Virtude e Terror
Serie Revolucoes Sobre a Prática e a Contradição Mao Tsé-Tung, apresentado por Slavoj Zizek Virtude e Terror Maximilien Robespierre, apresentado por Slavoj Zizek próximos títulos A Declaração de Havana Fidel Castro, apresentado por Tariq Ali Abaixo o Colonialismo Ho Chi Min, apresentado por Walden Bello Jesus Cristo: os Evangelhos Jesus Cristo, apresentado por Terry Eagleton Terrorismo e Comunismo Trótski, apresentado por Slavoj Zizek
Maximilien Robespierre Virtude e Terror apresentado por Slav0j Zizek Textos selecionados e comentados por Jean Ducange Tradução: José Maurício Gradel Rio de Janeiro
Título original: Virtue and Terror Tradução autorizada da primeira edição inglesa, publicada em 2007 por Verso., de Londres, Inglaterra Copyright 2007, Verso Copyright da Introdução 2007, Slavoj Zizek Copyright da edição em língua portuguesa/da edição brasileira 2007: Jorge Zahar Editor Ltda. rua México 31 sobreloja 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 2108-0808 / fax: (21) 2108-0800 e-mail: jze@zahar.com.br site: www.zahar.com.br Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Capa: Sérgio Campante CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Robespierre, Maximilien, 1758-1794 R55v Virtude e terror / Maximilien Robespierre; apresentação por Slavoj Zizek; textos selecionados e comentados por Jean Ducange; tradução, José Maurício Gradel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008 (Revoluções) Tradução de: Virtue and terror Contém glossário e cronologia Inclui bibliografia ISBN 978-85-378-0074-4 1. Robespierre, Maximilien, 1758-1794 Visão política e social. 2. França História Revolução, 1789-1799. 3. Violência política França História Século XVIII. 4. França Política e governo 1789-1799. I. Zizek, Slavoj, 1949-. II. Ducange, Jean-Numa, 1980-. III. Título. IV. Série. CDD: 944.04 08-1341 CDU: 94(44) 1789/1799
sumario Slavoj Zizek apresenta: Robespierre, ou a divina violência do terror 7 parte i 1 2 3 4 5 Robespierre na Assembléia Constituinte e no Clube Jacobino 47 Sobre o direito de voto dos atores e judeus 49 Sobre o marco de prata 51 Sobre a condição dos homens de cor livres 68 Sobre os direitos das sociedades e clubes 70 Sobre a guerra (excertos) 74 parte Ii 6 7 8 9 10 11 12 Na Convenção Nacional 87 Resposta à acusação de Louvet (excertos) 89 Sobre a subsistência (excertos) 103 Sobre o julgamento do rei 112 Projeto de Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 123 Em defesa do Comitê de Salvação Pública e contra Briez (excertos) 131 Relatório sobre a situação política da República (excertos) 139 Resposta da Convenção Nacional ao manifesto dos reis aliados contra a República 155
13 14 15 Sobre os princípios do governo revolucionário 164 Sobre os princípios de moralidade política que devem guiar a Convenção Nacional na administração interna da República 177 Discurso de 8 de termidor do ano II (excertos) 199 Notas da Introdução 219 Glossário 222 Cronologia 227 Fontes utilizadas 229 Observações sobre a tradução 230 Sugestões de leitura 232
168 Virtude e Terror O que se deve fazer? Perseguir os inventores culpados dos sistemas pérfidos, proteger o patriotismo, mesmo em seus erros; esclarecer os patriotas, e elevar sem cessar o povo à altura de seus direitos e de seus destinos. Se não adotais essa regra, perdeis tudo. Se fosse preciso escolher entre um excesso de fervor patriótico e o nada da incivilidade, ou o marasmo do moderantismo, não haveria dúvidas. Um corpo vigoroso, atormentado por uma superabundância de seiva, perde mais recursos que um cadáver. Livremo-nos principalmente de matar o patriotismo ao querer curá-lo. O patriotismo é ardente por sua natureza. Quem pode amar friamente a pátria? Ele é particularmente o dom dos homens simples, pouco capazes de calcular as conseqüências políticas de uma atitude cívica por esse motivo. Que patriota, mesmo esclarecido, nunca se enganou? Bem! Se admitimos que existem os moderados e os covardes de boa-fé, por que não existiriam os patriotas de boa-fé, que um sentimento louvável às vezes leva demasiado longe? Se considerássemos criminosos todos aqueles que, no movimento revolucionário, tivessem passado a linha exata traçada pela prudência, englobaríamos numa proscrição comum, junto aos maus cidadãos, todos os amigos naturais da liberdade, vossos próprios amigos e todos os apoios da República. Os hábeis emissários da tirania, depois de havê-los enganado, se tornariam eles mesmos seus acusadores, e talvez seus juízes. Quem então esclarecerá todas essas nuanças? Quem traçará a linha de demarcação entre todos os excessos contrários? O amor pela pátria e pela verdade. Os reis e os velhacos tentariam sempre apagá-la; eles nada querem com a razão ou com a verdade. Ao indicar os deveres do governo revolucionário, marcamos seus obstáculos. Quanto maior é seu poder, mais livre e rápida é sua ação, mais ele deve ser dirigido pela boa-fé. O dia em que cair em mãos impuras ou pérfidas, a liberdade estará perdida; seu nome se tornará o pretexto e a desculpa da própria contra-revolução; sua energia será aquela de um veneno violento. Assim, a confiança do povo francês está ligada ao caráter que a Convenção Nacional mostrou, mais que à própria instituição.
Princípios do Governo Revolucionário 169 6. Magistrado ateniense que venceu a batalha de Salamina contra os persas (480 a.c.). Colocando todo o poder em vossas mãos, o povo esperou de vós que vosso governo fosse benéfico para os patriotas e temível para os inimigos da pátria. Ele vos impôs o dever de estender ao mesmo tempo toda a coragem e a política necessárias para os esmagar, e principalmente para manter entre vós a união que necessitais para realizar vosso grande destino. A fundação da República francesa não é um jogo de crianças. Ela não pode ser obra do capricho ou da despreocupação, nem o resultado fortuito do choque de todas as pretensões particulares e de todos os elementos revolucionários. A prudência, tanto como a potência, presidiu a criação do universo. Ao impor, a membros tirados de vosso seio, a tarefa temível de velar incessantemente sobre os destinos da pátria, vós mesmos vos impusestes a lei de prestar-lhes o apoio de vossa força e de vossa confiança. Se o governo revolucionário não é secundado pela energia, pelas luzes, pelo patriotismo e pela benevolência de todos os representantes do povo, como terá uma força de reação proporcional aos esforços da Europa que o ataca, e de todos os inimigos da liberdade que o pressionam de todas as partes? Que a desgraça se abata sobre nós, se abrirmos nossas almas às pérfidas insinuações de nossos inimigos, que só podem vencer-nos se nos dividirem! Que a desgraça se abata sobre nós, se quebrarmos o feixe, em lugar de apertá-lo; se os interesses privados, se a vaidade ofendida se fizerem ouvir em lugar da pátria e da verdade! Elevemos nossas almas à altura das virtudes republicanas e dos exemplos antigos. Temístocles 6