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Transcrição:

1. Compra e Venda Mercantil (art. 481/504 CC) 1. Origem histórica da compra e venda A compra e venda é o mais importante de todos os contratos, tendo em vista que é pela compra e venda que se dá a circulação das riquezas, e dele derivam muitos outros contratos, tais como: o contrato de transporte, contrato de seguro e outros. A compra e venda tem sua origem na Antiguidade e suas primeiras manifestações limitavam-se à mera troca de objetos (antes da invenção da moeda) ou escambo. A circulação de bens era feita, portanto, mediante permuta. Existindo até hoje a possibilidade de contratos de escambo mercantil. Com o passar do tempo, algumas mercadorias começaram a ser utilizadas como padrão de troca, pela sua importância e essencialidade sobre as outras, tudo para facilitar o comércio de bens. Com o aumento da população e, consequentemente, das necessidades da sociedade, esse regime de troca evoluiu, após o surgimento da moeda, para a compra e venda que conhecemos. Essa compra e venda realizada primitivamente também evoluiu e, atualmente, apresenta muitas variantes (leasing, alienação fiduciária etc.). 2. Natureza mercantil da compra e venda É mercantil a compra e venda realizada entre empresários, essa é a básica distinção entre a compra e venda cível da mercantil. A grande importância da compra e venda mercantil está na sucessão de contratos de compra e venda, com a finalidade de tornar possível o produto para consumo, e no fomento do mercado (mercantilidade do contrato 1 ). 1 (Ferreira, 1963:3)

Existem outras distinções entre a compra e venda mercantil e a cível que será tratada na Especificidade da compra e venda mercantil. 3. Formação do contrato de compra e venda O contrato formula-se pela composição das partes entre seus elementos. Ele é: Consensual, pois há a proposta e a aceitação. Bilateral porque ambas as partes possuem obrigações uma com a outra. Oneroso porque contratante e contratado devem obter vantagem com a realização do negócio. Comutativo, pois as prestações ajustadas são, no entendimento dos contratantes, equivalentes. Solene no caso de imóveis, e não solenes nos casos de bens móveis. A) Quanto à execução A compra e venda pode ser: a) Imediata quando o pagamento e tradição ocorrem quando da conclusão do contrato. b) Diferida as obrigações de ambas as partes são para data futura (comum na bolsa de valores na compra e venda a termo) c) Continuada se desmembra em vários atos (como o contrato de fornecimento) B) Cláusulas Especiais à Compra e Venda a) Venda mediante amostra o comprador averigua a espécie

e a qualidade do produto amostrado, e após a sua aceitação há a entrega do produto; b) Retrovenda (assegurar a compra futura do produto pelo vendedor. Utilizada muito por agiotas.) c) Da venda a contento (deve gostar, cláusula ad gustum) e da sujeita a prova (verifica-se a qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina)(è um pacto acessório, como se fosse uma condição suspensiva da compra e venda. O comprador deve gostar do produto para ai sim adquirilo, sendo que enquanto não manifesta a sua satisfação ou insatisfação (art. 509/510, CC) fica como comodatário do produto (art. 511, CC) d) Venda com reserva de domínio (bem móvel, reserva a propriedade ao vendedor até o pagamento pelo comprador, art. 521, CC) e) Venda sobre documentos (a tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos, art. 529, CC) C) Elementos do Contrato A compra e venda realiza-se pelo consensualismo das partes com relação à coisa, ao preço e as condições. Estes elementos devem estar no contrato. A coisa deve ser uma mercadoria, mas não precisa existir no momento da contratação. É muito comum a venda de coisa que sequer existe, sendo que tal coisa existirá tão somente para cumprimento daquele contrato. O preço é de livre acordo entre os contratantes, baseando-se no

