MORFOMETRIA DE Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze NA FLORESTA NACIONAL DE SÃO FRANCISCO DE PAULA-RS.

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MORFOMETRIA DE Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze NA FLORESTA NACIONAL DE SÃO FRANCISCO DE PAULA-RS. Marcelo Roveda 1, Bárbara Dalgallo 1, Andrea Nogueira Dias 2, Afonso Figueiredo Filho 2 Caroline Signori Muller 3 Resumo Este estudo foi realizado em uma floresta plantada com 6,6 ha de Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze no município de São Francisco de Paula, no estado do Rio Grande do Sul, e teve por objetivo descrever e avaliar as características morfométricas e relações interdimensionais como subsídio à elaboração de simulação de desbaste. O inventário florestal, por amostragem aleatória, foi estruturado em seis parcelas de 300 m 2. A metodologia utilizada mostrou-se simples e eficaz, permitindo calcular diversas variáveis de interesse. O povoamento encontra-se em alta competição e os índices calculados, principalmente com relação à proporção da copa, podem auxiliar na determinação de quais árvores devem ser retiradas em um futuro desbaste. Palavras-chave: Variáveis morfométricas, Pinheiro-do-Paraná, projeção da copa. MORPHOMETRY of Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze trees In SÃO FRANCISCO DE PAULA NATIONAL FOREST -RS. Abstract This study was carried out in a planted forest with 6.6 ha of Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze trees in the region of São Francisco de Paula in the state of Rio Grande do Sul, aiming to describe and evaluate the morphometric characteristics and interdimensional relationships as a support to develop of a thinning simulation. The forest inventory by random sampling, was structured with six plots 300 m² of area. The methodology applied was simple and effective, so allowing the calculation of several variables of interest. The studied population of Araucaria angustifolia trees is in a high competition level and the calculated indices, especially the ratio of the crown, helping to determine which trees must be removed in a future thinning cycle. Keywords: Morphometric variables, Parana Pine, crown projection. INTRODUÇÃO A Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze é uma espécie pertencente à família Araucariaceae, popularmente conhecida por araucária, pinheiro-do-paraná e pinheiro-brasileiro. É uma típica conífera brasileira, de grande porte, tronco reto quase cilíndrico, com altura variando entre 10 e 35 m, fuste com até 20 m ou mais, e diâmetro à altura do peito acima de 50 cm quando adulta, alcançando melhor desenvolvimento a partir dos 30 anos de idade (AQUINO, 2005). Em 1883, iniciou-se no sul do Brasil, a extração das reservas naturais de Araucaria angustifolia. Durante o período de ocupação das terras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e posteriormente do Paraná, o pinheiro tornou-se a base da colonização dos imigrantes europeus, que chegaram ao País no final do século XIX para se dedicarem, sobretudo à agricultura. A exploração da madeira de araucária forneceu o capital inicial para o estabelecimento de diversas atividades econômicas, especialmente com a instalação de indústrias madeireiras, em toda a área de dispersão natural da espécie, interessadas no aproveitamento de sua madeira de altíssima qualidade (ZANON, 2007). A presença da espécie Araucaria angustifolia, em passado recente alavancou social e economicamente as suas regiões de origem. Sua área originalmente distribuía-se numa superfície de cerca de 200.000 km 2, ocorrendo no Paraná (40% de sua superfície), Santa Catarina (31%) e Rio Grande do Sul (25%) e em manchas esparsas no sul de São Paulo (3%), prologando-se até o sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro (1%) (CARVALHO, 1994). Sua madeira foi bastante utilizada para forros, molduras, ripas, caixotaria, brinquedos e utensílios domésticos, sendo que hoje esta madeira recebe outros fins. O fruto é comestível e de grande importância para 1 Engenheiro(a) Florestal; Mestrando em Ciências Florestais na Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO, Irati-PR marcelo_roveda@hotmail.com. 2 Engenheiro(a) Florestal. Dr(a). Professor(a) do Departamento de Engenharia Florestal, UNICENTRO, Irati - PR. afigfilho@gmail.com, andias@irati.unicentro.br. 3 Engenheira Florestal; Frederico Westphalen - RS carol.signori@gmail.com

