Resumo Visão 2050: uma agenda para o Brasil Em relação ao resto do mundo, o Brasil tem demonstrado crescimento otimista e considerado sustentável economicamente. O Programa de Aceleração do Crescimento do governo brasileiro reitera a vontade de fazer do país uma das maiores economias do mundo. O programa prevê estimular o investimento privado e ampliar os investimentos públicos em infraestrutura, especialmente nas áreas de saneamento, habitação, transporte, energia e recursos hídricos. O objetivo das medidas propostas é estimular tanto o crescimento do setor produtivo quanto trazer benefícios sociais. O aumento significativo na demanda por energia em diferentes setores da economia é fruto do aumento do Produto Interno Bruto, do crescimento da população e da intensificação de atividades industriais para que possam acompanhar o ritmo acelerado de crescimento da economia brasileira. Desde a década de 70 houve um aumento de 186% na oferta interna de energia no Brasil, sendo que entre 2000 e 2010 houve um aumento de 42%. Nos próximos anos a perspectiva é de manter a matriz energética em sua maior parte renovável. Ao mesmo tempo, existe a previsão de um grande aumento da demanda de energia, resgatando, para isso, fontes não renováveis. Com o advento do Pré-Sal há grandes expectativas para o aumento da exportação de petróleo no país. Na contramão do plano ambicioso de reduzir as emissões brasileiras de carbono está a proposta de revisão do Código Florestal. Atualmente, ele tem papel fundamental de conter a expansão do agronegócio sobre ecossistemas frágeis. O crescimento econômico do Brasil tem permitido o aumento da renda da população mais pobre e, conseqüentemente, o aumento do poder de compra. Como forma de viabilizar o consumo dessas classes, o financiamento tornou-se um instrumento utilizado por uma grande parcela da população brasileira, onde tudo é comprado a prazo. Apesar da taxa de juros dos empréstimos brasileiros ser muito maior que em outros países, o fácil acesso ao crédito pela população carente e deficitária em educação financeira faz com que o consumo continue crescente. Uma das conseqüências disso está na produção de resíduos. No ano de 2010, segundo pesquisa realizada em 350 cidades que concentram quase metade da população urbana brasileira, 42% do lixo foi destinado de forma incorreta. Com tudo isso, o Brasil se depara com um grande desafio: atender a crescente demanda por recursos naturais e energéticos para o setor produtivo suprir a necessidade de consumo da população e, ao mesmo tempo, garantir sustentabilidade social e ambiental do país. A pergunta latente é: como conciliar o crescimento econômico brasileiro com a conservação dos recursos naturais, com o risco global das mudanças climáticas e o desenvolvimento humano? O projeto Visão 2050 1 Tendo por base o Projeto Vision 2050 do (WBCSD), o (CEBDS), em 1 O projeto Visão 2050 Brasil encontra-se em fase de elaboração e antes de ser lançado oficialmente será disponibilizado para consulta pública aos participantes do processo de construção.
parceria com a PwC Brasil, reuniu em um primeiro momento representantes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, do Ministério do Meio Ambiente mais 42 organizações, entre empresas, ONGs e universidades para contribuir na construção dos caminhos a serem trilhados para que o país possa crescer de forma ambientalmente sustentável e socialmente justa até 2050. De acordo com essa nova perspectiva, em 2050, o Brasil se consolidará como a quarta maior economia do mundo, crescendo cerca de 5% e sendo capaz de oferecer aos seus 260 milhões de habitantes condições para viver bem e respeitando os limites do planeta. De acordo com o estabelecido pelo Vision 2050, por viver bem se entende um nível de vida em que as pessoas tenham acesso e capacidade para financiar educação, saúde, mobilidade, condições essenciais de alimentação, água, energia, habitação e bens de consumo, de modo que tudo isso será sustentado por meio dos recursos naturais disponíveis e sem prejudicar a biodiversidade, o clima e os outros ecossistemas, ou seja, respeitando os limites do planeta. Embora possa parecer utópica, a Visão 2050 Brasil parte de projeções e expectativas traçadas pelas próprias empresas, por órgãos governamentais e pelos especialistas que se dispuseram a participar desse esforço. Pretende-se, assim, criar uma plataforma capaz de orientar as lideranças governamentais, empresariais e da sociedade civil em seu processo de tomada de decisão, tornando o diálogo entre esses segmentos possível e contínuo para evitar que as decisões sejam tomadas de forma isolada gerando conseqüências indesejadas ou pouco vantajosas para os demais e