Serie Revolucoes. próximos títulos A Declaração de Havana Fidel Castro, apresentado por Tariq Ali

Documentos relacionados
Cinema, televisão e história

Sobre a Prática e a Contradição

Obras de J.-D. Nasio publicadas por esta editora:

Shakespeare. o gênio original

A fantasia O prazer de ler Lacan

BREVE HISTÓRIA DA CIÊNCIA MODERNA VOLUME 4 A BELLE-ÉPOQUE DA CIÊNCIA

Aula 03 1B REVOLUÇÃO FRANCESA I

REVOLUÇÃO FRANCESA. Professor Marcelo Pitana

J.-D. Nasio. A dor de amar. Rio de Janeiro

IDADE CONTEMPORÂNEA A REVOLUÇÃO FRANCESA. Prof. Iair. Prof. Jorge Diacópulos

Rei Luís XVI luxo e autoridade em meio a uma nação empobrecida

Revolução Francesa

A REVOLUÇÃO FRANCESA ( ) COLÉGIO OLIMPO - BH DISCIPLINA: HISTÓRIA PROFESSORA: FABIANA PATRÍCIA FERREIRA SÉRIE/ANO: 8º.

A Evolução da Física

7. Revolução francesa A PARTIR DA PÁGINA 38 ATÉ PÁGINA 47.

AS NOVAS DIMENSÕES DA UNIVERSIDADE: INTERDISCIPLINARIDADE, SUSTENTABILIDADE E INSERÇÃO SOCIAL Uma avaliação internacional

Século XVIII. Revolução francesa: o fim da Idade Moderna

1º Bimestre 2018 História/ Romney CONTEÚDO DO BIMESTRE CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO TÓPICOS DO CONTEÚDO CONTEÚDO DO BIMESTRE. Revolução Francesa

FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA HERMENÊUTICA

Consagração a Maria. Consagração a Maria. Consagração a Maria. Consagração a Maria. Consagração a Maria. Consagração a Maria. Consagração a Maria

INTEIRATIVIDADE FINAL CONTEÚDO E HABILIDADES DINÂMICA LOCAL INTERATIVA. Conteúdo: A Revolução Francesa

REVOLUÇÃO FRANCESA MCC

Mensagens de. Maria. Psicografado e organizado pelas mulheres do Grupo dos Sete Natal RN. Organizadoras:

HISTÓRIA 8 ANO PROF. ARTÊMISON MONTANHO DA SILVA PROF.ª ISABEL SARAIVA ENSINO FUNDAMENTAL

SONIA LEONG ALEXEI BUENO ILUSTRAÇÕES TRADUÇÃO RIO DE JANEIRO Título: Romeu e Julieta. Editora Galera Programa utilizado: InDesign CS3 3ª prova

REVOLUÇÃO FRANCESA. Aula 01- Segundo Semestre 2016 Prevest

Os Deveres dos Pais. Letras. Editora. J. C. Ryle. Tradução Rodrigo Silva

ILUMINISMO, ILUSTRAÇÃO OU FILOSOFIA

AÇAO ANULATÓRIA DA SENTENÇA ARBITRAL

04. REVOLUÇÃO FRANCESA

Teoria das Formas de Governo

Sugestão de Atividades História 8º ano Unidade 4

O DESPERTAR DE UM NOVO TEMPO

REVOLUÇÃO FRANCESA - Marco Histórico: Fim da Idade Moderna. Símbolo: Queda da Bastilha (1789). Lema: Liberdade, Fraternidade, Igualdade.

HISTÓRIA. aula Revolução Francesa II ( )

CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

A interpretação do direito de propriedade em face da proteção constitucional do meio ambiente urbano

Revista do Mestrado de História

Ditadura Militar, Esquerdas e Sociedade

As Revoluções Francesas ( )

Pagina 27 Questão 1 A frase evidencia que as instituições advindas das práticas feudais foram, de fato, superadas a partir da Revolução Francesa.