a alimentação humana, de outros mamíferos e de aves. Atualmente é também considerada uma espécie ornamental, podendo ser empregada no paisagismo (LORENZI, 1992). Sabe-se que crescimento das árvores depende de fatores como a disponibilidade dos recursos ambientais (temperatura, precipitação, vento, insolação e nutrientes), espaço físico, edáficos (características físicas, químicas e biológicas), topográficos (inclinação, altitude e exposição), fatores de competição pela influência de outras espécies, tamanho e constituição genética da árvore bem como seu histórico de desenvolvimento. Cada um destes fatores pode afetar de forma isolada ou em conjunto o crescimento das árvores (POORTER; BONGERS, 1993). Dentre as técnicas silviculturais de manejo florestal, com objetivo de produzir madeira para processamento mecânico, destaca-se o desbaste, que é definido como cortes parciais feitos em povoamentos florestais imaturos que têm como objetivo produzir madeira em maior quantidade e melhor qualidade (LIMA e GARCIA, 2005). Araucaria angustifolia cresce melhor em solo fértil e atinge bom crescimento em 50 anos, podendo as raízes alcançar até 1,8 m de profundidade (REITZ, KLEIN e REIS, 1979). Esta espécie tem uma grande demanda de nutrientes durante o seu desenvolvimento, precisando de solos mais férteis que as demais coníferas (HANDRO e FERREIRA, 1986). A competição tem influência na produção de sementes, o maior espaçamento permite que as árvores tenham uma maior proporção de sua copa livre, mais exposta à luz e, portanto, uma situação mais favorável para a produção das estruturas reprodutivas, ou seja, as arvores dominantes que têm copas mais vigorosas e desenvolvidas são notáveis produtoras de sementes (DANIEL et al., 1986). Segundo Mitscherlich (1978), a superfície coberta pela projeção da copa diz respeito á área de projeção da copa, calculada a partir de 4 a 8 raios de projeção da copa. Através destas variáveis, calcula-se o espaço ocupado pela árvore e juntamente com dados de incremento, calcula-se a produtividade da mesma. As relações interdimensionais das árvores permitem prever o espaço exigido pela árvore ao longo de seu desenvolvimento, julgando assim sua concorrência e possibilitando realizar inferências sobre a estabilidade, vitalidade e produtividade de cada indivíduo, servindo como instrumento prático em intervenções silviculturais, especialmente quando não se conhece a idade das plantas (DURLO, 2001). Segundo Orellana e Koehler (2008), o estudo das relações morfométricas de uma espécie florestal fornece os subsídios básicos para estimativas da biomassa de copa, onde variáveis como: altura total da árvore, altura de copa e o diâmetro de copa podem ser correlacionados com a altura total e o diâmetro à altura do peito (DAP). STAMPFER (1995) usou a correlação entre o índice de saliência e o DAP de árvores solitárias de diversas espécies florestais europeias para deduzir o número máximo de indivíduos que caberia em um hectare, sem que houvesse concorrência. Este índice pode, portanto, ser usado como indicador de desbaste. O presente trabalho tem por objetivo descrever e avaliar as características morfométricas e relações interdimensionais para Araucaria angustifolia, no município de São Francisco de Paula, RS, como subsídio à elaboração de simulação de desbaste envolvendo a espécie. MATERIAL E MÉTODOS Características e localização da área de estudo O estudo foi realizado em área da Floresta Nacional de São Francisco de Paula que se localiza no Distrito de Rincão dos Kroeff, no município de São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul entre as coordenadas 29 23 e 29 27 de latitude Sul e 50 23 e 50 25 de longitude Oeste, na Serra Gaúcha, região nordeste, microrregião dos Campos de Cima da Serra, na borda do Planalto, zona de transição entre Floresta Ombrófila Densa e Floresta Ombrófila Mista. O relevo do local é plano, levemente ondulado, no sub-bosque ocorre grande regeneração, espessura da manta de aproximadamente 13 cm. O clima da área de estudo, de acordo com a classificação de Köppen, é do tipo Cfb, mesotérmico médio, sendo que esse clima domina as cotas altimétricas entre 1.000 e 1.100 m no norte do Rio Grande do Sul (MORENO, 1961). O solo é classificado como Cambisolo Húmico Álico, sendo caracterizado como não-hidromórficos, com drenagem variando de acentuada até imperfeita, com horizonte A seguido de B incipiente, de textura franco arenosa ou mais fina (OLIVEIRA, 1992). Levantamento dos dados Foram selecionadas seis parcelas circulares de 300 m² pelo método de amostragem simples de forma aleatória em uma área de 6,6 hectares de uma floresta plantada de A. angustifolia com 65 anos de idade. Posteriormente, foram medidos todos os indivíduos com diâmetro (DAP ~1,30 m do nível do solo) igual ou superior a 20 cm, sendo, também, avaliadas a altura comercial e total e o diâmetro de copa de todos os indivíduos selecionados.

