Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Incidência de Hipertensão Arterial em uma Capital Brasileira: Estudo de Base Populacional Fábio Liberali Weissheimer Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva - UFMT, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva Área de concentração: Saúde Coletiva Linha de Pesquisa: Epidemiologia Orientador: Prof. Dr. Luiz César Nazário Scala Cuiabá-MT 2011
Fábio Liberali Weissheimer Incidência de Hipertensão Arterial em uma Capital Brasileira: Estudo de Base Populacional Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva - UFMT, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva Área de concentração: Saúde Coletiva Linha de Pesquisa: Epidemiologia Orientador: Prof. Dr. Luiz César Nazário Scala Cuiabá-MT 2011
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA Avenida Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Boa Esperança - Cep: 78060900 -CUIABÁ/MT Tel : (65) 3615-8884 - Email : Não Informado FOLHA DE APROVAÇÃO TÍTULO : " Incidência de hipertensão arterial em uma capital brasileira: estudo de base populacional." AUTOR : Mestrando FABIO LIBERALI WEISSHEIMER Dissertação defendida e aprovada em 05/10/2011. Composição da Banca Examinadora: Presidente Banca / Orientador : Doutor LUIZ CESAR NAZARIO SCALA Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Interno: Doutora DELMA PERPETUA OLIVEIRA DE SOUZA Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Externo: Doutor JOSÉ FERNANDO VILELA MARTIN Instituição : INEP/DAES CUIABÁ,05/10/2011.
Dedico esta Dissertação, A todos que pela minha vida passaram e fizeram chegar onde estou e ser quem sou. Aos meus familiares, meus pais Remi e Celita, minha esposa Talitha, meus sogros Valdir e Sandra e minha filha Maria Thereza.
AGRADECIMENTOS A Deus, pelo zelo e cuidado, comigo e minha família, permitindo que eu construísse este caminho. Ao meu orientador Prof. Dr. Luiz Cesar Nazário Scala, pelos ensinamentos desde a graduação, pela dedicação, amizade e exemplo. Á minha turma de mestrado/2009, em especial às amigas Lúcia e Gisela, pelo convívio, ensinamentos, alegrias, partilhas e comemorações. Aos meus alunos da Medicina, que me ajudaram na pesquisa de campo. Aos meus irmãos Bere, Régis e Junior, que contribuíram muito para esta tese. Aos amigos Godoy, Luciano, Juliano, Giovana, Ricardo e Huark, que sempre estiveram disponíveis para assumir minhas funções para que eu pudesse me dedicar ao mestrado. A todos meus queridos amigos, que constituí durante esses anos de vida acadêmica em Cuiabá-MT. Á Universidade Federal de Mato Grosso, por ser um celeiro de oportunidades. Ao Instituto de Saúde Coletiva, Professores e Secretários, pelo acolhimento, dedicação e paciência.
RESUMO Weissheimer FL. Incidência de hipertensão arterial em uma capital brasileira: estudo de base populacional [dissertação de mestrado]. Cuiabá-MT: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso; 2011. 116 f. Introdução: A hipertensão arterial sistêmica (HA) é uma condição sistêmica que envolve alterações estruturais das artérias e do miocárdio, gerando níveis de pressão arterial (PA) sustentadamente elevados. De causalidade multifatorial é grande problema de saúde devido às altas prevalência, morbidade, mortalidade e custos. Estudos brasileiros sobre incidência de HA são raros. Estudo feito em 2008 em Porto Alegre-RS pontuou que 80% dos pré-hipertensos, entre 40 e 50 anos, terão HA em 10 anos. Desta forma, torna-se pertinente estudar a incidência da HA em Cuiabá-MT para que se obtenham informações técnico-científicas que subsidiem políticas de combate a HA. Objetivo: Analisar a incidência de HA e fatores associados em préhipertensos em Cuiabá-MT. Método: Coorte prospectivo de base populacional aprovado pela CEP/HUJM com acompanhamento em 6,8 anos de população fonte de 400 pré-hipertensos entre 2003 e 2010. Foram usadas estatísticas descritivas e inferenciais, risco