princípio da liberdade de composição dos preços. Sendo, entretanto, possível o Estado controlar os preços de forma direta ou indireta, provisória e excepcionalmente, para se manter a ordem econômica com o intuito de se controlar crises e preservar o sistema capitalista. A condição trata-se dos fatos que prejudicam a exigibilidade das obrigações do contrato (condição suspensiva) ou as desconstituem (condição resolutiva). 4. Obrigação das partes O pagamento e despesas com escrituração ou registro do objeto do contrato são responsabilidades do comprador, e entrega da coisa pelo vendedor (tradição), salvo se de outra forma os contratantes preferirem (art. 490 do CC). Além de transferir o domínio da coisa vendida, o vendedor, também se compromete a responder por vício redibitório (CC, art. 441) e por evicção (CC, art. 447). Paga-se em dinheiro, moeda corrente nacional. Contudo, o direito brasileiro só admite o pagamento de uma compra e venda em moeda estrangeira quando se trata de importação ou exportação (Dec. De lei n. 857/69, art 2º, I). Nos contratos entre empresários de países diferentes foi regularizada, pela Câmara de Comercial Internacional, algumas cláusulas para a realização da tradição (os Inconterms). O art. 475 do CC diz : A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. 5. Contrato de Fornecimento

O contrato de fornecimento é aquele onde os contratantes (comprador e vendedor) pactuam pela realização de compras e vendas continuadas, ou seja, são vários contratos de compra e venda em um só. A sua função está na facilitação da relação entre o comprador e vendedor, que não precisariam realizar inúmeros contratos de compra e venda ao longo de um período. O objetivo está no suprimento das mercadorias necessárias para a atividade do comprador (insumos) e garantia de relação comercial com aquele vendedor. O problema é a confusão que se faz desta forma de compra e venda mercantil, com o contrato de colaboração empresarial (próximos tema). O comprador não ajuda o empresário a ampliar ou criação o mercado do colaborado para o produto que adquiriu. A grande vantagem é a continuidade de relação comercial entre comprador e vendedor. 6. Outras especificidades da compra e venda mercantil A compra e venda cível e mercantil em muito se assemelham na regulamentação jurídica, mas são completamente diferentes nas relações interpessoais. A função de uma difere da outra. Então sobre alguns aspectos específicos devemos tomar certos cuidados para não haver confusão. A) O câmbio, a alienação de debêntures ou ações e a cessão de cotas

Essas formas de atividade jurídica são, apesar de soar estranho, espécies do gênero de contratos de compra e venda mercantil. Isso porque a finalidade dessas atividades é a viabilização das atividades comerciais, possui a mercantilidade na relação. O câmbio é forma de se adquirir moeda de outros países. Nas relações internacionais essa forma de compra e venda que viabilizar a negociação entre contratantes de países diferentes. Os empresários costumam, nas relações internacionais, colocar o preço em moeda forte, que geralmente é a que é base nas relações deste tipo (ex: dólar). Então para o comprador adquirir determinado produto deve pagar em certa moeda que não é a que possui, daí surge a necessidade de adquirir tal moeda pagando com a que possui. Assim, esta aquisição é uma forma de compra e venda mercantil. Alienação de debêntures ou ações, que é a compra ou de títulos de empresa ou de parte da própria empresa. É outra forma de compra e venda mercantil. A cessão de cotas, que é a transferência da parte do cedente no capital social ao cessionário. No direito positivo não existe regulamentação explícita desta relação jurídica comercial, assim, entende-se que eventuais conflitos na relação serão regulamentados pelo Código Civil, e as obrigação são as determinadas no art. 490. A doutrina o trata como forma de contrato de compra e venda mercantil para a regularização de conflitos. B) Inaplicabilidade do art. 495 do CC no caso de falência do devedor. Inexigência de caução. Como a compra e venda mercantil é realizada entre empresários, o vendedor está sujeito, no curso da execução do contrato, à falência própria ou do comprador. A divergência está nas consequências (ao vendedor) da instauração da execução concursal do patrimônio do comprador (falência). O vendedor tem seu direito, no caso de falência do comprador, condicionado ao momento em que se encontra a execução do contrato quando do descumprimento da obrigação. Assim, o vendedor pode: exigir a

restituição da coisa; ou notificar o administrador da massa falida a resolver o contrato ou, se este entender melhor, cumpri-lo; ou, por fim, habilitar-se como credor. O que não ocorre em nenhuma das hipóteses é o que preceitua o art. 495 do CC, ou seja, a exigência de caução para entrega da coisa vendida. A explicação é evidente. Os contratos de compra e venda mercantis tem uma função social, ainda maior que os contratos entre particulares. O interesse da sociedade nestes contratos é maior, pois eles estão atrelados intimamente à economia regional, e no interesse pela expansão desta.