buscando, na medida do possível, uma dinâmica onde todos (poderes econômicos, sociedade e meio ambiente) sejam beneficiados. O processo de obtenção das informações foi feito de maneira totalmente participativa com engajamento de stakeholders. No mapeamento dos stakeholders buscou-se incluir não apenas o setor privado, mas também atores do setor público, associações, terceiro setor, academia, sociedade civil. Os stakeholders não foram consultados apenas para a definição dos pontos relevantes a serem explorados, mas também, durante o Congresso Sustentável 2011, puderam contribuir com novas visões, validando as informações que iriam compor o relatório, e sugerindo soluções que possam resolver as questões identificadas no Estado da Arte. Nos workshops realizados no Congresso Sustentável 2011 foram promovidas reflexões mais profundas acerca do que pode ser feito e como podemos atuar não apenas em longo prazo, mas agindo a partir de agora como agentes de mudanças. Contribuíram durante o evento 141 participantes, representando 95 organizações. Além dos workshops, o relatório obteve informações do Open Space, coordenado pela CoCriar. Isto significa que mais atores engajados com os assuntos identificados como relevantes para o desenvolvimento sustentável do Brasil em 2050 puderam contribuir, construindo um relatório genuinamente com diferentes perspectivas. Por se tratar de um estudo prospectivo, o Relatório Visão 2050 Brasil busca inovar transversalmente entre os mais diversos setores sociais e econômicos do país e, para isso, traz soluções para os desafios identificados, funcionando como uma alavanca que irá servir como um guia na orientação dos diferentes atores, para termos um Brasil melhor em 2050.
Quebrando paradigmas: As ações que possibilitarão um novo país em 2050 Para delinear os caminhos rumo a um futuro sustentável, foram definidas nove áreas temáticas: Valores das Pessoas, Desenvolvimento Humano, Biodiversidade e Florestas, Energia, Edificações, Mobilidade, Consumos e Insumos, Economia e Agricultura. A partir destes temas, foram determinados quais os efeitos de uma tentativa real de desenvolvimento sustentável para as empresas e sociedade, envolvendo mudanças radicais tanto nas políticas a serem concretizadas quanto no estilo de vida do brasileiro. Os elementos transversais e essenciais do caminho demonstram que a alteração de valores e comportamento das pessoas e uma educação universal, política, cidadã e emancipativa são tão importantes quanto o aperfeiçoamento de soluções e inovação tecnológica. Além disso, foram citadas como imprescindível a necessidade de estabelecer uma governança socioambiental em abrangência nacional e local, bem como políticas públicas que incentivem o desenvolvimento sustentável. Em linhas gerais, o caminho traçado inclui: Criar e incorporar indicadores que incluam valores de ativos ambientais e sociais na contabilidade de governo e empresas Capacitar e recapacitar a sociedade brasileira para empregos verdes Revisar e criar marcos regulatórios de modo a incentivar a economia verde e a inovação tecnológica Estimular a emancipação econômica, o acesso à educação, à saúde e à qualidade de vida e desenvolvendo soluções que conduzam a meios de produção, estilos de vida e comportamentos ecoeficientes Incluir no custo dos produtos as externalidades, os serviços ecossistêmicos, a biodiversidade e a água Manter as taxas de redução do desmatamento da floresta Amazônica e estipular metas para reduzir e/ou cessar o desmatamento do cerrado e da caatinga, além de aumentar a produção de florestas plantadas Ampliar e efetivar as atuais Unidades de Conservação Reduzir as emissões de carbono nos mais diversos setores, indo além das metas da Política Nacional de Mudanças Climáticas até 2020 Proporcionar o acesso universal à mobilidade de baixa emissão de carbono e ampliar os investimentos em sistemas de transporte multimodais Aperfeiçoar a utilização de recursos e materiais e investir em processos de reciclagem e de reaproveitamento de resíduos Investir na massificação do uso de fontes alternativas de energia, modificando a matriz energética do país de forma a diminuir os impactos ambientais e sociais resultantes dos processos atuais de geração de energia e reduzindo a dependência dos combustíveis fósseis Instrumentalizar o consumidor para que no ato de compra decida por produtos e serviços de menor pegada ecológica e danos sociais Realizar um planejamento territorial estratégico Sem dúvida, a implementação de tais pontos assim como outros a serem apresentados no relatório - contribuirão para romper o ciclo histórico dos impactos ambientais e a manter os ambientes saudáveis que ainda o território brasileiro possui.