Antecedentes - O contexto da França no século XVIII. Economia: Agrária sob exploração de base feudal. Manufatureira e bem menos dinâmica do que o

História REVOLUÇÃO FRANCESA PROFº OTÁVIO

Passo a passo da Oração Pessoal

Nancy Maria de Souza

TRABALHO DE RECUPERAÇÃO 1 TRIMESTRE 2016

COLÉGIO INTEGRADO JAÓ

STJ VALERIO DE OLIVEIRA MAZZUOLI IONAL. Curso Elementar *** FORENSE ~ RIO DE JANEIRO

Departamento Curricular de Ciências Sociais e Humanas. Grupo de Recrutamento: 400. Planificação Trimestral de História A. 2º Período.

Sentenças sobre Arte Conceitual

DATA: 03 / 05 / 2016 I ETAPA AVALIAÇÃO ESPECIAL DE HISTÓRIA 8.º ANO/EF

2ª FEIRA 18 de fevereiro

Jesus afirmou: Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância. João 10.10

Plano de Recuperação Semestral 1º Semestre 2016

Acolhe os oprimidos, em sua casa, o Senhor, É seu abrigo! Só ele se faz temer, Pois a seu povo dá força e poder!

Guilherme de Souza Nucci

Não é responsabilidade da editora nem do autor a ocorrência de eventuais perdas ou danos a pessoas ou bens que tenham origem no uso desta publicação.

A Palavra de Deus manda que Seu povo não se conforme com este século (Rm 12:2). Pouquíssimas pessoas, ricas ou pobres, estão fora do alcance do

SEREIS MINHAS TESTEMUNHAS

HISTÓRIA. Professor Marcelo Lameirão REVOLUÇÃO FRANCESA

NIZAMI A CLÁSSICA HISTÓRIA DE AMOR DA LITERATURA PERSA. J ORGE ZAHAR EDITOR Rio de Janeiro. Adaptação em prosa: Colin Turner

A REVOLUÇÃO FRANCESA

Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo

DIREITO CONSTITUCIONAL

Livros do autor publicados por esta editora:

ANTES DE VOCÊ CONFERIR OS ASSUNTOS QUE MAIS CAEM, QUERO APRESENTAR PRA VOCÊ DUAS COISAS...

DEMOCRACIA. Significa poder do povo. Não quer dizer governo pelo povo.

O fado cantado à guitarra

Márcia Valéria Nogueira da Rocha. CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

Vestibular ª Fase HISTÓRIA

REGULAMENTO OFICIAL. Alfabeto Bíblico

MENSAGEM DO BISPO AUXILIAR DOM LAMPRA CÁ ALUSIVA AO ANO 2017

ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA ELEIÇÕES 2010 DEZ QUESTÕES QUE O ELEITOR DEVE SABER. Elaboração: ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA

Dia Mundial das Missões - Coleta Nacional - 20 e 21 de outubro

UM CONSELHO DIVINO AOS MARIDOS: SERMÃO

DIALÉTICA NEGATIVA. Theodor W. Adorno MARCO ANTONIO CASANOVA EDUARDO SOARES NEVES SILVA. Tradução. Revisão técnica

França e as Guerras Napoleônicas. Conteúdo cedido, organizado e editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila

IRMÃO NA HORA DA ANGÚSTIA. 08 de Dezembro de 2011 Ministério Loucura da Pregação. "Em todo o tempo ama o amigo. e na hora da angústia nasce o irmão.

Agosto, o Mês Dedicado às Vocações

FILHOS OU BASTARDOS? 10 de Novembro de 2011 Ministério Loucura da Pregação. "Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos

Um chamado à oração. Letras. Editora. j. c. RyLE. Tradução Rodrigo Silva

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ CURSO DE DIREITO

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ CURSO DE DIREITO

Para que serve tudo isso?

Ricardo Terra. Kant & o direito. Rio de Janeiro

MERENDA ESCOLA. Wilma Amâncio da Silva

EDUCAÇÃO E INTERVENÇÃO CÍVICA

morramos para o mundo e vivamos para Deus.