Para a medição dos diâmetros utilizou-se uma trena comum, as alturas totais e comerciais foram mensuradas através de um hipsômetro Vertex. Considerou-se como altura comercial, a altura referente à primeira inserção de galhos. Para projeção da copa, utilizou-se uma trena, medindo-se os raios norte, sul, leste e oeste. Análise dos dados Para a definição do desbaste foram utilizados como critério de decisão os índices matemáticos descritos por Durlo e Denardi (1998), Tonini e Arco-Verde (2005), e Orellana e Koehler (2008), como: grau de esbeltez, índice de saliência, índice de abrangência, proporção de copa e formal de copa. De forma concomitante foi analisada a posição da árvore na parcela e sua competição por espaço com outros indivíduos. A Figura 1 representa o modelo de uma árvore de Araucaria angustifolia e suas características dimensionais. Figura 1: Modelo de uma árvore de A. angustifolia e suas características dimensionais. Figure 1: Model of a A. angustifolia tree and its dimensional characteristics. Na tabela 1 estão relacionados os índices e as formas como foram utilizados no plano de desbaste. Tabela 1: Índices matemáticos utilizados como critério de decisão para o desbaste, descritos por Durlo e Denardi (1998). Table 1: Mathematical indices used as decision criteria for thinning, described by Durlo Denardi (1998). Índice Grau de esbeltez Índice de saliência Índice de abrangência Formal de copa Proporção de copa Parâmetro Menor, mais estável Menor, tanto maior será sua área basal Correlação entre o índice de abrangência e a altura das árvores Menor, melhor é a produtividade Maior a porcentagem de copa, mais vital e produtiva é a árvore RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios, mínimos e máximos da morfometria de 71 árvores de araucária amostradas nas parcelas, encontram-se na Tabela 1. Os valores da altura comercial do fuste, definida como a altura de inserção da copa, variaram de 8,00 a 18,80 m, com média de 12,84 m. Estes valores indicam uma possibilidade de seccionamento do fuste em duas até cinco toras comercializáveis, com uma média de quatro

toras por fuste. Os valores encontrados são superiores quando comparados àqueles obtidos para a espécie Cordia trichotoma, onde Mattos (2002) obteve uma altura comercial média de 6,9 m e Roman et al. (2009) uma média de 5,90 m. Durlo e Denardi (1998), em estudo com Cabralea canjerana, encontraram uma média de 6,3 m para a altura comercial do fuste. Tabela 2- Características morfométricas para Araucaria angustifolia. Table 2 - Morphometric characteristics for Araucaria angustifolia. Variável Araucária (71) Média Mínimo Máximo CV(%) Diâmetro (DAP) em centímetros 32,23 20,4 57,2 26,73 Altura total (h) em metros 16,62 10,10 22,50 22,18 Altura comercial (hc)(m) 12,84 8,00 18,80 17,19 Grau de esbeltez (h/dap) 53,96 36,40 84,17 20,30 Índice de saliência (dc/dap) 23,72 7,92 42,91 29,48 Proporção de copa (l/h)(%) 23,19 9,03 39,38 31,28 Índice de abrangência (cd/h) 0,45 0,21 0,96 30,64 Formal de copa (dc/l) 2,15 0,27 5,00 42,34 O grau de esbeltez, ou relação h/dap, variou de 36,40 a 84,17, com média de 53,96. Os indivíduos que apresentaram os maiores valores para essa variável foram os que se encontravam em alto grau de concorrência. Quanto mais alto o grau de esbeltez, mais instável é a árvore e a diminuição deste índice indica que as árvores estão crescendo mais em diâmetro do que em altura. Segundo