boa infra-estrutura, saneamento básico cobrindo grande parte dos domicílios e assistência à saúde realizada através de duas modalidades de atendimento; Programa Médico de Família (PMF), na atenção primária, e Policlínica Comunitária, na atenção secundária, ambos integrados em uma mesma estrutura. A Ilha da Conceição é o único bairro, em Niterói, totalmente coberto pelo PMF. Dada a alta prevalência de idosos, o presente estudo busca contribuir para a discussão ao traçar um retrato das condições de vida e saúde de mulheres idosas moradoras da Ilha da Conceição. Na busca por políticas públicas mais adequadas, pautadas no princípio da equidade, conhecer o perfil das mulheres idosas torna-se relevante para implementação de uma política de inclusão, onde a valorização, a inserção, a participação e o cuidado sejam traduções da garantia de um envelhecimento digno.

2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 ENVELHECIMENTO, UM FENÔMENO MUNDIAL A longevidade é uma das grandes conquistas do século XX, resultado da diminuição da fertilidade e mortalidade da população. No último século, a expectativa de vida aumentou em aproximadamente 30 anos, anunciando um dos maiores desafios sociais da história humana. (KALACHE et al., 1987; OMRAM, 2001; IBGE, 2002; VERAS, 2003; CAMARANO, 2003; SANTOS-PRECIADO et al., 2003). Em 1950, o número de idosos no mundo atingia cerca de 204 milhões de indivíduos. Em 1998, esse contingente alcançava 579 milhões de pessoas; um crescimento de quase 8 milhões de pessoas idosas por ano. Projeções para 2050 indicam que a população idosa irá atingir a marca de quase 2 milhões de pessoas. O número de centenários (100 anos ou mais) aumentará 15 vezes, passando de aproximadamente 145.000 pessoas em 1999, para 2,2 milhões em 2050 (RAMOS, 2003). Nos países ocidentais desenvolvidos o fenômeno do envelhecimento populacional se iniciou ainda no século XIX como conseqüência da evolução social, tecnológica e econômica, se intensificando principalmente após a II Guerra Mundial. Atingindo as populações urbanas e rurais, a melhoria das condições de vida, trabalho e moradia traduziram-se pela urbanização de cidades, melhores condições sanitárias, ambientais e nutricionais no trabalho e residências, melhores oportunidades educacionais e de inserção ao mercado de trabalho e acompanharam a redução da mortalidade (MOREIRA, 1998, GORDILHO et al., 2000, CAMARANO, 2002; PEREIRA et al, 2003)

Porém, apesar de ser comum a associação entre envelhecimento populacional e países desenvolvidos, como os da Europa Ocidental e América do Norte, mais da metade das pessoas com mais de 65 anos viviam em países do Terceiro Mundo em 1960. Entre o grupo de idosos, contudo, poucos ultrapassavam os 85 anos de idade. (UNITED NATIONS, 1985; HOOVER & SIEGEL, 1986; KALACHE et al., 1987). O crescimento da população idosa nos países em desenvolvimento apresenta características próprias. Uma particularidade é a rapidez com que a população envelhece, inclusive entre o grupo dos mais idosos (maiores de 80 anos). Países tradicionalmente jovens, como Nigéria, Brasil e Paquistão, irão ocupar o lugar de países que atualmente têm grande número de idosos, como os países europeus. Observa-se, ao longo das últimas décadas, um aumento vertiginoso da população idosa e, de acordo com os critérios atuais, oito países em desenvolvimento estarão entre os onze países com as maiores populações de idosos em 2025 (Tabela 1). (KALACHE & GRAY, 1985; OMS, 2001). Tabela 1- Aumento projetado da população de mais de 60 anos, em números absolutos e percentuais, entre os anos de 1950 e 2025. Comparação entre vários países. MILHÕES AUMENTO % REGIÕES/ANO 1950 1975 2000 2025 1950-2025 CHINA 42,5 73,3 34,5 284,1 668 % ÍNDIA 31,9 29,7 65,6 146,2 429 % URSS 16,2 33,9 54,3 71,3 440 % EUA 18,5 31,6 40,1 67,3 363 % JAPÃO 6,4 13,0 26,4 33,1 517 % BRASIL 2,1 6,2 14,3 31,8 1.514 % INDONÉSIA 3,8 6,8 14,9 31,2 821% BANGLADESH 2,6 3,3 6,5 16,8 646 % NIGÉRIA 1,3 2,6 6,3 16,0 1.230 % Fonte: ONU, Dies, The world aging situation, 1985 apud Veras (1994).