2ª FEIRA 18 de Fevereiro

ILUMINISMO LUZ DA RAZÃO CONTRA AS TREVAS DA IGNORÂNCIA

"A comunidade política Internacional: caminho para a Paz"

Primado do Direito e Julgamento Justo

Deus fala através do trovão

Pessoas tímidas tendem a se esconder atrás de mecanismos de defesa, como silêncio, vergonha, sensibilidade, etc. São como máscaras.

CRIMES CONTRA A, ORDEM TRIBUTARIA:

O DIREITO DE PROPRIEDADE E O ESTADO MÍNIMO

Guilherme de Souza Nucci

GUERRAS HEGEMÔNICAS. Foi a disputa pelo poder entre as cidades-estados e outros povos

Liberté, Egalité e Fraternité

Transcrição:

Virtude e Terror

Serie Revolucoes Sobre a Prática e a Contradição Mao Tsé-Tung, apresentado por Slavoj Zizek Virtude e Terror Maximilien Robespierre, apresentado por Slavoj Zizek próximos títulos A Declaração de Havana Fidel Castro, apresentado por Tariq Ali Abaixo o Colonialismo Ho Chi Min, apresentado por Walden Bello Jesus Cristo: os Evangelhos Jesus Cristo, apresentado por Terry Eagleton Terrorismo e Comunismo Trótski, apresentado por Slavoj Zizek

Maximilien Robespierre Virtude e Terror apresentado por Slav0j Zizek Textos selecionados e comentados por Jean Ducange Tradução: José Maurício Gradel Rio de Janeiro

Título original: Virtue and Terror Tradução autorizada da primeira edição inglesa, publicada em 2007 por Verso., de Londres, Inglaterra Copyright 2007, Verso Copyright da Introdução 2007, Slavoj Zizek Copyright da edição em língua portuguesa/da edição brasileira 2007: Jorge Zahar Editor Ltda. rua México 31 sobreloja 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 2108-0808 / fax: (21) 2108-0800 e-mail: jze@zahar.com.br site: www.zahar.com.br Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Capa: Sérgio Campante CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Robespierre, Maximilien, 1758-1794 R55v Virtude e terror / Maximilien Robespierre; apresentação por Slavoj Zizek; textos selecionados e comentados por Jean Ducange; tradução, José Maurício Gradel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008 (Revoluções) Tradução de: Virtue and terror Contém glossário e cronologia Inclui bibliografia ISBN 978-85-378-0074-4 1. Robespierre, Maximilien, 1758-1794 Visão política e social. 2. França História Revolução, 1789-1799. 3. Violência política França História Século XVIII. 4. França Política e governo 1789-1799. I. Zizek, Slavoj, 1949-. II. Ducange, Jean-Numa, 1980-. III. Título. IV. Série. CDD: 944.04 08-1341 CDU: 94(44) 1789/1799

sumario Slavoj Zizek apresenta: Robespierre, ou a divina violência do terror 7 parte i 1 2 3 4 5 Robespierre na Assembléia Constituinte e no Clube Jacobino 47 Sobre o direito de voto dos atores e judeus 49 Sobre o marco de prata 51 Sobre a condição dos homens de cor livres 68 Sobre os direitos das sociedades e clubes 70 Sobre a guerra (excertos) 74 parte Ii 6 7 8 9 10 11 12 Na Convenção Nacional 87 Resposta à acusação de Louvet (excertos) 89 Sobre a subsistência (excertos) 103 Sobre o julgamento do rei 112 Projeto de Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 123 Em defesa do Comitê de Salvação Pública e contra Briez (excertos) 131 Relatório sobre a situação política da República (excertos) 139 Resposta da Convenção Nacional ao manifesto dos reis aliados contra a República 155

13 14 15 Sobre os princípios do governo revolucionário 164 Sobre os princípios de moralidade política que devem guiar a Convenção Nacional na administração interna da República 177 Discurso de 8 de termidor do ano II (excertos) 199 Notas da Introdução 219 Glossário 222 Cronologia 227 Fontes utilizadas 229 Observações sobre a tradução 230 Sugestões de leitura 232

