PARECER Nº 14.697 CONTRIBUIÇÃO SINDICAL DE SERVIDOR PÚBLICO. ORIENTAÇÃO ADMINISTRATIVA CONSOLIDADA NOS PARECERES 14.538/2006, 14.290/2005, 14.265/2005 E 14.264/2005. INEXISTÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE DE DESCONTO. A Secretaria da Fazenda encaminha para análise e orientação desta Casa, expediente que me vem em regime de urgência, inaugurado por requerimento a que foi atribuída a denominação de Notificação Extrajudicial, por intermédio do qual a FEDERAÇÃO DOS SINDICATOS DE SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL FESSERGS, postula do Estado a realização e recolhimento da Contribuição Sindical relativa ao Exercício 2007, no valor correspondente a 1 (um) dia de trabalho do mês de março, com fundamento em dispositivos postos na Consolidação das Leis do Trabalho. É o que, em síntese, tenho a relatar. A matéria não é inédita nesta Consultoria. Trata-se da renovação de pedido que, anualmente, nesta época, entidades sindicais de diversas naturezas, na representação de servidores públicos, formulam perante o Estado. É conhecida a posição assentada no âmbito do Supremo Tribunal Federal quanto à recepção, pelo ordenamento constitucional vigente, da contribuição sindical
compulsória, condicionada, por óbvio, à unicidade prevista no inciso II do artigo 8º da Constituição Federal. Não se pode perder de vista, no entanto, que a contribuição sindical foi originalmente instituída no sistema privado de relações de trabalho, sob o qual vige com plenitude e com o respaldo das orientações jurisprudenciais trazidas pela Federação requerente. Na gênese, os servidores públicos não eram sujeitos de direitos e obrigações relativos à organização sindical, tanto que os artigos 580 e 582 da Consolidação das Leis do Trabalho não atribuem a condição de contribuintes aos servidores públicos, restringindo-a aos que orbitam na iniciativa privada. Nessa linha de raciocínio, apenas os servidores dos estados submetidos aos regramentos do contrato de emprego na terminologia adotada por JOSÉ MARTINS CATHARINO poderiam estar na condição de pagadores da contribuição sindical; nunca aqueles ligados à Administração Pública por liames estatutários. Adotando as ponderações da Procuradora do Estado ANASTAZIA NICOLINI CORDELLA, exaradas nos Pareceres n. 14.290, de 9 de junho de 2005, 14.265 e 14.264, ambos de 3 de junho de 2005, e da Procuradora do Estado ADRIANA MARIA NEUMANN, no Parecer n. 14.538, de 21 de julho de 2006, verifica-se que a natureza tributária da contribuição sindical, já pacificada no âmbito do Supremo Tribunal Federal, faz incidir a norma posta no parágrafo 1º do artigo 108 do Código Tributário Nacional que inviabiliza a utilização do processo analógico para fundar a exigência de tributo. Assim, apenas e tão-somente são contribuintes da verba sindical sob referência aqueles taxativa e restritivamente referidos no artigo 580 da Consolidação das Leis do Trabalho, dentre os quais não se encontram os servidores públicos estatutários. Para subsidiar o entendimento ora esposado, colho o seguinte julgado: Contribuição sindical Importâncias relativas ao IPREMM (CLT, arts. 578 e ss.) Desconto obrigatório de servidores públicos estatutários não sindicalizados Inadmissibilidade Julgado do STJ Ação Improcedente Recurso Improvido. (Apelação Cível n. 292.577-5/7-00 Acórdão da Nona 2
Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, datado de 9 de novembro de 2005, Relator: Desembargador Ricardo Lewandowski.) No acórdão acima referido: Ocorre, porém, que o imposto sindical só é exigível dos servidores celetistas e sindicalizados, com exclusão dos estatutários não filiados, conforme entendimento do egrégio Superior Tribunal de Justiça, a seguir transcrito: A consagração da livre associação sindical à dignidade de princípio constitucional condicionou a incidência do desconto da contribuição em folha de pagamento à prévia filiação dos servidores à entidade sindical. A condição de não-sindicalizados dos servidores, por obstar a compulsoriedade do desconto sindical, consubstancia requisito indispensável à comprovação do direito líquido e certo que autoriza a concessão da ordem de segurança Recurso ordinário desprovido. (RMS 10085/SP Relator: Ministro Vicente Leal DJU 01.08.2000, p. 341.) Nessa conformidade, o autor não faz jus ao direito pleiteado, visto que a Constituição Federal, ainda que tenha assegurado a todo servidor público o direito à sindicalização, não estabeleceu qualquer obrigatoriedade de filiação e, muito menos, de recolhimento da contribuição correspondente, razão pela qual a sentença deve ser mantida por seus próprios fundamentos. O direito à sindicalização conferido genericamente ao servidor público não veio acompanhado da correspondente normatização em nível nacional e nos patamares correspondentes às pessoas jurídicas de direito público. Em realidade, não há, salvo para os empregados vinculados ao sistema privado de relações de trabalho, regra ou norma que contemple a atuação e organização sindical no âmbito do serviço público, com as peculiaridades a ele inerentes e nem que preveja ou autorize o desconto a título de contribuição sindical para os servidores públicos estatutários, o que se mostra necessário e imprescindível face ao princípio da legalidade absoluta que rege os atos da Administração Pública. Registre-se que sequer é atendida a comprovação da unicidade sindical, absolutamente necessária para que se configure a circunstância ensejada neste processo, verificando-se, ao longo do tempo, peculiar diversidade de organismos sindicais que se qualificam como legítimos titulares da contribuição sob exame. 3
É judicioso o posicionamento remansoso assentado nos pronunciamentos desta Casa, razão pela qual concluo no sentido de não haver motivo ou fundamento legal ou jurídico para que se atenda à postulação apresentada pela Federação. É o Parecer. Porto Alegre, 10 de maio de 2007. LEANDRO AUGUSTO NICOLA DE SAMPAIO, PROCURADOR DO ESTADO. Processo n. 001837-08.01/07-8. 4
Processo nº 001837-08.01/07-8 Acolho as conclusões do PARECER nº 14.697, da Procuradoria de Pessoal, de autoria do Procurador do Estado Doutor LEANDRO AUGUSTO NICOLA DE SAMPAIO. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Fazenda. Em 01 de junho de 2007. Eliana Soledade Graeff Martins, Procuradora-Geral do Estado.