Outro aspecto desse processo é que a redução da mortalidade não foi acompanhada pela melhora nas condições de vida para grande parcela da população. Na verdade, a questão do envelhecimento populacional nos países em desenvolvimento está atrelada a uma ampla lista de questões sócio-econômicas não resolvidas, tais como a pobreza e a exclusão de crescentes contingentes da população, resultando em uma sociedade com elevados níveis de desigualdade. A mortalidade foi reduzida graças a medidas específicas de saúde pública, porém, caracteriza-se por ser um processo de envelhecimento artificial. Apesar das más condições de vida de grande parcela da população, muitos indivíduos sobrevivem simplesmente porque foram imunizados para algumas doenças ou receberam tratamento específico para outras. Esse fenômeno leva os países mais pobres, como o Brasil, a um duplo encargo na área de saúde: convivem, de um lado, as doenças crônico-degenerativas e de outro, mazelas próprias do subdesenvolvimento como a desnutrição infantil e doenças infectoparasitárias (KALACHE & GRAY, 1985). A condição sócio-econômica e de acesso aos serviços de saúde influenciam na expectativa de vida da população, variando entre países e entre regiões de um mesmo país. No caso brasileiro, a diferença na expectativa de vida entre ricos e pobres chegava a 15 anos em 1997, refletindo a profunda divisão social e econômica existente e que foi acentuada nas últimas décadas (RAMOS et al, 1987; ARANÍBAR, 2001). A expectativa de vida também apresenta diferenças relacionadas ao gênero. A expectativa de vida da mulher é maior que a dos homens, sobretudo nos países desenvolvidos; uma diferença de 7,5 anos em 1980. Para os países menos desenvolvidos, essa diferença é bem menor; cerca de 2,2 anos para o conjunto desses países, podendo chegar a ser invertida. Esse é o caso do Paquistão, por exemplo, onde a expectativa de vida da mulher em 1980 era de 50 anos comparada com 52 anos para o homem, reflexo das desigualdades entre gêneros associado os fatores como acesso a cuidados médicos, alta mortalidade materna e diferenças

quanto à disponibilidade de alimentos de acordo com o sexo das crianças (RAMOS et al, 1987). Ocorrendo em nível sem precedentes, o processo de envelhecimento vem causando transformações demográficas, epidemiológicas, culturais, sociais, econômicas e políticas, tornando-se um desafio para o século XXI. Para os países em desenvolvimento, que ainda não foram capazes de prover as condições necessárias às demandas trazidas pelo novo perfil demográfico, o desafio é ainda maior e aponta para a urgência da mobilização de toda a sociedade na definição de políticas públicas voltadas para a promoção de um envelhecimento cidadão (OMRAM, 2001; IBGE, 2002; LIMA & VERAS, 2003 CAMARANO, 2003). 2.2 BRASIL: COMO ESTAMOS ENVELHECENDO? Até 1970 o Brasil experimentou um processo de crescimento populacional acelerado. Por meio da realização de campanhas sucessivas de educação médica, orientação para controle da natalidade, melhoria das condições sanitárias, melhoria da atenção maternoinfantil com redução da mortalidade e melhorias gerais da assistência médica, entre outros fatores, observou-se queda nas taxas de fecundidade, natalidade e, principalmente, da mortalidade (KALACHE & GRAY, 1985; BRASIL, 2006). O último censo populacional realizado demonstrou uma taxa de crescimento populacional de 1,6% ao ano, no período de 1991 a 2000. A taxa de fecundidade total apresentou redução de 15,4%, passando de 2,6 filhos por mulher, em 1991, para 2,2 filhos, em 2000, e a taxa de natalidade sofreu redução de 10,2% no mesmo período. A esperança de vida ao nascer que era de 60,7 anos, em 1990, passou para 68,5 anos em 2000, correspondendo a um aumento de quase oito anos de vida (IBGE, 2002).

A comparação da pirâmide etária em diferentes períodos permite avaliar o envelhecimento populacional como um processo dinâmico. Entre 1980 e 2000 percebe-se uma diminuição na entrada da população mais jovem, de 0 a 4 anos, com incremento das idades mais avançadas (Figura 1). Embora a fecundidade ainda seja o principal componente da dinâmica demográfica brasileira, é a longevidade que vem progressivamente definindo a evolução da população idosa (IBGE, 2002; BRASIL, 2006). No processo de envelhecimento brasileiro, os idosos ainda constituem uma parcela pequena da população total (8,55%), se comparado com a participação relativa deste grupo na distribuição etária de vários países desenvolvidos aonde os idosos chegam a atingir 15-20% da população. Contudo, é importante ressaltar que nestes países este crescimento aconteceu ao longo de 150-200 anos, enquanto que no Brasil o processo ocorreu em menos de 50 anos (VERAS, 1994). Figura 1: Comparação da população residente total em 1980, 1991 e 2000, Brasil. Fontes: Censo demográfico 1980. Dados gerais, migração, instrução, fecundidade, mortalidade. Brasil. Rio de Janeiro: IBGE,v. 1, t. 4, n.1, 1983; Censo demográfico 1991. Características gerais da população e instrução. Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, n..1, 1996; Censo demográfico 2000. Características da população e dos domicílios: resultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE, p.89, 2001. 1 CD-ROM encartado.