168 Virtude e Terror O que se deve fazer? Perseguir os inventores culpados dos sistemas pérfidos, proteger o patriotismo, mesmo em seus erros; esclarecer os patriotas, e elevar sem cessar o povo à altura de seus direitos e de seus destinos. Se não adotais essa regra, perdeis tudo. Se fosse preciso escolher entre um excesso de fervor patriótico e o nada da incivilidade, ou o marasmo do moderantismo, não haveria dúvidas. Um corpo vigoroso, atormentado por uma superabundância de seiva, perde mais recursos que um cadáver. Livremo-nos principalmente de matar o patriotismo ao querer curá-lo. O patriotismo é ardente por sua natureza. Quem pode amar friamente a pátria? Ele é particularmente o dom dos homens simples, pouco capazes de calcular as conseqüências políticas de uma atitude cívica por esse motivo. Que patriota, mesmo esclarecido, nunca se enganou? Bem! Se admitimos que existem os moderados e os covardes de boa-fé, por que não existiriam os patriotas de boa-fé, que um sentimento louvável às vezes leva demasiado longe? Se considerássemos criminosos todos aqueles que, no movimento revolucionário, tivessem passado a linha exata traçada pela prudência, englobaríamos numa proscrição comum, junto aos maus cidadãos, todos os amigos naturais da liberdade, vossos próprios amigos e todos os apoios da República. Os hábeis emissários da tirania, depois de havê-los enganado, se tornariam eles mesmos seus acusadores, e talvez seus juízes. Quem então esclarecerá todas essas nuanças? Quem traçará a linha de demarcação entre todos os excessos contrários? O amor pela pátria e pela verdade. Os reis e os velhacos tentariam sempre apagá-la; eles nada querem com a razão ou com a verdade. Ao indicar os deveres do governo revolucionário, marcamos seus obstáculos. Quanto maior é seu poder, mais livre e rápida é sua ação, mais ele deve ser dirigido pela boa-fé. O dia em que cair em mãos impuras ou pérfidas, a liberdade estará perdida; seu nome se tornará o pretexto e a desculpa da própria contra-revolução; sua energia será aquela de um veneno violento. Assim, a confiança do povo francês está ligada ao caráter que a Convenção Nacional mostrou, mais que à própria instituição.

Princípios do Governo Revolucionário 169 6. Magistrado ateniense que venceu a batalha de Salamina contra os persas (480 a.c.). Colocando todo o poder em vossas mãos, o povo esperou de vós que vosso governo fosse benéfico para os patriotas e temível para os inimigos da pátria. Ele vos impôs o dever de estender ao mesmo tempo toda a coragem e a política necessárias para os esmagar, e principalmente para manter entre vós a união que necessitais para realizar vosso grande destino. A fundação da República francesa não é um jogo de crianças. Ela não pode ser obra do capricho ou da despreocupação, nem o resultado fortuito do choque de todas as pretensões particulares e de todos os elementos revolucionários. A prudência, tanto como a potência, presidiu a criação do universo. Ao impor, a membros tirados de vosso seio, a tarefa temível de velar incessantemente sobre os destinos da pátria, vós mesmos vos impusestes a lei de prestar-lhes o apoio de vossa força e de vossa confiança. Se o governo revolucionário não é secundado pela energia, pelas luzes, pelo patriotismo e pela benevolência de todos os representantes do povo, como terá uma força de reação proporcional aos esforços da Europa que o ataca, e de todos os inimigos da liberdade que o pressionam de todas as partes? Que a desgraça se abata sobre nós, se abrirmos nossas almas às pérfidas insinuações de nossos inimigos, que só podem vencer-nos se nos dividirem! Que a desgraça se abata sobre nós, se quebrarmos o feixe, em lugar de apertá-lo; se os interesses privados, se a vaidade ofendida se fizerem ouvir em lugar da pátria e da verdade! Elevemos nossas almas à altura das virtudes republicanas e dos exemplos antigos. Temístocles 6