relativo (IC 95%), teste de qui-quadrado de Pearson, p<0,05 e regressão múltipla de Poisson robusta. Resultados: População amostral de 171 indivíduos, 61,9% homens e 38,1% mulheres, idade média de 46,6 anos. Tempo de follow up de 6,8 anos. Média de anos de estudo de 9,5 anos. Renda média per capita de R$ 902,20. Foi observado no estudo que: 10,5% dos entrevistados admitiram consumir sal em excesso; 76,6% tomam café diariamente; 26,9% são sedentários; 13,4% fumam cigarros diariamente e 28,6% são obesos. A incidência de HA geral foi de 58,5% sendo que 86% destes estavam com PA descontrolada. Estratificando por exposição, a incidência de HA encontrada foi de 63,8% em indivíduos com renda per capita menor que 2 salários mínimos; 65,7% em indivíduos que consomem café diariamente; 71,7% nos sedentários e 77,6% nos obesos. Após regressão, mantiveram associadas ao desfecho HA às exposições (fatores de risco): obesos (p<0,001), tempo de assistir à televisão maior a 4 horas (p< 0,000), consumo de café
diário (p< 0,005), renda menor que 2 salários mínimos (p< 0,041), número de moradores maior que 4 (p<0,047) e idade maior que 60 anos (p<0,000). Conclusão: O estudo demonstrou que há risco de 86% de um pré-hipertenso residente na área urbana de Cuiabá-MT desenvolver HA em 10 anos, e que a mesma está associada a fatores de risco conhecidos, em sua maioria modificáveis. Algumas associações sugerem maior estudo. Adoção de políticas de prevenção, tratamento e controle desta moléstia são necessárias. Palavras-chave: Hipertensão Arterial. Pré-hipertensão. Incidência. Epidemiologia. Doenças Cardiovasculares. Fatores de Risco Cardiovascular. Saúde Pública em Cuiabá.
ABSTRACT Weissheimer FL. Arterial hypertension incidence on a Brazilian capital: Population-based study [Master s Dissertation].Cuiabá-MT: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso; 2011. 116 f. Background: The systemic arterial hypertension is a systemic condition which involves structural alterations of the artery and of the myocardium, generating continuously high levels of blood pressure. Of multifactorial causality, it is a great health issue due to its high prevalence, morbidity, mortality and costs. Brazilian researches on systemic arterial hypertension incidence are unusual. Research conducted in 2008 in Porto Alegre (RS) stated that 80% of the pre-hypertensive patients between 40 and 50 years will have systemic arterial hypertension in 10 years. Therefore, it is relevant to study the incidence of systemic arterial hypertension in Cuiabá (MT) in order to obtain technical-scientific information that subsidizes prevention policies against systemic arterial hypertension. Objective: To analyze the incidence of systemic arterial hypertension and associated factors on prehypertensive patients in Cuiabá (MT). Methods: Population-based prospective cohort approved by CEP/HUJM, with population of 400 pre-hypertensive patients watched for 6,8 years, from 2003 through 2010. Descriptive and inferential statistics were used, relative risk (Confidence Intervals - CI 95%), Pearson s chi-square test, p<0,05 and multiple Poisson regression with robust variance. Results: Population sample of 171 patients, 61,9% men and 38,1% women, average of 46,6 years old. Follow-up time of 6,8 years. Schooling time of 9,5 years. Average per capita income of R$ 902,20. It was observed in this research that: 10,5% admit high level of salt consumption; 76,6% have daily coffee consumption; 26,9% are sedentary; 13,4% smoke cigarrettes; and 28,6% are obese. General systemic arterial hypertension incidence totaled 58,5%, from which 86% presented uncontrolled blood pressure. Stratified by exposition, the incidence of systemic arterial hypertension found was 63,8% in patients with per capita income below 2 minimum wages; 65,7% in patients that consume coffee daily; 71,7% in sedentary patients; and 77,6% in the obese.