Segundo as projeções da OMS, entre 1950 e 2025, a população de idosos no Brasil crescerá 16 vezes contra cinco vezes a população total. O número de idosos passou de três milhões em 1960, para 7 milhões em 1975 e aproximadamente 17 milhões em 2003, chegando a representar quase 10% da população. Estima-se que alcançará 34 milhões em 2020, colocando o País como a sexta maior população de idosos do mundo (IBGE, 2002; RAMOS, 2003; VERAS, 2003; CAMARANO, 2004; BRASIL, 2005). Para a população brasileira, idoso é o indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos sendo este limite utilizado pelas políticas públicas vigentes direcionadas à população idosa. Este segmento é frequentemente dividido em 3 subgrupos: de 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e os maiores de 80, ou, os mais idosos. Atualmente, a maior proporção de idosos concentra-se na faixa de 60 a 69 anos, constituindo um grupo de idosos mais jovem. Apesar de ser um pequeno contingente, o grupo dos mais idosos tem sido o segmento que mais cresce. Em 1940 compreendiacerca de 10% da população idosa, passando em 2000 a responder por 13%. Percebe-se que, além do crescimento da população idosa, esta também está envelhecendo (ANDERSON, 1998; CAMARANO, 2004; PARAHYBA, 2005). Contudo, o critério idade não pode ser o único parâmetro utilizado para caracterização do segmento idoso. A avaliação dos indicadores sociais demonstra diferença bastante expressiva por gênero, idade, educação, saúde, rendimento, região de residência, composição familiar e atividade econômica, cuja análise permite traçar o perfil desse grupo e perceber, de forma mais nítida, as conseqüências, mudanças, desafios e perspectivas que o envelhecimento populacional traz consigo. A partir dessa avaliação, políticas públicas podem ser formuladas para o melhor enfrentamento dessa nova realidade (PARAHYBA, 1998; CAMARANO, 1999; PEREIRA et al., 2002; CAMARANO, 2004; PARAHYBA, 2005). Os idosos se distribuem geograficamente de forma irregular, apresentando uma grande diferença entre as regiões do País. As regiões mais desenvolvidas, Sudeste e Sul, apresentam

maiores índices de gerontes, 10,5% e 10,4% respectivamente, refletindo padrões de envelhecimento típicos do mundo desenvolvido. Com menor índice de idosos, Centro- Oeste,7,4%, e Norte urbano, 6%, apresentam ainda padrões típicos do Terceiro Mundo. O Nordeste, com 9,2% de população idosa, reflete a conseqüência do êxodo rural ocorrido em tempos passados (ANDERSON, 1998; OMS, 2001; CAMARANO, 2004; PARAHYBA, 2005). Em 2000, o índice de envelhecimento - número de pessoas idosas para cada 100 indivíduos jovens no Brasil, foi de 19,77, variando de 9,77, na Região Norte, a 22,88, na Sudeste. A Região Sul apresentou um índice de 22,60; a Nordeste, de 17,73; e a Centro-Oeste, de 14,29 (IBGE, 2002). Também se observa diferença entre os estados de uma mesma região. Os estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará e Paraíba, por exemplo, têm uma população idosa que já representacerca de 10 a 11% do total da sua população. Uma particularidade pode ser observada nos estados do Ceará e Paraíba, onde a pirâmide etária da população é artificialmente envelhecida. O responsável pelo fenômeno é a migração da população de jovens e adultos jovens para os centros mais desenvolvidos e populosos do país, em busca de melhores oportunidades e qualidade de vida. A proporção de indivíduos na faixa etária de 0 a 14 anos nestes Estados é ainda elevada (CAMARANO, 1999; CAMARANO, 2004; PARAHYBA, 2005).

Figura 2- Proporção de idosos por região, no período de 1990-2000. Brasil. Fonte: IBGE. Censo demográfico, 1991. Brasil Diferenças também são encontradas entre as populações urbanas e rurais. A maior parte da população idosa brasileira é urbana, representando 81% da população idosa em 2000, com predomínio das mulheres. Os homens predominam nas áreas rurais refletindo o resultado dos processos migratórios que contam com a maior participação das mulheres (ANDERSON, 1998; PEREIRA et al., 2002; CAMARANO et al, 2004) Refletindo o panorama mundial, o processo de envelhecimento brasileiro também é uma questão de gênero. As mulheres vêm atingindo maior expectativa de vida ao nascer desde 1950 e, atualmente, a maioria dos idosos brasileiros é do gênero feminino (Gráfico 1). Em 1991 constituíam 5,7 milhões, passando para 8 milhões em 2000 e estimando-se um total de 8,5 milhões de mulheres idosas em 2002. Com relação ao gênero masculino, em 1991 era um total de 4,9 milhões de homens idosos, passando para 6,5 milhões em 2000 e 6,9