PRAÇA DAS GERAÇOES Autores: Ana Luiza Ribeiro¹; Junia Caldeira¹ Afiliações: 1 - UniCeub Keywords: praça, revitalizaçao, espaço publico INTRODUÇÃO O artigo aborda o tema das áreas verdes nas quadras 700. Esta área de Brasília foi desenvolvida após à implantação do Plano Piloto, para complementar o setor de moradias, concebido por Lucio Costa. Atualmente, apesar de manter a configuração original, as quadras 700 passam por uma mudança de perfil com o crescimento do setor institucional, de comércio, e serviços. As áreas verdes, sobretudo as praças, tornaram-se espaços degradados, mas permanecem como áreas livres. Lucio Costa organizou a cidade a partir de quatro escalas: coletiva ou monumental, concentrada ou gregária, cotidiana ou residencial, e, posteriormente a escala bucólica, correspondendo à dimensão ambiental, aos espaços verdes que permeiam todas as outras. Cada uma delas deveria interagir entre si, resguardando suas características distintas (COSTA, 1957). O projeto da aluna Ana Luiza Ribeiro, sob orientação da Prof. Dra. Junia Caldeira, propõe uma releitura da área, a partir de um exercício de intervenção urbana nas quadras 700. Este artigo analisa o papel dos espaços públicos, no Plano Piloto; a configuração original das quadras 700; e os parâmetros essenciais para uma requalificação que possa proporcionar condições de uso e de reapropriação pelos usuários. As Quadras 700 As quadras 700 surgiram pela necessidade de acomodação de famílias de menor poder aquisitivo. Esta expansão residencial deu origem às quadras de Habitações Individuais Geminadas SHIG, permeadas por espaços livres e constituíram a faixa residencial das 700. Em 1958, procedeu-se a inauguração desse setor com a construção de 500 casas, projetadas por Oscar Niemeyer. (FERREIRA, M. e GOROVITZ, M. 2008). (FIG.1)
Com o crescimento da cidade, nota-se que o perfil das habitações geminadas sofreu diversas mudanças ocasionando a publicação, em 1987, de normas construtivas reguladoras, cujo objetivo visava padronizar o crescimento urbano. O gabarito passou a ser limitado em dois pavimentos acima do solo, sete metros de altura. Em relação às áreas verdes projetadas por Lucio Costa, observa-se que cada uma delas apresenta um conceito diferenciado. Se no eixo Monumental a praça assume proporções de Acrópole, formando grandes gramados, na escala gregária, a função de acolhimento produz espaços de proporções reduzidas, típicos de praças, capazes de distribuir e acolher o fluxo de pedestres. Na escala residencial, as áreas verdes constituem espaços livres destinados às atividades de lazer e esportes (CALDEIRA, 2007). Um estudo sobre as condições das áreas verdes do SHIGS, quadras 700, apontou a falta de manutenção na maioria dos espaços, impossibilitando seu aproveitamento como área de lazer e encontro. Embora algumas áreas tenham sido revitalizadas, estas reformas não propiciaram condições adequadas para o conforto do usuário, no sentido de promover a permanência e a convivência. PRAÇA DAS GERAÇÔES Entender o papel das áreas verdes no cotidiano das cidades contemporâneas é um percurso correto para uma proposta de revitalização bem sucedida. O projeto realizado desenvolve um exercício sobre o tema das áreas verdes e suas
possibilidades de apropriação, considerando a dinâmica da cidade e as necessidades dos usuários. A área do SHIGS 705/706 (FIG.2) foi escolhida para a revitalização. Essa área encontrava-se com equipamentos degradados e bastante abandonada. O projeto de intervenção teve como objetivo criar espaços que proporcionassem condições de um convívio saudável, acessível a todos os usuários, promovendo o encontro de gerações e o envolvimento social. Inicialmente verificou-se as necessidades dos moradores a partir de entrevistas e observação do espaço pelos seus frequentadores. Como espaço de transição entre o setor comercial e o residencial, essas áreas constituem também percursos consolidados pelos usuários ao longo do desenvolvimento da região. O projeto destacou a malha espacial, com o prolongamento de caminhos existentes no local. Um eixo transversal destaca o caminho principal e se dirige ao ponto focal: o edifício multifuncional. (FIG.3)
Segundo Jane Jacobs (2011) os parâmetros essenciais para a projetação de espaços coletivos são: a centralidade, o limite, a diversidade de usos, áreas de sombra e ensolaradas, bem como um entorno pulsante que possa gerar vivacidade no espaço. O projeto fundamenta-se nestes parâmetros para determinar o desenho e o programa da praça. Estabelecer caminhos de circulação rápida para os passantes e caminhos para usuários que possam usufruir de espaços de permanência, permitindo descobrir lugares e atividades que lá acontecem. O programa da praça contempla uma diversidade de atividades que incluem desde a recreação (Parque infantil, área de ginástica, pista de patins, quadra poliesportiva) contemplação, área de jogos, serviços (bicicletário, banca de revista, sapateiro, floricultura, costureira), edifício multifuncional (salão de festas, administração, banheiros, café e livraria), área de encontro. A vegetação, o mobiliário e os elementos edificados foram cuidadosamente trabalhados para dar conforto à cada espaço. A utilização de pisos antiderrapantes, bem como rampas promove o conforto e a acessibilidade do desenho universal. O centro multifuncional possui uma cobertura em estrutura metálica e fibra de polipropileno para permitir a continuidade visual. A presença de dois blocos laterais possibilita o livre percurso sob essa cobertura. Um dos blocos abriga um salão multiuso, copa e banheiros; e o outro abriga o setor
administrativo e de apoio. No centro, a presença de um anfiteatro para atividades lúdicas e cênicas. (FIG.4) Considerações O projeto da Praça das Gerações estabeleceu parâmetros contemporâneos para as áreas verdes das quadras 700, promovendo uma renovação diversificada para os usuários. Esse exercício de revitalização permitiu o diálogo com suas raízes, sem comprometer o conceito original. Bibliografia CALDEIRA, Junia M. A Praça Brasileira. Trajetória de um espaço urbano: origem e modernidade. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. COSTA, Lúcio. Relatório do Plano Piloto de Brasília. Brasília, 1957. FERREIRA, Marcílio M. e GOROVITZ, Matheus. A invenção da Superquadra: o conceito da Unidade de Vizinhança em Brasília. Brasília: IPHAN/ Superintendência do IPHAN no Distrito Federal, 2008. JACOBS, Jane. Morte e Vida nas Grandes Cidades Norte-americanas. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2011.