After regression, the following expositions remained associated (risk factors): obese (p<0,001), time spent watching TV higher than 4h (p< 0,000), daily coffee consumption (p< 0,005), income lower than 2 minimum wages (p< 0,041), number of inhabitants higher than 4 (p< 0,047) and age higher than 60 years old (p< 0,000). Conclusion: The research has shown that there is an 86% risk for a patient who is a resident of the urban area of Cuiabá (MT) to develop arterial hypertension in ten years, and this is associated to well known risk factors that are, in majority, modifiable. Some associations might demand a greater study. The adoption of prevention policies, treatment and control of this disease are required. Keywords: Arterial hypertension. Pre-hypertension. Incidence. Epidemiology. Cardiovascular disease. Cardiovascular risk factors. Public Health in Cuiabá.
LISTA DE TABELAS Tabela 1- Tabela 2- Tabela 3- Tabela 4- Tabela 5- Tabela 6- Tabela 7- Tabela 8- Tabela 9- Tabela 10- Classificação da Pressão Arterial, segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão... 25 Classificação da Pressão Arterial, segundo o VII Comitê Nacional Americano de Hipertensão... 25 Distribuição da população de estudo segundo variáveis socioeconômicas e demográficas, Cuiabá-MT, 2010... 60 Distribuição da população de estudo segundo hábitos alimentares e estilo de vida, Cuiabá-MT, 2010... 62 Distribuição da população de estudo segundo estilo de vida, Cuiabá-MT, 2010... 63 Distribuição da população de estudo segundo dados antropométricos: circunferência da cintura, relação cintura/quadril e classificação do índice de massa corporal, Cuiabá-MT, 2010... 64 Distribuição da população de estudo, discriminada por gênero, de acordo com a classificação da pressão arterial das VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão e/ou uso de antihipertensivos, Cuiabá-MT, 2010... 65 Distribuição da população de estudo quanto ao grau de conhecimento, tratamento e controle da hipertensão arterial, Cuiabá-MT, 2010... 65 Incidência de hipertensão arterial, risco relativo, intervalo de confiança (IC 95%), segundo características demográficas e socioeconômicas da população de estudo, Cuiabá-MT, 2010... 67 Incidência de hipertensão arterial, risco relativo, intervalo de confiança (IC 95%), segundo hábito alimentar e estilo de vida da população de estudo, Cuiabá-MT, 2010... 68
Tabela 11- Tabela 12 - Incidência de hipertensão arterial, risco relativo e intervalo de confiança (IC 95%) segundo características antropométricas e estado nutricional da população de estudo, Cuiabá-MT, 2010... 69 Análise das variáveis independentes de incidência de hipertensão da população de estudo, segundo o modelo de regressão múltipla de Poisson, Cuiabá-MT, 2010... 70 Tabela 13- Modelo final de regressão múltipla de Poisson: variáveis associadas ao surgimento da hipertensão arterial na população de estudo, Cuiabá-MT, 2010... 71
LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Gráfico 2- Gráfico 3- Prevalência de hipertensão arterial em estudos populacionais para Pressão Arterial com valores 140/90 mmhg (SCALA et al., 2011)... 23 Idade e gênero versus prevalência de hipertensão arterial em Cuiabá-MT segundo estudo de CASSANELLI (2005)... 29 Incidência de hipertensão arterial (%) por faixa etária (anos) em Cuiabá-MT, 2010 (p<0,005)... 61 Gráfico 4- Incidência de hipertensão arterial (%) por faixa etária (ano) e gênero em Cuiabá-MT, 2010 (p<0,520)... 61 Gráfico 5- Controle da pressão arterial em indivíduos hipertensos em Cuiabá-MT, 2010... 66 Gráfico 6- Incidência (%) de hipertensão arterial segundo fatores de risco em Cuiabá-MT, 2010 (p<0,005)... 72 Gráfico 7- Representação da probabilidade normal dos resíduos no estudo de hipertensão arterial feito em Cuiabá, 2010... 73