O futuro: O Brasil é referência de economia verde Identificado como grande oportunidade em todos os workshops, o Brasil tem o potencial para liderar o processo de transição para uma nova economia, a economia verde. Esta será pautada em um modelo de produção e crescimento responsável, justo, ecoeficiente e inclusivo. O Brasil pode ser protagonista devido ao grande capital natural, à sua população heterogênea, à economia dinâmica com uma matriz energética predominantemente limpa e ao processo atual de redução das disparidades sociais. As oportunidades ocorrerão nos diversos setores da economia brasileira. O país vem desenvolvendo uma série de instrumentos institucionais, econômicos e tecnológicos destinados a preservar e a utilizar de maneira mais racional e sustentável os recursos naturais. Como exemplo, as Políticas Nacionais de Mudanças do Clima e a de Resíduos Sólidos estabelecem diretrizes e metas a fim de obter melhor desempenho ambiental. Apesar de distintas, as Políticas estão intimamente relacionadas. Com a obrigação de encerrar todos os lixões brasileiros até o ano de 2014, o país terá grande potencial de redução das emissões de gases de efeito estufa proveniente da decomposição de resíduos. Os investimentos atuais e futuros devem ser direcionados para tecnologias relacionadas a energias renováveis, construções ecoeficientes e de recursos e sistemas de transporte de baixo carbono. Para o setor agropecuário, visto como o grande impulsionador da economia brasileira e ao mesmo tempo vilão do desmatamento e, consequentemente, das mudanças climáticas, a grande oportunidade está no investimento em inovação tecnológica e técnicas que aprimorem a eficiência no campo, inclusive com o uso inteligente da biodiversidade, além dos incentivos para proprietários rurais de produção artesanal. Além de benefícios ambientais, a economia verde pode trazer resultados melhores para a geração de emprego e renda quando comparada com o modelo atual de exportação de bens primários e bens intensivos em poluição. Um estudo realizado no Brasil pela Conservação Internacional demonstrou que a geração de maior valor agregado aos produtos pode trazer resultados mais positivos em relação ao crescimento de renda e salários e são menos prejudiciais ao meio ambiente do que a economia baseada em esgotamento de recursos naturais. Entretanto, preparar a população brasileira para assumir postos de trabalho condizentes a essa nova economia é de suma importância. Os investimentos no desenvolvimento de tecnologias limpas e na criação de empregos verdes vêm crescendo rapidamente, porém a sua consolidação depende de maiores incentivos. As cidades brasileiras devem se basear em um planejamento integrado, de modo a transformar, especialmente, a acessibilidade e a mobilidade urbana, a ampliação do saneamento básico em padrões arquitetônicos e construtivos de baixa emissão e de menor intensidade na utilização de recursos naturais não renováveis.
Fazendo acontecer: Para novos compromissos, uma nova agenda Diante dos desafios de transformação da atual economia, as empresas, juntamente com o governo e a sociedade brasileira, têm um longo caminho a percorrer. O processo é trabalhoso, requer mudança de valores e postura e rompe com idéias conservadoras. Portanto, a criação de uma agenda integrada é essencial para que consigamos alcançar um desenvolvimento de fato sustentável em 2050. As empresas deverão estar estruturadas para essa nova era. A transição dependerá de abertura e esforços de todos os setores para inovar e liderar o processo. A dificuldade de analisar positivamente a relação entre desempenho econômico empresarial e responsabilidade socioambiental deverá ser suprida. Diversas experiências demonstram que uma postura responsável das empresas impulsiona a inovação, trazendo competitividade. As empresas competitivas são capazes de adquirir novas competências e gerenciar aquelas existentes, transformando-se frente aos seus concorrentes. No Brasil, as empresas têm como grande responsabilidade ditar o ritmo e a direção do progresso tecnológico. Juntamente com avanços no conhecimento básico e consumidores mais conscientes, as política públicas induzirão processos produtivos eficientes, menos intensivos na utilização de recursos não renováveis e geradores de poluição. O presente documento apresenta diretrizes e tendências setoriais, assim como caminhos para alcançarmos o desenvolvimento sustentável no Brasil em 2050. A todos, desejamos uma boa leitura e que o presente documento possa cumprir sua função enquanto plataforma para a orientação e construção de uma nova agenda para as empresas e sociedade brasileira.