Tonini e Arco-Verde (2005), uma relação h/d superior a 100 pode indicar a necessidade de desbaste, pois o crescimento em diâmetro é reduzido em relação à altura. Com o índice de saliência que explica a relação entre o diâmetro de copa e o DAP, a araucária tem uma copa aproximadamente 24 vezes o seu DAP. O índice de saliência pode ser usado como indicador do espaço necessário para cada árvore, ao ser atingido determinado diâmetro. Tomando-se o valor médio do índice de saliência (23,72) e aceitando-se que este é invariável com a mudança nas dimensões das árvores, para produzir araucárias com 50 cm de DAP, ter-se-ia um diâmetro de copa de 11,85 m (50 cm x 23,7) e, supondo-se copas redondas, caberiam, aproximadamente, 85 árvores por hectare, sem que houvesse nenhuma concorrência entre elas. Orellana e Koehler (2008) em estudo da copa das árvores de Ocotea odorifera, encontraram em média, 39,2 vezes a dimensão do DAP. Durlo e Dernardi (1998) encontraram, para Cabralea canjerana, valores médios de índice de saliência de 21,70. Tonini e Arco Verde (2005) encontraram valores médios de índice de saliência para a castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa) de 50; para a andiroba (Carapa guianensis) de 14,7; para o ipê-roxo (Tabebuia avellanedae) de 32,3 e para o jatobá (Hymenaea courbaril) de 33,1. A proporção média de copa (PC) indica que, em média, 23,19% da altura total das árvores são ocupadas pela copa. A maior proporção de copa encontrada foi de 39,38% e a menor proporção foi de 9,03%. Orellana e Koehler (2008) em estudo com Ocotea odorifera encontraram proporção média de copa de 55,2% e Durlo e Dernardi (1998) encontraram valor de proporção de copa médio de 49,2% para a canjerana. Os valores de proporção de copa para a araucária neste estudo são menores que as espécies anteriormente citadas, destacando seu elevado interesse no setor madeireiro e justificando seu corte nas florestas nativas. O índice de abrangência, calculado pela relação entre o diâmetro de copa e a altura total da árvore, apresentou um valor médio de 0,45. Se um povoamento for manejado pela altura das árvores (altura-objetivo), pode-se usar este índice como critério para tomada de decisão em um plano de desbaste. Considerando o valor médio obtido para a araúcaria (0,45) e supondo-se que o índice de abrangência não muda com a altura, araucárias com 20 m de altura teriam uma copa com diâmetro de 9,0 m (20 m x 0,45). Assim, caberiam em torno de 124 araucárias por hectare, sem que houvesse concorrência entre elas. Zanon (2007) observou uma variação do índice de abrangência entre 0,20 até 0,58 para a araucária no mesmo tipo de floresta. Mattos (2007) encontrou um índice de abrangência médio de 0,26 para Cordia trichotoma em floresta nativa no Rio Grande do Sul. Os valores mínimo e máximo da variável formal de copa (0,27 a 5,00) indicaram que existem grandes diferenças entre os indivíduos. Isto indica que nessa população existem tanto árvores com copas esbeltas (formal de copa baixo) quanto com copas achatadas, com diâmetro de copa superior a cinco vezes o seu comprimento. Este resultado mostra que, entre duas árvores do mesmo diâmetro, a mais produtiva é aquela com menor formal de copa. Por esta razão, este índice pode ser utilizado na seleção das árvores para desbaste, devendo ser retiradas as árvores com maior formal de copa. Mattos (2007) obteve valor médio igual a 0,63