LISTA DE FIGURAS Figura 1- Figura 2- Google Maps: área urbana de Cuiabá demarcada com o número de pessoas por setor censitário que participaram do estudo de CASSANELLI, 2005... 44 Google Maps: quadra sorteada em área demarcada de Cuiabá, 2005... 44 Figura 3- Figura 4- Google Maps: casa sorteada, após sorteio da face da quadra sorteada de Cuiabá, 2005... 45. Google Maps: utilização de GPS, GOOGLE MAPS e mapas cartográficos para identificação dos endereços... 53 Figura 5 - Modelo de análise da incidência de hipertensão arterial na população urbana de Cuiabá - MT, adaptado de STUMER et al.(2006)... 55 Figura 6 - Distribuição da população amostral de indivíduos préhipertensos, residentes na região urbana do município de Cuiabá- MT, 2010... 59
LISTA DE ANEXOS Anexo A - Classificação Econômica do Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa... 103 Anexo B - Atestado de qualidade dos equipamentos utilizados no estudo. 104 Anexo C - Questionário utilizado na coleta dos dados... 105 Anexo D - Termo de aprovação: Comitê de Ética em Pesquisa HUJM... 115 Anexo E - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido... 116
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABEP AVE CC CEP DCV DAC DCbV DNT Dr. ES EUA GPS HAS HPSMC HUJM IAM IBGE IC IMC JOINT LOA LDL MAPA MG MT OMS OPAS PA PAD PAS Prof. Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas Acidente Vascular Encefálico Circunferência de Cintura Comitê de Ética de Pesquisa Doença Cardiovascular Doença Arterial Coronária Doença Cerebrovascular Doenças Não Transmissíveis Doutor Espírito Santo Estados Unidos da América Global Positioning System Hipertensão Arterial Sistêmica Hospital Pronto Socorro Municipal de Cuiabá Hospital Universitário Júlio Müller Infarto Agudo do Miocárdio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas Índice de Confiança Índice de Massa Corporal Joint National Committee Lesão em Orgãos-Alvo Low-densitylipoprotein Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial Minas Gerais Mato Grosso Organização Mundial de Saúde Organização Panamericana da Saúde Pressão Arterial Pressão Arterial Diastólica Pressão Arterial Sistólica Professor
RCQ RJ RR RS SAOS SBC SBH SBN SM SP SRAA SUS TCLE TROPHY TV UFG UFMT WHO Relação Cintura/Quadril Rio de Janeiro Risco Relativo Rio Grande do Sul Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono Sociedade Brasileira de Cardiologia Sociedade Brasileira de Hipertensão Sociedade Brasileira de Nefrologia Síndrome Metabólica São Paulo Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona Sistema Único de Saúde Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Trial of Preventing Hypertension Aparelho de Televisão Universidade Federal de Goiás Universidade Federal de Mato Grosso World Health Organization
LISTA DE SÍMBOLOS % Percentual p Nível de significância < Menor R$ Real - moeda brasileira mmhg Milímetro(s) de coluna de mercúrio Maior e igual N Número de indivíduos > Maior vs Versus = Igual h Hora g Grama(s) g/dia Grama(s) por dia cm Centímetros mg/dl Miligrama por decilitro Kg Quilograma mm Milímetro m² Metro(s) ao quadrado Marca registrada P (χ 2 ) Valor em Qui-quadrado de Pearson ± Mais ou menos n Número de indivíduos Menor e igual Nº Número x/semana Vezes por semana Kg/m² Quilograma por metro quadrado x Média Ñ Não
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 19 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 21 2.1 HIPERTENSÃO ARTERIAL: CONCEITO, CAUSA E IMPORTÂNCIA... 22 2.2 HIPERTENSÃO ARTERIAL: CLASSIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO... 24 2.3 FATORES DE RISCO PARA HIPERTENSÃO ARTERIAL... 26 2.3.1 Fatores Não Modificáveis: fatores genéticos, idade, gênero, raça... 26 2.3.1.1 Fatores Genéticos... 26 2.3.1.2 Idade... 27 2.3.1.3 Gênero... 28 2.3.1.4 Raça... 30 2.3.2 Fatores Modificáveis: socioeconômicos, ingestão de sódio, consumo de bebida alcoólica, sedentarismo, obesidade, síndrome metabólica, síndrome da apneia obstrutiva do sono, hábito tabágico... 31 2.3.2.1 Fatores socioeconômicos... 31 2.3.2.2 Ingestão de sódio na dieta... 31 2.3.2.3 Consumo de bebida alcoólica... 32 2.3.2.4 Sedentarismo... 33 2.3.2.5 Obesidade... 34 2.3.2.6 Síndrome metabólica... 34 2.3.2.7 Síndrome da apneia obstrutiva do sono... 35 2.3.2.8 Hábito tabágico... 36 2.4 HIPERTENSÃO E PRÉ-HIPERTENSÃO... 37
2.5 INCIDÊNCIA DE HIPERTENSÃO... 39 3 OBJETIVOS... 40 3.1 OBJETIVO GERAL... 41 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 41 4 MÉTODOS... 42 4.1 DELINEAMENTO AMOSTRAL... 43 4.1.1 Delineamento do estudo e planejamento amostral... 43 4.2 CRITÉRIO DE INCLUSÃO... 45 4.3 CRITÉRIO DE EXCLUSÃO... 45 4.4 DEFINIÇÃO DAS VARIAVÉIS E INSTRUMENTOS DE MEDIDA... 46 4.4.1 Variáveis demográficas e socioeconômicas... 46 4.4.2 Variáveis relacionadas aos hábitos de vida... 47 4.4.3 Variáveis antropométricas... 48 4.5 COLETA DE DADOS... 51 4.5.1 Equipe de campo e treinamento dos entrevistadores... 51 4.5.2 Estudo piloto... 52 4.5.3 Visitas domiciliares e coleta de dados... 52 4.5.4 Controle de qualidade... 54 4.6 ARMANEZAMENTO E ANÁLISE DE DADOS... 54 4.7. ASPECTOS ÉTICOS... 55 4.8 DIVULGAÇÃO DOS DADOS E RESULTADOS ESPERADOS... 56 5 RESULTADOS... 57 5.1 DESCRIÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO... 59 5.1.1 Características demográficas e socioeconômicas... 59 5.1.2 Hábitos alimentares e estilo de vida... 62
5.1.3 Características antropométricas da população de estudo... 63 5.2. INCIDÊNCIA DE HIPERTENSÃO NA POPULAÇÃO DE ESTUDO... 64 5.2.1 Conhecimento, tratamento e controle de hipertensão arterial na população de estudo... 65 5.3 ANÁLISE BIVARIADA... 66 5.3.1 Variáveis demográficas e socioeconômicas... 66 5.3.2 Variáveis alimentares e de hábitos de vida... 67 5.3.3 Variáveis antropométricas e estado nutricional... 69 5.4 ANÁLISE MULTIVARIADA ENTRE AS VARIÁVEIS INDEPENDENTES DO ESTUDO DE INCIDÊNCIA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL... 69 6 DISCUSSÃO... 74 6.1. DESCRIÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO... 76 6.2. INCIDÊNCIA DE HIPERTENSÃO... 77 6.3. ASSOCIAÇÃO ENTRE HIPERTENSÃO E AS VARIÁVEIS DE ESTUDO... 78 7 CONCLUSÕES... 83 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 85 ANEXOS... 102
INTRODUÇÃO 19
1 INTRODUÇÃO De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares (DCV) são responsáveis por 16,7 milhões de mortes por ano. As projeções para 2020 mantêm esses agravos como as principais causas de morte e incapacitação. Atualmente, os países em desenvolvimento contribuem de forma mais acentuada para o ônus dessas doenças do que as regiões desenvolvidas (RAMIRES e CHAGAS, 2005; LIA et al., 2010). No Brasil, estima-se que as DCV sejam as causas de 30% dos óbitos em indivíduos a partir dos 20 anos de idade (DATASUS, 2007). Mesmo porcentual dos dados mundiais em 2001 quanto à distribuição de causas de morte (WHO, 2002). A associação entre risco para desenvolvimento de DCV e elevação da pressão arterial (PA) é exponencial, independente, preditiva e linear (LEWINGTON et al., 2002; SCALA et al., 2011). A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é responsável por cerca de 50% dos óbitos causados pelas doenças cardiovasculares (DCV), principalmente por causar lesões de órgãoalvo (LOA) que culminam com graves vasculopatias, como o infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico (DATASUS, 2007; SBC, SBH, SBN, 2010). Desta forma, a hipertensão arterial sistêmica (HAS/HA) torna-se um dos maiores problemas de saúde pública (LEWINGTON et al., 2002; SCALA et al., 2011). Considerando-se que o risco cardiovascular aumenta a partir de níveis pressóricos normais - 115/75 milímetros de coluna de mercúrio (mmhg), há duas importantes razões para se investigar os portadores de pré-hipertensão (LEWINGTON et al., 2002). A primeira é a probabilidade de progressão para HAS e a segunda é a própria associação de pré-hipertensão com o aumento do risco de DCV. A taxa média de progressão para HAS é de 19% em quatro anos e depende do nível pressórico e da idade (MARTIN e CIPULLO, 2009). Estudos populacionais de incidência de HAS são raros e de difícil execução. No Brasil, existe apenas um estudo com estas características, de base populacional, com características socioeconômicas e de hábitos de vida, totalmente diferente do encontrado em nosso meio. O objetivo deste estudo é analisar a incidência de hipertensão arterial sistêmica e os fatores de exposição para a hipertensão arterial em adultos e idosos pré-hipertensos na população urbana de Cuiabá-MT, ofertando subsídios técnico-científicos às políticas de combate a esta importante moléstia.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 HIPERTENSÃO ARTERIAL: CONCEITO, CAUSA E IMPORTÂNCIA A hipertensão arterial sistêmica é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de PA. Associa-se a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sangüíneos) e a alterações metabólicas com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. É considerada fator de risco para DCV (RAMIRES e CHAGAS, 2005; SBC, SBH, SBN, 2010). A HAS é de causalidade multifatorial, com evidente interação entre fatores genéticos e ambientais tais como obesidade, consumo de sal, estresse psicossocial e outros, diretamente relacionados ao seu desenvolvimento (HARSHFIELD et al., 2009). A combinação de fatores tais como história familiar de hipertensão e exposição a fatores ambientais e de risco como os anteriormente citados promovem a ativação de diversos sistemas, principalmente o sistema nervoso simpático e o sistema renina-angiotensinaaldosterona (SRAA), causando alterações funcionais e estruturais dos vasos sanguíneos com aumento da resistência vascular sistêmica, o principal mecanismo hemodinâmico da hipertensão (MANCIA et al., 1999; SMITH et al., 2004). A HAS constitui-se em um dos maiores problemas de saúde pública devido ao grande número de pessoas acometidas, pela elevada morbidade e mortalidade, além das implicações socioeconômicas para o seu tratamento (KRIEGER e GIORGI, 2005; MALTA et al., 2009; SCALA, 2009; WILLIAMS, 2010). Revisão sistemática quantitativa de 44 estudos em 35 países, entre os anos de 2003 e 2008, revelou prevalência global de HAS de 37,8% em homens e 32,1% em mulheres (PEREIRA et al., 2009). A hipertensão atinge mais de 36 milhões de brasileiros adultos, participando direta ou indiretamente de 50% das mortes por DCV. No Brasil 22 estudos populacionais realizados em todas as regiões, nos últimos 20 anos (critério 140/90 mmhg), revelam elevadas prevalências com variação entre 22,3% e 43,9% e média de 32,5% em adultos com mais de 18 anos de idade - Gráfico 1 (SCALA et al., 2011). Atinge cifras acima de 50% na faixa etária de 60 a 69 anos e 75% acima de 70 anos (SBC, SBH, SBN, 2010). A prevalência média de