para essa variável em estudo com louros nativos, no interior de fragmentos de floresta secundária no Rio Grande do Sul. Durlo e Denardi (1998) obtiveram formal de copa médio de 0,74 para Cabralea canjerana, também em floresta secundária no Rio Grande do Sul. Orellana e Koehler (2008) encontraram uma média de 1,3 para o formal de copa de Ocotea odorifera, em um remanescente de Floresta Ombrófila Mista, no Paraná. Zanon (2007) encontrou formal de copa entre 0,45 a 3,0 para a araucária. CONCLUSÕES A alta competição entre as árvores e as relações dimensionais encontradas indicam que a realização de um desbaste favoreceria o desenvolvimento do povoamento remanescente. Observa-se, de modo geral, que os diversos índices podem auxiliar no planejamento de desbaste do povoamento. A retirada de indivíduos pelo desbaste deve propiciar aos indivíduos que restaram um maior crescimento em diâmetro, uma vez que haverá maior incidência de luz solar e menor concorrência por espaço e nutrientes entre os indivíduos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, F. M. de Cultivo de Araucaria angustifolia: análise de viabilidade econômico-financeiro. Florianópolis: BRDE, 2005. 53 p. CARVALHO, P. E. R. Espécies Florestais Brasileiras: recomendações silviculturais, potencialidades e uso da madeira. Colombo: Embrapa. 1994. 640 p. DANIEL, R. F.; BURKHART, H. E.; CLASON, T. R. A comparison of competition measures for predicting growth of loblolly pine trees. Canadian Journal for Forest Research, v. 16, n. 6, p. 1230-1237, 1986. DURLO, M.A. Relações morfométricas para Cabralea canjerana (Well.) Mart. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 11, n. 1, p. 141-150, jun. 2001. DURLO, M. A.; DENARDI, L. Morfometria de Cabralea canjerana em mata secundaria nativa do Rio Grande do Sul.Ciência Florestal, Santa Maria, v.8,n.1.p55-66,1998. HANDRO, W.; FERREIRA, C. M. Araucaria (Araucaria spp.) In Y.P.S. Bajai (ed). Biotechnology in Agriculture and Forestry, Tree I, Berlin, p. 310-315. 1986. LIMA, I. L. de; GARCIA, J. N. Influência do desbaste em propriedades físicas e mecânicas da madeira de Eucalyptus grandis Hill ex-maiden. Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 17, n. 2, p. 151-160, dez. 2005. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa-SP: Plantarum, 1992. 352 p. MATTOS, R. B. Características qualitativas e possibilidade de ganho de fuste em espécies euxilóforas nativas da Região Central do Rio Grande do Sul. Santa Maria, 2002. 91 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal de Santa Maria, 2002. MATTOS, R. B. Produtividade e incremento de cabralea canjerana (Vell.) Mart., Cedrela fissilis Vell. e Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud., em floresta nativa no Rio Grande do Sul. Santa Maria. 105 f. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) Universidade Federal de Santa Maria, 2007. MITSCHERLICH, G. Wald, Wachstum und Umwelt. Eine Einführung in die ökologischen Grundlagen des Waldwachstums. Erster Band: Form und Wachstum von Baum und Bestand. II Auflage. J,D. Sauerländer s Verlag. Frankfurt am Main. 1978. 144 p. MORENO, J. A. Clima do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Secretaria da Agricultura RS, 1961. 41p. OLIVEIRA, J. B,; et al. Classes gerais de solos do Brasil: guia auxiliar para seu reconhecimento. 2 ED. Jaboticabal: FUNEP, 1992. 201p

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