hipertensão em 35% de homens e 30% de mulheres, em 22 cidades brasileiras, assemelha-se às taxas de outros países, inclusive os latinos, com características étnico-raciais e socioculturais diferentes (PEREIRA et al., 2009). Estudos de base populacional realizados em áreas urbanas de dois municípios de Mato Grosso, Cuiabá (N=1.699) e Nobres (N=1.003), em amostras aleatórias, mostraram prevalências de hipertensão respectivamente de 33,4% e 30,9% (CASSANELLI, 2005; ROSÁRIO et al., 2009). 100 % 80 60 40 37,9 32,7 44,0 31,5 31,6 35,5 36,4 38,2 33,4 22,3 20 0 São PauloAraraquaraPiracicaba Cotia Catanduva RS Cianorte Goiânia Vitória Cuiabá Gráfico 1- Prevalência de hipertensão arterial em estudos populacionais para Pressão Arterial com valores 140/90 mmhg (SCALA et al., 2011) A morbidade e a mortalidade da HAS estão relacionadas principalmente à vasculopatia de órgãos-alvo, tais como doença cerebrovascular (DCbV), doença arterial coronária (DAC), insuficiência cardíaca, doença arterial obstrutiva periférica, insuficiência renal e aos baixos índices de conhecimento, tratamento e controle da doença (STRELEC et al., 2003; GUS et al., 2004; PIERIN et al., 2004; JARDIM et al., 2007). A associação direta e positiva entre elevação da PA e risco de doença cardiovascular está cientificamente comprovada. Uma metanálise de 61 estudos de coorte, incluindo aproximadamente um milhão de indivíduos, com mais de 56 mil mortes no seguimento, demonstrou haver associação exponencial, independente, preditiva, linear e contínua entre níveis pressóricos e incidência de DCV (LEWINGTON et al., 2002; SCALA et al., 2011).
A população mundial vive um processo de transição epidemiológica caracterizado por mudanças no estilo de vida e padrão alimentar, urbanização, aumento da longevidade e de múltiplos fatores de risco, que conduzem a alterações metabólicas, cujo desfecho é o incremento na prevalência das DCV (PASSARELLI JÚNIOR et al., 2006). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) atualmente a maioria das mortes no mundo é decorrente de doenças não transmissíveis (DNT), em torno de 32 milhões e, destas, mais da metade (16,7 milhões) relacionadas às DCV (WHO, 2002). Estima-se que em 2020 nos países em desenvolvimento, 75% dos óbitos serão decorrentes do envelhecimento populacional, predominantemente relacionados às DCV (WHO, 1998). Similarmente, no Brasil, as DCV representam a principal causa de mortalidade da população, observadas por alta prevalência de DAC e DCbV (PEREIRA et al., 1999; LOTUFO, 2005). No ano de 2007, no Brasil, ocorreram 1.157.509 internações por DCV no Sistema Único de Saúde (SUS), representando 29,4% dos óbitos por DCV em nível nacional e 26% em Cuiabá-MT (BRASIL, 2007). Os riscos de mortalidade por DAC e DCbV aumentam progressivamente com a elevação da PA em todas as faixas etárias, principalmente entre 40 e 89 anos, sem um ponto de corte que determine um limite definido (JNC VII, 2003; DÓREA e LOTUFO, 2004). 2.2 HIPERTENSÃO ARTERIAL: CLASSIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO A HAS é diagnosticada pela detecção de níveis elevados e sustentados de PA pela medida casual, também denominada de consultório (MOTA-GOMES et al., 2011). Embora a HAS seja uma doença caracterizada por alterações hemodinâmicas, tróficas, inflamatórias e metabólicas (síndrome hipertensiva), o diagnóstico dessa situação ainda deve ser realizado por medidas adequadas e repetidas da PA, utilizando-se equipamentos validados e calibrados dentro de ambiente dos consultórios, em mais de uma visita (SBC, SBH, SBN, 2010). As Diretrizes Americana (JNC VII, 2003), Européia (MANCIA, 2007) e Brasileira de Hipertensão (SBC, SBH, SBN, 2010) definem como hipertenso o adulto que apresenta níveis sustentados de pressão arterial sistólica (PAS) 140 mmhg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) 90 mmhg, obtida por medida casual, na ausência de medicação anti-hipertensiva.
As VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (SBC, SBH, SBN, 2010) classificam como PA limítrofe o adulto que apresenta PAS entre 130 e 139 mmhg e PAD entre 85 a 89mmHg, PA normal a PAS entre 120 e 129 mmhg e PAD entre 80 e 84 mmhg e PA ótima quando abaixo destes valores (Tabela 1). Tabela 1- Classificação da Pressão Arterial, segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão CLASSIFICAÇÃO PAS (mmhg) PAD (mmhg) ÓTIMA < 120 < 80 NORMAL 120-129 80-84 LIMÍTROFE 130-139 85-89 HAS ESTÁGIO 1 140-159 90-99 HAS ESTÁGIO 2 160-179 100-109 HAS ESTÁGIO 3 180 110 Fonte: SBC,SBH,SBN, 2010 Por sua vez, o VII JOINT - Comitê Nacional Americano de Hipertensão (JNC VII, 2003) classifica como pré-hipertenso o indivíduo adulto que apresenta PAS entre 120 e 139 mmhg, PAD entre 80 e 89 mmhg e PA normal abaixo destes valores (Tabela 2). Tabela 2-Classificação da Pressão Arterial, segundo o VII Comitê Nacional Americano de Hipertensão CLASSIFICAÇÃO PAS (mmhg) PAD (mmhg) NORMAL < 120 < 80 PRÉ-HIPERTENSÃO 120-139 80-89 HAS ESTÁGIO 1 160 100 HAS ESTÁGIO 2 140-159 90-99 Fonte: VII JOINT, 2003 Outra forma de classificar a HAS é de acordo com sua etiologia. Considerando-se que na grande maioria dos hipertensos (90 a 95%), a etiologia específica não é identificada, a hipertensão é denominada de primária ou essencial. Quando a sua causa é determinada denomina-se secundária (5 a 10% dos casos) (PORTO, 1994; SBC, SBH, SBN, 2010).
Hipertensão arterial secundária é uma forma de hipertensão de etiologia conhecida que pode ou não ser passível de correção (BORTOLOTTO et al., 2011). As causas mais comuns são: nefropatias, renovascular, hiperaldosteronismo primário, síndrome da apneia obstrutiva do sono, coartação de aorta, hipertensão induzida por medicamentos e drogas, entre outras (PORTO, 1994; SBC, SBH, SBN, 2010; BORTOLOTTO et al., 2011). Cabe ressaltar que antes de se investigar as causas secundárias de HAS deve-se excluir principalmente a ocorrência de medidas inadequadas da PA, hipertensão do avental branco, tratamento medicamentoso inadequado, não adesão ao tratamento, bem como, progressão das lesões em órgãos-alvo (LOA), presença de co-morbidades e interação medicamentosa (SBC, SBH, SBN, 2010). 2.3 FATORES DE RISCO PARA HIPERTENSÃO ARTERIAL Fatores de risco para a hipertensão arterial são as características ou condições que, quando presentes, aumentam a probabilidade do seu desenvolvimento. Além da idade avançada, a raça negra, menor escolaridade, história familiar positiva para hipertensão, morar em grandes cidades, excesso de peso, consumo elevado de bebidas alcoólicas, sedentarismo, ingestão excessiva de sal e estresse psicoemocional, são fatores que elevam a prevalência de HA. O conhecimento da distribuição destes fatores é fundamental para o controle e a prevenção da hipertensão. De uma forma didática pode-se classificar os fatores de risco em não modificáveis e modificáveis (SBC, SBH, SBN, 2010). 2.3.1 Fatores Não Modificáveis: fatores genéticos, idade, gênero, raça 2.3.1.1 Fatores Genéticos Cerca de 30% a 40% da variação da PA é determinada por fatores genéticos, no entanto a maioria destes estudos é relacionada com a história familiar de hipertensão, um dos fatores de grande relevância (WILLIAN et al., 1994; BINDER, 2007). MAGALHÃES et al. (1998) ressaltam a forte correlação entre PA de pais e filhos, notadamente entre mães e filhos. Pais com hipertensão determinam maior risco para que seus